Lançado em setembro de 2021, Belo Mundo, Onde Você Está (Beautiful World, Where Are You) é o terceiro romance de Sally Rooney, célebre escritora conhecida pelo sucesso Pessoas Normais. Lançado simultaneamente no Brasil, o livro discorre sobre as incertezas e inseguranças do mundo jovem adulto, assunto já consolidado na literatura da autora inglesa.
“Nestes dias, caminhei pelos lugares da minha infância como quem passeia num pântano: pisando o chão com as pontas dos pés. Um passo em falso e corria o risco de me afundar em escuros abismos. Eis a minha doença: não me restam lembranças, tenho apenas sonhos. Sou um inventor de esquecimentos.”
Na icônica cena de Um bonde chamado Desejo (1947), escrita pelo dramaturgo norte-americano Tennessee Williams, a personagem Blanche DuBois entoa: “Eu não quero realidade. Eu quero magia”. Parece que essa afirmação espelha a carreira literária de Mia Couto, cuja diferença consiste em enxergar na existência toda a magia necessária para encarar a vida. Segundo o próprio escritor, “não há somente uma realidade, mas várias”. Como fruto da parceria com a editora Companhia das Letras, o Persona teve acesso a seu novo romance, O Mapeador de Ausências, participando de um evento exclusivo com o autor. A obra, publicada no início de setembro de 2021, traz como protagonista Diogo Santiago, poeta e professor universitário na cidade de Maputo, que parte em uma viagem física e metafísica à Beira, sua cidade natal.
“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”
– Carlos Drummond de Andrade
Para poder valorizar cada vez mais a Literatura, parte tão importante e fundamental da cultura do nosso e de qualquer outro país, o Persona começa, agora, a preencher sua própria estante.
O mês de outubro marcou o início do nosso Clube do Livro, formado por membros da Editoria, que tem o intuito de promover a leitura compartilhada e encontros para discussão de alguma obra sugerida. Ao final do mês, o Clube ainda se reúne para montar o Estante do Persona, com um comentário que sintetize as ideias sobre a leitura realizada e uma playlist de músicas que se relacionem com a mesma, além de uma indicação de cada membro sobre algum livro marcante ou que mereça ser compartilhado.
Como primeira leitura, o Clube do Livro teve a honra de poder prestigiar uma das maiores autoras da Literatura brasileira. A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector, é narrado em primeira pessoa pela personagem que tem suas duas iniciais presentes no título da obra. Uma mulher, moradora do Rio de Janeiro, que, ao desempenhar a tarefa de limpar o “quartinho dos fundos” de seu apartamento, mergulha em um fluxo de pensamento contínuo simbolizado por um monólogo de reflexões existencialistas, uma das grandes marcas da escrita da autora.
E nada mais simbólico do que estrear essa publicação especial num mês com acontecimentos tão marcantes para o meio literário. Além de no dia 29 de outubro ser celebrado o Dia Nacional do Livro, as semanas anteriores também foram marcadas por grandes eventos. No dia 7, ocorreu a cerimônia de entrega do Nobel de Literatura 2021, que foi concedido ao autor Abdulrazak Gurnah. Nascido na ilha de Zanzibar, atual Tanzânia, em 1948, o escritor é especialista em Literatura pós-colonial e na temática de refugiados, colecionando em sua carreira títulos como Paradisee Afterlives.
Mais ao final do mês, no dia 20, foi realizada a entrega do Prêmio Camões, para a moçambicana Paulina Chiziane. Tão simbólica quanto a vitória de Gurnah, Chiziane é a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique,Balada de Amor ao Vento, em que o fez depois da independência. Com a figura da mulher moçambicana e africana no centro de sua escrita, a autora dedica-se a explorar os problemas enfrentados pela mesma no meio social, e tem como uma de suas obras de maior prestígio Niketche: Uma História de Poligamia, em que uma mulher decide conhecer as outras esposas de seu marido.
No clima desse mês repleto de grandes feitos na Literatura, você confere as indicações do Clube do Livro na primeira edição do Estante do Persona.
Há uma linha tênue entre o Horror e o Terror. Enquanto no primeiroo apreço pelo sobrenatural e sua respectiva negação da realidade são predominantes (lembre-se do “Horror, o Horror!” anunciado pelo agente Kurtz em O Coração das Trevas), o segundo preza pela criação de uma atmosfera repleta de suspense, cuja brincadeira consiste justamente na ausência do mágico, e na dúvida se determinadas situações ocorreram ou se estão na cabeça dos personagens. Na Literatura, há predominância dos textos de terror, e, de forma mais apropriada, trata-se de uma categoria precursora ao suspense psicológico, na qual ambos os gêneros se cruzam quando o assunto é aterrorizar. Em Histórias extraordinárias, uma coletânea de 18 contos traduzidos pelo poeta José Paulo Paes, o leitor encontrará a angústia e a engenhosidade de Edgar Allan Poe, um dos principais inventores do Terror moderno.
Absorver Pequena coreografia do adeus não é um trabalho fácil. Publicado pela Companhia das Letras em 2021, o novo livro de Aline Bei é como voar bem alto, bater no teto da existência e espiar o que há além. Mais um fruto da parceria do Persona com o grupo editorial, a autora vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura derrama sua ternura e seu carinho pelas próprias criaturas, se transmutando a cada página a fim de se tornar algo tão único que só o leitor perfeitamente quebrado é capaz de dançar em sua companhia.
Não são necessários floreios de apresentação quando se trata de Stephen King. O autor já passou por palhaços do mal, carros do mal, cachorros do mal, garotas do mal, hotéis do mal e, mesmo assim, parece que sua fonte da criatividade não se cansa de jorrar ideias para serem passadas ao papel. Depois, terceiro livro da parceria com a Companhia das Letras, é mais uma de suas empreitadas pelo mundo dos espíritos. Dessa vez, no entanto, pode-se dizer que sua narrativa é mais otimista e divertida do que sombria e aterrorizante para os parâmetros do Mestre do Terror.
Crônica da Casa Assassinada, lançado em 1959, assim como vários romances eternizados, contempla o fim da tradição familiar. Mas, ao contrário de clássicos como Os Buddenbrook e Cem Anos de Solidão, o romance não ficou marcado na literatura brasileira como deveria. A reedição pela Companhia das Letras é apenas o ponto de partida para a reparação que o autor merece. O crédito, muito merecido, de Lúcio Cardoso é visível pela maneira com que ele examina o interior da aristocracia mineira e sua decadência.
Pai pastor, mãe advogada e filha prodígio. Essa é a fórmula infalível para produzir uma família bem vista, amigável e exemplar, certo? O autor sueco M.T. Edvardsson parece discordar. Parte da parceria com a Companhia das Letras e publicado sob o selo da Suma, Uma família quase perfeita é um thriller intenso e envolvente sobre a verdadeira face da justiça e as situações extremas que podemos nos colocar para proteger aquilo que nos é mais sagrado. Mas, atenção: o livro possui gatilhos relacionados à violência sexual e psicológica. A narrativa pode causar perturbações em leitores mais sensíveis aos temas.
A partir de uma narrativa quase poética e única, Garota, Mulher, Outras já pode (e deve) ser considerado um clássico da literatura britânica. Sua autora, Bernardine Evaristo, traça com cuidado as histórias de 12 protagonistas diferentes, que são ligadas por um fio condutor que compreende todo o século XX no Reino Unido. Indo além da riqueza de referências culturais, políticas e sociais que a obra apresenta, é no âmbito sentimental que a trama floresce.
O Persona é oficialmente um parceiro da Companhia das Letras – parte do Time de Leitores 2021. As resenhas dos livros selecionados sairão gradualmente, de acordo com o recebimento das obras. Em março, homenageando o mês da mulher, a obra escolhida para a parceria foi Apague a luz se for chorar, da goiana Fabiane Guimarães, que integra a #CompartilheLeiturasFemininas. O romance de estreia da autora é uma declaração de amor, cheia de afeto, às nuances da vida e aos vínculos familiares, mesmo os excepcionalmente desgastantes.