Subtract é a soma de tudo que Ed Sheeran tem de mais vulnerável

Capa do CD Subtract. Imagem quadrada com o fundo amarelo. Ao centro está um desenho do rosto do cantor Ed Sheeran, feito de traços leves, deixando apenas a silhueta. Há traços cinza e vermelhos. Dependendo da forma como se olha o rosto lembra um coração humano.
Último dos cinco álbuns com nomes de operações matemáticas, Subtract – subtração em português – foi lançado no dia 05 de Maio de 2023 (Foto: Asylum/Atlantic)

Manu Lima

Conhecido principalmente por suas músicas românticas, o cantor e compositor Ed Sheeran sempre escreveu e cantou sobre sua vida, origens e relacionamentos. Lançado no primeiro semestre de 2023, Subtract é o sexto álbum de estúdio do músico. Depois de perder o melhor amigo, o empresário e youtuber Jamal Edwards, e do diagnóstico de câncer sua esposa Cherry Seaborn, na época grávida da segunda filha do casal, Sheeran decide usar a Música como terapia e contar sobre o luto, o medo e a esperança de um 2022 conturbado.

O quinto disco com nome de uma série de álbuns com nomes de operação matemática – depois Plus, Multiply, Equals, e agora, Subtract – é também o último da produção audiovisual que vem sendo pensada pelo britânico desde o início da carreira. Em A Soma de Tudo, série documental sobre a carreira do artista que estreou no Disney+ pouco antes do lançamento do álbum, ele conta que vem pensando no projeto há pelo menos dez anos: “a ideia para o Subtract era gravar o álbum acústico perfeito” e, portanto, fazer um disco que, como o próprio nome sugere, subtrai instrumentos da música pop mainstream que o cantor vinha fazendo”.

Uma década depois, o que vemos no Subtract é, sim, uma mudança na sonoridade de Sheeran e, em algumas faixas, há realmente a predominância do violão e piano acústico. Entretanto, o que se subtraiu foram as barreiras emocionais entre o compositor e seu público. Agora, o produto que recebemos revela um artista, já tão intimista, muito mais vulnerável.

A faixa que abre o álbum marca um retorno do cantor à sonoridade do início da carreira. Demonstrando a grande contribuição de Aaron Dessner para despir o músico dos exageros da música pop e trazê-lo para uma sonoridade que flerta com o folk, assim como já havia feito em sua parceria com Taylor Swift, enquanto apresenta o argumento lírico das composições da nova era.

Fotografia retangular. No centro da imagem está o cantor Ed Sheeran. Um homem branco, de cabelo ruivo curto. Ele está debruçado sobre uma mesa e escreve em um caderno. Atras dele há uma estante repleta de livros. e do lado direito da foto há um violão e parte de uma cama.
A série documental A Soma de Tudo, lançada dois dias antes do álbum, se divide em quatro episódios: Amor, Perda, Concentração e Libertação; todos aspectos da criação do Subtract
(Foto: Annie Leibovitz)

Presentes nas 14 músicas estão alusões aos quatro elementos que são metáforas das fortes emoções aqui colocadas. Como podemos ver na faixa Salt Water, na qual o mar é mais uma vez evocado para falar sobre a perspectiva de um suicida que sente alívio ao se imaginar pulando na água. Algumas metáforas são mais sucintas, como a de Curtains que, segundo Ed Sheeran, fala sobre um amigo que escondia cicatrizes sob as mangas.

Ainda assim, o primeiro single do Subtract retoma a batida eletrônica de músicas como Shape of you e Bad Habits, mas sem deixar de lado a letra forte e cheia de intensidade. Talvez por ter sido pensada pela primeira vez em 2018, durante a criação do quarto álbum matemático, Equals, a faixa se pareça com o que já vimos, mas há algo de diferente: a música fala sobre o luto, enquanto soa como um pop quase dançante.

Além do luto, podemos acrescentar à soma de sentimentos que motivam o Subtract, o medo e a esperança resultantes do diagnóstico de câncer recebido por Cherry Seaborn, esposa do cantor, aos seis meses de gravidez. Dessa experiência, surgem sete canções em pouco mais de duas horas e meia, como conta Sheeran no documentário.

Entre as músicas que tratam de seu relacionamento está Vega, que traz a preocupação com a saúde de Seaborn enquanto cria uma alegoria sobre estrelas. “Vega” é a estrela mais brilhante da constelação de Lira, em inglês Lyra, que é o nome da primeira filha do casal. “Queima como o inferno ser Vega”, fala sobre como ter um grande amor, um amor brilhante, pode machucar, especialmente quando se pode perdê-lo.

Em meio a erros e acertos, tentativas de mudança e autorreferências, há certa ousadia em fazer um álbum tão melancólico, especialmente depois de flertar por tanto tempo com o R&B; e tudo isso pode ser questionado de um ponto de vista mercadológico. O que não se pode questionar é a força vulnerável que se ouve em Subtract e como isso faz com que possamos ver o quanto Ed Sheeran cresceu como artista.

http://

Deixe uma resposta