A nova irmandade das Jovens Bruxas é poderosa, mas não muito carismática

As quatro personagens em um fundo desfocado, da direita para esquerda estão Frankie, Tabby, Lily e Lourdes
O remake de Jovens Bruxas aposta em diálogos marcantes do antigo, como por exemplo o famoso: “we are the weirdos mister” (“nós somos as esquisitas, senhor”) (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

Apesar das tentativas de reaver uma fórmula pronta, e muito boa inclusive, a nova irmandade de bruxas adolescentes não é capaz de conquistar o público. Mesmo que bem intencionado, Jovens Bruxas: Nova Irmandade não se sustenta sozinho sem a sombra do original dos anos 90. Dirigido por Zoe Lister-Jones, o longa, que estreou nos cinemas brasileiros no começo de novembro, equilibra a trama de antes a uma originalidade forçada e superficial, até para os padrões de filmes pop.

O filme começa como uma refilmagem típica, a mesma sinopse com algumas alterações não muito radicais. Lily Schneider (Cailee Spaeny), protagonista sem sal que carrega um selo clássico de desajustada, se muda para uma nova escola/família por causa do relacionamento da mãe, Helen (Michelle Monaghan). Nesse novo cenário, que consiste em uma casa assustadora e um colégio nada amigável, a jovem encontra seu novo grupo de amigas e irmãs. Essa trupe de bruxas é, definitivamente, menos carismática que suas antepassadas.

Tabby (Lovie Simone), Lourdes (Zoey Luna) e Frankie (Gideon Adlon) são as bruxas da Geração Z, cheias de conhecimentos do mundo pop e ideais feministas. Como esperado, era impossível transportar a história para os dias de hoje sem buscar referências atuais, com algumas sendo muito bem colocadas, como a paixão das meninas pela rapper Princess Nokia, e outras mais óbvias, a exemplo da idolatria à Saga Crepúsculo. Assim, o longa vai aos poucos se distanciando, sempre com cautela, de seu antecessor.

A protagonista Lily está de perfil, ela possui cabelo castanho curto e usa um casaco azul.
A protagonista do longa é interpretada pela atriz Cailee Spaeny (Foto: Reprodução)

O novo grupo, apesar de diverso e bem representado, não consegue roubar a cena assim como o antigo o fez. Em 1996, as incríveis Robin Tunney, Rachel True, Neve Campbell e Fairuza Balk davam vida a bruxas que faziam jus ao status de estranhas e injetavam um contexto mais sombrio à história. Sua próxima geração consegue acertar, pelo menos um pouco, na questão da visibilidade, abordada muito sutilmente pelas personagens.

A presença da atriz trans Zoey Luna é acentuada pela não exploração do gênero como a única coisa relevante na personagem, infelizmente, ao mesmo tempo a bruxa Lourdes também não é contemplada com nenhum plot de destaque. Diferente de Rochelle, que foi esquecida não só no longa, mas também fora dele, por puro preconceito. Nessa refilmagem, Lovie Simone, conhecida por ser a protagonista da série Selah And The Spades, traz de forma sútil toda a bagagem racial presente na vida da personagem. Por fim, Frankie, a Becca de The Society, é a única memorável do grupo, justamente por ter uma personalidade mais expansiva e engraçada.

Com uma aparência nada gótica e mais suave, o longa opta por não trazer os aspectos mais pesados da antiga trama. Pelo contrário, aborda sexualidade, racismo e a masculinidade de forma muito inteligente, adaptando os acontecimentos do original para um contexto mais sutil e moderno. E mesmo apostando em temas saturados em filmes adolescentes, como dramas de amizade e ser um outsider no mundinho escolar, Jovens Bruxas consegue ser contagiante e jovial, não sendo uma mera cópia, mas sim uma bela homenagem.

A quatro protagonistas reunidas tirando uma foto.
O estilo da nova geração de bruxas contrapõe a pegada gótica do filme original (Foto: Reprodução)

Apesar de seus acertos, após alguns minutos é perceptível o caminho superficial que a refilmagem vai seguindo. Os bons momentos das jovens descobrindo seus poderes e utilizando a magia para fazer uma maquiagem estilo Euphoria são substituídos por uma linha original, mas ainda sim rasa. O misterioso novo padrasto de Lily, Adam (David Duchovny), se revela como um bruxo machista e dono de uma seita não explicada. Além das cenas de ação que deixam muito a desejar, o desfecho desse péssimo mistério acontece de forma muito simplista.

O final curioso, mesmo que criativo, cria um gancho pouco inovador. A ideia original dos produtores do clássico cult era de uma sequência para a história, mas por causa da bilheteria fraca e pouca visibilidade da crítica, tal sugestão nunca foi concretizada. Até hoje, claro, 24 anos depois, descobrimos que Lily é na verdade filha de Nancy Downs, a bruxa sedenta por poder do primeiro filme. Contudo, ainda que seja uma boa surpresa, o desfecho não justifica a trama simples que entrelaça ambas as gerações.

Com efeitos visuais muito agradáveis e uma estética contrária ao antigo, Jovens Bruxas: Nova Irmandade não se identifica como uma cópia deslavada. O aspecto mais gentil do longa é complementado pela seleção de temas atuais, alguns personagens mais amenizados e o toque de humor também são boas revelações da obra. Mas, ainda é impossível não perceber a inferioridade das bruxas dessa nova geração, que apesar de poderosa e consciente, não consegue ser memorável o bastante.

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