A valorização de uma estética única entre o grupo funciona como uma forte ferramenta no incentivo da autoestima da população negra (Foto: Jef Delgado)
Julie Anne Alves
Com mais de trinta anos de estrada, premiações internacionais e canções que salvaram gerações, o grupo de rap Racionais MC’s foi contemplado com o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo, disponibilizado pela Netflix.Dirigido por Juliana Vicente, o longa estreou na plataforma em Novembro de 2022 como um dos mais acessados mundialmente, e conta, em pouco menos de duas horas, a história do quarteto a partir do olhar dos membros e de quem os acompanha ao longo dos anos.
Ecoando sua celebrada minissérie Chernobyl, Craig Mazin nos inicia em The Last of Us com um prólogo: em um talk show dos anos 1960, acompanhamos um biólogo carismático (John Hannah) que avisa tanto o entrevistador (Josh Brener) quanto a plateia que o verdadeiro perigo para a extinção da raça humana não são vírus ou bactérias, mas os fungos. Quando questionado sobre o que aconteceria no evento destes organismos evoluírem para nos infectar, ele responde com um simples “Nós perderíamos”. E, pelas próximas nove semanas, fomos convidados a imaginar como seria um mundo onde é justamente isso o que aconteceu: nós perdemos.
Polachek representa visualmente cada elemento de seu projeto: o fio de Ariadne, o fogo, os anjos e os labirintos até a presença do produtor Danny L Harle e sua filha no ensaio do álbum (Foto: Aidan Zamiri)
Enzo Caramori
Em todas mitologias, existem rotas desconhecidas que até mesmo os mais vividos viajantes e argonautas nunca se atreveram a traçar em seus mapas envelhecidos, especulando apenas o que seriam esses tão grandiosos perigos. Pode-se logo pensar que o medo esteja nas ondas de um mar revoltoso, mas a verdadeira violência é a de se prender em órbitas obsessivas do mais temido feitiço: o desejo. Vários são os poetas – talvez os maiores excursionistas desse percurso – que, esquecendo-se do poder de reconfiguração da paixão, perdem-se, tentando capturá-la com objetividade, em suas profundezas.
A artista estadunidense Caroline Polachek é uma das viajantes que também não encontrou o seu destino, até mesmo porque seu maior objetivo está no próprio ato da busca. Em seu novo e triunfal álbum, Desire, I Want To Turn Into You,Polachek constitui uma cartografia do desejo na forma da música pop. Nela, diferentemente de outras narrativas em que o ser apaixonado quer tomar controle e dar nome ao que sente, a cantora prefere ser transportada pelo êxtase do sentimento. As excursões feitas nas doze faixas do esperado sucessor de Pangsão ruminações, balbucios e expressões fundadas pela letargia, que mais criam imagens do que a paixão pode ser do que realmente um dizer concreto.
Mais de 300 mil pessoas foram rir e se assustar nos cinemas nacionais com M3GAN, filme da Blumhouse que mistura diversos gêneros cinematográficos (Foto: Universal Pictures)
Felipe Nunes
Quem nunca teve medo de uma boneca durante a infância que atire a primeira pedra. Por meio de lendas, séries e filmes, a vertente do terror associada aos brinquedos ficou enraizada no imaginário coletivo popular cultural. O fruto disso foram as célebres sequências envolvendo bonecos sobrenaturais, como a franquia de Chucky e a de Annabelle. Se, no passado, estas obras foram as responsáveis por aterrorizar as crianças, agora, o brinquedo da vez – robô, na verdade – é M3GAN – uma boneca androide que é tão maldosa quanto seus antecessores, mas que, pela primeira vez, não é alvo da possessão de nenhum espírito maligno e sim da própria tecnologia da qual foi criada.
Toda a divulgação do último álbum de K-Dot foi feita através de um site misterioso sob a alcunha de Oklama, que traduz-se para “meu povo” na língua Chahta Anumpa, usada por nativos americanos (Foto: pgLang/TDE)
Enrico Souto
É possível que um mortal se torne messias? Sendo este o posto dado a Kendrick Lamar pelo hip-hop, a mensagem que fica ao subir no palco do Grammy para receber seu terceiro gramofone de Melhor Álbum de Rap, em Fevereiro de 2023, é que ele é indubitavelmente humano. Depois um longo hiato, em seu quinto projeto de estúdio, Mr. Morale & The Big Steppers, o artista se apossa desse complexo para mergulhar no mais oculto de seus traumas e, assim, celebrar a beleza de suas imperfeições.
Aviso: o seguinte texto discursa sobre temas que podem se tornar gatilhos para algumas pessoas que sofrem/sofreram com dependência química e violência sexual.
Entre brigas, farpas e composições, Billy e Daisy nos hipnotizaram com a famosa fórmula enemies to lovers (Foto: Amazon Prime Video)
Clara Sganzerla e Letícia Stradiotto
Separe sua calça boca de sino, seu óculos escuro, uma blusa com a estampa mais divertida do seu armário e entre na atmosfera dos anos 70 com a banda mais incrível que, até então, não existia. A nova série do Amazon Prime Video,baseada no livro de mesmo nome da autora Taylor Jenkins Reid, nos apresenta, com muito drama, romance e emoção, a ascensão e queda do grupo mais polêmico e amado do Reidverso. Antes de mergulhar na Los Angeles regada a drogas, sexo e rock n’ roll, não esqueça seus fones de ouvido e prepare-se para se apaixonar, chorar e voltar no tempo com Daisy Jones & The Six.
David Weil, showrunner de Hunters, subiu ao estrelato com a série que o representa pessoalmente por ser neto de sobreviventes do Holocausto (Foto: Amazon Prime Video)
Henrique Marinhos
Há três anos estreava a dualista primeira temporada de Hunters. Aos que conseguiram terminá-la, hoje podem apreciar o segundo – e maior – ato do enredo, desenvolvido por David Weil, Mark Bianculli, Nikki Toscano e David Rosen, que divide opiniões. Com um exímio elenco, a série traz Al Pacino de volta às telas, já que seu último papel em uma produção para televisão foi em 2003, em Angels in America. Agora, o ator interpreta Meyer Offerman, um líder de caçadores nazistas à procura de fechar as feridas deixadas pela Segunda Guerra Mundial.
“Cada homem encontrará o que deseja evitar” Imam Ali – Nahj Al-Balagha – Sermão 149. (Foto: MUBI)
Mariana Pinheiro
“Estarei de volta quando você acordar“, diz uma mulher ao seu filho horas antes de ser brutalmente assassinada enquanto trabalhava. Ela arrumou-se e o beijou pela última vez sem saber o que aconteceria em mais uma noite nas ruas. Essa é a primeira cena de Holy Spider, a qual elucida tudo o que o filme pretende contar durante sua exibição. Nela, uma prostituta iraniana caminha pela cidade de Mashhad enfrentando olhares mal-intencionados e buscando refúgio em drogas para escapar da realidade assombrosa a qual é condenada a viver.
Nastassja Martin esteve na programação principal da 20ª Flip junto a Tamara Klink na mesa ‘‘Desterrando o susto’’, e seu Escute as feras foi a leitura do Clube do Livro do Persona em Fevereiro (Foto: Editora 34/Arte: Ana Cegatti)
Enzo Caramori
Outono. Todo encontro com o Outro revela-se como uma experiência de arrebatamento: da violência de deixar um pedaço de si e desprender-se da unidade do Eu ao movimento da alteridade de achar-se nos olhos do desconhecido. No caso da antropóloga Nastassja Martin, ressonante no livro Escute as feras, a experiência é do deslumbramento de um beijo e da brutalidade de um ataque e contra-ataque. Ao encontrarem-se uma no olhar da outra, a antropóloga e a ursa, próximas a um vulcão no extremo leste siberiano, marcam mutuamente os seus destinos e fundem a condição de fera e humana.
Criaturas do Senhor estreou no Festival de Cannes em 2022 e chegou nos cinemas brasileiros em abril, seis meses após o lançamento global (Foto: A24)
Vitória Gomez
A Irlanda tem sido palco de produções interessantes e diversas. Longe dos conflitos amistosos e de uma bela ambientação folclórica, ou até da sensibilidade tocante de uma tal menina silenciosa, a ilha também abriga as Criaturas do Senhor e seus lados sombrios e humanos. Na obra, produzida pela oscarizada A24, a decisão de uma mãe entre proteger seu filho ou deixá-lo aceitar as consequências de suas próprias ações norteiam um dilema sem volta, capaz de alterar a trajetória da cidade inteira e de um patriarcado atemporal.
Estrelado pelos indicados ao OscarEmily Watson e Paul Mescal, o filme demora a mostrar a que veio. Brian (Mescal) retorna ao lar, uma ilha não nomeada da Irlanda, depois de anos morando na Austrália. Sua partida é um mistério e seu retorno, mais ainda. Mesmo assim, o homem, na casa dos seus vinte e tantos anos, é bem recebido pela irmã Erin (Toni O’Rourke) e principalmente pela mãe, Aileen (Watson). O menino de ouro da mulher, porém, não é bem como ela o vê e, ao longo dos 100 minutos, se revela.