Com Savage, Aespa se consagram as maiores da 4ª geração do K-Pop

Capa variante do álbum Savage, do grupo aespa. Na imagem, o quarteto aespa em pé. O ângulo da imagem está ajustado de modo que as vemos de baixo para cima. Da esquerda para a direita estão: Giselle, usando uma macacão azul marinho com tons de azul mais claro, cabelo preso, usando anéis, com as unhas grandes e pintadas de azul e botas acopladas ao macacão; Karina, também de cabelo preso, usando um macacão preto com cordas enroladas no braço direito, usando uma pulseira e a unha pintada de branco, suas botas vão até o joelho com detalhes em branco parecido com teias de aranha; Winter, com um macacão preto e detalhes amarelos, usando anéis, unhas pintadas de preto, meia calça e bota preta até o joelho; NingNing, com um top de manga longa preta e detalhes verdes, shorts curto preto com detalhes verdes, e uma bota preta até o joelho com detalhes em pelos preto, verde e branco, o cabelo está amarrado. Com exceção de NingNing que está ruiva, todas estão com cabelo preto. O fundo é branco e acima da cabeça das integrantes está o nome do álbum, ‘Savage’, em cinza e detalhes metálicos, centralizado. Abaixo, o nome do grupo em fonte branca e as informações do primeiro álbum.
Com uma produção caprichada, Aespa entrega em novo álbum uma narrativa futurista (Foto: SM Entertainment)

Giovanne Ramos

Para quem não está habituado com as gerações do K-Pop, aqui vai uma rápida aula. A primeira lição é: não há consenso entre os recortes entre as gerações do ritmo, mas elas realmente existem. Esse bloco temporal foi construído analisando o perfil sociocultural, visual, conceitual e, principalmente, o estilo musical de grupos em determinados períodos. Popularmente, é dito que existam 4 gerações, sendo a primeira delas a que fundou o gênero e a última a mais instável e de difícil definição, mas certamente é na qual Aespa está localizada e ditando as tendências com o seu mini-álbum de estreia, Savage.

Desde as primeiras coletivas da empresa SM sobre o seu novo girlgroup Aespa, já se esperava um grupo de alto nível e com um conceito futurista envolvido, e de fato isso vem se concretizando. As 4 integrantes do projeto, Karina, Winter, Giselle e NingNing, foram anunciadas junto de seus avatares, bonecas virtuais representativas das artistas. ÆSPA, vem literalmente das palavras avatar, experience e aspect, sendo assim, um grupo compromissado em explorar a realidade e o melhor do universo virtual com as tecnologias disponíveis.

O conceito não foi bem visto pelo público. A ideia de uma representação virtual das idols, que já levam uma rotina exaustiva na realidade, assusta. Havia-se o medo dos fãs, tão exigentes, acabarem perdendo ainda mais a noção de distância com as suas ídolas as tendo ali por perto. Mas todas essas incertezas e medos foram por água abaixo em novembro de 2020 com Black Mamba, single de estreia. Toda a subjetividade conceitual do quarteto se materializou em um clipe super produzido com ótimos jogos de câmera, um estética coesa e garotas totalmente talentosas e uma música de tom questionável.

Foto do grupo aespa com as suas avatares virtuais. Na foto estão: ae-Winter, ae-Giselle, Karina, NingNing, ae-Karina, Winter, Giselle e ae-NingNing. O fundo é branco com bordas em degradê para um cinza. Todas estão em pé uma ao lado da outra. Em seus rostos, uma luz alaranjada. Todas estão olhando para frente.
Também conhecidas como æ, as avatares das integrantes marcam presença no novo trabalho do grupo (Foto: SM Entertainment)

A melodia não é lá das inovadoras, é possível que, vasculhando o arsenal da terceira geração, em grupos como BLACKPINK, Everglow e até o os veteranos da mesma empresa, NCT, você encontre algo semelhante, mas o que faz da faixa única é a sua letra. Cheia de referências, easter eggs e códigos, Aespa cria o seu próprio universo como se estivessem em sua própria aventura RPG, onde a black mamba é a vilã suprema e elas, as heroínas. Termos como FLAT, SYNK, KWANGYA, não fazem o menor sentido, mas são elementos que constroem a narrativa nos seus lançamentos seguintes: a balada-cover Forever, a obra-prima de 2021 Next Level e fechando todo o ciclo de preparação com o EP Savage.

Antes de falar propriamente sobre o primeiro trabalho extenso do grupo, é válido mencionar o hit Next Level. A música é um cover adaptado da faixa de mesmo título lançada na trilha sonora do filme Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw. A faixa, no entanto, foi adaptada e, de um trap simplista, se tornou uma viagem mesclada em hip-hop dance e upbeat-jazz. Com isso, as novatas aumentaram o nível e estabeleceram uma expectativa enorme para o disco de estreia.

E elas foram cumpridas! Através dos teasers que antecipam o lançamento, já era previsto que o grupo mergulharia numa sonoridade futurista, utilizando muitos sintetizadores e outras parafernalhas tecnológicas disponíveis aos produtores. Mas funciona. De cara, somos recebidos pela energética aenergy, a primeira faixa do EP. E o título não poderia ser melhor. Se existem gritos de guerra para todo artista, essa cumpre o papel para Aespa. Autoreferenciação, batida envolvente, letra preenchida com mensagens de autoestima, tudo isso define um hino e mostra que teremos uma surpresa agradável com as outras 5 faixas seguintes.

Capa do single Next Level, do grupo aespa. Na imagem, o quarteto aespa. No centro a integrante Karina (direita) com blusa, casaco e short marrons e a integrante Winter (esquerda) com blusa verde e saia marrom, ambas coreanas. No canto direito a integrante Giselle, coreana de ascendência japonesa, cabelo castanho, blusa de mangas longas verdes e calça marrom. No canto esquerdo NingNing, chinesa e de cabelo vermelho com vestido verde. No centro o nome do grupo na cor cinza metálico e no topo centralizado o Next Level escrito em branco.
Next Level em pouco tempo se tornou o maior sucesso do grupo, estabelecendo novas metas e grandes expectativas do público (Foto: SM Entertainment)

A seguir temos a faixa título e a de trabalho, Savage. Iniciando em tom debochado “Oh my gosh, don’t you know I’m a Savage?” (Oh meu Deus, você não sabia que eu sou selvagem?), temos uma música que pode causar estranhamento inicial. É uma daquelas canções que você escuta uma vez e tenta digerir o que foi que aconteceu. Ao contrário de Next Level, single anterior, não é feita de altos e baixos surpreendentes. Mas na segunda escuta, na terceira, na quarta e, sem perceber, você já está cativado e viciado em elementos diversos da produção. O “zuzuzuzu”, no refrão, a ponte melancólica interpretada em vocais poderosos e a batalha de notas altas no final da música, tudo isso faz com que você revisite diversas vezes a canção, principalmente junto do videoclipe, que traz uma linearidade da narrativa construída desde o seu debut e um provável encerramento de fase. A música é um hit pronto.

Uma característica interessante de todo o conceito e desenvolvimento de Aespa e de suas músicas é a sensação – e talvez realmente seja – de que as integrantes estão numa aventura contra um inimigo e existe toda uma jornada ali envolvida. I’ll Make You Cry reforça essa teoria. Pode parecer paradoxal, mas ao mesmo tempo que a faixa, que abusa do dubstep, é moderada, ela é intensa. As frases de efeito pós-refrão, quase como se fossem uma descrição de um ato, criam uma dimensão de que elas realmente estão vivendo em um jogo e você consegue reproduzir a imagem simplesmente pela maneira como a música é vocalmente interpretada. Uma ótima sequência para Savage.

Dentro do álbum sempre temos aquelas músicas díspares, mas que de maneira alguma significa que não combinam com a sonoridade e impactam negativamente na coesão do trabalho. É o caso de YEPPI YEPPI e ICONIC. A primeira citada destoa do tom sério e ousado construído até então, é quase que um encerramento da quest de Aespa. Agora elas estão descontraídas numa música hyperpop e hiper animada. As intérpretes estão longe do color pop e aegyo conhecidos no K-Pop, mas certamente fizeram a sua própria interpretação do que seriam esses gêneros na visão do Aespa. A música é divertida e certamente coloca quaisquer ânimos para cima com o casamento do canto falado e o beat envolvente. Iconic por sua vez, tenta retomar a densidade encontrada na primeira parte do álbum, mas perde o seu gás. Longe de ser ruim, mas as faixas anteriores parecem cumprir o seu papel bem melhor.

Por fim, Savage se encerra com a sensacional Lucid Dream, um pop mesclado de um R&B alternativo. Aqui, visualizamos o melhor que uma produção pode oferecer com os seus sintetizadores, mixagens e amplificadores, tudo isso para uma balada. A música foi bastante comparada com algo que a sub-unit do grupo Loona, Odd Eye Circle, lançaria. Uma balada que ao mesmo tempo mostra a intensidade, sensualidade vocal e uma tridimensionalidade delirante para todos aqueles que estão vivendo um sonho lúcido, como diz a tradução do título da faixa.

Savage entra em um legado de álbuns onde todas as b-sides estão bem trabalhadas e são de grande qualidade, algo que o K-Pop, conhecido por trabalhar somente os singles e lotar o restante do material de produções fillers, está começando a investir. Era esperado um trabalho de alto nível e ele foi cumprido, não à toa está quebrando diversos recordes. O álbum já se tornou o maior primeiro trabalho em vendas por um grupo feminino em sua primeira semana e está constantemente alcançando marcas impressionantes até mesmo para grupos veteranos da última geração. Temos ótimos nomes nessa nova leva feminina do K-Pop, como Itzy, Stayc e Weeekly, mas em questões de números? Aespa tomou a dianteira e a concorrência terá que correr atrás, principalmente as que estão para estrear.

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