Mesmo após 15 anos, Breaking Bad tem a combinação química que explode em sucesso

 Foto com fundo em um deserto com céu azul. Ao centro, o personagem Walter White, um homem branco de cabelos castanhos e bigode, veste uma camisa verde, óculos de grau, uma cueca branca, tênis marrom e meia preta. Ele está segurando uma pistola. Do lado esquerdo, um trailer branco saindo fumaça vermelha. Do lado direito, uma máscara de gás preta jogada no chão.
O legado de Heisenberg corrói com ácido fluorídrico a natureza humana (Foto: Sony Pictures Television)

Leticia Stradiotto

Cidade de Albuquerque, Novo México. To’hajiilee, uma reserva indigena em Navajo. Um trailer parado no meio do deserto. Um homem de meia idade vestindo apenas uma cueca branca, uma camisa verde e uma máscara de gás. Assim, há 15 anos, Breaking Bad nos apresentou ao primeiro laboratório de metanfetamina de Walter White, o falido professor de química do Ensino Médio, que acabou de ser diagnosticado com câncer terminal.

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Envolta por traumas, a cura pede Passagem

Cena do filme Causeway, da A24. Imagem retangular e colorida. Nela, a personagem Lynsey, interpretada por Jennifer Lawrence, está sentada no banco de um ônibus e olha contemplativa pela janela, com a luz do sol batendo contra seu rosto. Ela é uma mulher branca de cabelos loiros e olhos claros, que veste uma camiseta azul-escura.
A principal aposta da Apple TV+ no Oscar de 2023, Causeway teve uma passagem tímida na premiação e garantiu somente uma indicação (Foto: A24)

Enrico Souto

Causeway, longa da A24 indicada ao Oscar de 2023, traduz-se como ‘ponte’ para o português. Essa ponte, tanto em significado material quanto metafórico, representa uma contradição que assombra perpetuamente seus personagens: símbolo do elo entre pessoas, fonte de experiências ternas carregadas por toda a vida, ao passo que subordinado ao inevitável erro, catalisador de traumas inomináveis e fardos que, da mesma forma, serão lembrados para sempre. Ao mergulhar sob a relação desengonçada de dois indivíduos que, embora quebrados, acham conforto na companhia um do outro, Passagem, como foi nomeado no Brasil, imerge no micro para resgatar a raíz e o valor inerente ao afeto humano.

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Os Fabelmans pensa no passado pela sensibilidade de seu próprio diretor

Cena do filme Os Fabelmans. Gabriel LaBelle, que interpreta o jovem Sammy Fabelman, é um jovem branco com cabelos castanhos utilizando uma camisa xadrez e observando o visor de uma câmera. A cena ocorre durante o dia, com um cenário desértico ao fundo.
Os Fabelmans, a nova produção de Steven Spielberg, coloca a vida do cineasta no centro da trama (Foto: Universal Pictures)

Pedro Yoshimatu

O desafio de contar uma história é repleto de decisões difíceis, e o de contar a sua própria é um desafio ainda maior. Essa é, no entanto, é a tarefa de Steven Spielberg em seu novo filme, Os Fabelmans, uma semi-autobiografia que utiliza de elementos narrativos fictícios para refletir na própria relação do diretor com a sua narrativa pessoal, sua família e sua paixão pelo Cinema.

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Os Banshees de Inisherin: tão próximos, mas também tão distantes

Cena do filme Os Banshees de Inisherin. No centro esquerdo da imagem, temos o ator Brendan Gleeson, um homem branco de cabelos loiros, vestido de camisa azul escura, colete marrom abotoado e calças pretas. Ele está sentado em cima de uma cadeira de balanço marrom. No centro direito da imagem, temos o ator Colin Farrell, um homem branco de cabelos pretos, vestido de terno preto e camisa levemente rosada, olhando para Gleeson através de uma janela de bordas vermelhas. Ao fundo, temos o cenário de uma parede branca deteriorada. A cena acontece durante o dia.
O filme reúne o diretor Martin McDonagh com os atores Colin Farrell e Brendan Gleeson 15 anos depois de sua primeira parceria em Na Mira do Chefe (Foto: Searchlight Pictures)

Nathan Nunes

O cenário é a ilha remota e fictícia de Inisherin, na Irlanda. O ano é 1923, logo no final da Guerra Civil que devastou o país. O conflito é, em tese, corriqueiro. Pádraic (Colin Farrell, de Batman), a procura do amigo de longa data Colm (Brendan Gleeson, de A Tragédia de Macbeth), acaba o encontrando no bar onde costumam sempre beber juntos. O segundo se distancia, enquanto o primeiro se pergunta o que aconteceu. A resposta é curta e grossa: Colm não quer mais ser amigo de Pádraic por considerá-lo “chato” e querer se dedicar mais à paixão pela Música. 

Esses são Os Banshees de Inisherin que dão nome ao novo longa de Martin McDonagh, de volta ao posto de diretor cinco anos depois de seu prestigiado Três Anúncios para um Crime, que rendeu o Oscar a Frances McDormand (Nomadland) e Sam Rockwell (O Grande Ivan). A disputa pela estatueta dourada marca novamente o trabalho do cineasta irlandês. Dessa vez, através das nove indicações recebidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para o Oscar 2023, incluindo lembranças para Farrell, Gleeson, Barry Keoghan (Eternos) e Kerry Condon (Better Call Saul) nas categorias de atuação principal e coadjuvante, e para o próprio McDonagh em Melhor Roteiro Original, Direção e, claro, Filme. 

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Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo realmente é o que diz ser

Cena de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Nela, vemos Evelyn, interpretada por Michelle Yeoh. Ela é uma mulher asiática de meia idade e de cabelos pretos. Evelyn veste uma camisa florida e um colete vermelho. A câmera dá um close em seu rosto, onde há um sangramento no nariz e um corte do lado esquerdo de seu rosto, que também sangra. Há um googly eye, um olho típico de bonecos de pelúcia colado em sua testa. Ao fundo e desfocado, há uma repartição pública
Sendo a maior bilheteria do estúdio, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo foi o responsável por fazer a produtora furar a bolha de vez (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Quanto vale entrar para a História? Quanto vale não ser esquecido jamais? Indo além, na questão cinematográfica, quanto vale fazer parte da História, seja como idealizador ou como mero telespectador? Não faltam exemplos em que essa visão não foi estimulada, como em Blade Runner (1982), The Rocky Horror Picture Show (1975) ou, até mesmo, The Room (2003) – obras injustiçadas ou que deram a volta em sua própria ruindade, mas, a princípio, foram incompreendidas. Essa poderia ser a sina de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, longa lançado em Março mas que só chegou ao Brasil em Junho. Porém, tivemos a sorte de ver a História sendo (re)escrita no Cinema.

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15 anos de Na Natureza Selvagem: a felicidade compartilhada com a totalidade do nada

Cena do filme Na Natureza Selvagem. Nela, Alexander Supertramp, um jovem branco de cabelos volumosos e barba, ambos castanhos, está sentado em uma cadeira na frente de um ônibus nas cores verde e branca. Ele veste uma camisa xadrez nas mesmas cores que o ônibus, porém com sujeira mais visível, calça bege e galocha preta. Ele segura um caderno azul aberto, o qual está olhando. Ao redor do ônibus, há plantas e flores na cor rosa.
A adaptação da história de Christopher McCandless por Sean Penn é carregada de significados (Foto: Paramount Vantage)

Guilherme Veiga

Solidão. Substantivo feminino. Estado de quem está só, retirado do mundo ou de quem se sente desta forma mesmo estando rodeado por outras pessoas; isolamento. Solitude. Substantivo feminino. Condição de quem se isola propositalmente ou está em um momento de reflexão e de interiorização. Popularmente usada em oposição à solidão para indicar que estar sozinho não implica obrigatoriamente estar em sofrimento. Associada à alegria de estar sozinho.

Se tudo é algo, então nada é algo. A relação entre preenchimento e vazio sempre bailou mais junta do que se imagina. Por mais que esses dois extremos estejam bastante próximos, a jornada para percepção dessa curta distância é bem trabalhosa. É essa via-crúcis que Na Natureza Selvagem (2007), filme que completa quinze anos em 19 de Outubro de 2022, busca percorrer.

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A retórica de Apresentando os Ricardos é alienante e perversa

Cena do filme Apresentando os Ricardos. Imagem retangular e colorida. Nela, um homem e uma mulher se encaram seriamente, como se estivessem no meio de uma discussão. O homem, Desi Arnaz, interpretado por Javier Bardem, é um homem branco, de cabelos curtos e escuros penteados em um topete, que veste uma camisa marrom. Enquanto a mulher, Lucille Ball, interpretada por Nicole Kidman, é uma mulher branca, de cabelos ruivos tingidos que se estendem até seus ombros, vestindo uma camisa verde e levantando a sua mão direita, pintada em esmalte vermelho, até a altura de seu peito, enquanto aponta para Desi. O cenário é o set de gravação de uma série.
Nicole Kidman, Javier Bardem e J. K. Simmons, indicados nas categorias de atuação, já foram concebidos com um Oscar no passado: Kidman ganhou em 2002, por As Horas; Bardem em 2008, por Onde os Fracos Não Têm Vez; e Simmons em 2015, por Whiplash (Foto: Amazon Prime Video)

Enrico Souto

Uma característica não muito sutil do roteirista Aaron Sorkin é seu longo interesse em narrativas históricas. Assinando textos desde o drama esportivo de Moneyball até a trama tecnológica e psicodélica de A Rede Social – responsável pelo seu único Oscar, em Roteiro Adaptado –, era de se esperar que, ao cineasta decidir se arriscar na cadeira de direção, esse padrão continuasse em voga. Assim, depois de dois filmes com recepção razoável, ele aposta no mais apelativo dos Oscar bait e dirige uma cinebiografia irremissivelmente metalinguística. Apresentando os Ricardos, no caso, se insere no anos 50, dentro dos bastidores da série I Love Lucy, a mais relevante e disruptiva sitcom da História da Televisão americana, comentando, no processo, o próprio funcionamento de um seriado. 

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Belfast: vá agora e não olhe para trás

Cena do filme Belfast. Na cena, em preto e branco, da esquerda para a direita, vemos a personagem de Judi Dench, Buddy e o personagem de Ciarán Hinds sentados em um sofá, em uma sala de estar de uma casa. Judi Dench é uma mulher branca de cerca de 80 anos, com cabelos curtos e lisos, usando óculos de grau, um casaco escuro e um vestido claro, sentada na ponta esquerda do sofá e segurando um jornal aberto. Sentado no meio do sofá, vemos Buddy, um menino de cabelos claros, aparentando cerca de 9 anos, vestindo um suéter e um casaco escuro. Ele tem seus pés esticados sob uma mesa, à frente dele. Na ponta direita do sofá, vemos o personagem de Ciarán Hinds, um homem branco, de cerca de 70 anos, vestindo um casaco, suéter e calça escuros. Ele encara Buddy e tem um jornal aberto sob suas pernas.
Vencedor do importante Prêmio do Público no Festival de Toronto, Belfast chega como um forte concorrente no Oscar 2022 (Foto: Universal Pictures)

Vitória Lopes Gomez

Belfast ainda estará aqui quando você voltar”. Dito e feito: o bom filho à casa torna e o ator, diretor, roteirista e produtor Kenneth Branagh usou seu espaço na Sétima Arte para reviver a infância na sua familiar vizinhança. Irlandês, o cineasta se mudou para a Inglaterra aos nove anos de idade, em um período em que seu país e cidade natal enfrentavam os conflitos entre católicos e protestantes. Branagh, um dos principais entusiastas shakespearianos da indústria cinematográfica, entre outras diversas produções no currículo, se voltou, agora, à sua própria história. Com um molde autobiográfico, Belfast relembra os dias de seu idealizador na cidade, mesmo que a nostalgia não seja tão simples.

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Às vezes, tudo que precisamos é seguir No Ritmo do Coração

Cena do Filme No Ritmo do Coração. Imagem estática. Os quatro personagens estão sentados em um sofá abraçados. No lado esquerdo está Leo Rossi, interpretado pelo ator Daniel Durant. Ele é um homem branco de cabelo castanho curto. Veste uma camiseta cinza com uma camisa xadrez cinza e marrom por cima e calça jeans azul médio. Ao lado dele está Jackie Rossi, personagem de Marlee Matlin. Ela é uma mulher branca de cabelo loiro, tamanho médio. Utiliza uma blusa azul petróleo e calça jeans azul. Ao lado dela está Frank Rossi, interpretado por Troy Kotsur. É um homem branco de cabelo grisalho e barba média. Ele veste uma blusa cinza escuro e calça jeans cinza claro. Na direita ao lado dele está Ruby Rossi, personagem de Emilia Jones. Ela é uma mulher branca de cabelo castanho, tamanho médio. Utiliza uma blusa de moletom verde e calça jeans azul médio.
O filme venceu duas categorias no Gotham Awards, e Troy Kotsur garantiu indicações ao Globo de Ouro, ao Critics Choice e ao SAG Awards (Foto: Apple TV+)

Andreza Santos

Uma família de surdos onde há apenas uma única ouvinte, a filha mais nova. Essa é a descrição inicial de CODA, que ganhou no Brasil o título No Ritmo do Coração. Ruby – a protagonista – é vivida pela talentosa Emilia Jones (Locke & Key), ela é a CODA (Child of Deaf Adults,  filha de adultos surdos) da família. Trabalhando durante a manhã na pescaria, ela interpreta e traduz tudo o que seu pai, mãe e irmão querem dizer para as pessoas não-surdas. Tudo muda quando ela decide entrar para o coral da escola.

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Ataque dos Cães adestra caubói na marra

Cena do filme Ataque dos Cães, mostra o caubói Phil com a mão no pescoço do jovem Peter. Phil é um homem branco, com barba escura e chapéu marrom, ele tem a pele suja. Peter, de costas, tem pele branca e cabelos pretos, e usa uma camisa branca.
Ataque dos Cães é um faroeste psicológico (Foto: Netflix)

Vitor Evangelista

Vinte e um anos atrás, Bronco Henry morreu. Estamos em 1925 e Phil (Benedict Cumberbatch), seu aprendiz, amigo e muito provavelmente amante, ainda não superou essa perda. Sua maneira de lidar com o luto é se tornando um completo babaca, abusivo com o irmão mais jovem e tóxico com seus funcionários do rancho em Montana. Sob a direção sempre alerta e nada ociosa de Jane Campion, a Netflix constrói no íntegro Ataque dos Cães um drama acrônico, atemporal.

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