A serena onda de vida de La Parle

Cena do filme La Parle. A imagem é em preto e branco. Em uma cozinha, aparecerem, esquerda para a direita: Fanny Boldini, Simon Boulier, Kevin Vanstaen e Gabriela Boeri
Co-produzido pelas brasileiras Claraluz Filmes e Kinoteka, junto à francesa Les Films Bleus, La Parle é fruto da residência cinematográfica feita por Claude Lelouch – o diretor de Um Homem, Uma Mulher (1966) e de Os Miseráveis (1995) [Foto: Pandora Filmes]
Laura Hirata-Vale

Lar de navegantes, marinheiros e piratas, os oceanos sempre tiveram sua importância para a Humanidade. Os sete mares foram protagonistas na compra de especiarias e temperos, em descobrimentos e guerras. Além de água, sal e matéria orgânica, eles são compostos por mistérios, histórias e lendas; sereias, tubarões gigantes e os mais diversos monstros habitam-nos. Porém, mesmo com suas peculiaridades obscuras, pode-se encontrar no mar um dos fenômenos mais belos da Terra: as ondas. Cristalinas e salgadas, elas são responsáveis pela trilha sonora e por parte da paisagem das praias.

E se as ondas existissem para nos lembrar de que ainda estamos vivos?

É com essa reflexão sobre as ondas do mar que começa o drama franco-brasileiro La Parle. Dirigido, roteirizado e protagonizado pela brasileira Gabriela Boeri, e pelos franceses Fanny Boldini, Kevin Vanstaen e Simon Boulier, o longa é situado em Guéthary, cidade na Costa Basca Francesa, e gira em torno da lenda de La Parle, uma onda mística, responsável por revirar sentimentos e emoções. Vivendo um verão litorâneo e europeu, cada integrante do quarteto tenta aproveitar o sol, saborear o sal e respirar a maresia de sua maneira. Gabriela reflete sobre saudades de seu país natal; Fanny teme e evita um resultado; Kevin tenta terminar a montagem de seu filme, enquanto Simon usufrui das diversões praianas, e torce para que os amigos se juntem a ele e consigam descansar.

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10 anos de Antes da Meia-Noite e o último suspiro de uma primeira noite de amor

Cena do filme Antes da Meia-Noite. Nela, observa-se os personagens Celine (à esquerda) e Jesse (à direita). Ele está usando uma camisa jeans azul claro, com uma calça azul escuro e sorri para Celine. Ela está sorrindo e está com um vestido azul e uma bolsa de crochê com dois tons de marrom.
O terceiro longa da trilogia Before desenvolve a relação conturbada entre Jesse e Celine (Foto: Sony Picture Classics)

Guilherme Machado Leal

É ao som de The Best Summer of My Life, do compositor Graham Reynolds, que Antes da Meia-Noite se desenrola pelos seus 108 minutos. Com idas e vindas da canção ao longo do filme, o último capítulo da trilogia Antes – dirigida por Richard Linklater – dá, logo no seu início, o tom de como serão os próximos momentos vividos por Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). Lançado em 2013, Before Midnight tem a difícil tarefa de superar ou, pelo menos, se equiparar ao nível de seus antecessores Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr do Sol (2004).

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Joy as an Act of Resistance: Há 5 anos, IDLES revolucionava ao ser feliz

Ensaio fotográfico da banda IDLES para a revista NME. Nela temos, da esquerda para a direita, Mark Bowen, um homem branco de cabelos castanhos e bigode volumoso; Lee Kiernan, um homem branco de cabelos longos castanhos; Adam Devonshire, um homem branco careca de barba ruiva volumosa, seguido logo abaixo por Joe Talbot, um homem branco de cabelo preto ralo, barba por fazer e bigode e Jon Beavis, um homem branco de cabelos castanhos. Mark veste um macacão de trabalhos azul escuro com o escrito “HART” no peito esquerdo. Lee veste uma camisa branca por dentro da calça preta e um óculos de armação na cor vinho. Adam veste uma camisa vinho e calça preta. Joe veste uma camiseta branca, camisa florida e calça preta e Joe veste uma camiseta branca, camisa salmão com estampa em formato de losango e desenhos de uma pantera negra e calça preta. Eles estão sobre uma parede branca fazendo poses e seguram cinco balões prateados com letras que formam o nome da banda.
A grande força da banda está em se reconhecer como frágil (Foto: Fiona Garden/NME)

Guilherme Veiga

A felicidade incomoda, isso é fato. Outra coisa que também faz questão de desagradar é o punk-rock. O gênero que surgiu em meados dos anos 1960 e incorpora o garage rock e o proto-punk assume a roupagem de ser uma pedra no sapato do sistema, a peça que não se encaixa no quebra-cabeças. Isso é notado desde seus expoentes não tão politizados como blink-182 até os mais politicamente ácidos como Rage Against The Machine.

Iniciado juntamente com o movimento punk, seus adeptos, por mais que não liguem para estereótipos, sempre foram caracterizados como pessoas fechadas, vestidas de preto e com uma raiva internalizada. Nesse sentido, seus ouvintes majoritariamente são vistos como indivíduos em que a alegria é seu ‘divertidamente’ mais escanteado e a seu companheiro vermelho é quem assume a sua mente. Pensando nisso, o grupo britânico IDLES, em seu segundo álbum de estúdio, Joy as an Act of Resistance. discorre na verdade como esses dois sentimentos estão mais próximos do que se imagina.

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EXIST: admita, você também quer experimentar a Cream Soda do EXO

Capa do álbum EXIST do grupo sul-coreano EXO. Na arte, uma sequência de fogos de artifícios forma a figura de um hexágono, marca registrada do grupo. O fundo é um plano preto que consegue destacar as cores vibrantes que compõem a pirotecnia: rosa, laranja e azul.
EXIST ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias somente na pré-venda (Foto: SM Entertainment)

Nathalia Tetzner

Após completar 10 anos de carreira em 2022, o grupo sul-coreano EXO finalmente voltou com o que sabe fazer de melhor: a diversão em meio ao caos. Com uma sede que pede por um refrigerante cremoso e um single principal recheado de duplo-sentido, oito dos nove membros se reuniram para celebrar em grande estilo, mesmo com os empecilhos do exército e da própria gravadora, a SM Entertainment. O sétimo álbum, EXIST, busca a receita perfeita em meio ao amadurecimento e, ainda que não funcione por completo, é difícil não desejar essa tal de Cream Soda que se espalha pela boca e explode em sensações.

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Estante do Persona – Agosto de 2023

 

Apoiado em sentimentalismo, O som do rugido da onça foi a leitura escolhida para o Clube do Livro de Agosto (Foto: Companhia das Letras/ Arte: Raíra Tieng0/ Texto de abertura: Jamily Rigonatto)

Voltando a rotina depois de uma pausa merecida, os integrantes do Clube do Livro do Persona repousaram os olhares para o vencedor do Prêmio Jabuti de Romance Literário em 2022, O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk. Adentrado em uma narrativa que devolve o protagonismo às verdadeiras vítimas da colonização, o texto caminha através da histórias das crianças indígenas Iñe-e e Juri. 

A escritora e historiadora já é figurinha marcada no universo literário nacional, e conquistou o Prêmio São Paulo de Literatura em 2015, com Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida. Micheliny também foi duas vezes finalista do Prêmio Rio de Literatura e no último ano, com O som do rugido da onça, representou o Brasil no Prêmio Oceanos – uma das premiações literárias mais importantes dos países de língua portuguesa. 

Na obra escolhida da vez, somos levados de forma poética, mas avassaladora, a trágica história das crianças raptadas pelos exploradores Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Em um misto de medo, separação, saudade e vidas interrompidas, o foco se entrega completamente às faces da dor, enquanto as entrelinhas se envolvem com os mistérios da espiritualidade

A leitura das 168 páginas se desfaz em uma densidade quase versada e resta nos que a acompanham as milhares de incertezas sobre a construção de um país que se revela tão bem na ficção quanto o faria nos pedaços ocultados pela versão dos opressores. E para não perder o costume, o Estante do Persona de Agosto de 2022 deixa suas indicações dedicadas a todos os que optam por ver o mundo entre os múltiplos pontos de vista. 

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A Morte do Demônio: A Ascensão é mais um sangrento acerto para a franquia de Evil Dead

Cena de abertura do filme A Morte do Demônio: A Ascensão. Na imagem, a silhueta de uma mulher, iluminada por trás pelo sol, flutua acima de um rio, os dedos dos pés arrastando sobre a superfície d'água avermelhada. Ao fundo, vê-se uma densa floresta e o céu também avermelhado, com o título do filme preenchendo o horizonte: Evil Dead Rise.
A Morte do Demônio: A Ascensão é o filme mais bem avaliado da franquia (Foto: Warner Bros.)

Larissa Mateus

Não há fenômeno mais comum na história do Cinema, principalmente no gênero do terror, do que a maldição da franquia não planejada. Basta um filme fazer sucesso suficiente na bilheteria que mais da mesma trama entrará em cartaz nos próximos anos, até que o público esteja exausto. A situação se torna cada vez mais exacerbada com a tendência de remakes da última década, recheando o cenário slasher atual com produtos repetitivos e franquias desnecessariamente revitalizadas anos após seus dias de ouro iniciais, como aconteceu com Halloween, O Massacre da Serra Elétrica e Pânico.

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Sobre a Terra Somos Belos por Um Instante: Ocean Vuong e a escrita como coragem de quem não tem escolha

A estreia de Ocean Vuong na prosa, após a aclamada reunião de poemas Céu noturno crivado de balas, é um complexo testemunho autobiográfico escolhido pelo Clube do Livro do Persona (Foto: Rocco/Arte: Francisco Tigre)

Mariana Freire de Moraes

Estou escrevendo para você de dentro de um corpo que era teu. O que é o mesmo que dizer: estou escrevendo como um filho.

Nas primeiras páginas de Sobre a terra somos belos por um instante, o autor Ocean Vuong constrói sua posição durante toda a narrativa na tentativa de se refazer, se ver e perdoar por meio da alteridade de uma comunicação ao mesmo tempo concreta e hipotética. Através do resgate analítico da memória e da apresentação do ambiente, Vuong, chamado de Cachorrinho pela avó, escreve cartas para sua mãe, analfabeta funcional, revisitando episódios da infância no Vietnã e de sua adolescência nos Estados Unidos.

Colonialismo, maternidade, identidade, sexualidade, violência e luto são os pilares do livro, cujos episódios de trauma rememorados traçam um caminho linear para o entendimento da história de três gerações da família do escritor, e as complexidades recalcadas de pessoas estruturadas em meio à guerra, ao preconceito, ao refúgio e à vulnerabilidade. 

Começando pelas memórias quando criança em um Vietnã desestabilizado pela guerra, Cachorrinho – a maneira que Vuong também se retrata em sua escrita – inicia o romance relembrando das primeiras vezes em que sua mãe foi violenta com ele. No acesso à infância, o escritor lembra alguns momentos em que ensina a matriarca a escrever, reproduzindo o que aprendeu naquele dia no jardim de infância. Esse é o momento em que a vulnerabilidade de quem o cria é escancarada para ele e que percebe que possui o que ela precisa para resolver esse problema. De uma forma sutil e perturbadora, esse episódio demonstra a maneira que o autor consegue colocar os dois se olhando do mesmo lugar. 

Você é uma mãe, Mãe. Você também é um monstro. Mas eu também sou – e é por isso que eu não posso me afastar de você. E é por isso que eu peguei a mais solitária criação de deus e te coloquei dentro dela.

Na foto, duas mulheres e uma criança estão sentadas em um banco de madeira. As mulheres ficam nos cantos, enquanto o bebê no meio. Estão dentro de uma casa, ao fundo, aparece o vulto de outra mulher, do lado de fora do cômodo. Atrás, percebe-se uma janela, uma porta e roupas penduradas. No primeiro plano, uma mulher, ao canto esquerdo, está sentada ao lado de uma criança pequena. Sua pele é amarela, seus cabelos pretos estão presos. Ela veste um macacão branco, com estampa de flores azuis. Está descalça e sorri fixadamente à câmera. Assim como a criança ao seu lado, que também tem cabelos e olhos pretos. Veste uma camiseta branca com uma gola laranja e estampada com desenhos, que está enfiada dentro de um shorts roxo claro. Ao lado da criança, à direita, uma outra mulher, de cabelo curto e preto, na altura do pescoço e com uma franja cortada, também sorri à foto. Ela usa uma blusa rosa clara e uma calça branca. Está de pernas cruzadas.
A foto que ilustra a edição estadunidense de Céu noturno crivado de balas retrata o autor com dois anos, ao lado de sua mãe e sua tia no campo de refugiados nas Filipinas (Foto: Ocean Vuong)

Passando pela situação de refugiado quando criança, em um paralelo sensível com o nascimento e morte de sua avó – entre o Vietnã e Estado Unidos –, a narrativa se torna mais política e identitária. A partir do momento que Cachorrinho conta a história das mulheres que o criaram, frutos de um estupro de guerra, nada segue sem que pautas sociais sejam colocadas de forma explícita, no entanto, nunca deixando com que a poética fique em segundo plano. Assim, Vuong cria uma atmosfera sólida de questionamento, ao mesmo tempo que deixa claro as complexidades subjetivas geradas a partir desses contextos, e quão decisivas são essas condições para que ele seja ele mesmo, a mãe seja a mãe e o país seja o país. 

Chegando aos Estados Unidos, na casa de seu pai com quem nunca conviveu, o escritor tem um espaço para descobrir e explorar sua sexualidade (atualmente se identifica como uma pessoa queer). No livro, Vuong relata suas primeiras experiências com um homem pobre como ele, porém branco: Trevor, a única pessoa com quem ele realmente desenvolve uma relação além de sua mãe e avó. De uma forma totalmente analítica, o escritor apresenta todas as fases dessa relação, passando pelo estranhamento, o escatológico, as drogas, o entendimento, a identidade, o amor e a morte. Cachorrinho pôde conhecer a vulnerabilidade e a violência do amor e de uma relação que requer um entendimento político, social, subjetivo e identitário que não foi apresentado a nenhum dos dois, tornando tudo mais difícil e mais intenso na mesma medida.

 Sob o fundo de um arbusto flores vermelhas, o autor, criança, é segurado no colo por sua mãe, que tem seu cabelo cacheado cortado curto e usa uma camisa manga longa vermelha, com uma estampa preta na frente. A criança usa uma camiseta polo branca com listras azuis claras e escuras, e uma parte de baixo azulada. Segura um coelho de pelúcia branco, com detalhes lilases.
Quando sua mãe faleceu de complicações de um câncer de mama, Vuong demonstrou seu luto nas redes sociais: ‘‘(…) você me ensinou que nossa dor não é nosso destino – mas nossa razão.’’ (Foto: Ocean Vuong)

O resgate da memória nas passagens da infância no meio da narrativa linear da história do Cachorrinho é o traço mais analítico de Sobre a Terra Somos Belos por um Instante. Ocean Vuong usa a escrita como ferramenta de articulação e busca, narrando sempre em primeira pessoa e, diretamente com a sua mãe, faz com que o objetivo de suas cartas nunca seja esquecido: dizer que se é. As coisas mais duras são lembradas de um jeito poético e grotesco, e quase sempre seguidas de uma imagem que bate de frente com a beleza apresentada de forma visual pela escrita. 

“Uma vez você me perguntou o que é ser um escritor. Então vamos lá. Sete dos meus amigos estão mortos. Quatro de overdose.”

Cachorrinho tem acesso ao significado social de sua existência a partir do momento em que começa a reunir os episódios traumáticos de sua vida e colocá-los em uma posição de questionamento: ser um homem vietnamita refugiado, queer, adicto e pobre nos Estados Unidos significa algo. Além disso,as pessoas em volta dele fazem parte desse significado e a escrita tem o papel de síntese de sua própria vida. É como se, caso não fosse um escritor, Vuong jamais poderia contar quem é a ninguém, nem mesmo a sua mãe.

A busca pela identidade nunca acaba, mas toma um outro caráter. Depois que Cachorrinho entende sua existência, quem sua mãe e sua avó foram, e quem seu novo país abriga, o fluxo se torna outro e assume uma calma assustada de quem sabe que seu lugar está predefinido. Então, a subjetividade assume, mais que nunca, o papel de resgate do que nunca foi dado e uma possibilidade de se reconhecer no mundo. A escrita é o que salva: é o que salvou Cachorrinho de sua relação com sua mãe, que termina o livro rindo enquanto se lembra. 

“Porque o pôr do sol, assim como a sobrevivência, existe apenas à beira de seu desaparecimento. Para ser belo, você primeiro precisa ser visto, mas ser visto sempre permite que você seja caçado.”

Capitu e o Capítulo: Júlio Bressane não trai Machado de Assis e exalta o romance Dom Casmurro

Cena do filme Capitu e o Capítulo. Capitu, interpretada por Mariana Ximenes, está no centro da imagem. Os olhos lacrimejados, ela está séria, encostada em uma parede branca de aspecto áspero. Mariana Ximenes é uma mulher branca, de olhos verdes e cabelos loiros.
Capitu e o Capítulo foi exibido no Festival do Rio em 2021, mas só chegou aos cinemas em 2023 devido à pandemia e às janelas de filmes brasileiros, que precisam dividir espaço com produções americanas (Foto: Pandora Filmes)

Davi Marcelgo 

Das discussões de sala de aula às do Twitter, Capitu traiu ou não Bentinho? Narrado pelo protagonista, a ausência de veredito provoca o clássico embate da obra de Machado de Assis. Em Capitu e o Capítulo, adaptação de Dom Casmurro, o diretor Júlio Bressane mantém o olhar subjetivo do narrador enquanto passeia entre a dúvida e a ilusão. Na trama, Bentinho (Vladimir Brichta) acredita que sua esposa Capitu (Mariana Ximenes) o traiu com Escobar (Saulo Rodrigues), seu melhor amigo. 

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Oito Mulheres e um Segredo: 5 anos de um dos maiores acontecimentos do Met Gala

Cena do filme Oito Mulheres e um Segredo. Da esquerda para a direita, encontra-se Sandra Bullock, sentada vestindo um casaco branco, Cate Blanchett sentada com um casaco preto e branco, Rihanna sentada com um casaco verde e jeans, Mindy Kaling em pé com um sobretudo vermelho, Awkwafina sentada com uma jaqueta rosa, Helena Bonham Carter sentada com um vestido preto, Anne Hathaway em pé, com um sobretudo verde e Sarah Paulson sentada com um casaco cinza.
Conforme o tempo passa, o roubo de US$150 milhões fica ainda mais icônico (Foto: Warner Bros. Pictures)

Arthur Caires

Há 5 anos, Debbie Ocean (Sandra Bullock) disse: “Se for ele é notado, se for ela é ignorada. E, pela primeira vez, queremos ser ignoradas”. Em Oito Mulheres e um Segredo, requel da sequência de filmes Onze Homens e um Segredo, a fala é a explicação do porque a criminosa deseja apenas mulheres em seu time para roubar um colar de diamantes de US$150 milhões durante o prestigioso Met Gala em Nova York. Para além disso, é uma declaração de que não se trata apenas de uma versão feminina do longa original, aqui, ser mulher é essencial para que o plano dê certo.

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Adriana Calcanhotto viaja pelo mundo Errante

Capa do álbum Errante, de Adriana Calcanhotto. A foto da cantora em um modelo 3:4 está no centro da imagem, em volta vemos carimbos de vistos de vários países e na parte inferior o nome da artista e o nome do álbum grafado em letras características de documentos.
A capa do novo disco de Adriana Calcanhotto tem fotos de seus próprios vistos (Foto: Modern Recordings)

Guilherme Dias Siqueira

Viajar sem rumo, conhecer um novo lugar a cada mês, ser um cidadão do mundo. Com sete passaportes completos e dezenas de vistos, Adriana Calcanhotto nos traz uma experiência nômade no universo da Música Popular Brasileira em seu décimo terceiro álbum, Errante. Pode parecer contraditório, mas, apesar do título e da temática, se há algo que Calcanhotto sabe é onde quer chegar e, especialmente, de onde veio.

Errante foi concebido no olho do furacão que foi a pandemia de Covid-19, mais especificamente em 2021, sendo, segundo a própria compositora, o projeto com o tempo de produção mais longo de sua carreira. O isolamento transformou o pensamento da cantora sobre si mesma e sobre as escolhas que a levaram a errar; não no sentido de cometer erros, mas, na origem latina da palavra, de vaguear literal e metaforicamente.

A artista está no centro da imagem observando as cortinas brancas, está sorrindo, ela veste uma camisa branca e tem uma tatuagem de uma estrela de Davi no pulso direito
Adriana Calcanhotto se aventura por suas ancestralidades (Foto: Modern Recordings)

O contexto de celebração do fim da pandemia está muito presente nas faixas Levou para o Samba a Minha Fantasia e Era Isso o Amor?. A primeira tem algo de teatral com a harmonia da percussão somada ao som do violão que realça o frescor do último respiro de carnaval antes da pandemia. Já a segunda descreve um amor ardente que também nos faz entrar em combustão em termos de musicalidade e calor, já que suas pitadas de rock enunciam uma paixão cálida que apenas uma poeta como Calcanhotto poderia descrever antes da pandemia. 

Outros focos do álbum são identidade, pertencimento e história própria, pelo qual a  artista descreve seu ponto de partida da jornada, valorizando todas as suas ancestralidades, como sua ascendência judaica sefardita, recém-descoberta. O ritmo que desacelera ao “cruzar desertos” e acelera ao nos levar ao “mundo da lua” – onde habita uma mente tão criativa – traz conforto, porém, na insegurança da artista em se ver “impostora” em tudo que faz. 

Em um jardim, o clipe de Larga Tudo embala quem ouve em um samba reconfortante, que também remete às raízes da cantora, mas com um eu lírico que agora pede o desapego. Horário de Verão carrega um certo aconchego de uma lareira e um chá quente numa tarde fria, que gera grande contradição ao título. Talvez a ausência do excedente da luz do dia propiciada pela estação seja o que mais se encaixe nas notas delicadas da música, uma das mais sentimentais do disco.

A artista está flutuando numa piscina azul, de vestido, olhando fixamente para a câmera.
A cantora é influenciada por diversos ritmos e estilos musicais da América Latina (Foto: Modern Recordings)

Continuando no tópico de identidade, poucas vezes Adriana Calcanhotto foi tão pessoal quanto em Quem Te Disse?, na qual novamente ela referencia sua origem sefardita para falar de rejeição e do feminino. Todas as  características da canção são artifício para perguntar: “Quem te disse que o amor vê diferenças?”. Se com mais de 30 anos de carreira o etarismo poderia se tornar um um obstáculo, como  cita na composição – “mesmo se eu fosse moça” –, a música ainda flui em melancolia quando nos lembra que a sociedade inferioriza as mulheres e cria exigências artificiais que, mesmo cumpridas, nunca são suficientes.

 Lovely é uma viagem ao exterior que a artista bem conhece e já conquistou. Desde 2006, quando ganhou o primeiro de seus cinco Grammys Latinos com o disco infantil Adriana Partimpim, ela vem sendo reconhecida como uma das grandes expoentes da música do Brasil para o mundo. A faixa mergulha em um ritmo de bossa nova sutil e discreto, que suavemente ajuda o ouvinte a viajar também no tempo em sua sonoridade tridimensional.

Adriana Calcanhotto mastiga uma margarida no clipe de Era Isso O Amor?
O estilo de vida nômade está no subtexto de todas as canções (Foto: Modern Recordings)

As melodias melancólicas que se inserem no projeto ecoam um tom triste de despedida e que, junto de Horário de Verão e Quem te Disse?, contrastam do resto do obra, que tem um soar mais alegre e positivo. A presença dessas canções, como Reticências, enriquecem o álbum de forma a nos preparar para o encerramento dessa viagem, assim como instauram seu propósito. A reflexão sobre o caminho percorrido por quem escolhe uma vida sem âncoras, descobre que “deixar a solidão sozinha e caminhar” é um ato de coragem libertador que revela que ser errante não é sinônimo de solidão. No entanto, ficar estacionado num mesmo lugar por muito tempo, sim.

Nômade finaliza sua jornada musical no lugar onde todo o espírito do álbum vive. Seu ritmo constrói a ideia de um balançar de passos, conquistando essa sensação com os mais variados instrumentos, desde o coquinho ao trombone. Como entoado pela sua autora, a “casa é corpo” porque é móvel, sendo a única coisa que todos temos e que todos carregamos. E por versos como esses, a obra de Adriana Calcanhotto fica mais rica a cada sílaba que ela profere, como se fosse algo involuntário, de sua própria natureza – tal como ser uma das maiores cantoras brasileiras vivas.