Não tem como se blindar de Titane

Cena do filme Titane. Na imagem, vemos a protagonista, Alexia, uma mulher branca, de cabeça raspada, aparentando cerca de 30 anos, de ponta cabeça, com o corpo nu arqueado e com uma expressão de dor no rosto.
Comprado pela plataforma de streaming MUBI e com data de estreia marcada para 28/01/2022, Titane foi exibido no Brasil primeiro na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde participa como Apresentação Especial (Foto: Kazak Productions)

Vitória Lopes Gomez

Opte por separar o artista da Arte ou não, Julia Ducournau já cravou seu nome em suas produções. Titane, a mais nova empreitada da cineasta francesa, estreou no Festival de Cannes, onde fez história ao levar a honraria máxima da premiação, a Palma de Ouro, e chegou ao Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O segundo projeto veio antecipado depois do sucesso do polêmico Grave, mas a sangrenta e canibalesca estreia da diretora vira só a porta de entrada para os horrores que vem depois. E não adianta, nem Cannes conseguiu: não tem como se blindar de Titane.

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Annette é um conto de fadas turbulento

Cena do filme Annette. Vemos homens, mulheres e crianças parados na calçada de uma rua de Los Angeles. As que estão na frente estão ajoelhadas, olhando para cima. As pessoas no fundo estão em pé. Duas delas, uma mulher branca com cabelo loiro e uma mulher negra, conversam no canto superior esquerdo.
O musical liderado por Adam Driver e Marion Cotillard faz parte da Perspectiva Internacional da 45ª Mostra de Cinema de SP (Foto: MUBI)

Caio Machado 

O cinema de Leos Carax sempre teve uma relação íntima com a Música, indo da belíssima caminhada noturna ao som de David Bowie em Boy Meets Girl ao “intervalo” com uma impressionante versão instrumental de Let My Baby Ride em Holy Motors. Nesse sentido, Annette, novo trabalho do cineasta francês exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, extrapola esse laço com a Música de uma forma nada convencional. 

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A estranha fábula de Lamb

A imagem retangular é uma cena do filme Lamb. Ao centro vemos duas pessoas andando de costas para a câmera. Centralizado e à esquerda há um homem adulto e branco, visto do pescoço para baixo. Ele usa um casaco verde escuro e uma calça jeans azul, enquanto carrega um rifle em sua mão esquerda e segura uma criança com a mão direita. Centralizado à direita e mais embaixo há uma criança com cabeça e mãos/patas de um cordeiro. Ela usa um casaco azul escuro e uma calça jeans azul claro. Ao fundo vemos uma paisagem cheia de verde das gramas e montanhas que cortam o céu cinza.
Novo Terror da produtora A24, Lamb chega à Mostra SP pela seção Competição Novos Diretores (Foto: A24)

Caroline Campos e Vitor Tenca

Um casal inerte e enlutado é agraciado, milagrosamente, com a bênção de uma filha. A criança enche a casa de alegria e traz a vida de volta para aquele relacionamento decrépito. E eles viveram felizes para sempre. Não, Lamb não é assim – mas quase. Saindo das geladas montanhas islandesas, um dos filmes mais comentados da última edição do Festival de Cannes aterrissa na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo para destilar toda a sua fantástica estranheza familiar.

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Por que buscamos a Memoria?

Cena do filme Memoria. A foto mostra Jessica, uma mulher branca, de cabelo ruivo-escuro, vestindo camisa clara e calça jeans.Ela está sentada em uma cama bagunçada, em um quarto com mobília e quadros antigos e paredes brancas. Uma luz branca forte emana da janela.
Memoria está sendo exibido na seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: MUBI)

João Batista Signorelli 

Todas as memórias são imperfeitas, incompletas, limitadas. Um som, um gesto, uma visão, tudo se dissolve passado o seu momento de existir, e sobrevivem apenas em uma reconstituição nebulosa registrada em nossa mente. Uma memória pode não traduzir com exatidão os eventos vivenciados por um indivíduo, o que não quer dizer em nenhuma hipótese que ela é sem significado. As lembranças representam ideias que, muitas vezes, não somos capazes de traduzir em linguagem, mas que, ainda assim, sentimos, e sentindo sabemos que aquilo é significativo. Do mesmo modo que uma memória paira em nossa mente, Memoria, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é uma obra enigmática e impossível de ser descrita com precisão, mas que, talvez por isso mesmo, está repleta de significados. 

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Cineclube Persona – Julho de 2021

Arte quadrada de fundo na cor roxa. No canto supeior esquerdo, foi adicionado o texto "Julho de 2021”. No centro da imagem, foi adicionado o logo do Persona, e a íris do olho foi pintada na cor lilás. No canto inferior direito, foi adicionado o texto "cineclube persona". Espalhados pela arte, foram adicionadas quatro fotos com molduras na cor azul claro. As fotos são de produções audiovisuais, sendo: a série Loki da Marvel, com uma foto do rosto do ator Tom Hiddleston que o interpreta. Ele é um homem branco de cabelos pretos, olhos azuis e encara com expressão séria e debochada; O fundo é dourado e brilha como uma auréola atrás da cabeça dele. O filme AmarElo - Ao vivo, com uma foto do rapper Emicida, responsável pelo show do filme. Ele é um homem negro, de cabelo black power e barba rente ao roso, e óculos de grau. Ele usa uma camiseta bege com um círculo amarelo no peito, sua expressão é séria e ele tem um braço estendido para cima, serrando o punho como símbolo de luta. Viúva Negra, filme da Marvel, com uma foto de rosto da atriz Scarlett Johanssen que a interpreta. Ela é uma mulher branca de cabelos ruivos ligeiramente presos atrás da cabeça. Sua expressão é meio sorridente e ela esta de lado, curvando o rosto. E Os Ausentes, primeira série brasileira da HBO Max, com a foto do rosto do casal protagonista Raul e Maria Júlia, interpretados por Erom Cordeiro e Maria Flor. Na imagem, ambos estão um do lado do outro, encostados em uma parede de tijolo cinza. Raul é um homem branco de cabelos pretos e barba comprida, ele veste uma jaqueta preta e sua expressão é séria. Maria Júlia é uma mulher branca de cabelos pretos cacheados na altura dos ombros, sua expressão é séria.
Destaques de Julho de 2021: Emicida: AmarElo (Ao Vivo), Viúva Negra, Os Ausentes e Loki [Foto: Reprodução/Arte: Nathália Mendes/Texto de Abertura: Ana Júlia Trevisan e Vitor Evangelista]
O mês de Julho aterrissou nas Olimpíadas de Tóquio. E entre a emoção ver Rebeca Andrade subindo ao pódio em 1º lugar após performar ao som de Baile de Favela e o orgulho de contemplar nossa Fadinha, Rayssa Leal, se tornar prata no skate, sobrou espaço para assistirmos os lançamentos audiovisuais do mês. Pega a pipoca, que o hoje o Persona comenta tudo que teve de melhor e de pior na Televisão e na Sétima Arte. 

A Netflix acertou em cheio ao testar um novo formato de disponibilização de filmes. Apostando no bom slasher, o streaming produziu uma trilogia que foi lançada durante três sextas-feiras. Rua do Medo teve tudo que os clássicos filmes de terror podem oferecer: reviravoltas, clichês, sexo, casal queer, acampamentos e muito sangue.

A queridinha ainda nos presenteou com o show AmarElo do Emicida, eternizando toda energia positiva daquela noite de 2019. Quem também registrou todo seu amor pela Música brasileira foi a cantora Gloria Estefan, que trouxe, para os assinantes do HBO Max, Sangue Iorubá, um documentário explicando todo seu encanto e inspiração pelos nossos ritmos. Além deles, música e documentário também se mesclaram no mais novo – e delirante – trabalho de St. Vicent, que tenta captar a essência de Annie Clark.

Imagina postar uma thread em seu Twitter e ela se transformar num filme? Pois, o que parece absurdo funcionou muito bem com as atuações Riley Keough e Taylour Paige. Incrivelmente, as viagens de Zola agradaram mais que as de Jolt. O filme de baixo orçamento do Prime Video até traz uma premissa interessante, mas faz com que seu roteiro seja uma sucessão de erros. O aviso que fica é: Nunca Confie em Homens!

A Disney foi liberal na economia e conservadora nos costumes. Com o preço da assinatura do streaming mais 70 reais (Não, Mickey, jamais te perdoarei por isso) pudemos abraçar a tradição e assistir Jungle Cruise, uma típica aventura nos parques do mundo encantado. Ainda na exploração capitalista, nos despedimos de Natasha Romanoff da maneira mais frustrante possível. Não que Viúva Negra seja ruim, mas ele deveria ter aparecido no Cineclube de 2013. E não, Marvel, jamais te perdoaremos por isso.

Esse mês, remakes e continuações ganham espaço especial entre os lançamentos. O aguardado Space Jam: Um Novo Legado chegou sem muitas inovações mas carregado de nostalgia para os amantes dos Looney Tunes. Velozes & Furiosos 9 manteve a qualidade da franquia no patamar elevado e Um Lugar Silencioso – Parte II, ajuda a amarrar as pontas que ficaram soltas no filme anterior. Já Caçadores de Trolls: A ascensão dos Titãs, mais cansa o cinéfilo do que cumpre com sua promessa.

Na TV, o resultado foi mais positivo. A salada de frutas da Netflix atirou para todos os lados: Outer Banks voltou tão apetitosa quanto antes, enquanto Resident Evil: No Escuro Absoluto não esquentou o suficiente. Atypical deu tchau deixando saudade, Mestres do Universo: Salvando Eternia chegou com pé na porta e Beastars retornou com potencial.

A querida e estimada Eu Nunca… continua sua jornada como uma das comédias mais importantes da atualidade, esbanjando o frisson juvenil que muito nos conforta em tempos de pandemia. Young Royals nos serviu o suco da aclamação: Suécia, uma família real cheia de problemas e um romance LGBTQIA+ proibido. 

No HBO Max, chegou a primeira produção nacional, Os Ausentes. Além disso, a joia rara genera+ion finalmente foi disponibilizada aqui, dando vasta visibilidade para essa turminha do barulho, que navega em problemas adolescentes do jeito mais identificável possível: quebrando a cara.

Na casa do rato, Loki adiou suas conclusões a fim de nos apresentar o Multiverso, em adição ao maior personagem da Marvel de 2021, o Loki Jacaré. A segunda temporada de High School Musical: A Série: O Musical (ufa) acabou meio sem pé nem cabeça, totalmente incerta da história que queria contar. 

Na Rede Globo, acabou No Limite e nem a merecida vitória de Paula ganhou as manchetes. Na internet, o xodó The Bold Type encerrou sua jornada na TV de maneira tímida, e a versão espanhola da competição de drags de RuPaul, Drag Race España, divertiu mais que qualquer outra coisa.

Pulando de streaming em streaming, a Editoria do Persona passeia pelos grandes lançamentos de Julho de 2021 e dá as dicas imperdíveis do que de melhor está borbulhando no meio audiovisual. Se prepara para mergulhar em animações instigantes, filmes de terror imperdíveis e até mesmo em uma das melhores produções do ano passado (spoiler: envolve uma vaquinha chegando nos Estados Unidos).

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