Irmandade poda todos os laços

Cena do filme Irmandade, mostra uma garota branca e jovem de olhos claros e cabelos compridos olhando para a frente.
Parte da Competição Novos Diretores da Mostra de SP, Irmandade é o primeiro trabalho em longas da diretora Dina Duma (Foto: Cercamon)

Vitor Evangelista

Não há nada mais atual que o avanço das redes sociais e seu domínio completo por sobre a percepção humana e a opinião individual. Irmandade (Sestri) realoca a equação de juventude mais Instagram para o contexto muito específico da Macedônia do Norte, mostrando à 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo a força a que laços de amor podem ser submetidos antes de se estraçalharem.

No enredo de Irmandade, a diretora Dina Duma nos mostra o cotidiano de estudantes do Ensino Médio. Conhecemos a protagonista Maya (papel da emotiva Antonija Belazelkoska) e sua amicíssima Jana (Mia Giraud), que navegam por entre os stories do Insta e os crushes nos meninos, e ainda orbitando a vida de Elena (Marija Jancevska), com quem o santo delas não bate.

Numa das festas em que as garotas vão escondidas da mãe de Maya, as BFFs flagram Elena transando com um dos garotos populares do colégio. Garoto esse que, minutos antes, quase havia tirado a virgindade de Maya, que desistiu no último minuto, mas afirmou à galera que havia selado o acordo. Com os hormônios à flor da pele, ela e Jana filmam Elena e postam um curto vídeo na internet.

Cena do filme Irmandade, mostra uma garota branca e de cabelos pretos olhando para outra, que é loira, e está fora do foco da imagem. Elas estão em um vestiário e usam coletes de natação verdes.
Irmandade é a submissão oficial da Macedônia do Norte para o Oscar 2022, dois anos depois do país ser reconhecido duplamente com o magnífico Honeyland (Foto: Cercanon)

Culpada e ressentida, Maya quer fazer o possível para limpar a imagem de Elena, que some da escola e não dá notícias a ninguém. Jana impede a amiga de abrir o bico e ameaça humilhá-la em público se alguém descobrir algo. A trama progride exponencialmente, ao passo que o roteiro idealizado pela diretora em companhia de Martin Ivanov adentra ainda mais nas emoções de Maya.

Percorrendo sua hora e meia, Sisterhood avalia o drástico ato de postar algo imprudente nas redes sociais e os reflexos que essas ações causam na vida real. É claro que mil histórias do gênero já foram contadas e recontadas, mas assistir a uma percepção não-norte-americana do assunto é um exercício e uma experiência gratificantes. Pelas lentes de Naum Doksevski, o filme se acentua nas nuances culturais e nas particularidades de sua garota principal, alguém humana e suscetível a falhas.

Mostrando que nem todo colega é amigo, essa coprodução de Macedônia do Norte, Kosovo e Montenegro versa sobre os perigos da confiança. Irmandade poda laços, destrói sorrisos e distancia abraços. O sutil subtexto do divórcio que acompanha Maya é mais do que suficiente para entendermos de onde nascem comportamentos autodestrutivos e maléficos. A diretora Dina Duma não precisa inventar a roda para que a mensagem seja passada; pelo contrário, ela a faz girar, ressaltando seu caráter cíclico. 

Deixe uma resposta