Mesmo após 55 anos de seu lançamento, Duas Garotas Românticas continua intocável (Foto: Festival de Cinema Francês Varilux)
Sabrina G. Ferreira
Para amenizar os males emocionais causados durante a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 50 e 60, houve o que se pode chamar de Era de Ouro dos musicais nos cinemas. Mostrando que é possível criar obras de qualidade fora dos muros de Hollywood, o diretor francês Jacques Demy (Os Guarda-Chuvas do Amor, A Baía dos Anjos) se destacou com o sucesso de bilheteria lançado em 1967, Duas Garotas Românticas (Les Demoiselles de Rochefort), arrebatador tanto pela energia vibrante que provém de cada cena, quanto pela simplicidade da trama, ao tratar assuntos considerados sérios de forma leve e sutil.
“Sentimentos são/Como uma canção/Para a Bela e a Fera” (Foto: Disney)
Gabriel Oliveira F. Arruda
Se eu te pedisse para encontrar uma história que se manteve culturalmente e socialmente relevante ao longo de quase três séculos, seria difícil encontrar uma que permaneceu no imaginário popular tão firmemente quanto A Bela e a Fera. Escrito originalmente em 1740 por Gabrielle-Suzanne Barbot, a narrativa de La Belle et la Bête foi capaz de alcançar uma longevidade singular, sendo constantemente adaptada e reformulada ao longo de sua vida útil para encantar novas gerações de leitores e, eventualmente, telespectadores.
Das dezenas de versões, no entanto, é ainda mais difícil disputar que a mais importante delas seja a animação musical de 1991, dirigida por Gary Trousdale e Kirk Wise e produzida pela Walt Disney Animation Feature. Além da aclamação tanto da crítica quanto do público (e uma bilheteria nada tímida), o longa fez história ao se tornar a primeira animação a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme, o prêmio máximo do Cinema. Três décadas depois de sua estreia, vale olhar para o “conto mais antigo que o tempo” e notar as razões da amplitude de seu impacto.
Destaques de Novembro de 2021: 7 Prisioneiros, Arcane, tick, tick… BOOM! e Eternos (Foto: Reprodução/Arte: Herinque Marinhos/Texto de Abertura: Gabriel Oliveira F. Arruda)
Se outubro foi um mês marcado por produções macabras e o clima sombrio e festivo de Halloween, novembro é uma volta à normalidade relativa, com várias obras para apetecer qualquer tipo de gosto. Conforme os grandes lançamentos chegam para começar a campanha para a próxima temporada de premiações, o Persona está aqui para recapitular os destaques mais importantes do mês no Cinema e na TV através do Cineclube de Novembro.
Eternoschegou no início do mês para bagunçar a fórmula da Marvel. Sob a direção íntima e minimalista da vencedora do Oscar Chloé Zhao, o longa introduz no MCU uma família disfuncional de seres imortais, deuses celestiais zangados e até mesmo um certo caçador de vampiros. Outra família superpoderosa que deu as caras foram os Madrigal, de Encanto, a nova animação musical da Disney com canções de Lin-Manuel Miranda, que realmente nos encantou com sua narrativa sensível e emocionante. A mente por trás de Hamilton também explodiu com o musical tick, tick… BOOM!, no qual ele fez sua estreia na direção cinematográfica, contando a história do compositor Jonathan Larson, vivido por um Andrew Garfield estonteante.
Continuando no mundo dos musicais, Querido Evan Hansen entregou uma adaptação decente de seu enredo premiado e controverso, mas não fez nada para revisar sua mensagem problemática e seus números estáticos. Por outro lado, Annette, o musical experimental de Leos Carax (que lhe rendeu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes), deu as caras no Brasil por meio da MUBI, entregando um Adam Driver lindo e homicida.
De Cannes, também veio Benedetta, o longa polêmico de Paul Verhoeven que conta sobre o caso de amor lésbico entre duas freiras italianas. E se teve algo que não faltou em novembro, foi Adam Driver: o ator estrelou duas produções de Ridley Scott: O Último Duelo, um épico medieval sob a perspectiva de uma mulher tentando recuperar sua própria voz, e Casa Gucci, que conta com Lady Gaga claramente à procura de um Oscar por seu sotaque no papel da matriarca da família por trás da luxuosa marca italiana.
Outras atuações notáveis em cinebiografias que tivemos esse mês foram Jessica Chastain, carregada de maquiagem no papel da televangelista titular em Os Olhos de Tammy Faye, e Kristen Stewart, no aclamado Spencerdando sua voz singular à Princesa Diana na fábula do diretor Pablo Larraín. No bem humorado The Electrical Life of Louis Wain, Benedict Cumberbatch interpreta um artista atormentado com seu já característico charme inusitado, enquanto Will Smith dá as caras em King Richard: Criando Campeãs, lançado no HBO Max americano, onde faz o pai e treinador das irmãs Williams.
Entre os maiores lançamentos da Netflix, brilhou Alerta Vermelho, o filme mais caro já produzido pelo streaming, responsável por juntar Dwayne “The Rock” Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot em uma trama de roubo formulaica. A comédia romântica Um Match Surpresaveio para romantizar o catfishing e faz pouco além disso, mas o aguardado e sangrento westernVingança & Castigo revitaliza o gênero e reúne um elenco de peso marcado por nomes como Regina King, Idris Elba e Lakeith Stanfield.
No Cinema nacional, não podemos deixar de falar de Marighella, primeiro filme dirigido por Wagner Moura que na verdade estreou em 2019 no Festival de Berlim, onde foi ovacionado de pé. Por conta da pandemia e até mesmo censura, ele só foi lançado nas salas de cinema brasileiras e no Globoplay em novembro deste ano, contando a história dos últimos anos do deputado e ex-guerrilheiro Carlos Marighella (interpretado por Seu Jorge).
Também no âmbito das produções brasileiras, o longa 7 Prisioneiros, antes cotado para representar o Brasil na disputa pelo Oscar, logo se tornou um dos filmes em língua não-inglesa mais vistos da Netflix. Num suspense brutal que escancara as realidades sociais do trabalho escravo no Brasil, a produção de Alexandre Moratto conta com Rodrigo Santoro e Christian Malheiros em seu elenco.
A estreia de Halle Berry na direção com o brutal Bruised só foi efetivamente lançada pelo streaming esse mês, após ter estreado no Festival de Toronto no ano passado. Além dela, Rebecca Hall também faz sua estreia por trás das câmeras com o drama Identidade, estrelado por Tessa Thompson e Ruth Negga, que traz uma das surpresas mais positivas da plataforma este ano. Enquanto isso, Finch cimenta a parceria entre Tom Hanks e Apple TV+ com um longa pós-apocalíptico dirigido por Miguel Sapochnik, conhecido por comandar alguns dos episódios mais badalados de Game of Thrones.
A peça The Humans se faz de base para o novo drama da A24, que comove ao revelar a empatia entre as personagens e a audiência, com um elenco encabeçado por Steven Yeun e Beanie Feldstein. Para aqueles que procuravam diversão para a família toda, a adaptação de Clifford, o Gigante Cão Vermelho veio para comemorar o espírito natalino em grande estilo. Da mesma forma, Ghostbusters: Mais Além ressuscita a franquia clássica do Cinema através da introdução de uma nova geração de caça-fantasmas, dessa vez sob a tutela de Paul Rudd.
Junto com o lançamento de Red (Taylor’s Version), Taylor Swift também fez sua estreia na direção com All Too Well: The Short Film, curta inspirado no seu relacionamento com o ator Jake Gyllenhaal e marcado por mágoas que inspiraram o disco – e sua regravação. Também tratando de relacionamentos nem tão saudáveis regados por música boa, o britânico Edgar Wright retorna para a direção com Noite Passada em Soho, uma viagem psicodélica e intoxicante por uma das partes mais famosas e sinistras de Londres, explorando o fino véu entre o passado e o presente através da dinâmica entre Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy.
Manu Gavassi fez sua estreia no Disney+ com o álbum visual GRACINHA, uma história fantástica e metalinguística sobre a própria arte. A cantora Adele também deu as caras ao final do mês com Adele One Night Only, um espetáculo exclusivo que precedeu o lançamento de seu novo disco, 30.
Agora passando para a Televisão, se por um lado a Netflix acertou em cheio com Arcane, a prequel animada do jogo League of Legends distribuída em três atos,Cowboy Bebopmarca mais uma das tentativas fracassadas de traduzir animes para live-action. Enquanto Arcane exibia todo o potencial de animações com cores e sons vibrantes elevando sua narrativa explosiva, a adaptação da obra seminal de Shinichiro Watanabe peca por seu apego cego à estética do original, entregando uma temporada truncada e não mais regida pelo espírito livre e despreocupado do jazz. A tesuda e bem humorada Big Mouth seguiu impecável por sua quinta temporada, mas já parece aquecer para o possível final da série.
Duas adaptações de quadrinhos da DC Comics terminaram em novembro: ao passo que a estética surrealista de Patrulha do Destinofloresceu no HBO Max após o encerramento do streaming exclusivo da DC, Stargirl teve que dar jeito nas mãos da CW, canal responsável pelo Arrowverso. Apesar de plataformas diferentes, ambas as séries conseguiram reforçar suas melhores qualidades em seus novos anos, garantindo renovações para 2022.
Já na Apple TV+, a aguardada adaptação dos célebres livros de ficção científica de Isaac Asimov encerrou sua primeira temporada com resultados mistos: embora Fundação certamente tenha os visuais para construir as bases de seu mundo organicamente, sua narrativa peca ao falhar com a visão de seu autor. A nova versão do Boneco Assassino surpreendeu e deliciou os fãs de longa data da franquia, em uma sequência comandada por seu criador, Don Mancini, e que respeita o legado queer e disruptivo de Chucky. O spin-off britânico de Drag Race terminou sua nova temporada premiando sua participante mais nova até hoje. A premiada antologia American Crime Story também retornou com Impeachment, temporada que focou no escândalo sexual entre o presidente americano Bill Clinton e Monica Lewinsky.
E assim, a Editoria do Persona chega na 11ª edição do Cineclube. Entre os prenúncios de Natal, vislumbres do Oscar 2022 e inspirações musicais no meio audiovisual, te convidamos a pegar o balde de pipoca para voltar ao cinema (seguindo sempre as normas de segurança, claro) e percorrer conosco cada um dos destaques do Cinema e da TV no mês de Novembro de 2021.
The Rocky Horror Picture Show surgiu porque o criador Richard O’Brien, que também interpreta Riff Raff, estava entediado e insatisfeito com seus papéis no teatro (Foto: 20th Century Fox)
Vitória Lopes Gomez
Nota mental: nunca tentar definir o gênero cinematográfico e nem descrever o roteiro de The Rocky Horror Picture Show. O longa musical dirigido por Jim Sharman e baseado na peça teatral homônimalevou às telas a essência satírica e tumultuada de comédia, terror e ficção científica todos juntos e misturados, com muita música, irreverência e atrevimento. Assim como os filmes B que se propôs a homenagear, a rebelde produção foi criticada, deixada de lado e jogada para as exibições com menor audiência. Entre o público das sessões, o propositalmente ridículo e contracultural The Rocky Horror Picture Show foi compreendido e, justamente por causa dos renegados, se tornou o clássico cultdefinitivo e atemporal que é hoje.
O segundo ano do musical da NBC recebeu 5 indicações ao Emmy 2021 (Foto: NBC)
Caio Machado
A premissa de Zoey e sua Fantástica Playlist chama atenção pela originalidade. Depois de um evento atípico, uma jovem programadora passa a presenciar números musicais em seu cotidiano, performados por conhecidos ou não. Porém, somente ela consegue ver essas apresentações, onde as pessoas utilizam as músicas para expressarem o que estão sentindo naquele momento.
Com o sucesso do drama entre Olivia Rodrigo e Joshua Bassett fora das câmeras, as expectativas para o novo ano de HSMTMTS eram tremendas (Foto: Disney+)
Larissa Vieira
Janeiro de 2021, drivers license, Olivia Rodrigo e Joshua Bassett. Os nomes até podem ter soado novos para o mundo da Música, mas, para os fãs de High School Musical ou para os nostálgicos do Disney Channel, eles já tinham marcado presença muito antes. Em 2019, o Disney+, ainda nem lançado no Brasil, começou a era dos reboots e revivalstrazendo de volta sua clássica trilogia, com rostos novos.
E claro que, logo de cara, esses rostos – não só os protagonistas – agradaram aqueles que ainda tem um apego emocional à trama, e souberam deixar para trás as histórias do passado (e Zac Efron). Quem lidou com isso, e aproveitou o draminha romântico da primeira temporada, criou ainda mais expectativas quando o casal principal, Nini (Olivia Rodrigo) e Ricky (Joshua Bassett), saiu da tela do streaming para viver uma montanha-russa de emoções aqui fora.
Temos uma bandeirinha brasileira no filme! (Foto: Warner Bros)
Caroline Campos
Não tem como negar que Lin-Manuel Miranda é um fenômeno. Desde que surgiu no mundo da Broadway nos anos 2000, o artista multifacetado de origem porto-riquenha já acumula um Pulitzer, três Grammys, um Emmy, três Tonys e não demorou muito para cair nas graças de Hollywood. Depois de Moana, Mary Poppins, a gravação de Hamilton pelo Disney+ e até uma participação em Brooklyn 99, chegou a vez de Miranda retornar às origens e levar às grandes telas aquele que foi seu primeiro musical. No entanto, é com o protagonismo de Anthony Ramos que Em um Bairro de Nova York chega ao HBO Max e aos cinemas do mundo todo cercado de polêmicas e críticas controversas a respeito da trama.
Lotada de novas músicas, a obra também foi lançada como albúm no YouTube e no Spotify (Foto: Netflix)
Bruno Azevedo
Após 5 anos longe dos palcos e da internet, Bo Burnham retorna com Inside, seu novo Especial lançado pela Netflix. A produção foi escrita, dirigida e estrelada por ele mesmo no ano de 2020, trancado no espaço de uma única sala e feita especialmente para ser assistida pela tela da sua TV ou celular. Com vídeos de react, cantoria em volta da fogueira, debates sociais com um fantoche de meia e diversos desabafos, o filme é uma grande bagunça organizada na forma de comédia dividida entre músicas e stand-up.
A indicação em Melhor Canção Original é a única de Festival Eurovision da Canção no Oscar 2021 (Foto: Reprodução)
Ana Beatriz Rodrigues
A mistura de reality show e música pode dar ótimos resultados. Por exemplo, o grande sucesso de realities musicais no Brasil, como o The Voice e o Ídolos. Porém, há uma grande competição que não é tão familiarizada fora da sua localização. O Eurovision Song Contest (Festival Eurovisão da Canção) é um grande concurso da União Europeia de Radiodifusão, que não possui ligação direta com a União Europeia. E foi assistindo uma edição desse programa que o ator Will Ferrell teve a ideia de fazer uma comédia sobre o reality. Depois de 20 anos de sua concepção, Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars chegou na Netflix.
Indicado ao Oscar 2021 de Melhor Animação, A Caminho da Lua passa mensagem aos adultos enquanto diverte as crianças (Foto: Reprodução)
Larissa Vieira
A Netflix entrou para a lista de animações para o público infantil com mensagens reflexivas para o público adulto. A Caminho da Lua (Over the Moon) chega para encantar as crianças com luzes, personagens engraçados e um enredo divertido enquanto leva os telespectadores mais velhos a um mundo de reflexão. Lançado em outubro de 2020, a animação musical acompanha a trajetória de Fei Fei, uma criança chinesa que sofre com a perda da mãe. Anos mais tarde, quando seu pai, Ba Ba, decide começar uma nova família, a agora pré-adolescente aflige-se com esse novo cenário e decide recorrer até a deusa da Lua, Chang’e.