Nota Musical – Novembro de 2021

Arte retangular na cor vermelha. Do lado direito está a caixa de um CD, este decorado por uma foto de quatro artistas: Adele, Summer Walker, Manu Gavassi e Marília Mendonça. Já ao lado esquerdo, está escrito em branco na área superior “nota musical” ao centro o logo do persona, um olho com a íris na mesma cor do fundo, e logo abaixo o texto em preto “novembro de 2021”
Destaques do mês de novembro: Adele, Summer Walker, Manu Gavassi e Marília Mendonça (Foto: Reprodução/Arte: Nathália Mendes/Texto de Abertura: João Batista Signorelli)

A gente piscou, 2021 passou, e o fim do ano chegou. Mas antes de cantar hinos natalinos e adentrar no ano da mais aguardada e temida eleição da história do país, o Persona processa o mês de novembro, marcado pela já tradicional alta da inflação, pela pertinente reflexão sobre o racismo despertada pelo Dia da Consciência Negra, e pela discussão em busca de encontrar formas de combater as mudanças climáticas na COP-26. Não podemos deixar de notar também o ressurgimento dos cinemas, que voltam em peso com os lançamentos de Eternos, Marighella e Encanto. 

Para o mundo da Música, o mês começou com o gosto amargo de duas terríveis tragédias. A primeira foi o acidente aéreo no dia 5 de novembro, que levou a vida da mulher que revolucionou a Música Sertaneja. Marília Mendonça será sempre lembrada por abrir as portas para as mulheres dentro do gênero musical, fundando o movimento batizado de Feminejo, e conquistando milhões de brasileiros. Da Rainha da Sofrência, jamais seremos capazes de esquecer

Ainda no mesmo dia, um tumulto durante um show de Travis Scott realizado em Houston, no Texas, causou 10 mortes, dentre as quais a de um menino de 9 anos, além de várias outras vítimas terem sido hospitalizadas. O rapper, que já tinha um histórico de incentivar tumultos em seus shows, e a organização do festival são alvo de dezenas de processos que já somam bilhões de dólares, e a situação pareceu ainda mais indigesta com o lançamento de ESCAPE PLAN no mesmo dia da tragédia, uma canção que parece estranhamente falar sobre o caos que ele ajudou a criar. 

Outro destaque musical de novembro foi, claro, a divulgação da lista de indicados ao Grammy 2022, que fez Olivia Rodrigo ter seu nome nas 4 categorias principais, e Jay-Z tornar-se o artista mais indicado na história da premiação, com 83 nomeações. Mas quem se sobressaiu este ano foi Jon Batiste, que depois de vencer o Oscar pela trilha sonora de Soul, ficou à frente de nomes como Justin Bieber, H.E.R. e Doja Cat ao acumular indicações em 11 categorias. Billie Eilish, Kanye West e Lil Nas X também se destacaram, enquanto Lana Del Rey, Miley Cyrus e Lorde ficaram de fora.

Com um olho no Grammy 2022 e outro no de 2023, o último mês também trouxe um primoroso trabalho que já tem grandes chances de se destacar entre as obras que serão indicadas no ano que vem. Estamos falando de 30, o quarto álbum de estúdio de Adele, que após 6 anos de espera, finalmente volta para mais uma vez emocionar nossos corações. E se pouco mais de meia década pareceu muito tempo, imagina os 40 anos que separavam o disco anterior do ABBA de Voyage? O álbum marca o retorno do quarteto sueco, dando fim a um dos mais longos hiatos da história da Música. 

O retorno das vozes por trás de Dancing Queen e Waterloo não foi o único destaque de artistas da velha guarda no último mês. A Rainha da Voz Dalva de Oliveira e o camaleão do rock David Bowie também foram relembrados, através dos lançamentos póstumos de Rio Claro Diva e Toy. Além desses, outros artistas mais recentes resolveram revisitar sua carreira com relançamentos e compilações, reunindo materiais antigos já conhecidos com faixas inéditas, como é o caso de Radiohead, Little Mix e The Wanted.

Como se as 27 faixas e quase duas horas de Donda não fossem suficientes, Kanye West volta agora com a versão Deluxe, ainda mais extensa. Mas quem vai realmente ficar pra história ao retrabalhar sua obra é Taylor Swift, que vem realizando uma série de regravações de seus primeiros trabalhos com o objetivo de recuperar os direitos sobre as canções, e quebrou o recorde de canção mais longa a atingir o primeiro lugar do Hot 100 da Billboard, com a versão de 10 minutos de All Too Well.

E por falar em recordes, outro nome que aparece nas conquistas do mês é Summer Walker, que vem chamando a atenção na cena do R&B. A cantora, com seu disco STILL OVER IT, tornou-se a segunda artista feminina a ter 18 canções simultaneamente na mesma lista da Billboard, alcançando a própria Taylor Swift com seu Red (Taylor’s Version).

Outro destaque do gênero foi o disco do supergrupo Silk Sonic, que reúne Bruno Mars e Anderson .Paak. Enquanto isso, FKA twigs canta para o lançamento do próximo filme da série Kingsman, em uma parceria com o rapper londrino Central Lee, e Beyoncé para o filme King Richard com Be Alive, que pode lhe render uma indicação ao Oscar de Melhor Canção Original no próximo ano. Ainda no mundo do pop, Avril Lavigne volta às suas raízes do pop punk em Bite Me, e Christina Aguilera ofusca as polêmicas recentes com seu novo single Somos Nada, em que volta a cantar em espanhol.

FLETCHER se junta a Hayley Kiyoko, enquanto Charli XCX se alia a Christine and the Queens e Caroline Polachek em duas parcerias chamativas da Música pop. Paralelamente, The Weeknd disputa com Post Malone quem dois dois sofre mais por amor em One Right Now, e brilha ao lado de ROSALÍA em mais uma colaboração bem-sucedida com a espanhola. Explorando a faceta mais indie do pop, Foxes prepara o terreno para o seu novo álbum com um clima de festa-em-casa, a dinamarquesa MØ faz o mesmo com Brad Pitt / Goosebumps, e Gracie Abrams é sincera sobre seus sentimentos em seu disco de estreia, This Is What It Feels Like

Ainda no indie, vimos os sentimentos dilacerantes de Snail Mail, e Mitski fugindo do indie rock, abraçando uma instrumentação oitentista para falar de um amor trágico. Mas quem não vai abandonar o rock é a banda IDLES, que esmaga novamente em um trabalho mais pessoal e denso. Para fechar os artistas internacionais, Aminé traz seu rap com toques de hyperpop, e dois lançamentos ao vivo chamam a atenção: a insanidade de black midi em Live-Cade, e as reinvenções de Twenty One Pilots em Scaled and Icy (Livestream Version).

Pulando do exterior para o território nacional, o pop dominou os lançamentos do último mês, com singles de várias das grandes divas do país: IZA e Pabllo Vittar abraçam a estética futurista cyberpunk em Sem Filtro e Number One. Se estiver buscando uma sonoridade um pouco mais experimental, a produtora e agora cantora BADSISTA chega detonando com seu disco Gueto Elegance, cheio de colaborações de peso e ritmos hipnotizantes.

Manu Gavassi segue os passos de Taylor Swift e Billie Eilish, lançando seu novo disco acompanhado de um filme no Disney+. GRACINHA teve ainda participações especiais de Tim Bernardes, Amaro Freitas, Alice et Moi, dentre outros. E o que não faltou foram parcerias de peso entre os lançamentos nacionais: Lagum se juntou a Emicida e Josyara formou um supergrupo com Anná, Obinrin Trio e Sara Donato. 

Depois de cancelar nossa felicidade, a banda Fresno vai ter que se virar indo além do estilo de seu eterno rótulo, enquanto Tiago Iorc volta para falar mais dele mesmo do que sobre Masculinidade. Tivemos também singles de Ana Gabriela e Jade Baraldo, além dos videoclipes de Sandra Pêra e Ney Matogrosso, que vasculharam o armário para resgatar aquela Velha Roupa Colorida, e de Marina Sena, grande revelação do pop nacional do ano, e que dá agora um tratamento audiovisual para o seu hit Por Supuesto

Se encaminhando para o final do ano, a indústria da Música já vai assentando o seu número de lançamentos, mas nem por isso o Persona deixou de mergulhar fundo em tudo que rolou para apresentar o que o mês trouxe de mais significativo. Bem vindo à décima primeira edição do Nota Musical, onde a Editoria do Persona, em conjunto com os colaboradores, traz o que, por bem ou por mal, bombou no mundo da Música em Novembro de 2021, somado ao que pode ter passado despercebido, mas que com certeza merece uma atenção especial.

Imagem da cantora Marília Mendonça em um show. Ela é uma mulher branca de cabelos castanhos compridos, veste um conjunto de calça e jaqueta jeans com flores bordadas e top amarelo por baixo; está segurando um microfone na mão esquerda e sorri alegremente.
Entre tantos sucessos, Marília sempre reinou por ter sido fiel e verdadeira com quem era, se descobrindo ao longo da carreira e compartilhando a trajetória com orgulho para alcançar outras mulheres (Foto: Marília Mendonça)

Falecimento de Marília Mendonça

Ai, Natal. Em 5 de novembro de 2021 o mundo chorou, inundado pela dor que os brasileiros compartilharam ao perder Marília Mendonça. Podemos descrevê-la como ícone musical, compositora extraordinária, artista ativa politicamente, dona de uma personalidade distinta, alegre, avassaladora, potente, e mulher revolucionária no Sertanejo e no Brasil. É tudo verdade, mas nada parece suficiente para falar sobre ela. 

Poderíamos também fazer um tributo apenas com versos de suas músicas, porque ela compunha extraordinariamente, nesse nível. Afinal, Marília, você virou saudade aqui dentro de casa. Ou optar pelas letras cômicas que a deram o nome de Rainha da Sofrência, digna de fazer até quem não gosta do gênero arrastar o chifre no asfalto, porque o cupido é gari e só traz lixo. Entre tudo isso, escolho lembrar de Flor e o Beija-Flor: a delicada música com os amigos Henrique e Juliano que mostrou sua arte para o mundo.  

Acidentes realmente acontecem e uma tragédia tirou a crescente carreira de Marília, o amor da vida de Murilo Huff e a mãe do pequeno Leo. Ela continuará sendo lembrada musicalmente, ou pelos amigos sertanejos, até nas gravações que deixou no meio do caminho. No entanto, me sustento com a imaginação de que a menina que nasceu em Flor e o Beija-Flor encerrou a carreira levando o termo “feminejo” até o The New York Times, pois tão grande assim foi seu trabalho. Obrigado querida Rainha, jamais seremos capazes de esquecê-la. – Nathália Mendes


CDs

Capa do álbum Vou Ter Que Me Virar. A capa tem uma moldura azul escura, com bordas com um detalhe arredondado, e, à frente de um fundo branco na parte de dentro, vemos os três membros da banda Fresno lado a lado, em uma espécie de tinta azul e com suas sombras pintadas. Na parte superior central, vemos a palavra “FRESNO” escrita em caixa alta e em uma fonte estilizada. Ao centro, vemos os três membros da banda, homens brancos, aparentando entre 35 e 40 anos de idade, com cabelos castanhos curtos e vestidos de preto, posicionados lado a lado. No meio dos três, o vocalista Lucas Silveira está com os braços abertos, estendidos por trás da cabeça dos membros nas pontas. Na parte inferior central, vemos as palavras “VOU TER QUE ME VIRAR” em caixa alta e em uma fonte estilizada.
A banda Fresno já passou por várias mudanças de integrantes; atualmente, é um trio formado por Lucas Silveira (vocalista, guitarrista e baixista), Gustavo Mantovani (guitarrista e vocalista) e Thiago Guerra (baterista) [Foto: FRESNO]
Fresno – Vou Ter Que Me Virar

Com mais de vinte anos de estrada, a banda Fresno já aprendeu a não se limitar e a não só repetir o que a levou ao sucesso. Depois da mudança de ares e temas que foi sua alegria foi cancelada, o introspectivo, reflexivo e – até à época – inovador projeto anterior do grupo, o nono álbum da banda, Vou Ter Que Me Virar, segue colocando em prática a vontade da Fresno de se arriscar. O lançamento, concebido durante a pandemia, não escolhe um só conceito, gênero musical ou assunto, mas passeia entre eles sem perder a unidade e o fio da meada que tornam seus quase quarenta e quatro minutos uma sequência coesa. 

Por mais que a Fresno seja – e sempre será – uma das maiores referências emo brasileiras, a banda foi além do estilo no seu eterno rótulo. Se, por exemplo, Vou Ter Que Me Virar, canção que abre o álbum e dá nome a ele, reflete sobre como estamos sozinhos e aceita que a vida é o que é em uma mistura de rock com batidas eletrônicas, FUDEU!!! relata a sobrevivência em meio a um cenário caótico (como a do Brasil no presente) e expressa a indignação da banda com o governo atual, em uma pegada mais punk. Já Casa Assombrada lembra trabalhos anteriores da banda, mas nem chega perto de soar repetida ou reciclada, enquanto 6h34 (NEM LIGA GURIA) muda completamente o rumo e experimenta um inédito samba e MPB.

Não só a sonoridade como também os temas também já não são parte de um só conceito: medo do futuro, inseguranças pessoais, saúde mental, relacionamentos familiares, receios e o sentido da vida são temas que tornam o álbum um exercício de olhar para dentro. Com exceção de uma canção, Vou Ter Que Me Virar também foi inteiramente composto por Lucas Silveira, mas, mesmo que as reflexões e medos sejam todos dele, as letras cruas e melancólicas ressoam e se fazem sentir para além das palavras performadas pela Fresno. – Vitória Lopes Gomez


Capa do disco KID A MNESIA, do Radiohead. Na ilustração, existem diversas montanhas de cor branca, com um fundo preto. Acima está escrito Radiohead em fonte de cor branca e embaixo kid a mnesia em fonte de cor vermelha.
Homenageando a era que impulsionou o grupo, KID A MNESIA foi lançado pelo Radiohead em 5 de novembro de 2021, unindo dois de seus álbuns clássicos (Foto: XL Recordings)

KID A MNESIA – Radiohead

Na virada do século, o Radiohead reinventou o seu próprio som, e ajudou a consolidar os novos caminhos da Música Alternativa. Com uma diferença de oito meses de lançamento entre Kid A (2000) e Amnesiac (2001), ambos agora ressurgem como um único álbum, lançado em comemoração dupla de seus 20 anos, sob o título KID A MNESIA, cuja junção não soa nem um pouco estranha. Os dois discos sempre foram vistos como irmãos, tendo em vista que foram gravados ao mesmo tempo, durante as mesmas sessões, e lançados separadamente para evitar um álbum duplo. Devido ao sucesso estrondoso do antecessor — e do curto intervalo de lançamento entre eles —, Amnesiac ficou marcado como um depósito das canções que sobraram em Kid A, embora a história real não seja bem assim.

Três anos antes do lançamento de Kid A, o Radiohead lançou OK Computer (1997), álbum que já flertava com as novas sonoridades que o grupo aprofundou anos mais tarde. Enquanto a banda explorava novos timbres em seus instrumentos, Jonny Greenwood começava a deixar a guitarra de lado, apostando em sintetizadores — instrumento que, posteriormente, tornou-se seu principal aliado nas composições de trilhas sonoras. A canção Everything In Its Right Place, que abre o disco, demonstra essa característica, bem como In Limbo, gravada sob três camadas de guitarra — que possibilitam o ‘limbo’ da faixa — e uma bateria em tempo 4/4, também de forma repetitiva. Pyramid Song, uma das mais belas canções do grupo, possui o piano executado por Yorke como protagonista, sendo acompanhada pela guitarra de Jonny, que é tocada com um arco de violino, ao estilo Sigur Rós.

KID A MNESIA chegou às plataformas digitais como um álbum triplo, e também foi disponibilizado através do jogo Kid A Mnesia: Exhibition, desenvolvido pelo grupo e disponível gratuitamente na Epic Games, que mescla, de forma revolucionária, Videogames, Artes Visuais e Música. A primeira parte do álbum é composta por gravações de Kid A, seguido de Amnesiac e sendo encerrado por versões remixadas de algumas faixas de ambos os discos, que traz ainda duas canções inéditas: If You Say the Word e Follow Me Around. O projeto é uma homenagem ao ponto de virada do Radiohead, e reafirma o grupo como uma das maiores bandas de todos os tempos. – Bruno Andrade


Capa do CD Red (Taylor's Versison). A foto mostra a cantora, uma mulher branca e loira, sentada dentro de um carro, usando chapéu vermelho, casaco bege e um anel com a palavra Red. Ela segura o chapéu com as mãos, ajustando-o na cabeça.
“É como se eu pudesse sentir o tempo passando”, cantam Swift e Phoebe Bridgers na melhor parceria do disco (Foto: Taylor Swift)

Taylor Swift – Red (Taylor’s Version)

O álbum da carreira de Taylor Swift é vermelho. Ele é pulsante, vulnerável, resiliente e extremamente comprido. No segundo árduo labor de regravar sua discografia na íntegra, a artista chega ao suprassumo do que seria sua investida rumo ao pop, e em Red (Taylor’s Version), as garras estão à mostra. No que tange às canções originais, a voz madura e a experiência de quase uma década acaba por refinar notas, revisitar passagens e aquecer o coração daqueles que rasgavam o peito gritando que nunca, em hipótese alguma, veriam o ex novamente.

Do grupo de inéditas, Swift repetiu a parceria com Ed Sheeran, cantou sobre um homem melhor, homenageou o garotinho Roman e ainda convidou Blake Lively para dirigir o videoclipe de I Bet You Think About Me, com direito a ator anti-vacina e festa de casamento fictícia. Entretanto, o melhor da nova versão de Red está repousado no último terço das 30 canetadas. Em Nothing New, Phoebe Bridgers se desmancha quando o assunto é a sensação de insuficiência e chegada de sangue novo no pedaço.

No encerramento, Taylor Swift aumenta seu repertório e finalmente concretiza sua paixão desmedida por All Too Well, uma querida faixa que se tornou favorita absoluta dos fãs e, por acaso, também da cantora. Duplicando a duração padrão da lenda de corações partidos, cachecóis afanados e atores de Cinema, All Too Well (10 Minute Version) (Taylor’s Version) (From The Vault) chegou junto de um curta-metragem, divulgação massiva, quebra de protocolo no Saturday Night Live e uma tirada que vai cutucar Jake Gyllenhaal até a chegada da próxima regravação. Mais do que uma retomada financeira dos trabalhos de sua vida, a jornada de Swift diz muito sobre sua perseverança e seu alcance. Não tem jeito, ela estava lá e se lembra muito bem. – Vitor Evangelista


Capa do álbum 30, de Adele. Essa é uma foto quadrada. À esquerda da foto é apresentado um close-up do perfil da cantora britânica Adele que toma toda a superfície da imagem. Ela é uma mulher de idade mediana, branca, de cabelos longos e loiros e seus olhos são verde claro. Ao fundo, temos uma visão embaçada com as cores azul escuro e preto. A cantora possui um semblante neutro, sem expressões faciais.
Em seu quarto álbum, Adele se divorcia de si mesma e traz uma resposta bem clara para seu filho Angelo (Foto: Columbia Records)

Adele – 30

Vai com calma aí, Adele, porque o nosso coração não é de ferro! O tão aguardado novo álbum da cantora britânica foi lançado em novembro desse ano e, como já era de se esperar, abalou as estruturas das críticas, dos fãs e da indústria musical. Sob o título de 30, o CD trouxe alguns arranjos que não estávamos acostumados a escutar na voz de Adele, como o hip-hop, mas também não deixou de lado seus clássicos ritmos como o jazz e o soul

Não muito diferente dos álbuns anteriores, a cantora transforma as dores e desgostos do seu coração partido em um álbum de busca, gracioso e incrivelmente comovente. Porém, é muito perceptível que este traz uma complexidade bem maior para as suas emoções. Desta vez, Adele parece querer mostrar mais de si mesma, estar por completo dentro de cada palavra que ela canta. Não é uma surpresa, já que ela declarou várias vezes que esta seria a forma de se comunicar com seu filho sobre o divórcio e o que a levou tomar essa decisão. As faixas My Little Love e Hold On parecem mais do que suficientes para responder às dúvidas do pequeno Angelo. 

Mesmo depois de 6 anos, a cantora não conseguiu cair no esquecimento, e  este vai ter que esperar bastante por Adele. Ela conseguiu entregar um amadurecimento e hits implacáveis que tocam a alma de qualquer um, em qualquer momento ou situação. Quem diria que um álbum de divórcio iria atingir e tocar até os casais mais sólidos e firmes no amor? Oh My God, I Drink Wine e To Be Loved exemplificam muito bem esse sentimento, como faixas que interagem com ideias musicais mais modernas, e mostram como ela está usando sua voz com novas multidões. No auge dos seus 30, Adele revela ser ousada o suficiente para compartilhar tudo o que passou de forma tão vulnerável, com o mundo inteiro escutando. – Vinícius Santos


Capa do álbum Rio Claro Diva. Fotografia quadrada, com fundo verde. A cantora Dalva de Oliveira ocupa quase toda a capa. Somente o seu rosto e parte de seus ombros estão na foto. Ela é uma mulher branca, de cabelos curtos escuros, batom vermelho, brincos pequenos e vestido florido. No canto inferior esquerdo, lemos, de cima para baixo, Dalva de Oliveira em letras brancas, e Rio Claro Diva em letras amarelas.
Celebremos Dalva, a imortal estrela! (Foto: Judith Munk/Nostalgia)

Dalva de Oliveira – Rio Claro Diva

Este é mais um daqueles álbuns que não sabemos de onde vem, para onde vai e até que ponto é oficial. O lado póstumo da carreira de Dalva de Oliveira está repleto desses lançamentos aleatórios e curiosos, para dizer o mínimo. Rio Claro Diva, no entanto, está disponível em grandes plataformas de streaming, como é o caso do YouTube e do Spotify. Além disso, por ser de uma das maiores cantoras que o Brasil já teve em toda sua História, é um disco que merece ser comentado, por mais que algumas informações fujam das apurações mais atentas e cautelosas.

Na verdade, Rio Claro Diva é basicamente uma reedição do álbum Boleros, de 1959. Formado por 12 faixas, como costumavam ser muitos LPs da Rainha da Voz, este novo – e velho – trabalho agora homenageia, em pleno título, a cidade onde Dalva de Oliveira nasceu. Além do mais, trata-se de uma obra que exerce uma bela função de memória, relembrando uma mulher que arrastava multidões e estampava várias capas de revistas – mas que, injustamente, é pouco lembrada nos dias de hoje, tendo em vista o sucesso que obteve no passado.

Por um instante, peço licença para usar a primeira pessoa do singular. Isso porque, tendo como foco qualquer tipo de qualidade, não sou capaz de selecionar destaques nos álbuns dessa diva eterna. Menciono, assim, três músicas de maneira aleatória. Sabias Palavras, Se Ao Menos Eu Sonhasse e Convite são, portanto, ótimas portas de entrada para quem tiver alguma curiosidade em torno desse disco “misterioso”. E que sejam também um primeiro passo para o acesso à discografia preciosa da grande Estrela Dalva, corpo sempre reluzente neste céu nacional. – Eduardo Rota Hilário


Capa do álbum Still Over It de Summer Walker. Fotografia aproximada de Summer Walker dentro de um carro preto, tentando cobrir a lente da câmera com as mãos. O efeito da imagem remete ao de uma câmera analógica. Summer Walker é uma mulher negra de 25 anos. Seu cabelo é preto, com franja e está parcialmente preso. Ela veste um óculos de Sol preto e jaqueta preta brilhosa. Na parte inferior direita é possível ler o título do álbum, “Still Over It”, em fonte caligráfica branca e, logo abaixo, o selo de Parental Advisory.
Still Over It é o segundo álbum da carreira de Summer Walker, contando com colaborações potentes que incluem Cardi B, SZA, Pharrell Williams e Ciara (Foto: LVRN/Interscope Records)

Summer Walker – Still Over It

Amargo. Assim se inicia o melodrama lírico de Still Over It, segundo álbum da cantora e compositora natural de Atlanta, Summer Walker, aconselhada por Cardi B a “Colocar o drama em sua Música/Porque se as vadias querem sugar sua energia, que você sugue a delas”.  Com apenas 25 anos de idade, acompanhada de figuras representantes do gênero R&B, Walker traz colaborações que vão de SZA à Pharrell Williams à Ciara, fincando-se como narradora exímia das emoções mais universais que perpassam os relacionamentos interpessoais de sua vida.

Com um catálogo que coleciona uma sucessão de parcerias poderosas, as expectativas acima de sua carreira promissora partiu de Over It – estreia da artista em 2019, que contou com a participação de Usher, PARTYNEXTDOOR, Drake e Jhéne Aiko –, posicionando-a como evidência do cenário R&B/trap contemporâneo. Agora, são 20 longas faixas que traçam a separação nociva entre ela e seu ex-parceiro, também pai de seu filho e produtor de pelo menos metade do novo projeto. As emoções são intensamente caóticas, proporcionais à jovialidade divertida das canções.

O single principal Ex For A Reason é leve, ressaltando a autoria vocal de Walker, bem como a maior faixa do álbum, Unloyal, um blues elegante que combina sua voz com a de Ari Lennox, ambas conduzidas por um solo sensual do saxofone. Contudo, apesar de cativar, seja com o ritmo suave de Screwin, seja com o duro 4th Baby Mama, Still Over It luta para não se manter monótono em mais de 1 hora. E ele falha. Principalmente em seus últimos minutos com Ciara’s Prayer – “Oro para que o próximo homem de minha vida se torne meu marido/Oro para que ele me ame, me guie, me oriente” –, um apelo antiquado para um fechamento fraco. – Ayra Mori


 

Capa do álbum Toy. A imagem em tons de cinza mostra o corpo de um bebê vestido com um agasalho branco, com os olhos, nariz e boca de David Bowie editados sobre seu rosto. A cabeça se encontra entre as palavras “david” e “bowie”, registradas com uma escrita torta, como de uma criança. Sobre o peito, se encontra a palavra “TOY”.
A bizarra capa de Toy mostra o camaleão transmutado em uma forma inédita: a de um bebê (Foto: Parlophone Records)

David Bowie – Toy

David Bowie deixou este planeta em 2016, transformando seu último disco, Blackstar, lançado na mesma semana, em uma impactante carta de despedida e uma das maiores criações de sua carreira. Desde então, vários baús foram revirados, e muito material inédito do camaleão do rock foi sendo disponibilizado. É o caso de Toy, um disco nunca antes lançado, gravado por Bowie no ano de 2000, e que finalmente está disponível para os fãs junto a uma coletânea que agrupa quase uma década de gravações do artista, chamada de Brilliant Adventure (1992-2001).

Reunindo canções do início da carreira de Bowie, e marcando o retorno de sua colaboração com o produtor Tony Visconti, Toy não é o grande testamento com a missão de coroar o legado de uma carreira prolífica (Blackstar já indiscutivelmente ocupa este posto), mas o disco não deixa de ser um interessante achado e uma animadora nota de rodapé. Em Toy, vemos Bowie fazendo da Música seu brinquedo, em uma coleção de faixas alegres e descompromissadas. Não chega ao patamar de suas grandes obras, mas é um bem-vindo lembrete de que, apesar de sua trágica despedida, David Bowie passou por momentos felizes. – João Batista Signorelli


Capa do álbum Scaled and Icy (Livestream Version). A capa é a fachada de um prédio. No canto superior esquerdo, vemos as palavras “Twenty One Pilots” na fonte estilizada da banda, na cor branca, e, logo abaixo, as palavras “Scaled and Icy”, na cor azul clara, e “(Livestream Version)”, em rosa claro. No canto superior direito, vemos o logo da banda Twenty One Pilots em rosa claro. Abaixo, vemos cinco janelas com varandas dispostas lado a lado na horizontal, cada uma com luzes em cores neon. Abaixo das janelas, vemos, à esquerda, um portão com a capa do álbum Scaled and Icy pintada; ao centro, uma porta de vidro; e, à direita, uma janela, anúncios com luzes neon e latas de lixo na calçada.
Durante a pandemia, Tyler Joseph compôs e produziu o Scaled and Icy, e Josh Dun foi o responsável pela engenharia de percussão do álbum (Foto: Fueled By Ramen)

Twenty One Pilots – Scaled and Icy (Livestream Version)

Acompanhando a chegada de Scaled and Icy, a banda Twenty One Pilots promoveu uma performance do seu recém-lançado álbum, o sexto de estúdio do duo americano, e agraciou os fãs com a transmissão on-line do evento. Na Twenty One Pilots Livestream Experience, as canções do (até então) novo projeto foram apresentadas pela primeira vez no show televisionado dirigido por Jason Zada, que já comandou videoclipes e curtas-metragens. Agora, cinco meses depois do evento e do lançamento do álbum, as versões ao vivo das faixas foram disponibilizadas nas plataformas de música como Scaled and Icy (Livestream Version), o Deluxe do mais recente projeto da banda.

À frente de uma banda completa, diferente do que estão acostumados, Josh Dun e Tyler Joseph unem as onze canções do último lançamento com outras mais antigas, em mashups e medleys que renovam as faixas. Por exemplo, Choker, do Scaled and Icy, se junta a Morph, do álbum Trench, ao hit Stressed Out, Migraine e Holding on to You, as três últimas presentes na tracklist do Vessel, para formar Choker/ Stressed Out/ Migraine/ Morph/ Holding on to You – Livestream Version, de quase dez minutos de duração. O fôlego do vocalista, Tyler, também é posto à prova em Saturday/ Level of Concern/ Ride/ Car Radio – Livestream Version, que ultrapassa os doze minutos, e Lane Boy/ Redecorate/ Chlorine – Livestream Version, ambas conciliando sucessos dos três últimos álbuns do duo.

Não é novidade que a Twenty One Pilots procura sempre inovar, seja nos ritmos, instrumentos e estilos musicais, seja nos conceitos e charadas que criam para seus projetos, que nunca vêm só com um simples anúncio de lançamento. Com a performance que culminou no Scaled and Icy (Livestream Version), as versões repensadas de canções já consolidadas reanimam para a discografia antiga da banda, além de fazer o mesmo para o Scaled and Icy – agora com cinco meses de idade -, que ganha arranjos novos, visuais e até trompetes ao fundo. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Valentine, da cantora Snail Mail. A capa tem um fundo vermelho claro, com a cantora aparecendo da cintura para cima. A cantora é caucasiana, de cabelos lisos e loiros até o pescoço, usando um terno rosa por cima de um uma camisa branca de gola alta e ondulada, com uma gravata fina formando um nó preto. Em seu peito esquerdo, um broche branco com a feição de uma mulher, flores rosas no bolso esquerdo do peito. Centrado, na parte superior, está o nome artístico da cantora, em letras brancas itálicas, com o nome do álbum, em letras pretas itálicas, logo abaixo.
Se você não é capaz de abraçar a contradição do romance, você nunca viveu um amor (Foto: Matador Records)

Snail Mail – Valentine

É comum descrever Arte como “de partir o coração”, mas é singularmente difícil achar peças que parecem sangrar de verdade, numa obra capaz de examinar a ferida não só como uma caricatura do passado, mas como um retrato do aqui e do agora, com toda a feiura que isso invoca. Em Valentine, segundo trabalho com o nome Snail Mail, Lindsey Jordan prova ser uma artista capaz de tal, pulsando de emoção em emoção. Com a precisão de músicos que tem o dobro de sua experiência e repertório, ela abraça a maioria de suas contradições com tanta força que se torna impossível prestar atenção em qualquer outra coisa.

Na delicada Light Blue, Jordan canta “Nada vai me impedir agora” com a fúria de alguém que conhece profundamente o desespero, enquanto na inesperadamente animada Ben Franklin ela parte com qualquer sinal de seu antigo som, se escorando na culpa ao confessar: “Eu nunca devia ter te machucado/Tenho o diabo em mim”. A precisão de suas letras só encontra par em seus vocais roucos e machucados, faixa após faixa, culminando na explosão silenciosa e sinfônica de Mia, na qual a tese do disco vem à tona entre lágrimas e violinos: “Não, não posso continuar me segurando a você/Mia, eu ainda sou sua”. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do CD GRACINHA, de Manu Gavassi. A imagem é uma pintura e tem o rosto da cantora estampado, ela tem pele clara e cabelo ruivo bem curto. No topo da imagem, lemos GRACINHA em verde neon e Manu Gavassi em cima disso, em fonte menor. O fundo é meio cinza meio azul.
Manu já está farta! (Foto: Universal Music Ltda)

Manu Gavassi – GRACINHA

Quatro anos depois de lançar Manu, a melhor ex-BBB retorna ao mundo da Música com um disco de inéditas. Mas não se engane, o título e o semblante ameno de Gavassi na capa do trabalho são antítese do comportamento da jovem. Ao lado de Amaro Freitas e do timbre etéreo de Tim Bernardes, a faixa-título denuncia os ânimos exaustos de quem tentou de tudo por todos, e chegou na hora de se recolher.

O sentimento de solidão volta e meia pipoca pelas nove faixas, sendo estudado pela ótica da tristeza (na chique Eu nunca fui tão sozinha sozinha assim, ao lado de Voyou), da ironia (em Reggaeton triste, com Vic Maralhas) e da desolação, em (não te vejo meu), momento em que Manu deixa o céu desabar. Sobra espaço para a artista abrir o coração para a irmã em Catarina, denunciar um romance ruim em Tédio e abraçar seus “defeitos” em sub.ver.si.va.

Compartilhando emoções vulneráveis, CANSEI grita o óbvio: depois de tanto levar cacetada, não tem como se manter no mesmo lugar. Manu Gavassi, acostumada a soltar a voz em melodias alegres e letras com trocadilhos espertos, dessa vez se ali a bem bolada produção de Lucas Silveira, entregando seu melhor trabalho, recheado de opiniões fortes, refrães pegajosos e um complemento visual no Disney+. – Vitor Evangelista


Capa do álbum Spencer de Jonny Greenwood. Fotografia com fundo preto de Kristen Stewart interpretando Princesa Diana. Kristen Stewart é uma mulher branca de 31 anos com cabelo loiro curto. Ela está de costas levemente inclinada para o lado direito. O destaque da imagem é o vestido que ela usa. O vestido é branco, tomara que caia com bordados prateados e uma saia bufante que domina ⅔ da imagem, de baixo para cima. Kristen está de costas em posição fetal, com as mãos cobrindo o rosto por entre a face e o vestido. Na parte central inferior, é possível ler o título do filme “Spencer”, em fonte serifada de cor cinza quente, tom este que quase se mescla com o do vestido. Abaixo, pode-se ler “Original music by”, “Jonny” e “Greenwood” em fila, respectivamente.
Além de Spencer, Jonny Greenwood ainda compôs a trilha sonora do último faroeste de Jane Campion, Ataque dos Cães, e de Licorice Pizza, de PTA, garantindo instantaneamente pelo menos uma indicação ao Oscar 2022 (Foto: Mercury KX)

Jonny Greenwood – Spencer

Quem foi Diana Frances Spencer? Desvenda Pablo Larraín em Spencer (2021), longa estrelado por Kristen Stewart, no auge de sua carreira, que dá dimensão à uma Lady Di para além da figura intocável da princesa de Gales: uma mulher solitária que enfrenta os traumas internos ao mesmo tempo que lida com os escândalos públicos de uma imprensa imoderada. Da chegada à partida, acompanhamos claustrofobicamente o fatídico fim de semana do Natal de 1991, quando princesa Diana pede divórcio do príncipe Charles, compenetrados por uma instrumentação magnificamente delirante.

Assinada por Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, a trilha sonora clássica barroca é combinada com um free jazz que gradativamente aguça a ansiedade da protagonista (junto da nossa), através do crescimento latejante da percussão, do piano desvairado, do saxofone pedante ou, ainda, do contrabaixo sufocante, transformando tudo numa experiência lindamente traumatizante. Há quase duas décadas colaborando com diretores – Sangue Negro (2007), O Mestre (2012), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2018), todos de Paul Thomas Anderson –, em Spencer, Greenwood preenche os espaços por entre os grandes cômodos vazios, os trajes impecáveis e a frieza imaterial de uma realeza apática. E que venha o Oscar! – Ayra Mori


Capa do álbum Voyage, de ABBA. A imagem mostra uma fotografia do Sol raiando sob a atmosfera de um planeta, que preenche metade da imagem. O Sol está posicionado mais à esquerda, e seus raios correm por toda a imagem. Na linha superior da capa, ao centro, está escrito o nome do grupo em amarelo e fonte em caixa alta. Ao lado, está escrito o nome do diso, em fonte branca.
Como um fenômeno celeste que repercute em cada canto do mundo: é o retorno de ABBA (Foto: 1221 AB)

ABBA – Voyage

O clamor pela década de 80 que correu mundo afora nos últimos anos parecia ter atingido seu auge em 2020, mas a vibração oitentista foi tão forte que trouxe em 2021 um dos eventos mais especiais de toda a história da Música. Aqui vamos nós de novo: ABBA está de volta. Depois de 40 anos em hiato, Anni-Frid Lyngstad, Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus e Benny Andersson retornam na plenitude de seus 70 anos para reformar um dos grupos musicais de maior sucesso de todos os tempos.

O efeito grandioso é consequência da própria magnitude do quarteto pop sueco. Boa parte dos sobreviventes de 2021 deve conhecer pelo menos um refrão de ABBA, transmitido através das lembranças sonoras e formação musical de pais, mães, avós e avôs que viveram na pele a era disco, impossível de ser esquecida e desejada até mesmo pelas novas gerações, que foi embalada pelos hits do quarteto. Assim, a obra que marca o retorno histórico do grupo seria, necessariamente, uma experiência envolvida em uma viagem pelo passado, pelo presente, e também pelo futuro. E isso é exatamente o que ABBA criou em Voyage

É fato que as harmonias altas que ocuparam as paradas entre os anos de 1972 e 1982 e as coreografias enérgicas que tomavam as pistas de dança de 40 anos atrás não seriam reproduzidas em 2021, mas isso não significa de forma alguma a ausência identidade do grupo. Dentre as 10 músicas do novo disco, ABBA demonstra saber o que foi (Keep An Eye On Dan), o que é (Just A Notion) e o que será (No Doubt About It). Com louvor, Ode to Freedom encerra Voyage confirmando o significado do retorno para o imaginário de um mundo que conhece ABBA em qualquer recorte do espaço-tempo: enquanto há vida, há Música. E nós ainda temos fé em vocês. – Raquel Dutra


Capa do disco CRAWLER. A foto mostra a parte de fora de uma casa de arquitetura moderna, com formato quadrado levemente inclinado. Há uma grande janela de vidro mostrando o interior, onde vemos uma escada e dois dos pisos. Do lado de fora, vemos um homem vestindo o que parece ser uma fantasia de astronauta branca. Ele se encontra com os pés fora do chão, mas não se sabe se ele está saltando ou flutuando.
O quarto álbum de estúdio de IDLES mostra a banda explorando novos caminhos (Foto: Partisan Records)

IDLES – CRAWLER

Ácida, irreverente e cheia de energia contagiante, IDLES é uma das principais bandas da recente revitalização da cena punk na Música britânica. Engajado em causas sociais, o frontman Joe Talbot sempre buscava colocar o dedo na ferida do conservadorismo britânico, até perceber que em toda essa história, alguém permanecia isento de críticas: ele mesmo. CRAWLER  é um álbum mais denso, sério, e que mostra Talbot pela primeira vez baixando a guarda e lidando com seus demônios, muitos surgidos de sua difícil relação com as drogas. 

O disco se abre com a sóbria e minimalista MMT 420 RR, que já surpreende ao se desviar da sonoridade usual da banda. “Você está pronto para a tempestade?” prenuncia o vocalista pelo que está por vir, na canção que nunca libera a tensão que constrói. Em seguida, vem a tempestade: Car Crash esmaga o ouvinte tal qual a bola cor-de-rosa da capa de Ultra Mono, Stockholm Syndrome explora as contradições humanas, The Beachland Ballroom é um pedido de socorro, Meds mistura imagens religiosas ao consumo de drogas, e Progress lida com suas tentativas de recuperação. João Batista Signorelli


Capa do álbum This Is What It Feels Like. Na capa, vemos um gramado verde escuro e as palavras “THIS IS WHAT IS FEELS LIKE” escritas nele, como se fossem cavadas, deixando a grama marrom. No canto inferior direito, vemos a cantora Gracie Abrams deitada no gramado e o símbolo do “Parental Advisory”. Gracie Abrams é uma mulher branca, de cabelos pretos, lisos e compridos, aparentando cerca de 25 anos, vestindo uma blusa bege e uma calça preta, com as mãos em cima do próprio abdômen.
Filha do diretor de cinema J. J. Abrams, a artista em ascensão Gracie Abrams participou de todas as composições de This Is What It Feels Like e se aventurou na produção de algumas faixas, ao lado do produtor Aaron Dessner (Foto: Gracie Abrams)

Gracie Abrams – This Is What It Feels Like

Se o trabalho de Gracie Abrams lembra a sonoridade de ninguém mais, ninguém menos que Olivia Rodrigo, é porque o caminho foi o contrário: a artista em ascensão foi uma das inspirações da indicada ao Grammy. Assim como na discografia desta última e de outros nomes do pop e indie pop atual, como Phoebe Bridgers ou as novatas Maisie Peters e ella jane, as baladas ao piano e as letras brutalmente honestas também surtem efeito em This Is What It Feels Like, o primeiro álbum de Abrams. Depois de alguns singles lançados ao longo de 2021, incluindo uma colaboração com o produtor musical benny blanco, o projeto segue o EP de estreia da cantora, minor.

Enquanto o anterior era uma resposta ao término de um relacionamento vivido por Gracie, e também seu primeiro grande trabalho profissional, This Is What It Feels Like explora as emoções e sentimentos da artista de uma forma mais madura, indo desde as relações de amizade e românticas até as mudanças e conflitos pessoais durante o período de isolamento, no qual o álbum foi produzido. Longe de serem negativas, as doze canções são sinceras e emocionais até quando ela avisa que vai te levar para o fundo do poço, e refletem o interior que a artista coloca à mostra. Em Camden, por exemplo, ela se abre quanto às suas inseguranças com a própria imagem e sua necessidade de validação. Já em For Real This Time, ela revela estar pronta para tocar em frente depois de uma relação que deu errado.

No novo lançamento, a cantora e compositora reafirma o ponto alto de minor: o seu talento em compor exatamente sobre o que sente e pensa, de forma que as letras ressoem para além dela. Alguns anseios dos jovens de vinte e tantos anos até podem ser parecidos, mas Gracie consegue inspirar a identificação ao dar o seu toque especial às canções, incluindo referências próprias, nomes e lugares específicos. Os versos são potencializados pela voz suave e melódica dela e elevam This Is What It Feels Like para um mergulho no diário de Gracie Abrams. – Vitória Lopes Gomez


Capa do álbum Gueto Elegance. Fotografia quadrada, com fundo cinza. Na parte superior, lemos a palavra “Gueto” coberta pela palavra “Elegance”, estando ambas em fontes de difícil descrição. No canto superior direito, lemos, verticalmente, BADSISTA em letras amarelas. Quase no canto inferior esquerdo, lemos Gueto Elegance também de modo vertical, em letras igualmente amarelas. A cantora e produtora BADSISTA ocupa principalmente o centro da imagem. Ela é uma mulher com semblante sério e veste roupas chamativas, com diferentes formatos, acessórios e cores. No canto inferior direito, há uma advertência de conteúdo explícito, em formato retangular, preto e branco, escrita em Inglês.
Os sentimentos superam as explicações em Gueto Elegance (Foto: Pedro Pinho/Mayra Martins)

BADSISTA – Gueto Elegance

Gueto Elegance é um álbum que provavelmente não será absorvido por completo com apenas alguns primeiros contatos ou imersões. Por mais que essa seja, de modo geral, a realidade de todos os discos do mundo, há algo de diferente neste caso específico, o que torna o referido fato ainda mais evidente e marcante. Existe, aqui, uma espécie de complexidade – no sentido de ser uma obra construída em várias camadas, com alguns graus de sofisticação – bem sucedida, porque não impede que um público mais amplo e diverso tenha contato com o CD e seus desdobramentos.

Artista elogiada, ao lado das companheiras Linn da Quebrada e Jup do Bairro, pelo jornal inglês The Guardian, BADSISTA embarca agora em uma carreira solo por meio de um trabalho bastante – e explicitamente – colaborativo. As parcerias, inclusive, não se limitam ao Brasil, e essa é uma observação bem perceptível, já que o som da rapper queniana MC Yallah nos é apresentado logo na terceira faixa do disco: a enigmática Farse. Em sua completude, aliás, Gueto Elegance nos oferece uma experiência de difícil descrição – motivo pelo qual este texto é um tanto quanto abstrato.

Em relação ao repertório do álbum, Chega Nas Ideia é um dos primeiros destaques das 12 faixas que o compõem, consolidando com grande estilo as significativas trocas já feitas entre BADSISTA e Jup do Bairro. Logo em seguida, Soca, gravada com Rey Sapienz e Lord Spikeheart, soa irresistivelmente dançante e atraente. Amor Que Não Posso Inventar, por sua vez, é um dos mais belos feats deste gueto, dividido com a também contemporânea cantora Ventura Profana. Por fim, e Sem Dar Tchau, a dona deste trabalho encerra sua jornada com chave de ouro. – Eduardo Rota Hilário 


Capa do álbum TWOPOINTFIVE, do artista Aminé. Na imagem quadrada, há um fundo de cor amarela, com uma ilustração do rosto de aminé ao centro. Ele é um homem negro, possui bigode de cor preta e está utilizando um óculos com lentes vermelhas e armação de cor preta. No lugar do cabelo, há uma mancha de cor rosa, amarela, verde e azul. Na parte lateral direita, há uma mancha de verde. Na parte lateral esquerda, há uma mancha de cor azul.
TWOPOINTFIVE é o terceiro álbum de estúdio do rapper Aminé (Foto: CLBN LLC)

Aminé – TWOPOINTFIVE

Espécie de piada interna de Aminé, o projeto POINTFIVE parece ser um espaço de aberturas criativas, no qual o humor se sobressai e deixa em aberto qualquer abordagem que pareça necessária para a canção. O primeiro disco do projeto foi ONEPOINTFIVE, de 2018, que originou a turnê intitulada TOURPOINTFIVE. Nele, o artista deixou evidente a maneira pela qual sua abordagem de som ganharia forma. Depois de Limbo (2020), o rapper decidiu retomar a liberdade criativa do trabalho, e lançou o ainda irreverente — porém mais maduro e bem resolvido — TWOPOINTFIVE.

Dentre as faixas excelentes do disco — todas seguem um mesmo alto nível, em que as piadas e o humor ácido não deixam a desejar em comparação às melodias e inovações propostas pelo músico —, Van Gogh, Between The Lines e NEO se sobressaem (essa última parece ter saído de Certified Lover Boy, de Drake). É interessante notar que nenhuma das canções possuem mais que dois minutos e cinquenta segundos de duração, pois o disco funciona como um apanhado de pequenas situações interligadas pela voz de Aminé — às vezes disfarçada com personas —, quase como um livro de contos.

TWOPOINTFIVE é uma explosão de cores e texturas, como sua capa já demonstra. Essa mistura dificulta a classificação do disco — e talvez isso seja proposital. Charmander, single principal do álbum, sinalizou para a inovação logo quando foi lançado, flertando abertamente com o não convencional (inclusive no clipe). Numa entrevista à Billboard, Aminé disse: “Eu não queria fazer nada muito introspectivo e triste com esse projeto. Isso era mais para eu realmente me divertir e dançar, e me divertir muito”. Aparentemente, ele conseguiu. – Bruno Andrade


Capa do álbum Donda (deluxe) de Kanye West. A imagem é um quadrado preto.
Kanye dormiu tranquilo após a noite de nomeações do Grammy 2022, por ter batido o rival Drake com a indicação de Donda na categoria de Álbum do Ano (Foto: UMG Recordings Inc.)

Kanye West – Donda (Deluxe)

Ninguém esperava que Kanye West lançasse mais músicas depois das 27 de Donda – que teve direito à polêmica com cortes em faixas. Pois ele decidiu dar uma versão ainda mais longa com o Deluxe de seu décimo álbum, que tem 5 músicas a mais. Acumulando 4 indicações ao Grammy 2022 com o Standard – que levou o agressor denunciado Marilyn Manson a ser nomeado no palco mais importante da indústria da Música -, a motivação para não parar sua produção só pode estar entre seu narcisismo genial e na tentativa de se despedir espiritualmente da mãe. Assim, o segundo é o resultado do trabalho inacabado de um rapper atormentado demais para conseguir terminar.

As novas Remote Control pt 2 e Keep My Spirit Alive pt 2 são segundas partes de faixas existentes, e isso é uma construção que já vinha do Donda. Agora, ao todo são 6 músicas com continuação no mesmo álbum, ilustrando a necessidade de Kanye em mais minutos para cantar tudo o que sua complexidade artística grita. Nas novas, a diferença está nas edições ou em partes que haviam sido cortadas, como o verso de Kid Cudi recolocado em Remote Control 2. Never Abandon Your Family também voltou à tracklist junto com a composição controversa sobre o casamento com Kim Kardashian. E Up From The Ashes é a inclusão mais satisfatória por sua união com o coro do Sunday Service Choir em um gospel singelo.

O fato é que a confusão predominou: todas as faixas trocaram de ordem, e por vezes a part 2 veio antes da primeira. Mas, talvez, o Deluxe seja exatamente a mente conflituosa de um homem revolucionário no rap mundial tentando se despedir. Sua mãe Donda West motivou até os convidados dessa super produção, por isso, é um alívio que Life Of The Party – uma obra de arte de Andre 3000 – finalmente faça parte dele oficialmente. No meio de tanta picuinha, Drake nos fez um favor em vazá-la e Kanye em lançar outro álbum para incluí-la. Nathália Mendes


Capa do álbum Absolutely de Dijon. Fotografia de Dijon. Dijon é um homem negro de 28 anos de idade. Ele veste uma camiseta preta com estampa branca ilegível, um colete verde cargo, calça preta e boné verde musgo que tampa seu rosto. Ele está levantado com os braços dobrados para cima e a cabeça levemente inclinada também para cima. Atrás dele está uma parede na cor palha, com cortinas translúcidas, nas cores branco e palha, sobre uma janela branca. Na frente dele está uma mesa de madeira coberta por equipamentos musicais como controladoras DJ, microfones e caixas de som, além de garrafas de cerveja vazia.
Dijon faz do caos seu melhor amigo (Foto: LLC/Warner Records Inc.)

Dijon – Absolutely

Não é tarefa fácil ultrapassar a superficialidade dos estilos musicais sem soar genérico, quem dirá mesclar gêneros. No entanto, com o álbum de estreia Absolutely, Dijon – cantor, compositor e multi-instrumentista californiano –, alinha acertadamente uma gama de sonoridades em um só registro que vão do pop, R&B, hip-hop, singer-songwriter, bedroom pop até o country. Reunindo um conjunto de musicistas, o projeto soa como uma sessão improvisada euforicamente caótica, capturando uma atmosfera quase surreal que transporta o ouvinte a um sonho quente que uma vez já tivera.

Integrado por doze faixas condensadas dentro de curtos 31 minutos, Dijon conduz uma série de frustrações amorosas liricamente versadas por meio de sua voz rouca. Como se lutasse contra uma dor na garganta, aqui, o polimento é evitado, conferindo tom orgânico a tracklist que não se amarra estruturadamente ao longo do álbum. A sensação é de algo não planejado, mas é exatamente a espontaneidade de Absolutely que o caracteriza tão bem. E entre intervalos que se perdem, destacam-se verdadeiros primores.

Many Times é o exemplo perfeito. Construído por uma instrumentação intensa, a canção discorre sobre a ruptura de um relacionamento, crescendo aceleradamente através de uma lista de itens esquisita – “Morango, framboesa, luz de velas, satélite/Televisão, raios-X/O que vai ser preciso para você ouvir?”. Já The Dress é a trilha perfeita aos romances nostálgicos, digno de uma comédia romântica dos anos 80. São teclados cintilantes, um groove suave e a lembrança da paixão de um novo amor. Assim, mesmo sofrendo cercado pelo breakbeat noventista de Talk Down, felizmente, Dijon parece sempre estar se divertindo. – Ayra Mori


Capa do álbum The Other Side of Life: Piano Ballads. À frente de um fundo azul escuro, vemos, no centro da capa, as palavras “beach fossils” alinhadas à esquerda, em uma fonte branca vazada e em letras minúsculas. Logo abaixo, também alinhadas à esquerda, vemos as palavras “THE OTHER SIDE OF LIFE: PIANO BALLADS”, em uma fonte em branco e em letras maiúsculas. Abaixo da segunda frase, vemos, centralizado na parte inferior da capa, uma foto desfocada com uma borda branca. No primeiro plano da foto, vemos um homem; ao fundo, vemos um rio e a linha da cidade ao horizonte.
Vocalista, guitarrista e compositor da Beach Fossils desde o início da banda, Dustin Payseur se uniu a um dos membros antigos do grupo para produzir The Other Side of Life: Piano Ballads (Foto: Bayonet Records)

Beach Fossils – The Other Side of Life: Piano Ballads

Doze anos e algumas mudanças de formação depois, a banda Beach Fossils comemora seu tempo de existência rememorando sua discografia. Com o mais recente lançamento, o álbum The Other Side of Life: Piano Ballads, o trio americano revisita faixas desde seu primeiro grande projeto, o homônimo Beach Fossils, de 2010, até o seu terceiro e penúltimo, Somersault, de 2017, incluindo também canções presentes em EPs, como o What A Pleasure, de 2011. O quarto álbum de Beach Fossils, porém, vai além do compilado de sucessos e, trocando o indie rock pelo jazz, a banda entrega versões alternativas das faixas antigas.

Abrindo com This Year (Piano), originalmente presente em Somersault, o álbum já começa positivo com a nova roupagem sonora: até a letra se iniciar, a canção verdadeiramente soa diferente da original e eleva as expectativas. As músicas são antigas, mas The Other Side of Life: Piano Ballads é novidade. Só que, nas que seguem, a banda não sai da zona de conforto o suficiente para explorar as possibilidades. Algumas das faixas, como Youth (Piano) e Sleep Apnea (Piano), trocam os vocais desfocados e distantes, característicos da Beach Fossils, pela melodia e profundidade na voz de Dustin Payseur, mas essa é a maior inovação até então.

Com os enérgicos riffs de guitarra dando lugar aos saxofones e o piano fazendo jus ao nome do álbum, se impondo como o fio condutor e o elemento central do disco, as novas versões soam sentimentais, imersivas e melancólicas. E, no geral, o projeto acaba ficando por isso mesmo, uma homenagem à discografia da Beach Fossils, sem muitas novidades. Ao final, apesar da banda ser literal demais, The Other Side of Life: Piano Ballads entrega justamente o que propõem: canções em sua versão piano, nada mais, nada a menos. – Vitória Lopes Gomez


Capa do disco Pelo Celular. Nela se vê um desenho do cantor Davi Moraes. Um homem branco de cabelos ondulados e pretos. Ele veste um casaco preto e camisa branca com um colar de conchas no colarinho. À esquerda tem um celular preto. À direita se vê metade de um violão amarelo. O fundo são losangos pretos contornados de verde. No canto inferior direito lê-se em branco DAVI MORAES PELO CELULAR.
A música Maria Rita conta com a participação do baixista Marcelo Mariano (Foto: Patrizia D’Angello)

Davi Moraes – Pelo Celular 

No começo de 2021, Davi Moraes lançou Todos Nós, o EP em homenagem ao seu pai Moraes Moreira, falecido em abril de 2020. Agora, o guitarrista lança o álbum Pelo Celular. Mais experimental do que seus outros três discos, o trabalho trafega bastante pelos instrumentais que são o ponto forte de Davi, e o título do disco não é acaso. Com o computador quebrado, o músico gravou cinco das oito faixas com seu aparelho telefônico. As outras três faixas foram gravadas no estúdio Savalla Records.

Acompanhado por violão, guitarra e percussão, Davi construiu um disco intimista. Os destaques do trabalho ficam com Maria Rita, composição de César Camargo Mariano em homenagem à sua filha com Elis Regina, e com o instrumental de Wave, grande clássico de Tom Jobim. Iracema, que conta com o piano de Fernando Moura, também brilha e reluz na tracklist. As músicas autorais contam com Cainã Cavalcante, Fausto Nilo e Luiz Caldas nas composições. – Ana Júlia Trevisan


Capa do álbum Solar Power, da cantora Lorde. Ela é uma mulher branca e veste uma camiseta de manga longa de cor amarela. Na fotografia, é possível ver o céu ao fundo, enquanto Lorde corre pela praia. Na parte superior, pode-se ler Solar Power, escrito em fonte de cor amarela.
Lorde lançou uma versão de luxo de Solar Power, com duas faixas bônus inéditas (Foto: Universal Music New Zealand)

Lorde – Solar Power (Deluxe Edition)

Depois do aclamado e introspectivo Melodrama (2017), Lorde surgiu sorridente em Solar Power, seu mais recente disco, lançado em agosto de 2021. O álbum apresentou uma nova faceta da cantora, na qual sua típica voz ganhou leveza e desenvoltura, sem a carga dramática de canções anteriores, além de trazer participações mais que especiais de Clairo e Phoebe Bridgers. Quatro meses depois, a cantora decidiu nos presentear com uma edição de luxo do projeto, trazendo duas canções inéditas, descritas pela artista como as “ovelhas negras” do disco.

Solar Power (Deluxe Edition) foi divulgado após o lançamento do videoclipe da canção Fallen Fruit, e a primeira faixa bônus que compõe o disco é Helen of Troy, chamando atenção pela brincadeira estabelecida entre o refrão cantado por Lorde e o sintetizador alternado, além de manter uma aura de música improvisada que a completa com maestria. Hold No Grudge inicia-se com acordes de guitarra, e funciona como um retrato de relacionamentos que se esgotam com o tempo. Embora as canções não tenham integrado a versão final de Solar Power, são ainda grandes músicas e não deixam nada a desejar em relação a tracklist do álbum. – Bruno Andrade


Capa do álbum Time Flies de Ladyhawke. Imagem de Ladyhawke com metade do corpo dentro de uma piscina coberta. Ladyhawke é uma mulher branca de 42 anos com cabelo mullet loiro e olhos azuis. Ela veste um conjunto de terno pink com uma camisa de cetim branco cintilante. Seu rosto está virado para a direita, sua perna esquerda está levemente dobrada para cima e suas duas mãos tocam a água. É noite e Ladyhawke está iluminada por uma luz azul, que contrasta com os tons roxo do fundo da sala de piscina, como bissexual lightining.
Em Time Flies, Ladyhawke afoga as tristezas num mergulho eletrônico pelas texturas dos sintetizadores (Foto: Mid Century Records)

Ladyhawke – Time Flies

O tempo voa e Ladyhawke – alter ego de Pip Brown –, aterrissa no ano de 2021 ainda amarrada ao passado. No quarto álbum de estúdio, a cantora, compositora e streamer (sim), bebe da mesma fonte de sua última coletânea, o despretensioso Wild Things (2016). Seu catálogo impressiona pela variedade de texturas sintéticas combinadas à tecnologia vintage de microfones antigos que exploram a natureza flamboyant dos anos 80. Mais destemida do que nunca, Time Flies (2021) é pura nostalgia.

Produzido por um grupo de colaboradores expressivos, o álbum conta com a participação de Tommy English (compositor e produtor que trabalhou com Carly Rae Jepsen, Kacey Musgraves, Adam Lambert e outros), Josh Fountain, Jeremy Toy, Chris Stracey e Jono Sloan. A composição é registro do amadurecimento pessoal de Brown durante o período de cinco anos no qual lidou com a maternidade, depressão e uma doença grave; contudo, sem ser literal. Transformando o clima sombrio em ritmo cativante, a neozelandesa confere leveza à assuntos pesados, refletidos ao longo das onze faixas, coesamente interligadas entre si.

Inaugurado pela irresistível My Love, Ladyhawke clarifica as razões de ter sido um dos expoentes do renascimento do synth-pop indie no final da década de 2000. Da guitarra distorcida de Mixed Emotions à delicadeza dos sintetizadores de Take It Easy Mama – hino que invoca as baladas cristalinas de Fleetwood Mac –, para Brown, a Música é terapêutica. Ela escapa da tristeza por meio dos arranjos sinestésicos, perdendo-se através deles. – Ayra Mori


Capa do álbum Um Gosto de Sol. Fotografia quadrada. Ao fundo, observamos um quarto de parede florida, com um colchão branco e alguns objetos espalhados por todos os cantos, como uma garrafa plástica, um calendário e um balão de aniversário. A cantora Céu está em cima do colchão. Ela é uma mulher de vestido estampado e está com o pé direito cruzado sobre o esquerdo. No canto superior direito, há um sol azul, onde está escrito Um Gosto de Sol em letras também azuis.
Um gosto de sol neste céu de som: assim são as sutilezas da vida (Foto: Cassia Tabatini/Urban Jungle Records)

Céu – Um Gosto de Sol

Para quem está entrando em contato com um álbum de Céu na íntegra pela primeira vez, como é o meu caso, Um Gosto de Sol sustenta uma ótima primeira impressão. Por meio de 12 faixas e dois interlúdios, a cantora paulista regrava, nesse disco, algumas das músicas de suas principais referências artísticas, conferindo-lhes um ar muito orgânico e suave. Mais do que isso, Céu dá brilho a algo bastante arriscado, tendo em vista que elaborar covers pode ser uma tarefa mais difícil do que gravar composições autorais ou exclusivas – ainda mais quando eles estão associados a nomes como Jimi Hendrix e Milton Nascimento.

Na escolha de repertório, a artista surpreende por misturar canções mais óbvias com as seleções mais inusitadas. E, em relação a como escutar corretamente Um Gosto de Sol, o melhor caminho talvez seja aquele apontado lucidamente pelo jornalista Mauro Ferreira – que, grosso modo, sugere não colocar em confronto as novas versões com os registros originais de cada composição. Para além do modo de apreciá-la, é justo e necessário reconhecer o talento de Céu como intérprete, posição relativamente nova para quem chegou aos discos com o homônimo álbum de 2005.

Por fim, e quase como uma tradição, algumas faixas merecem destaque. Seja na bela Ao romper da Aurora, que abre o CD, seja em Deixa acontecer, colaboração com Emicida, Céu mostra-se bem eclética em suas inspirações sonoras. Chega Mais, composta pelo maravilhoso casal Rita Lee e Roberto de Carvalho, continua sendo um dos auges de todo o disco. E não mencionar a faixa-título seria impossível, já que, além de nomear a obra inteira, essa música é assinada por Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Como podemos notar, só nomes de responsabilidade, não? – Eduardo Rota Hilário


Capa do álbum An Evening With Silk Sonic. A imagem é quadrada, com um fundo marrom claro, e o nome do disco se encontra em marrom escuro. Um desenho dos rostos de Bruno Mars e Anderson .Paak ilustra o centro da imagem, com o nomes dos cantores escrito logo embaixo.
Deixaria sua porta aberta para a dupla Silk Sonic? (Foto: Aftermath Entertainment)

Silk Sonic – An Evening with Silk Sonic 

Aconteceu, silk-fãs! Bruno Mars e Anderson .Paak finalmente deram luz a um disco de 9 faixas e muito soul. An Evening With Silk Sonic começou a ganhar forma lá em março, quando a dupla lançou a deliciosa Leave The Door Open, dando uma palhinha do que viria a seguir. Agora, com o projeto completo em mãos, é de se entender o motivo de tanto burburinho – enérgico e nostálgico na medida certa, com espaço de sobra para a veia criativa dos músicos pulsar livremente.

Cantando os anos 1970 sem deixar de lado os 2010, Silk Sonic embala seu ouvinte em um groove único que sai diretamente dos contornos da bateria de .Paak e da voz derretida de Mars. O romantismo é inevitável – já sabíamos disso desde o primeiro single –, mas, com menos de 32 minutos, An Evening with Silk Sonic entrega um disco de R&B sólido, cativante e coeso, que ainda conta com a participação do músico Thundercat e do baixista Bootsy Collins, anunciado na capa como “convidado-anfitrião especial”.

A estética retrô, inclusive, já se tornou marca da dupla, que é entrosada o suficiente para nos fazer sonhar com mais gravações futuras. E é esse tipo de química que Bruno Mars e Anderson .Paak compartilham, nascida em uma turnê de 2017, que surge como o maior catalisador do álbum de estreia da banda. Não acredita? Então dê play em Put On A Smile e confira a harmonia catártica que apenas Silk Sonic consegue alcançar. – Caroline Campos


EPs

Capa do EP The Walls Are Way Too Thin. Na imagem, vemos a cantora Holly Humberstone sentada em um tubo de ventilação. Holly Humberstone é uma mulher branca, de cabelos castanhos enrolados e longos, aparentando cerca de 20 anos. Ela veste uma camiseta larga, cinza e com detalhes em vermelho e preto, uma blusa de manga comprida com estampa em tons avermelhados por baixo da camiseta, calça jeans com desenhos de estrelas brancas na perna e na canela e botas plataformas pretas. Ela tem a perna esquerda levantada e apoiada, a perna direita estendida e a mão direita apoiada no chão.
Please Don’t Leave Just Yet, a terceira faixa do EP The Walls Are Way Too Thin, teve o dedo de Matty Healy, vocalista da banda The 1975, na produção (Foto: Polydor Records)

Holly Humberstone – The Walls Are Way Too Thin

Eu sei que eu sou jovem/mas não sou a porra de uma idiota” canta Holly Humberstone em Please Don´t Leave Just Yet. Parte do EP The Walls Are Way Too Thin, o segundo da artista britânica em ascensão, a canção traduz os anseios da cantora, comuns às seis faixas do trabalho, e refletem o período em que foram concebidas. Se o projeto anterior, Falling Asleep At The Wheel, era como um coming-of-age de Humberstone lidando com o fim da adolescência, o mais recente marca sua entrada na vida adulta. 

A mudança de fases não é didática, mas aparece no que a artista expõe em suas composições: seus medos, inseguranças, relações pessoais, tanto amorosas quanto de amizade, visões e perspectivas são temas que aparecem espalhados entre os vinte minutos do EP, em uma abordagem mais madura e sincera do mundo e de si mesma, assim como de seus sentimentos. Por exemplo, na introspectiva e profunda Thursday, ela olha para trás e canta “Eu pensei que, se eu tingisse meu cabelo/Eu me sentiria mais independente/Mas não ficou nada como a foto na caixa/E agora eu me arrependo”. 

Já em The Walls Are Way Too Thin, faixa que dá nome ao EP, Holly Humberstone usa metáforas para desabafar sobre suas experiências. “A casa está cheia, mas eu estou sozinha/Com todas as coisas que precisam ser consertadas, fora do meu controle”, ela reflete. Como a artista revelou, ela compôs o trabalho quando tinha acabado de se mudar para um apartamento em Londres e se sentia claustrofóbica, perdida e fora de controle por lá. Transpassando seus sentimentos turbulentos para o EP, Humberstone, com suas composições tocantes e seu ritmo indie pop acolhedor, fazem o íntimo de The Walls Are Way Too Thin ressoarem para além das intenções dela. – Vitória Lopes Gomez


Capa do EP EPISTOLARY GRIEVING FOR JIMMY SWAGGART. Duas fotos sobrepostas: a menos evidente é um plano próximo de uma pessoa branca vestindo uma camisa branca listrada, e a segunda é de um campo com árvores ao fundo, com cores bem dessaturadas.
Em seu novo EP, Kristin Hayter deixa de lado seu canto lamentoso e explora a recitação (Foto: Lingua Ignota)

Lingua Ignota – EPISTOLARY GRIEVING FOR JIMMY SWAGGART

Funcionando quase como um anexo ao poderoso disco SINNER GET READY, EPISTOLARY GRIEVING FOR JIMMY SWAGGART, lançado na página do bandcamp da artista Lingua Ignota, é composto por 4 faixas, além de um acompanhamento visual em vídeo. A partir de cartas direcionadas ao pregador norte-americano Jimmy Swaggart, que já havia aparecido em um sample na canção THE SACRED LINAMENT OF JUDGEMENT, a artista se aprofunda nas temáticas religiosas do disco, exorcizando e processando as dúvidas e traumas do passado. 

Em faixas breves, e com instrumentação simples, não se trata de um trabalho propriamente musical, uma vez que Lingua Ignota/Kristin Hayter não chega a cantar de fato. Recitando seu texto, ela explora um diálogo entre linguagem e imagem e as mudanças de sentido que um texto adquire dependendo do meio. Sequer lançado em plataformas de streaming, EPISTOLARY GRIEVING FOR JIMMY SWAGGART é um pequeno projeto artístico inteiramente realizado por Hayter, de uma artista que vem fazendo de sua arte uma forma de processar seus traumas e de borrar as fronteiras entre o sagrado e o profano. – João Batista Signorelli


Capa do disco Once Twice Melody, da dupla Beach House. Na imagem, há um fundo branco com bordas douradas. Ao centro, há um quadrado com seus entornos dourados, e ao centro está escrito Once Twice Melody, em fonte de cor dourada.
Once Twice Melody é o oitavo álbum de Beach House, que será lançado em quatro capítulos e teve sua primeira parte divulgada em 10 de novembro de 2021 (Foto: Sub Pop Records)

Beach House – Once Twice Melody: Chapter 1

Desde 2006, a dupla de dream pop intitulada Beach House, composta por Victoria Legrand (vocais e sintetizadores) e Alex Scally (guitarra e sintetizadores), conduz um cenário onírico, repleto de camadas expansivas e devaneios. A essência do duo parece ser a indução aos desejos indefiníveis, cujo flerte com o universo cinematográfico — ensaiado desde sua estreia e visível em seus shows à contraluz — ganha novas proporções com Once Twice Melody, EP com 4 canções lançado em 10 de novembro. O mini-disco é o primeiro capítulo do oitavo álbum da dupla, composto por quatro partes separadas.

No projeto, Beach House avança por caminhos mais surrealistas e psicodélicos, já apresentados no antecessor 7, de 2018. A abertura do disco fica a cargo da faixa-título, que soa como um teaser evocativo ao estilo música-de-viagem, e deixa bastante claro que nossos devaneios permanecem mesmo após uma viagem psicodélica, pois, ao término da canção, há uma sensação esquisita de esquecimento daquilo que acabamos de ouvir, e ficamos reféns de nossas próprias confusões mentais — talvez isso seja proposital, considerando as diversas camadas inseridas na faixa. Enquanto Superstar ilumina-se através de sintetizadores brilhantes, Pink Funeral dá o contraponto melancólico. Com o primeiro capítulo de Once Twice Melody, Beach House reafirma seu protagonismo na trilha sonora dos sonhos. – Bruno Andrade


Capa do EP Outside Voices. Na imagem, vemos um gramado verde, ocupando a maior parte da imagem, e árvores verdes escuras, ao fundo. Ao centro, sentada no gramado, vemos a cantora K.Flay dentro de um quadrado de vidro, em que ela apoia suas mãos. Ela é uma mulher branca, de cabelos pretos lisos na altura do ombro, aparentando cerca de 30 anos, vestindo uma camiseta verde com listras amarelas, uma calça azul clara, meias brancas de cano alto e tênis quadriculados.
Na capa de Inside Voices, K.Flay gritava; já em Outside Voices, ela aparece presa em uma caixa, protegida do exterior (Foto: K.Flay)

K.Flay – Outside Voices

Do hip-hop do álbum Life as a Dog, ao alt-rock de Every Where Is Some Where, ao pop de Solutions, K.Flay vive passeando entre os gêneros musicais. Os EPs de Kristine Flaherty, nome real da artista, também seguem essa linha: ela experimenta diferentes sonoridades, mas sempre com pontos semelhantes entre eles, que não parecem reciclados quando a maior parte do que é apresentado é novo e diferente. Em seu mais recente lançamento, o EP Outside Voices, a musicista se distancia do estilo que a rendeu uma indicação a Melhor Música de Rock no Grammy 2018 e se volta ao alt-pop

Como a segunda parte de um projeto de dois EPs complementares, as cinco canções vêm cinco meses depois das cinco da primeira parte, Inside Voices. Diferente do pop punk de seu irmão, o gênero escolhido para Outside Voices não cai tão bem para a artista, mas, novamente, ressalta a sua habilidade de diversificar. E apesar das constantes mudanças, o caráter pessoal se mantém: em Nothing Can Kill Us, por exemplo, ela sofre pelo fim de um relacionamento romântico e por seu coração partido, enquanto em Maybe There’s a Way e Weirdo, pensa na própria identidade e inseguranças. Já em I’m Afraid of the Internet, volta um olhar crítico à internet e aos efeitos negativos da vida on-line e do capitalismo. Ao final, como a própria K.Flay afirma, Outsides Voices serve para refletir “o caos do mundo e dela mesma”. – Vitória Lopes Gomez


Capa do EP Live-Cade. A imagem mostra um conjunto de formas e texturas abstratas de diversas cores.
black midi é uma das grandes revelações do rock britânico (Foto: Rough Trade)

black midi – Live-Cade

Depois da enorme demonstração de talento vista em Cavalcade, a banda de rock experimental black midi volta para fechar 2021 com este EP que reúne 5 gravações ao vivo, realizadas no Soup Studios em Londres, o mesmo onde gravaram sua performance para a KEXP. O lançamento não chegou às plataformas de streaming no Brasil, mas veio acompanhado de vídeos mostrando 4 das performances registradas no EP.

John Hell faz jus ao seu novo nome, e é uma versão ainda mais veloz e insana do que a gravação original que abria Cavalcade. Chondromalacia Patella traz a mesma carga de energia, e Marlene Dietrich traz uma leveza bem-vinda após tanto caos. A surpresa fica por conta da serena Despair, que havia sido lançada apenas acompanhando o single de John L, e ganha aqui seu merecido espaço. – João Batista Signorelli


Texto alternativo: Capa do EP Intimidated de KAYTRANADA. Ilustração realista de um grupo de pessoas negras com as mãos levantadas para cima em conjunto, como em um culto. A ilustração foi feita com grafite sobre papel de cor ocre.
O projeto de KAYTRANADA reúne três intérpretes: H.E.R., Thundercat e Mach-Hommy (Foto: RCA Records)

KAYTRANADA – Intimidated

KAYTRANADA é com certeza o epítome do bom ritmo. Batidas viciantes, arranjos dançantes e produção futurista são marcas registradas do universo musical do DJ haitiano-canadense, que reuniu três colaborações profícuas no primeiro lançamento desde BUBBA, álbum vencedor de um Grammy 2021 na categoria Melhor Álbum de Dance/Eletrônica. Intitulado Intimidated, no mais recente EP, o artista acentua impecavelmente as qualidades de cada vocalista convidado, ao mesmo tempo que conserva sua própria identidade versátil.

Aberto por Intimidated, a faixa-título conta com a participação ilustre de H.E.R., que desliza suavemente sobre o padrão de uma percussão compassada, apoiando-se por um house agradável que preenche a canção. Interrompendo a atmosfera anterior, Be Careful logo se inicia pelo pulsar de uma batida densa acompanhada do falsete sedoso de Thundercat. Por fim, encerrando a breve trilogia com chave de ouro, $payforhaiti combina os versos bilíngues do rapper haitiano Mach-Hommy, que ostenta sua ancestralidade com orgulho enquanto desliza sem esforços através do set enérgico de KAYTRANADA. – Ayra Mori


Músicas

Capa do single Bite Me. No canto superior esquerdo, vemos as palavras “Avril Lavigne” em uma letra vermelha, em caixa alta, em uma fonte estilizada. No canto superior direito, vemos uma nuvem branca e a sombra. Em frente a uma parede azul clara, vemos a cantora Avril Lavigne ao centro, sentada em um chão quadriculado em preto e branco, como se fosse um xadrez. Avril Lavigne é uma mulher branca, de cabelos loiros lisos e compridos, vestindo uma blusa preta com brilhos brancos no busto, uma saia listrada azul e preta e botas pretas de couro de cano alto. Ela tem suas mãos apoiadas ao lado do corpo sentado e olha para a câmera. Ao lado direito dela, no chão, vemos um bolo preto em formato de coração com o contorno e as palavras “BITE ME” em vermelho. No canto inferior direito, vemos o símbolo do Parental Advisory.
Ainda sem nome revelado, o sétimo álbum de Avril Lavigne já está pronto e contará com a participação de Machine Gun Kelly (Foto: DTA Records)

Avril Lavigne – Bite Me

Avril Lavigne finalmente voltou às suas raízes pop punk. Com o single Bite Me, a artista dá o pontapé inicial na era de seu próximo álbum, que, como ela antecipou, será marcado pelo gênero musical. A canção vem depois do último álbum da cantora, o pop Head Above Water, de 2019, e foi produzida por MOD SUN, John Feldmann e Travis Barker, três nomes recorrentes e de peso na cena do punk. Inclusive, a parceria com Barker não é de agora e Bite Me é a estreia de Avril Lavigne na DTA Records, gravadora comandada pelo baterista da blink-182, com a qual ela assinou para a realização do seu sétimo álbum. Com participação do veterano na percussão, a sonoridade ‘quebra-tudo’, os vocais afiados, que cantam sobre não dar uma segunda chance a quem não merece, e os visuais rebeldes fazem do primeiro single de Avril um retorno e tanto. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Sem Filtro. Fotografia quadrada. Ao fundo, observamos um céu durante a noite, com uma cidade repleta de prédios na parte inferior. A cantora IZA está centralizada. Ela é uma mulher negra, maquiada, de roupa avermelhada, deixando a maior parte do corpo à mostra, e flutua de olhos fechados e braços abertos. Uma luz avermelhada surge ao redor da artista.
Sem Filtro é o segundo single do ainda inédito novo álbum de estúdio de IZA (Foto: Warner Music Brasil)

IZA – Sem Filtro

Para quem está de antenas em pé desde 2016, graças à nem sempre lembrada canção Quem Sabe Sou Eu, ver o sucesso de IZA hoje, e a notável evolução da artista em Sem Filtro, é uma explosão de alegria e orgulho. IZA é assim mesmo: merecedora de todas as hipérboles, crescendo dia após dia. E se a situação pandêmica tentou travar suas criações em um primeiro momento, a veia artística dessa mulher multiplamente incrível logo falou mais alto, para o bem geral da Música brasileira.

Sem Filtro, IZA não fica de fora da tão amada estética futurista e cyberpunk, há décadas recorrente na cultura pop. Assumindo uma narrativa que lembra um pouco Open Your Heart, de Madonna, a artista protagoniza, para este novo single, um videoclipe bastante sensual e totalmente mergulhado em liberdade. Dirigido por Felipe Sassi, o vídeo que ilustra a composição de Carol Marcilio, Luccas Carlos e Rafinha RSQ pode facilmente ser considerado um dos melhores lançamentos audiovisuais do ano – e é totalmente páreo para obras estrangeiras. – Eduardo Rota Hilário


Capa da música New Shapes. A foto mostra uma mulher branca e de cabelos pretos e roupa azul sentada em uma cadeira. O fundo é branco e no canto superior direito está escrito Charli XCX em fonte preta e cursiva
Isso aí que você quer infelizmente eu vou ficar te devendo… (Foto: Warner Records UK)

Charli XCX, Christine and the Queens e Caroline Polachek – New Shapes

DJ, solta o batidão que a Charli chamou a Christine e a Caroline para mais uma música do caralho! O trio de Cs lança uma parceria gostosa de ouvir e de dançar, cantando sobre as novas formas de um amor já existente. Com a composição se moldando dentro do estilo de cada uma das intérpretes, a faixa apenas cresce. Charli abraça a persona de cantora pop fodona, Christine internaliza vocais poderosos e Caroline grita melancolia. Sem dúvidas, New Shapes merece espaço na lista de melhores de 2021. – Vitor Evangelista


Capa do single Sky Love, da cantora Foxes. Foxes está sentada no chão no centro da capa, que representa vários portais brancos diminuindo de tamanho até terminar em um quadrado branco no qual a cantora se apoia. Foxes é uma mulher caucasiana de cabelos pretos e lisos até o ombro. Ela usa um corpete dourado com laços rosa nos ombros e uma meia calça branca com padrões em linhas pretas. No canto inferior esquerdo da capa, em letras pretas cursivas, o título do single está escrito.
O novo single da britânica decola com amor (Foto: [PIAS] Recordings)
Foxes – Sky Love

A cantora britânica Foxes retornou em novembro com mais um single de seu aguardado terceiro álbum, The Kick. Assim como Sister Ray e Dance Magic, Sky Love mantém o ritmo dançante e o clima de festa-em-casa que parecem marcar a nova era da artista. Mais ainda do que em Glorious, seu primeiro disco, aqui ela parece se entregar de corpo e alma ao pop, nos dando mais uma faixa elétrica e reconfortante, com um refrão instantaneamente reconhecível que implora para ser sussurrado enquanto você a escuta. – Gabriel Oliveira F. Arruda


Capa do single Não Me Chama de Sua. Na capa, em frente a uma floresta com árvores de troncos finos e matos baixos e amarronzados, vemos, ao centro, a cantora Ana Gabriela de olhos fechados e com seus braços estendidos para cima. Ana Gabriela é uma mulher branca, de cabelos castanhos curtos, aparentando cerca de 25 anos, vestindo uma camisa de manga longa amarela e um shorts jeans claro.
“Não me chama de sua/Que na real, sou minha” (Foto: Deck)

Ana Gabriela – Não Me Chama de Sua

Ana Gabriela apagou todas as fotos de seu Instagram para anunciar seu novo single, Não Me Chama de Sua, o segundo da artista depois do seu último álbum. Enquanto o lançamento anterior, Capa de Revista, falava de um relacionamento de um jeito glamouroso e com letras bem pensadas, o recente é mais simples, mas soa como um grito entalado na garganta da cantora, que escreveu a faixa com mais outros três compositores. E ainda que repetitiva, a animação na voz da artista, o ritmo agitado e as batidas do violão, ao invés do dedilhado de sempre, contagiam. Não Me Chama de Sua, assim como o single anterior, ainda não foi anunciada como parte de um grande projeto, mas já indica que a nova fase de Ana Gabriela veio com uma guinada de energia. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Afetou-me. Arte quadrada, com fundo vinho e borda branca. No canto superior esquerdo, lemos LAB Sonora em letras laranjas. No centro, uma figura avermelhada e aparentemente feminina, semelhante a uma rainha, domina uma espécie de massa alaranjada, como se fosse um rio de lava. Na parte inferior, lemos Afetou-me em letras azuis.
Palavras são insuficientes para descrever este encontro (Foto: LAB Sonora/Let’s GIG/Rebeca Canhestro)

Josyara, Anná, Obinrin Trio e Sara Donato – Afetou-me

Precisamos agradecer imensamente ao Sonora Festival São Carlos. Para ser mais específico, devemos gratidão direta ao seu Laboratório Sonora. Com muito afeto, essa iniciativa reuniu uma equipe de responsabilidade e talento para criar Afetou-me: um single e seu respectivo videoclipe. Com música composta e cantada por Josyara, Obinrin Trio, Anná e Sara Donato, esta obra tem produção musical assinada por Luana Flores. E o resultado de “uma criação coletiva” tão diversa não poderia ser mais rico.

Curiosamente, esta não é a primeira vez que Anná e Luana Flores brilham em um mesmo Nota Musical. Em setembro, ambas receberam destaque por aqui, graças a dois lançamentos distintos. Agora, para a felicidade geral, elas estão juntinhas em uma mesma música. E a situação só melhora: se Afetou-me já é um deleite sonoro e poético, o clipe que esse single ganhou, dirigido por Joyce Prado, consegue ser múltiplo e repleto de liberdade criativa, podendo fascinar muita gente. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single LA FAMA, de ROSALÍA e The Weeknd. A imagem é quadrada e tem fundo branco. À direita, está ROSALÍA, cujo corpo aparece dos quadris para cima e está virado para o lado esquerdo, mas ela está olhando em direção à câmera. ROSALÍA é uma jovem branca de cabelos castanhos lisos molhados e usa um vestido de brilhos prateados. No lado direito da imagem, está The Weeknd, cujo corpo aparece apenas dos ombros para cima e está virado para frente. Ele é um homem negro, de cabelos castanhos crespos e veste uma blusa vermelha. Os rostos dos dois artistas estão com efeito de queimado, mostrando um fundo roxo. No meio da capa, na linha inferior, está escrito o nome da música e o nome dos artistas em letra de forma e caneta azul.
Antes de encerrar o ano, ROSALÍA nos apresentou o primeiro single de seu próximo álbum (Foto: Columbia Records)

ROSALÍA e The Weeknd – LA FAMA

A união de ROSALÍA e The Weeknd não tem erro. Depois do remix da bombada Blinding Lights, a dupla assina LA FAMA, canção que ostenta um luxuoso pop com referências à bachata em um conto sobre as seduções perigosas do sucesso. Segura e repleta de metáforas e mensagens, o maior triunfo da música é a lembrança das habilidades artísticas de ROSALÍA, que sempre se dedica a ricas narrativas sonoras e visuais. E é assim que a artista nos apresenta a primeira faixa oficial de seu tão esperado próximo álbum, responsável por suceder o magistral EL MAL QUERER (2018), que até então atende por MOTOMAMI e tem o lançamento planejado para 2022. – Raquel Dutra


Capa do single Cherry. Na capa, em frente a um fundo granulado em tons de rosa, vemos as palavras “FLETCHER” e “HAYLEY KIYOKO” em caixa alta e em branco na parte superior central. Na parte inferior à esquerda, vemos uma cereja vermelha com o cabo por toda a extensão vertical da capa, até o topo. À frente da cereja, na parte inferior central, vemos a palavra “CHERRY” em caixa alta e em branco.
Segundo FLETCHER em entrevista à Revista Out, Cherry é a antecessora de girls girls girls, o single anterior da cantora (Foto: Capitol Records)

FLETCHER e Hayley Kiyoko – Cherry

Duas artistas de destaque no cenário pop LGBTQIA+, FLETCHER e Hayley Kiyoko uniram seus talentos e vozes em Cherry, uma colaboração mais do que esperada. A estrela em ascensão e a “Lesbian Jesus”, como Kiyoko ficou conhecida, não têm medo de cantar sobre sexualidade e sobre amar mulheres e, depois de superarem o marketing da revelação, entregaram um single que não poderia ser diferente: divertido, sedutor e ousado, as duas brincam e flertam na canção, que teve sua data anunciada dois antes do lançamento. Em apenas dois minutos e meio, Cherry expressa a curiosidade de se tornar íntima de alguém em um ritmo dançante e animado que, como outros trabalhos das artistas, grudam na cabeça e dão vontade de dançar. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single Believe (Acústico). Fotografia quadrada. Ao fundo, é possível observar um cômodo com possíveis móveis cobertos por panos claros. A cantora Jade Baraldo ocupa principalmente o lado direito da imagem. Ela é uma mulher branca, de cabelos ruivos, tatuagens no braço direito, olha para baixo, está de vestido preto, com o braço esquerdo triangularmente dobrado, sendo que a mão esquerda toca a cabeça, enquanto o braço direito está esticado até o canto inferior esquerdo da capa.
“Você acredita em vida após o amor?” (Foto: Warner Music Brasil)

Jade Baraldo – Believe (Acústico) 

Leandro Buenno não é o único ex-The Voice Brasil e membro do novo elenco de Cazas de Cazuza presente nesta edição do Nota Musical. Isso porque, além dele, uma de nossas brasas artísticas contemporâneas nacionais também esteve de single novo em novembro. Regravando, para tanto, o hit Believe, da cantora-deusa estadunidense Cher, Jade Baraldo ressignifica bastante a composição estrangeira, de autoria múltipla, dando identidade própria à música que está na trilha sonora da novela Quanto Mais Vida, Melhor!, recém-lançada pela TV Globo.   

Deixando de lado o Auto-Tune, marca registrada da gravação original, a cantora brasileira agora dá lugar à suavidade orgânica de um projeto acústico muito belo. E os elementos mais bonitos do single não se restringem à sua sonoridade, já que a capa da canção, foto escolhida por meio de uma votação no Instagram, é, no mínimo, maravilhosa. No fim, esse conjunto de sensibilidade e bom gosto faz com que o brilho de uma artista de qualidade, que já cantou ao lado de Chico César, seja irradiado em nível nacional. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Bread Song. A imagem é a pintura de uma miniatura inteira branca de uma casa embalada em plástico transparente, fechado por grampos e uma aba com o desenho da mesma casa, agora pintada em laranja, branco e preto, com um céu azul e raios ao fundo. A embalagem está pendurada por um gancho preso a uma parede laranja com furos equidistantes.
“Oh, não coma sua torrada em minha cama/Oh querida, eu nunca senti as migalhas até que você dissesse/Este lugar não é para qualquer homem/nem partículas de pão” (Foto: Ninja Tune)

Black Country, New Road – Bread Song

Black Country, New Road, o septeto britânico que despontou no início deste ano com o magistral álbum For the first time, não conseguiu esperar um ano sequer para continuar a nos surpreender. O segundo single para o aguardado álbum Ants From Up There, que só será lançado ano que vem, foge do caos explosivo de Sunglasses, mas com a mesma carga emocional crescente provocadora de arrepios no corpo inteiro. Bread Song é a coisa mais sensível que o grupo já lançou até o momento.

Na primeira metade da música, não há qualquer tipo de tempo determinado por uma marcação de compasso. Movida por uma temporalidade subjetiva, que ainda assim de alguma forma conecta todos os membros da banda, a canção constrói expectativa conforme mais e mais instrumentos se juntam, até que a entrada do ritmo na metade da música é delicada, aliviando a tensão, mas mantendo a elevação crescente que parece nos ascender até o céu. Não parecem haver limites para a criatividade de Black Country, New Road, e não poderíamos estar mais agradecidos por isso. – João Batista Signorelli


Capa do single Be Alive, de Beyoncé. A imagem mostra uma fotografia de um pai e duas filhas brincando com um carrinho de supermercado. O pai é interpretado por Will Smith. Ele é um homem negro, veste uma blusa branca com listras vermelhas, um short vermelho e tênis e empurra o carrinho. De pé, apoiada no carrinho, está uma menina negra que veste uma blusa listrada azul e amarela e shorts jeans. Dentro do carrinho, segurando duas raquetes de tênis, está a segunda menina. Ela é negra, e usa uma camisa listrada em rosa e verde água. Ela está sentada em muitas bolas de tênis que ocupam o fundo do carrinho. Todos eles sorriem. Na linha superior da imagem, ao centro, está o nome de Beyoncé numa fonte serifada em caixa alta e azul. Embaixo, está o nome da música numa fonte de letra de mão e vermelha. Na linha inferior da imagem, embaixo da fotografia da família.
Hmmm, que cheirinho bom de Oscar! (Foto: Parkwood Entertainment LLC)

Beyoncé – Be Alive (Original Song from the Motion Picture “King Richard”)

Enquanto o novo disco de Beyoncé não vem, a artista pode ser apreciada na trilha de King Richard: Criando Campeãs. No novo filme Reinaldo Marcus Greene, ela assina Be Alive, canção que embala poderosamente a história de Richard Williams, mais conhecido como o pai de Serena e Venus Williams, duas das melhores atletas da história e vetores de transformação profunda no mundo do Tênis. Você já deve saber o que esperar de uma das apostas para o Oscar de Melhor Canção Original de 2022: a junção de uma narrativa tão significativa com a perfeição de Beyoncé não poderia resultar em outra coisa além de uma beleza monumental. – Raquel Dutra


Capa do single Contra Corrente. Fotografia quadrada, com fundo azul, repleto de raios. O cantor Leandro Buenno ocupa quase toda a imagem. Ele é um homem branco, de cabelo e barba curtos, roupa e luva aveludadas azuis, brinco, anel e boca semiaberta. Na parte inferior, de maneira centralizada, lemos, de cima para baixo, Leandro Buenno, Contra Corrente em letras brancas.
Contra a corrente ou não, Leandro Buenno merece atenção (Foto: baila records)

Leandro Buenno – Contra Corrente

Apresentações no Programa Raul Gil, destaque no The Voice Brasil 2014, um percurso como DJ e, mais recentemente, a experiência de ser um dos atores do musical Cazas de Cazuza. Se o histórico artístico de Leandro Buenno já é rico e vasto, tudo indica que ele tende a crescer cada vez mais. Seja pela habilidade vocal, pela liberdade com o público ou, mais provavelmente, pelo conjunto de qualidades que possui, Leandro pode alcançar lugares que ainda nem imaginamos. Mesmo que, para isso, ele tenha que nadar Contra Corrente algumas vezes.

Com composição autoral, o novo single de Buenno tem produção musical assinada pelo próprio artista, ao lado de Dinho Alves, e mostra um lado bastante experimental do cantor paulista. Trata-se de uma sonoridade que até apresenta algumas semelhanças com outras criações nacionais, a exemplo do Café Preto de Davi Sabbag. Mas é, sobretudo, uma obra que introduz algo novo em nosso cenário criativo, diferente daquilo que está no atual mainstream brasileiro. Um “strike a pose!” antropofagicamente reinventado. Ou quase isso. – Eduardo Rota Hilário  


Capa do single The Only Heartbreaker de Mitski. Imagem preto e branca do rosto aproximado de Mitski, mulher amarela nipo-americana. Ela está com o rosto voltado para cima, seus olhos estão fechados e sua boca semicerrada. A fotografia possui efeito granulado e acima dela estão padrões irregulares em vermelho, semelhantes a rasgos e cortes.
Mitski está de volta provando que sim, é possível chorar enquanto se dança (Foto: Dead Oceans)

Mitski – The Only Heartbreaker

Mitski é (ou melhor, continua sendo) o fogo e a floresta e a única testemunha do próprio incêndio. Com The Only Heartbreaker, a artista dá sequência a prévia de singles que integrará Laurel Hell, próximo álbum desde o primoroso Be The Cowboy, considerado um dos melhores de 2018. Previsto para fevereiro de 2022, o registro foi produzido pelo parceiro de longa data, Patrick Hyland, além de ser co-composto junto de Dan Wilson, vocalista da banda Semisonic que trabalhou com nomes potentes como Taylor Swift e Adele.

Se afastando da moderação comum de seu indie rock, Mitski conduz The Only Heartbreaker por uma instrumentação oitentista densa. Contudo, apesar do ritmo dançante, a melancolia ainda se faz amargamente presente. Tudo que é tocado por ela imediatamente se queima pelo fogo, num prenúncio infeliz do fim de um amor. E quando já não há mais ninguém ao seu lado, ela processa o sentimento angustiante de ser a única parte apaixonada de um relacionamento, aceitando a catástrofe, nem que isso signifique invocar deliberadamente a dor. Ela rebate, ela canta, ela grita. Ela aceita o título de destruidora de corações, restando nada mais do que dançar, dançar sobre as cinzas através do frenesi das batidas de um sintetizador à moda Take On Me. – Ayra Mori


Capa do single Masculinidade de Tiago Iorc. Na foto, há um fundo branco, e Tiago Iorc está de olhos fechados, descalço, sem camisa e vestindo uma calça estilo boca larga, de cor vermelha. Iorc é um homem branco, e possui cabelos bem curtos, quase raspados, de cor preta. Ele está com os dois braços estendidos para as laterais. Na parte superior da fotografia está escrito Masculinidade, em fonte de cor preta.
Imerso em controvérsias, Masculinidade, novo single de Tiago Iorc, marca o retorno do cantor após o segundo hiato da carreira (Foto: IORC)

TIAGO IORC – Masculinidade

Então, é isso: onde Tiago Iorc quer chegar? Após o segundo hiato da carreira, o cantor ressurge das cinzas com a canção Masculinidade, single que veio acompanhado de um clipe controverso, no qual o artista tenta desenvolver uma imersão em autoconhecimento. Ao longo de seus 6 minutos de duração, ouvimos Iorc recitar trechos nos quais levanta paradigmas sociais e problemas de gênero, acompanhado de batidas eletrônicas bastante destoantes da típica fórmula voz e violão de seus hits anteriores.

Mas a música, em si, não é boa. É como ouvir um diário cantado, no qual o artista evoca suas próprias memórias e arquétipos para confrontar problemas sociais profundos, como a misoginia e o machismo — basta enxergar o clipe, co-dirigido pelo próprio cantor, em que sua figura performa uma dança solitária, o alçando ao protagonismo de seus questionamentos sociais —, e reduzindo-os a estereótipos. É fato que se trata de uma canção pessoal, e, a bem da verdade, não há nenhuma novidade em apresentar uma visão particular sobre o todo, abarcando rachaduras sociais em sua composição. Esse geralmente é o ponto de partida de diversos artistas, principalmente no rap e no hip-hop.

Entretanto, a presença individual do cantor põe em voga uma representatividade, na qual Iorc fala por todos os outros — ou talvez tente dar voz a uma geração —, o que joga todo o clipe e música (lembre-se: ela se chama Masculinidade) em uma viagem egocêntrica cisheteronormativa. É também interessante destacar que essa é uma canção divergente do restante da carreira do músico, sendo algo totalmente fora do radar de qualquer fã do cantor — é só compará-la aos versos e melodias da ritmada Amei Te Ver, de 2015. Aparentemente, houve a tentativa de transmitir algo aqui, uma mensagem particular que fazia — e talvez fez — muito mais sentido na cabeça de Tiago Iorc, alguma coisa que forçou o musicista a deixar de lado aquilo que o levou às paradas de sucesso; porém, o resultado é um clichê polêmico e raso, insustentável sem qualquer mérito da canção. – Bruno Andrade


 Capa do single Essa Paixão. Fotografia quadrada, com fundo vinho. No canto superior esquerdo, lemos Essa Paixão em letras cor-de-rosa. No canto superior direito, lemos, de cima para baixo, Romero Ferro, Lucy Alves em letras igualmente cor-de-rosa. A dupla Lucy Alves e Romero Ferro ocupa quase toda a imagem. Lucy Alves está no lado esquerdo da capa, usa um top, uma luva, batom e brincos, todos vermelhos, coloca a mão direita perto do lábio de Romero, enquanto olha de lado para uma direção que não vemos. Romero Ferro está no lado direito, tem barba, usa uma roupa branca, brinco vermelho e olha para frente.
“Eu sei que você tá esperando alguém/Mas por que esse alguém não sou eu?” (Foto: Lana Pinho/Luiz Wachelke/Olga Music)

Romero Ferro e Lucy Alves – Essa Paixão

Expectativas foram superadas no novo single de Romero Ferro. Nessa parceria com Lucy Alves, a dupla de cantores nordestinos não só interpreta, como também assina a composição super passional de Essa Paixão. Abraçando o tema ligado ao coração, que é bem recorrente na linha do tempo da Música nacional, Romero e Lucy dão vida e brilho a um som brasileiríssimo, que mistura, por exemplo, o pop tropical com forró e piseiro. Nessa combinação genuína de vozes e personalidades, tudo é, então, pura química, e nada soa forçado.        

O clipe da canção, por sua vez, é um deslumbramento à parte. Dirigido pelo próprio Romero Ferro, em conjunto com Marionaldo Júnior, que já trabalhou com o cantor em Pra Te Conquistar, o lado visual de Essa Paixão busca estabelecer diálogos com a obra de Pedro Almodóvar, ao mesmo tempo em que entrega figurinos apaixonantes. Indo além, trata-se de uma criação com combinações visuais radiantes, extremamente prazerosas  do ponto de vista estético – e que podem facilmente atrair os mais diferentes públicos. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Measure Of A Man de FKA twigs e Central Cee. Na imagem estão FKA twigs e Central Cee, em ordem, ambos com metade do rosto cortado pelas bordas. FKA twigs é uma mulher negra de 33 anos, com cabelo loiro trançado, piercing no septo e brincos na orelha. Central Cee é um homem branco de 23 anos, com tatuagens no pescoço, vestindo uma boina e camisa pretas. Eles encaram a câmera. A imagem é delineada por bordas pretas levemente arredondadas. Na parte inferior central pode-se ler “FKA twigs ft. Central Cee”; abaixo “Measure of a Man”; em seguida estão duas linhas com um símbolo semelhante a um ‘K’ maiúsculo dentro de um círculo, no ponto médio de encontro das duas linhas; e, por fim, “From the motion picture ‘The Kings Man’”. A fonte é dourada, num tom ouro velho, com texturas mais escuras ao longo do texto.
Não julgue a música pela pobre capa (Foto: MARV Music & Parlophone Records Limited)

FKA twigs e Central Cee – Measure of a Man

Trajando-se da narrativa de uma Maria de Madalena emancipada, há dois anos FKA twigs atestou sua genialidade pop experimental com MAGDALENE, um dos melhores discos de 2019. A cantora, compositora e produtora britânica é tudo, menos comum. Seus registros são carregados por uma teatralidade autoral excepcionalmente enigmática. São sintetizadores eletrônicos acompanhados pela voz angelical de twigs, que dão luz a um som verdadeiramente divino. Com Measure of a Man, contudo, ela desce dos céus pelo pole, pousando lascivamente sobre a terra.

Composto especialmente para a franquia do filme King’s Man: A Origem (2021), o último single conta com a participação do rapper londrino Central Cee, indo de desencontro com a proposta sonora do álbum passado da cantora – o que não significa que seja algo negativo, apenas diferente. A faixa é construída por batidas trap que pincelam a base de uma orquestra épica digna de um filme de James Bond, agraciados pela sensualidade registrada dos vocais twignianos, que canta como se dançasse armada de sua katana afiada, o que ela faz. – Ayra Mori


Capa do single Leilão, de Gloria Groove. A imagem é composta por uma fotografia da artista no centro de um hall de uma mansão, segurando um homem por uma coleira. Gloria é uma drag queen de pele negra clara e veste roupas de luxo, cobertas por um casaco de pelos brancos. Ela olha para o lado esquerdo da imagem com expressão séria. Na frente de Gloria, existe um homem branco de quatro no chão, preso por uma coleira que se assemelha a um freio de burro. Ele usa um terno de arabescos dourado e preto. Ao centro da imagem, atrás de Gloria, está escrito o nome da música em tom de dourado e numa fonte de arabescos. Em cima do nome da música, está escrito o nome da artista, numa fonte que imita grafite também em dourado.
Lady Leste não para (Foto: SB Music)

Gloria Groove – LEILÃO

É fato que Gloria Groove está no melhor momento de sua carreira. Em outubro, a drag foi parar na parada global da Billboard com A QUEDA, e agora, em novembro, ela ficou em alta nas redes sociais e plataformas musicais com LEILÃO. Seguindo a proposta artística maximalista desta nova era inaugurada com BONEKINHA, a música reside no pop estrondoso de Groove e é acompanhada das narrativas super produzidas, que agora ainda brilha sua habilidade lírica influenciada pelo hip-hop. O lançamento é o terceiro single do vindouro disco Lady Leste, que promete arrematar essa onda de sucessos em breve, criando expectativas cada vez mais altas. – Raquel Dutra


Capa do single Quem Disse Que Não. Fotografia quadrada, com fundo branco e florido. A cantora Márcia Tauil aparece de perfil no lado esquerdo da imagem, estando quase só de rosto à mostra. Ela é uma mulher branca, de cabelos pretos e roupa aparentemente branca. À direita, ao lado da testa de Márcia, lemos Márcia Tauil em letras pretas. Abaixo, lemos Quem Disse Que Não em letras igualmente pretas.
Se você ainda não conhece Márcia Tauil, está perdendo Música de qualidade (Foto: Mins Música)

Márcia Tauil – Quem Disse Que Não

Márcia Tauil assume um eu lírico completamente apaixonado em seu novo single, Quem Disse Que Não. Nessa composição de Geraldo Brito e Cliff Villar, até mesmo as imperfeições da pessoa amada são encaradas com fascínio pela figura que narra toda a música. E o trabalho de “uma turma da pesada”, com músicos indicados a ou vencedores de edições passadas do Grammy Latino, dá o suporte perfeito para uma letra que é pura poesia, merecedora das audições mais cautelosas e atentas.   

Não foi por acaso que, em 2013, a cidade de Mococa criou o Troféu Márcia Tauil, em homenagem à cantora. Natural de Guaxupé, município do interior de Minas Gerais, Márcia provoca nos ouvintes um encanto digno de verdadeiras lendas, como uma Marisa Monte, ou uma Gal Costa. E para acompanhar uma voz tão bela, ideal para o deleite poético que é Quem Disse Que Não, nada melhor do que um videoclipe suave, que torna todo esse universo ainda mais belo. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single One Right Now. A imagem é um quadrado que mostra uma paisagem indefinida e um incêndio na mesma, na parte inferior. O fogo é alto, predominantemente alaranjado e com fumaça da mesma cor que sobe até o topo. No centro está escrito “One Right Now” em letras brancas, e na parte inferior está escrito “Post Malone - The Weeknd” em letras laranjas.
Num lançamento estupendo, o clipe do single de Malone e The Weeknd conseguiu 20 milhões de visualizações em duas semanas (Foto: Republic Records)

Post Malone e The Weeknd – One Right Now

One Right Now é uma junção do mais pop possível que Post Malone e The Weeknd conseguem se atrever a ser. Se esperávamos que a parceria inédita entre esses dois artistas de peso na Música viria com um single sombrio e complexo, a surpresa é que ele parece ter vindo direto de MONTERO. O clipe não largou a pegada badass dos dois – principalmente porque eles dão tiros um no outro enquanto disputam quem sofre mais por amor. E o resultado não é ruim, pelo contrário, é diferente, muito bom, e até cômico por mostrar mais uma de suas facetas artísticas.

Post Malone sempre flertou com gêneros variados, mas os hits Sunflower e Saint-Tropez que mostram o seu pop parecem brincadeira perto de One Right Now. Isso vale também para The Weeknd, que mesmo já fazendo parte do gênero, gosta de resgatar os anos 80 e 90 para intensificar o que produz. A parceria entre ambos foi inesperada, mas é justamente na letra que eles se unem, resgatando o sofrimento melancólico para falar de um amor tóxico. E isso, combinado em uma melodia animada, resultou em ambos cantarolando que suas amadas provavelmente irão transar com todos os seus amigos. – Nathália Mendes


Capa do single Desprotegidos Pela Sorte. Fotografia quadrada, com fundo branco. Na parte superior, lemos, de cima para baixo, Zezé Motta, Letra Ronaldo Bastos e Leo Pereda, Música César Lacerda em letras predominantemente pretas. A cantora Zezé Motta ocupa quase toda a imagem. Ela é uma mulher negra, de olhos fechados, brincos, roupa brilhante e está com as mãos nos cabelos. Sobre seu tórax, lemos Desprotegidos Pela Sorte em letras brancas. A letra “s” encontra-se invertida na palavra “sorte”. Manchas vindas do fundo branco invadem o retrato de Zezé em toda a capa.
Quem salvará os desprotegidos pela sorte? (Foto: Marcos Vinicios de Souza/Dubas)

Zezé Motta e César Lacerda – Desprotegidos Pela Sorte

Seria totalmente injusto escrever poucos parágrafos para uma música da dimensão de Desprotegidos Pela Sorte. Pelo peso e responsabilidade que carrega, pelas mensagens que emite e pela complexidade que encarna, não é de se espantar que esse single tenha passado por um processo de gravação no mínimo delicado. É por tudo isso, inclusive, que o melhor caminho para este texto será reportar detalhes comuns, deixando os infinitos desdobramentos provenientes da obra em questão a cargo de quem já diz tudo sozinha: a própria música.

Com certeza, é muita sorte poder ver Zezé Motta além das telas, dividindo uma mistura de hip-hop e pop com César Lacerda. Composta por Ronaldo Bastos, Leo Pereda e o próprio César, Desprotegidos Pela Sorte é uma canção sobretudo política. Humana do início ao fim, porque é altruísta, lúcida em suas denúncias, mas também esperançosa. E, por estar repleta de acertos, talvez passe despercebido seu único descuido: utilizar a cegueira como metáfora para algo a ser combatido, numa espécie de vício que perpetuamos ao longo dos anos. Fora isso, trata-se de uma obra que pode ecoar por muito tempo em nossa História. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single Two Ribbons de Let’s Eat Grandma. Fotografia da dupla formada por Jenny Hollingworth e Rosa Walton, em ordem. Jenny Hollingworth é uma mulher branca de 22 anos, com cabelo castanho claro e veste um vestido bufante salmão. Rosa Walton é uma mulher branca de 22 anos, com cabelo ruivo e veste um vestido bufante amarelo. Ambas estão sentadas na beira de um lago, frente a frente, com seus vestidos flutuando sobre a água. A água é refletida pela luz do Sol, contrastando com o marrom escuro da parte sombreada. Na lateral esquerda é possível ler na vertical o nome da dupla, Let’s Eat Grandma, em fonte off-white, e acima, o título da música, Two Ribbons, em fonte vermelha.
“Esses espaços, eles se mantêm, mas nós, mudamos” (Foto: Transgressive Records Ltd)

Let’s Eat Grandma – Two Ribbons

Como posso enxergar a morte somente de maneira negativa quando alguém que eu amo está morto?”, revelou Jenny Hollingworth ao lado de Rosa Walton, amiga de infância e parceira de banda, a respeito de Two Ribbons, faixa-título do terceiro álbum de Let’s Eat Grandma, previsto para abril de 2022. E se no passado a prodigiosa dupla britânica explorou texturas caleidoscópicas de um synth-pop policromático, dessa vez, as cores são ausentes. Caminhamos pelos tons acinzentados que permeiam o preto e o branco do luto e dos desfechos em geral.

Segundo Hollingworth, a faixa é uma carta às duas pessoas mais próximas de sua vida: Walton, a amiga, e Billy Clayton, namorado que faleceu precocemente devido ao agravamento de um câncer raro nos ossos. Assim, o ritmo de Two Ribbons é ameno, reduzido à guitarra acústica melancólica que preenche os versos confessionais de alguém que encara o sentimento de impotência à vista da morte, à vista da dissolução gradual de uma amizade que não faz mais sentido. Sua voz soa cansada. Como se finalmente entendesse que certas coisas devem chegar ao fim, lado a lado, ambas assistem a chuva levar embora as dores, aceitando-as de coração apertado. – Ayra Mori


Capa do single Number One. Fotografia quadrada, com fundo roxo. Ainda ao fundo, observamos o que parece ser uma cidade à noite. No canto superior esquerdo, lemos Pabllo Vittar em fonte lilás. No canto superior direito, lemos Rennan da Penha também em fonte lilás. O DJ Rennan da Penha ocupa o centro da imagem. Ele é um homem negro, de barba, está em pé e veste roupas escuras, cobrindo quase todo o corpo. Ao redor de Rennan, Pabllo Vittar aparece em várias posições, como se tivesse sido clonada. Ela é uma drag queen de trança única, tatuagem e veste uma roupa preta e roxa, que deixa quase todo o corpo à mostra. No centro da parte inferior, lemos Number One em uma outra tonalidade de lilás.
Nem só de opiniões populares viverá o homem (Foto: Sony Music Entertainment Brasil)

Pabllo Vittar e Rennan da Penha – Number One

Grande parte da internet tem sido injusta com Pabllo Vittar e Rennan da Penha. Number One pode até não ser a melhor música da carreira de Vittar, mas isso não justifica a nítida falta de bom senso no descontentamento do público. Até mesmo alguns fãs ignoram que o novo single é inovador para a discografia da cantora – descaso que, na verdade, não surpreende muito. É sempre assim: toda vez que Pabllo tenta romper com um modelo musical específico, principalmente com os mais queridos por seus ouvintes, a única conduta que falta é crucificarem a artista e seus parceiros.

Musicalmente, Number One transforma-se o tempo todo – e esse é o grande atrativo da canção assinada por várias mãos. Com traços de K-pop, funk, trap e afro house, o novo single de Vittar e da Penha adquire uma maior relevância em seu videoclipe, dirigido por ninguém menos que João Monteiro, parceiro de longa data da drag queen. Em um aspecto mais amplo, Number One celebra antecipadamente os cinco anos de sucesso de uma carreira alavancada pelo álbum Vai Passar Mal. E não se trata do primeiro contato entre os dois artistas, já que MODO TURBO veio ao mundo em 2020. – Eduardo Rota Hilário


Capa dos singles Escape Plan e Mafia de Travis Scott. A imagem é um quadrado de bordas pretas que tem outra imagem em preto e branco dentro. Nela mostra um duende gritando, ele tem orelhas pontudas com brincos, e tranças no cabelo, assemelhando-se às feições do rapper. Ao centro está escrito “A verdadeira distopia está aqui” em letras brancas de manchete de jornal.
Com quase 12 milhões de visualizações, Travis Scott curte o luxo e a luxúria no clipe de ESCAPE PLAN, enquanto os comentários o condenam pelo descaso com a tragédia de seu show (Foto: Epic Records/Cactus Jack)

Travis Scott – ESCAPE PLAN / MAFIA

Uma das primeiras vezes que Travis Scott mostrou ESCAPE PLAN ao mundo foi durante o fashion show da sua collab com Kim Jones, a Cactus Jack, para a Dior. Isso aconteceu antes das polêmicas sobre seus shows se intensificarem e implodirem em pura tragédia, por isso, naquele momento o single marcava o momento épico da participação integral do rapper em uma coleção tão importante. No entanto, o lançamento oficial da música junto com MAFIA aconteceu justamente um dia antes da monstruosa aglomeração do público no show ASTROWORLD em 5 de novembro resultar em 10 mortes, e ele nada ter feito para interromper.

A dúvida paira sobre seu histórico de encorajar a violência em shows, e a referênciaEstou tentando não voltar no meu caminho, não consigo reverter” em ESCAPE PLAN parece falar do caos que ele mesmo causou. Ela e MAFIA são amostras de sua próxima mixtape, Distopia, e desde já imaginamos se ela será marcada por versos agressivos. Ambas falam sobre até onde o dinheiro nos leva e o que somos capazes de fazer para alcançá-lo. Sexo e a ânsia pelo topo também aparecem, mas perdendo as amarras da influência de Kanye West. Em resumo, o futuro de Travis é incerto, pois entre a sua evolução musical, qualquer lançamento se torna indigesto depois dessa tragédia tão séria. – Nathália Mendes


Capa do single Somos Nada. Fotografia quadrada, com fundo preto. A cantora Christina Aguilera ocupa quase toda a imagem. Ela é uma mulher branca, de cabelos ruivos, adereço em formato de “V” sobre o rosto, trajando um vestido metalizado aparentemente azul e segurando coleiras brilhantes, formadas por possíveis joias, em cada uma das mãos. As coleiras estão ligadas a dois cães pretos semelhantes entre si.
Quem pode gritar mais alto: o talento ou as novas controvérsias de Christina Aguilera? (Foto: Sony Music Entertainment US Latin LLC)

Christina Aguilera – Somos Nada

Enquanto figura pública, a imagem de Christina Aguilera anda frágil depois de ter se recusado a dizer algumas palavras sobre o fim da tutela de Britney Spears. Decepcionar a Princesa do Pop e reacender desentendimentos de longa data foram, nesse contexto, dois deslizes caros para a carreira de Aguilera. Por outro lado, a cantora continua artisticamente incrível. Isso é explícito na balada Somos Nada, que entrega uma letra de boa qualidade, assinada por Federico Vindver, Mario Domm, Sharlene Taule e a própria Christina Aguilera, além de belos vocais – embora a sonoridade de alguns versos, como “Y ahogándome en silencio”, cause estranhamento.

O videoclipe da canção, por sua vez, é bem simples, mas também muito bonito. Dirigido por Alexandre Moore, o lado visual de Somos Nada carrega, principalmente em seu desfecho, uma narrativa consideravelmente dramática. E esta, aliás, não é a primeira vez que Christina Aguilera canta em Espanhol. Em 2000, por exemplo, a cantora lançou Mi Reflejo, álbum construído inteiramente na referida língua. Agora, passados os primeiros lançamentos de uma nova era, que já marcaram presença até mesmo no Grammy Latino 2021, resta aguardar o que Christina ainda tem a nos oferecer – e o que ela fará com suas mais recentes polêmicas. – Eduardo Rota Hilário


Capa do single DESCOBRIDOR. A imagem é composta por uma ilustração de uma pintura pendurada na parede. A parede é cinza e o quadro tem molduras douradas. Dentro dele, existe uma pintura de um homem de costas, usando uma camiseta branca e um boné verde militar. Nas costas do homem pintado, na altura de seus ombros, existe o desenho de um barco azul e amarelo. No canto superior esquerdo, está escrito o nome do single em preto numa fonte que imita grafite. No canto inferior direito, está escrito o nome dos artistas em fonte serifada preta dentro de uma caixa branca.
MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui), terceiro álbum da Lagum, já tem data de lançamento: 10 de dezembro (Foto: Sony Music Entertainment)

Lagum e Emicida – DESCOBRIDOR

Deixa ir, tudo bem/Não teria graça se soubesse onde ia dar”. Em DESCOBRIDOR, novo single da Lagum, a banda mineira se junta a Emicida para aproveitar as memórias ainda por vir. A música é a quinta faixa do terceiro álbum do grupo a ser disponibilizada e teve o clipe lançado poucas horas depois. Com a calma e relaxada nova canção, que prioriza o violão a guitarra ora ritmada, ora agitada da Lagum, MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) ganha mais um single positivo e reforça a diversidade de temas e sonoridades do próximo projeto. E como reforça a Emicida, que se juntou a DESCOBRIDOR depois da canção estar finalizada, esta “é sobre as possibilidades que podem surgir de um encontro, partindo de uma tela em branco e, juntos, poder criar novas paisagens, memórias e histórias”. – Vitória Lopes Gomez


Capa do single É Por Isso Que Sofre. Fotografia quadrada, com fundo repleto de luzes azuis. Na parte superior, lemos Bárbara Labres, Tati Quebra Barraco e DJ Batata em letras amarelas. O trio de artistas ocupa quase toda a imagem. Bárbara e o DJ Batata estão ao fundo, em pé, vestindo roupas da Versace e óculos escuros. Eles são, respectivamente, uma mulher e um homem brancos. À frente, sentada em uma espécie de trono, Tati Quebra Barraco aparece maquiada, repleta de acessórios e vestindo roupas da mesma marca. Ela é uma mulher negra, de feição séria. Sobre as pernas de Quebra Barraco, lemos É Por Isso Que Sofre em letras amarelas.
“Sentar ou sofrer?”, eis a questão do novo single de Tati Quebra Barraco (Foto: Universal Music)

DJ Batata, Tati Quebra Barraco e Bárbara Labres – É Por Isso Que Sofre

Após participar do reality show A Fazenda 13, a cantora Tati Quebra Barraco resolveu dar continuidade à sua carreira musical com o single É Por Isso Que Sofre. Com produção de DJ Batata, e composição assinada pelos três intérpretes da canção, o lançamento da funkeira carioca provavelmente será lembrado pelos versos chicletes “Homem é pra sentar/Vocês Querem Amar”. E, em uma perspectiva temporal, É Por Isso Que Sofre sucede os lançamentos Desce o Tom! e Dançar, além da chegada recente às plataformas digitais do álbum Boladona, de 2004.        

Em relação ao videoclipe da nova música, os grandes destaques são, sem dúvida, o look original da marca Versace, utilizado anteriormente, e mais de uma vez, pela cantora estadunidense Lady Gaga, além de algumas participações especiais, como é o caso de Jojo Todynho. De modo geral, trata-se de um vídeo que, embora tenha uma abertura peculiar, dá alguma dimensão extra à canção relativamente breve, colocando o DJ Batata e Bárbara Labres, as duas parcerias do single, também em evidência. – Eduardo Rota Hilário


Capa do EP Brad Pitt / Goosebumps de MØ. Imagem aproximada do rosto de MØ, iluminado por luzes verde e azul no lado direito e esquerdo, respectivamente. MØ é uma mulher branca de 33 anos. Seu cabelo é preto e está repartido no meio. Seu rosto está inclinado para o lado direito e seu olho esquerdo está coberto por um filtro vermelho em espiral. Ela veste uma blusa de gola alta preta brilhosa, além de usar um brinco prateado de esferas alinhadas. Ela encara a câmera. Na parte inferior direita é possível ler “Møtørdrome” em fonte irregular na cor azul.
Brad Pitt, o ator? (Foto: Sony Music)

MØ – Brad Pitt e Goosebumps

Para MØ, o agora é um novo capítulo. Retornando das aventuras inconsistentes de Forever Neverland (2018), a dinamarquesa lançou mais dois novos singles inéditos que dão sequência às previsões de Motordrome, seu quarto álbum de estúdio, previsto para janeiro de 2022. O título é inspirado no truque de dødstrome – a volta perfeita em 360º dentro de um globo da morte –, uma analogia à luta da artista contra as oscilações da ansiedade: “Representa uma enorme mudança em minha vida. […] Uma era da minha vida chegou ao fim e estou adentrando uma nova. Isso é assustador, mas também é libertador.”

Brad Pitt é um hino romântico anti-Shania Twain. E se a fama não foi o bastante para impressionar a cantora country-pop canadense, para MØ, com ou sem popularidade, o amante é suficiente para ser o Brad Pitt de sua Julieta. “Você não precisa nascer sob o sucesso para fazer o sangue bombear por debaixo do meu vestido de verão”, ela canta de peito aberto, cercada por um rock sintético cintilantemente caloroso. Enquanto isso, Goosebumps recorre à melodia acústica do piano para relembrar as emoções do passado, ansiando-as. A voz rouca de MØ reafirma memórias passadas, mas a artista está sempre olhando para frente. – Ayra Mori


Clipes

Cena do clipe Velha Roupa Colorida. Fotografia quadrada, com fundo branco. A dupla Sandra Pêra e Ney Matogrosso encontra-se centralizada. Sandra é uma mulher de cabelo curto, blusa amarela, de manga comprida, calças vermelhas, está com a boca aberta e coloca a mão direita na frente de Ney, como se fosse abraçá-lo. Ney está na frente de Sandra, é um homem de cabelos grisalhos, roupas alaranjadas, sorri e está com os braços abertos.
“E precisamos todos rejuvenescer” (Foto: Biscoito Fino)

Sandra Pêra e Ney Matogrosso – Velha Roupa Colorida

É hora de vasculhar o armário e resgatar aquela nossa Velha Roupa Colorida. Não importa se ficamos frenéticos ou não com a ideia de regravar os clássicos. O que interessa é que Sandra Pêra e Ney Matogrosso, já pelos nomes que carregam, dão relevância a qualquer tipo de lançamento. E neste videoclipe minimalista, com fundo quase sempre branco, a história não é diferente. Focado nos dois intérpretes, Velha Roupa Colorida obviamente destaca figurinos, sem deixar de lado o brilho da interação espontânea entre cantores, ou entre artista e câmera.

Belchior parece estar cada vez mais em alta, e, embora seja difícil superar Elis Regina na interpretação das músicas do artista cearense, é importante dar novos ares ao que já é imortal. Nesse sentido, e com certa leveza arriscada, Sandra Pêra se aventurou deliciosamente ao lado de Ney. Reservando um fragmento de Sandra Pêra Em Belchior para o ex-Secos & Molhados, a atriz e ex-integrante do grupo As Frenéticas garante holofotes para um trabalho que, grandioso ou não, terá espaço no acervo audiovisual da Música brasileira. – Eduardo Rota Hilário


Cena do clipe Santo (Ao Vivo). Na cena, vemos o cantor Jão ao centro. Ele é um homem branco, de cabelos castanhos curtos, barba castanha rala, aparentando cerca de 25 anos, vestindo um suéter verde com detalhes na manga e na gola em vermelho, preto e branco e a letra P estampada em branca no peitoral, usando um colar dourado por baixo do suéter e anéis na mão esquerda. Ele tem seus olhos fechados, está próximo do microfone, o qual segura com sua mão esquerda, e segura o tripé com a mão direita. Ele está em frente a um fundo preto. Do lado esquerdo, ao fundo em desfoque, vemos pratos de uma bateria e a parte superior de um baixo; do lado direito, vemos outro prato de bateria.
(Foto: Universal Music)

Jão – Santo (Ao Vivo)

Desde o anúncio de seu terceiro álbum, o badalado PIRATA, Jão não tirou um dia de folga. Teve audição exclusiva para os fãs, clipe super produzido, performance ao vivo, turnê anunciada e esgotada em um dia, live no TikTok… e mais uma performance ao vivo. O cantor e compositor escolheu duas das melhores canções de seu mais recente projeto para gravar a apresentação e, depois de Idiota (Ao Vivo), disponibilizou de surpresa Santo (Ao Vivo). Assim como na anterior, o jogo de câmeras dinâmico captura a performance animada de Jão, que, à frente da banda completa, dá uma palhinha do que pode fazer no palco. – Vitória Lopes Gomez


 Capa do single Quando o Sol Sumir. Arte quadrada, com fundo bege. Na parte superior, lemos Quando o Sol Sumir em letras amarronzadas. Uma ilustração circular ocupa quase toda a imagem. Nela, vemos um céu azul-claro, com nuvens rosas, estrelas amarelas, um sol e uma lua também amarelos, ambos com rosto, algumas árvores e outros elementos que remetem à natureza. Na parte inferior, lemos Bemti + Fernanda Takai em letras amarronzadas.
Até que ponto você se entregaria? (Foto: Fabricio Lima/Paulo Marcelo Oz)

Bemti e Fernanda Takai – Quando o Sol Sumir

A nostalgia do universo infantil e a diversão de um dinossauro com um astronauta são o prelúdio do fim do mundo no novo videoclipe de Bemti. Nesse sentido, o lado audiovisual de Quando o Sol Sumir dialoga muito bem com os versos que o cantor mineiro compôs na companhia de Roberta Campos. Afinal, o término do dia logo se transforma também em cenário apocalíptico, e o aproveitamento da vida – e seus amores – é uma das saídas possíveis, tanto na letra quanto no clipe deste destacado fragmento do sensibilíssimo álbum Logo Ali.     

Com formação em Audiovisual pela USP, Bemti assina roteiro e montagem do vídeo dirigido por Kleber Bassa e Thálita Motta. Já Fernanda Takai, voz que divide a canção com o artista, e também a responsável pela utilização de um dinossauro inflável na obra, é peça fundamental para a concretização de possíveis surpresas. Sem dúvida, mesmo que a ideia original do videoclipe não tenha nascido, a adaptação para o mundo real do que seria antes uma animação mostrou-se, desde o início, um delicado respiro nesta realidade às avessas – e mais um sinal do talento indiscutível de Bemti. – Eduardo Rota Hilário


Capa do cd Solar Power mostra Lorde correndo pela praia, com a foto sendo tirada por um ângulo de baixo para cima.
Escureceu e Lorde foi embora da praia (Foto: Universal Music New Zealand Limited)

Lorde – Fallen Fruit

O poder do Sol continua influenciando a Arte de Lorde. Além de presentear as plataformas digitais com as faixas extras do terceiro disco esse mês, a cantora ainda lançou o clipe do mais novo single do projeto: Fallen Fruit. Dessa vez, os lados sagrado e místico da praia, visitados em Solar Power e Mood Ring, dão lugar para um campo de guerra, em chamas, desolado.

Lorde não perde tempo. No vídeo, ela xispa de lá o mais rápido que pode, no que parece ser o mesmo veículo que a transportava pela cidade iluminada de Green Light. A letra, que se inspira no Fruto Proibido e segue na linha enigmática e extraterrestre do álbum, reflete a posição de Lorde frente ao mundo devastado em que vivemos. – Vitor Evangelista


Capa do CD The Highlights. Fotografia quadrada com fundo preto. Um perfil de The Weeknd está localizado no centro do quadro, ele é um homem negro de cabelos pretos crespos, e veste um paletó de cor vermelha, cravejado de brilhantes. A luz é quase inexistente, iluminando principalmente sua testa, nariz e queixo, e fazendo o contorno de seu corpo. Na parte superior esquerda está escrito The Weeknd em fonte de cor branca. Ao lado, na parte superior ao centro, está escrito The Highlights em fonte de cor branca. Há ainda o selo da gravadora na parte superior direita.
“Baby, I would die for you, yeah (oh, babe)” [Foto:The Weeknd XO/Republic Records]
The Weeknd – Die For You

Em homenagem aos cinco anos de lançamento de Starboy, um dos discos fundamentais na carreira do canadense The Weeknd, a canção Die For You — presente também no compilado The Highlights, que contém apenas os grandes sucessos do artista — ganhou um clipe super-produzido, trazendo referências a Stranger Things, que também completou 5 anos em 2021. 

No clipe, vemos um garoto — espécie de The Weeknd jovem — dotado de poderes telecinéticos, fugindo de oficiais do governo e refugiando-se na casa de uma família suburbana, na qual encontra uma jovem garota. Esnobado no Grammy Awards deste ano, em que denunciou o racismo e corrupção dos votantes do prêmio, The Weeknd segue a todo vapor, consolidando seu nome na lista dos titãs da Música Pop. – Bruno Andrade


Cena do clipe Por Supuesto de Marina Sena. Imagem em Cinemascope 21:9 (2.33.1). Nela, está Marina Sena deitada sobre um mar de pétalas de rosa azul royal e brancas. As pétalas ainda cobrem partes do corpo de Sena que está nua de braços abertos e pernas cruzadas. Marina Sena é uma mulher branca de 25 anos e seu cabelo está preso em um penteado coque espalhafatoso.
Beleza Mineira (Foto: Altafonte Network S.L.)

Marina Sena – Por Supuesto

2021 foi o ano de Marina Sena, não há o que dizer. Revelação do ano, a mineira subiu ao pódio ao conquistar o primeiro lugar no Top Viral Global do Spotify, ultrapassando 20 milhões de cliques com Por Supuesto, single do aclamado álbum De Primeira, que ganhou videoclipe no mês de novembro. E se a estreia triunfal da carreira solo de Sena não foi suficiente para conquistar os corpos mais frígidos, o flerte cinematográfico prova, mais uma vez, a artista completa por trás de um dos maiores álbuns nacionais do ano.

Hoje eu olhei pra você/E vi à beça/O gozo, a ginga, a luz/O som, a festa”, canta Sena enquanto desfila pelo groove suave de uma guitarra elétrica como noiva abandonada no altar. A cena é um Brasil tropical, um salão vazio, um tempo desconhecido. Vestida de rendas espalhafatosas, destruindo um bolo de aniversário coberto por glacê colorido, típico das festas oitentistas, ou, ainda, cercada por arranjos florais datados, a noção cronológica dos fatos é deturpada: ela cria o próprio universo sensual

O videoclipe conta com a direção de Vito Soares, direção criativa responsável por Marcelo Jarosz, figurino por Leandro Porto e maquiagem por Sasa Ferreira. Assim, a cantora reúne acertadamente uma equipe que confere sua identidade autoral como artista singular. Entre gingados sedutores e olhares maliciosos – referenciando o filme dirigido por Sam Mendes, Beleza Americana (1999) –, Sena finaliza excepcionalmente sua performance, caindo esplendidamente sobre um mar de rosas, como num sonho feliz. – Ayra Mori


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