Com Xuxa, nova adaptação de Uma Fada Veio Me Visitar tenta evitar um resultado decepcionante nos cinemas

A apresentadora Xuxa Meneghel aparece nos bastidores do filme Uma Fada Veio Me Visitar, caracterizada como a Fada Tatu. Ela veste um vestido azul esvoaçante, usa uma peruca colorida com tons de loiro, rosa e azul, e segura uma varinha ao lado do rosto, exibindo um sorriso radiante.
De volta aos cinemas depois de 14 anos, a Rainha dos Baixinhos tenta conquistar o público infantil com lição de moral sobre cancelamento na internet (Foto: Blad Meneghel)

Matheus Santos

A última aparição de Xuxa como protagonista em filmes infantis foi há 14 anos, na adaptação do livro O Fantástico Mistério de Feiurinha, escrito pelo renomado autor de literatura infanto-juvenil Pedro Bandeira. Na época, o longa-metragem, cheio de falhas de roteiro e clichês, foi responsável por levar aos cinemas pouco mais de 1.300.000 espectadores, número relativamente baixo se levarmos em consideração que Lua de Cristal foi o título brasileiro de maior bilheteria dos anos 1990.

Depois do fiasco de É Fada! (2016), a primeira versão para o audiovisual do best-seller de Thalita Rebouças, Uma Fada Veio Me Visitar, estrelada pela sensação do YouTube e atriz Kéfera Buchmann, foi a vez da Rainha dos Baixinhos interpretar a fada Tatu. Ambas as produções apostaram na presença de influenciadores digitais para chamar a atenção do público. Na montagem mais recente, por exemplo, a também youtuber Camila Loures aparece em cenas relativamente curtas e mal roteirizadas.

O enredo é bastante simples e sem muitas amarrações, característica comum a todos os livros de Thalita Rebouças. No entanto, a presença de falhas de continuidade no roteiro evidencia o ritmo acelerado das gravações em menos de duas semanas, devido à agenda frenética de Xuxa, que estava promovendo seu documentário.

A apresentadora Xuxa Meneghel e a estreante atriz Tontom Perissé estão juntas no quarto da personagem interpretada por Perissé. Enquanto a atriz novata veste um pijama azul e sorri para a foto, Xuxa segura uma lixa de unhas azul e usa um visual com cores vibrantes e bolinhas, inspirado nos anos 1980. O fundo é decorado com paredes pintadas com desenhos em várias cores neon.
Na coletiva de imprensa do filme, Xuxa compartilhou que contou com o auxílio de um ponto eletrônico e teleprompter para apoiá-la durante as filmagens do longa-metragem (Foto: Imagem Filmes)

Apesar de leve, o roteiro de Patrícia Andrade possui elementos de complexidade ao abordar temas contemporâneos, como cancelamento na internet e etarismo, mas apresenta lacunas percebidas já no início do longa. A história também é assinada por Rebouças, que, desde as diversas críticas recebidas pelo filme É Fada!, tem estado envolvida diretamente no set de filmagens de todas as suas obras adaptadas.

Assim como no livro, Luna (Tontom Périssé) está vivenciando a rebeldia da adolescência e tendo dificuldades na escola. Na madrugada anterior à prova de matemática, ela recebe a visita de uma fada tagarela e desengonçada chamada Tatu (Xuxa), que tem a missão de torná-la a melhor amiga de sua rival, Lara Amaral (Vitória Valentin), uma garota mesquinha e a mais popular do colégio.

A última vez que a fada apareceu por aqui foi na década de 1960, o que justifica seu vestido amarelo de bolinhas pretas, semelhante ao visual de Olivia Newton-John em Grease – Nos Tempos da Brilhantina. Mas a abordagem do longa é ainda mais interessante: os trajes de Tatu referenciam, a cada aparição, as cores vibrantes e a extravagância dos anos 1980.

No filme, Xuxa Meneghel se transforma em Cindy Lauper, usando uma peruca com cortes irregulares em tons de amarelo e ruivos. Sua maquiagem destaca-se com tons de roxo nas pálpebras, e ela usa acessórios como brincos e colares de diferentes formas e tamanhos, realçando a excentricidade da artista. A roupa de Xuxa exibe manchas rosa, laranja e verde, simulando serem feitas por tinta spray.
A Rainha dos Baixinhos se torna a icônica estrela dos anos 1980, Cindy Lauper (Foto: Blad Meneghel)

É divertido observar como Xuxa consegue transitar entre tantos personagens, sejam eles masculinos, fictícios ou não, após sua participação no reality Caravana das Drags do Prime Video. Algumas das caracterizações mais marcantes incluem a do cantor andrógino Boy George e de Cindy Lauper, além dela mesma quando mais jovem. A referência à época que a consagrou como a Rainha dos Baixinhos é uma excelente estratégia para atrair a geração de crianças que cresceu com a apresentadora e, agora, a acompanha com seus próprios filhos.

Porém, algumas alusões podem não ser compreendidas pelos ‘baixinhos‘ de hoje. Isso acontece especialmente com as cenas que mencionam memes da carreira de Xuxa. Porém, isso não importa quando o objetivo é discutir sobre como o cancelamento na internet é prejudicial. Apesar da temática séria e relevante, as falhas deixadas pela diretora Viviane Jundi (De Volta aos 15) prejudicaram a compreensão da trama. Quando a irmã de Lara, Milena (Camila Loures), surge no enredo, acusada de cyberbullying, todos desejam linchá-la, mas não há evidências concretas de suas ações, o que acaba gerando confusão no espectador.

Com participações especiais de Dani Calabresa, Zezeh Barbosa e Livia Inhudes, Uma Fada Veio Me Visitar é uma viagem no tempo, uma comédia divertida que garante entretenimento para toda a família. As crianças se divertem com o carisma de Xuxa, que ri de si mesma, ainda que o riso seja provocado por um certo sentimento de vergonha alheia.  Além disso, o filme também presta homenagem ao funk carioca, especialmente a MC Marcinho, que nos deixou em Agosto. O ritmo animado de Glamurosa faz com que todos queiram cantar junto no Cinema.

Ao equilibrar elementos nostálgicos com uma narrativa moderna, o longa-metragem consegue atrair diferentes públicos, mantendo a essência do livro de Thalita Rebouças. No entanto, embora a participação de Xuxa tenha gerado bastante expectativa, a produção não conseguiu arrecadar uma bilheteria satisfatória como o esperado.

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