How I Met Your Mother: 15 anos da enrolação mais amada da TV

Ao lado de Naruto, How I Met Your Mother é uma das melhores enrolações já feitas (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

15 anos atrás, Ted Mosby começava uma longa história sobre como conheceu a mãe de seus filhos. A partir daí, pode se dizer que How I Met Your Mother é um eterno filler, mas no bom sentido. A sitcom fez sua estreia pela CBS em 2005, e aproveitava o momento para adotar os órfãos de Friends, que acabara um ano antes. Com aquela mesma fórmula sobre um quinteto jovem em Nova York, mas dessa vez aproveitando os dias em um pub. Contudo, apesar das ressalvas, foram nove temporadas incríveis que acompanharam o amadurecimento (ou não) de personagens muitos cativantes.

Ao longo dessa jornada foram muitos clichês, frases de efeito, músicas e tapas. Contudo, hoje em dia, é de se imaginar que a obra seria ‘cancelada’, com alguns temas e personagens provavelmente problematizados pelo público, e com certa razão. Ainda sim, apesar de seus defeitos, How I Met Your Mother permanece memorável para seus fãs, e é claro legendária.

O Slapsgiving (“Estapeação de Graças”) foi o episódio que instaurou a Aposta do Tapa, uma das piadas que perdurou até o fim da série (Foto: Reprodução)

O quinteto é composto por personagens que conquistam logo de cara, cada um evoluindo ao longo do tempo. Com Josh Radnor (que retornou às telas na série Hunters da Amazon) vivendo o romântico Ted, logo fica claro que a busca pela mulher ideal vai levar alguns anos. E apesar da sensação de estar pronto para a chegada de sua alma gêmea, Ted ainda precisa cometer alguns erros para aprender a não apressar a vida.

Assim, baseada em uma longa encheção de saco, a trama percorre a busca pela escolhida. Sendo uma espécie de romântico incorrigível, ala Tom Hansen de (500) Dias com Ela, Ted exibe inúmeros problemas de relacionamento e padrões absurdos. Desde exigir que a namorada devolva os cachorros por ciúmes, até uma lista de características essenciais para a garota ideal, fica óbvio como o personagem não passa de um chato disfarçado de sonhador.

Barney Stinson, interpretado pelo sensacional Neil Patrick Harris, é o clichê do conquistador. Mesmo sendo o elemento mais cômico do grupo, hoje sua postura geraria algumas críticas, talvez até se encaixando como um boy lixo.  A clara objetificação de mulheres ao longo da série e falta de responsabilidade do personagem seriam características rejeitadas pelo público consciente atual. Contudo, ainda sim é impossível negar o carisma de Barney. Tanto o ator como o personagem roubam a cena, seja com suas frases de efeito marcantes ou números musicais exagerados.

Os personagens são culpados por elevar as expectativas de muitos casais (Foto: Reprodução)

A relação do casal Lily e Marshall (ou Lilypad e Marshmallow), se tornou a meta de muitos fãs. Em especial a química entre os atores, Alyson Hannigan e Jason Segel, garantiu que o par fosse um dos mais queridos da TV americana. Curiosamente, eles são baseados no próprio criador da série, Craig Thomas e sua esposa. Mesmo que o casal permaneça quase a história inteira juntos (afinal, a Teoria da Azeitona é infalível), não é no sentido de felizes para sempre. Com alguns momentos de tristeza e egoísmo, a relação é marcada também por contratempos.

Conhecida também por estrelar a série Buffy, a Caça Vampiros e a comédia pastelão American Pie, a atriz Alyson Hannigan interpreta Lily Aldrin. Como a personagem mais fofa da série, sem sombra de dúvidas, ela pode ser considerada a cola do grupo nos momentos difíceis. Mesmo que um tanto intrometida na vida de seus amigos, a artista é a mais sensata em assuntos de relacionamento.

O advogado Marshall Eriksen é interpretado por Jason Segel, atualmente criador e protagonista da série Dispatches From Elsewhere. O personagem de coração mole deseja lutar pelas causas ambientais, independente do lado financeiro, e também acaba protagonizando alguns dos momentos mais tristes da série. Sendo abandonado por Lily na primeira temporada, e lidando com a morte de seu pai na sexta, Jason Segel impressiona não só na comédia, mas também nas partes dramáticas.

Um diferencial da obra, é Ted estar contando a história para seus dois filhos, Penny (Lyndsy Marie Fonseca) e Luke (David Henrie) (Foto: Reprodução)

Na primeira temporada, logo de início somos apresentados a uma nova integrante (qualquer semelhança com Friends é mera coincidência). Robin é uma mulher independente e forte, que muda a dinâmica do grupo. Vivida por Cobie Smulders, a Maria Hill do Universo Marvel, a personagem passa uma boa parte da trama em idas e vindas amorosas com Ted ou Barney, contudo, em nenhum momento se restringe a apenas esse detalhe. A jornalista, que começa sua carreira num programa da madrugada, trilha seu caminho sem se comover por um romance qualquer.

Mesmo seguindo alguns temas, como a chegada de uma nova integrantes, triângulos amorosos e, claro, os estereótipos de personagens, esgotados por sitcoms. A escolha de diversificar a narrativa foi um diferencial, visto que muitos episódios tem escolhas criativas, e optam por diversos formatos.

A série já se diferencia pelo fato de Ted estar narrando lá em 2030, e com a voz de Bob Saget (eterno Danny Tanner de Fuller House) comentando as memórias, erros e acertos da trupe nova iorquina. Em Three Days of Snow, a trama é contada em três momentos diferentes, que se unem no final do episódio. Enquanto em Tick Tick Tick, a agonia de Barney é acentuada em uma simples cena em câmera lenta.

Um dos maiores erros da série para alguns fãs foi o fim de Barney e Robin nos minutos finais do último episódio (Foto: Reprodução)

Além disso, são momentos musicais grandiosos que misturam a trama com músicas viciantes. O hino Let’s Go To The Mall, interpretada por Cobie Smulders, é uma das canções mais icônicas da série, que conta ainda com um clipe estilo anos 80 totalmente exagerado. Já a música Nothing Suits Me Like a Suit exemplifica o carisma de Neil Patrick Harris, em um número que é a cara de seu personagem.

Os flashbacks e flashforwards também são marca registrada da narrativa. Em alguns capítulos a história utiliza de saltos no passado para mostrar o passado dos personagens, ou até para crescer detalhes essenciais para a trama. Já os saltos para o futuro são curiosos pois são visões idealizadas do que será a vida em alguns anos. Em The Front Porch, eles debatem como vão ser os jogos de Bridge quando forem mais velhos, o episódio conta também com a participação da atriz Laura Prepon (de Orange), como a esnobe Karen, uma das mil ex-namoradas de Ted.

Neil Patrick Harris é muito conhecido por seus grandes números musicais, já tendo cantado inclusive em Glee e em uma das premiações do Emmy e Tony (Foto : Reprodução)

Nessas nove temporadas, Ted acaba passando por muitas namoradas, e em cada relação o personagem descobre novas decepções e aprendizados. Mas, graças ao fracasso amoroso de Ted, o leque de participações especiais é excelente. Começando pela mais promissora Victoria, vivida por Ashley Williams, cujo romantismo é um espelho do protagonista.

Já a obstinada Zoey é interpretada por Jennifer Morrison, a eterna Emma Swan de Once Upon a Time. Mas no quesito personagens criativos, ganha a misteriosa Slutty Pumpkin, cujo rosto é da atriz Katie Holmes. Outros nomes que apareceram em poucos capítulos, mas que ainda devem ser nomeados, são de grandes artistas musicais ou celebridades como: Katy Perry, Britney Spears, Jennifer Lopez, Kim Kardashian e Enrique Iglesias.

Apesar dos encontros e desencontros, Ted e Robin eram o endgame da obra: como não lembrar da trompa azul? (Foto: Reprodução)

Uma década e meia depois de sua estreia, How I Met Your Mother correria o perigo do cancelamento. Algumas piadas recorrentes não seriam aceitas, levando em conta o público mais consciente que o de 15 anos atrás. A estereotipização de personagens asiáticos, com exemplo de Ranjit e a caracterização racista dos protagonistas ao se vestirem como chineses, são pontos a serem criticados hoje em dia.

Mas isso não acontece apenas com How I Met Your Mother, sucessos como Sex and The City e Friends também tinham tramas cheias de preconceito e estereótipos problemáticos. A falta de diversidade séries do passado são percebidas nos dias de hoje, já algumas comédias atuais como Brooklyn Nine Nine e Sex Education não cometem o mesmo erro, escalando atores negros, latinos e LGBTs.

Devem ser citadas as piadas gordofóbicas, e ainda toda a bagagem cultural negativa dos trajes de gordo utilizados em flashbacks na série. Em certos momentos, Barney e Robin aparecem vestidos com essas roupas, como uma piada à aparência deles no fim de seu relacionamento. Já o machismo presente aparece de forma mais acentuada. A objetificação de mulheres e termos como ‘vadia’ são utilizados de forma recorrente em HIMYM, além da sugestão de conquistar mulheres jovens assim que entram na maioridade. Quase a maioria das cenas de Barney se utilizam dessa mesma fórmula, e o bordão ‘Challenge accepted!’ (O desafio está aceito!) é um exemplo claro disso.

Cheio de bordões e frases de efeito, Challenge Accepted! normalmente se referia a intenção de Barney em completar desafios difíceis (Foto: Reprodução)

Da mesma forma de muitas comédias, como One Day at a Time e Modern Family, a série também possui seus momentos de fragilidade que fazem chorar. Em especial, no capítulo Bad News, com a morte do pai de Marshall, e o sensível Symphony of Illumination, quando Robin descobre que não pode ter filhos e cabe a Ted consolá-la. Alguns términos de relacionamento são bons exemplos desse outro lado da história. Em No Pressure, ao levar um fora de Robin, um compilado de agressões que Ted sofreu aparecem na tela, mas de acordo com ele nenhuma supera o momento daquela dor da rejeição.

A trajetória dos personagens também demonstra que nem sempre a vida é fácil ou engraçada. A busca de Lily por outras opções de carreira e o desencanto com a maternidade são nuances da mocinha bem colocadas pelos roteiristas. Os problemas familiares de Barney são outra parte sensível do personagem, e nessas cenas Neil Patrick Harris é convincente em entregar tanto humor quanto drama.

Umas das grandes decepções da série é por conta da figura da Mãe, Tracy McConnell, visto que depois de oito anos, quando finalmente vemos seu rosto, é por pouquíssimo tempo. Com a maravilhosa Cristin Milioti  escolhida para interpretar Tracy McConnell. Contudo, apesar de um ótimo plot, sua aparição foi muito curta e toda a história do casal foi compactada em vinte e poucos episódios. Nessa última temporada, inclusive, a narrativa toma um caminho interessante, com várias histórias paralelas acontecendo em meio ao casamento de Barney e Robin.

O icônico guarda chuva amarelo foi recorrente na série, o objeto foi uma das muitas simbologias para o destino (Foto: Reprodução)

E apesar de um tanto rejeitada pelos fãs, a nona temporada encerra e entrelaça bem a jornada de Ted e companhia. Os dramas acompanham o amadurecer dos episódios, e ainda os caminhos diferentes que os amigos tomaram ao longo dos anos são retratados em momentos cômicos e dramáticos. No fim, o triângulo amoroso central da série, Barney, Ted e Robin, foi um dos fatores que separou o grupo e essa realidade foi cruel, mas necessária.

É certo dizer que mesmo em seus erros, How I Met Your Mother é uma das grandes sitcoms dos anos 2000. Com personagens cativantes, mas que muitas vezes dão raiva, é uma obra que garante risadas, choros e impaciência. A narrativa envolvente e longa sobre a história da procura pela misteriosa Mãe é apenas uma entre os diversos caminhos que a série trilhou com maestria e humor.

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