Quando perguntam “qual a melhor novela que você já acompanhou?“, não é difícil ver muita gente falar Avenida Brasil. A novela que literalmente parou o país, ficou no imaginário popular e se mantém viva, mesmo após uma década de seu início. Quem acompanhou a saga da vingança de Nina contra Carminha sabe quão fervorosos eram os momentos em frente à TV, com todos os olhos vidrados na tela e muitas respirações quase nulas com as cenas mais tensas, até o último capítulo, transmitido em outubro de 2012.
Por mais que seja tentador reduzir o mais recente filme do cineasta Mamoru Hosoda à uma reinterpretação moderna de A Bela e a Fera, esse simples elevator pitch não faz jus à complexidade temática e emocional da nova animação do Studio Chizu. Belle(Ryû to sobakasu no hime, no original em japonês) passa bem longe de ser uma “versão anime” do clássico francês e, ao invés disso, se utiliza da familiaridade de suas dinâmicas para contar sua própria história de amor transformativo na era das redes sociais e realidades virtuais, num semi-musical de escopo glorioso e, ao mesmo tempo, íntimo.
No ano de 2012, dentro de uma garagem em Frankenmuth, cidadezinha alemã de Michigan, o som mais esperado pelos apreciadores do bom e velho rock’n’rollnasceu com a banda Greta Van Fleet. Em seu primeiro trabalho, o EP Black Smoke Rising, o grupo rebateu – com impulso – a polêmica e extremamente cansativa frase “Não se faz mais o rock como antigamente”, o êxito da banda disparou talento e reviveu a intimada e almejada melodia dos anos 70.
Intocável, a figura da freira se tornou fonte de lascivas fantasias. Cobertas pelo mistério do tecido negro de seus hábitos, enclausuradas pela solidez das paredes de pedra e tomadas pela devoção santificada por Jesus, desde a origem da Igreja Católica como organização, a silhueta inconfundível das noivas de Cristo corporificou-se, do espírito à carne, contra o olhar. Desse olhar reprimido emergiu uma miríade de representações cuja maior tentação se debruça no magnetismo feminino oculto dentro de um convento. No retorno de Paul Verhoeven em Cannes 2021, o drama semi-biográfico Benedetta tateia o subgênero, revelando, por trás do protagonismo progressivo das mulheres enquadradas em cena, um agressivo observador – masculino.
A juventude é a fase da intensidade. De dramas, sensações, desejos e sonhos. Nela, as amizades são eternas, os amores são infinitos num dia, efêmeros no outro, e os problemas são o fim do mundo. É a fase da rebeldia e das descobertas. Há 15 anos, Skins (UK), ou Juventude à Flor da Pele, explorou tudo isso de forma intimista, sob perspectivas de distintos jovens ingleses que tinham uma coisa em comum: a consciência de que crescer não é fácil, mas que amizades, família e empatia tornam o processo menos cruel.
Triângulos amorosos, traições, paixões não correspondidas, festas, pais controladores e jovens que desejam embarcar em suas próprias jornadas de autodescoberta. É a clássica receita de uma boa e trivial série teen que tem como pano de fundo as amizades e os amores vivenciados nos pátios do tão temido Ensino Médio. Em De Volta aos 15, as mesmas situações aparecem. No entanto, a configuração das narrativas escolhidas, e a forma com as quais são trazidas para a trama, mostram que a obra é bem mais que uma simples comédia romântica adolescente da Netflix.
Dois pilotos competindo no limite da capacidade humana, em uma disputa eletrizante que a Fórmula 1 não proporcionava aos torcedores há anos. O que poderia dar errado na tão esperada 4ª temporada do seu seriado documental na Netflix? Tudo. Fazendo jus ao resultado de 2021 da categoria mais cobiçada do automobilismo, F1: Dirigir Para Viver fornece uma visão arquitetada dos eventos que marcaram o esporte para sempre. Para não colocar a culpa inteira sob a produção, os fãs criaram uma expectativa imensa que, por si só, já seria difícil de alcançar.
Mais de uma década separam a saída de John Frusciante do Red Hot Chili Peppers e o lançamento de Unlimited Love, álbum que marca seu retorno triunfal. Nesse período, muitas coisas aconteceram. O guitarrista Josh Klinghoffer, visto desde sempre como um pupilo de Frusciante, ingressou no grupo, gravou dois álbuns e depois foi retirado do RHCP, como ele próprio revelou em entrevista. Tudo indicava que o retorno de Frusciante – visto há anos como o clássico guitarrista do quarteto, mesmo que outro guitarrista tivesse dominado o instrumento antes dele – seria o esforço genuíno em recuperar a faísca dos anos dourados. Embora essa seja uma característica visível no projeto lançado em 1º de abril, Unlimited Love não soa como ninguém além dos próprios Chili Peppers.
Em abril de 1989, Miguel Ângel Félix Gallardo era preso por agentes de uma força tarefa montada há anos (a Drug Enforcement Administration) em sua própria casa, em Guadalajara, surpreendentemente sem que uma única bala fosse disparada. Enfim chegava o momento do jefe de jefespassar o bastão para seu rebanho do tráfico internacional – mas, como estamos falando do homem mais poderoso do México, claramente essa troca de postos não poderia ser exatamente amistosa.
A terceira e última temporada de Narcos: México recebe não somente a gigantesca tarefa de finalizar o arco da própria série, como também carrega o peso de fechar o universo das drogas com chave de ouro. Seguindo o caminho pavimentado pelos narcotraficantes mais famosos e procurados do mundo, o ano final do spin-off de Narcos escora suas narrativa em rostos conhecidos como a família Arellano, os carismáticos sinaloenses e o “senhor dos céus” Amado Fuentes Carillo, enquanto faz questão de apresentar novas figuras e trajetórias que complementam o universo não-tão-fictício da produção da Netflix.
Não há ser humano no mundo capaz de trilhar um caminho feito todo de luz. Justamente por sermos humanos, a complexidade nos acompanha dia após dia, guiando-nos sempre diante das surpresas e mistérios da vida. Partindo dessa lógica, nossa existência se faz um eterno e heterogêneo jogo de luzes, penumbras e sombras. Nossa Arte, por sua vez, apenas reflete essa humanidade multifacetada, criando possibilidades e universos únicos, por vezes até mais atraentes do que aquilo que, por convenção, resolvemos chamar de ‘realidade’. De todas essas questões, especificamente da última, Maria Bethânia entende bem.