Carnaval é o respiro de alívio que precisávamos

Na foto, 4 mulheres caminham em um corredor iluminado azul e rosa. Da direita para a esquerda, uma mulher branca, de cabelos rosas, usa uma blusa azul com mangas de brilho, um shorts jeans e uma pochete dourada, a segunda, mulher branca, usa um top com brilhos pratas e detalhes em azul, usa uma saia preta com um cinto prateado; está com os cabelos loiros presos em um rabo. A terceira, uma mulher negra, de cabelos pretos, usa uma blusa azul com detalhes em dourado, e uma saia dourada. A última, mulher negra, usa tranças nos cabelos pretos, uma blusa azul com um shorts vermelho
A Netflix nos trouxe de volta um gostinho do melhor feriado brasileiro (Foto: Netflix)

Larissa Vieira 

É até irônico falar sobre o Carnaval depois de mais de um ano dentro de uma pandemia que proíbe tudo que o fervoroso feriado brasileiro proporciona durante uma semana ou mais. Mas, como um respiro dentro das nossas 4 paredes de casa, a Netflix decidiu entregar, nas telas, um pouco do calor de fevereiro que não vivemos há algum tempo. O novo filme original da plataforma de streaming traz a essência brasileira, dentro de uma boa e surpreendente comédia romântica.

A produção ainda carrega algo super presente nos últimos anos: redes sociais e influenciadores digitais. A protagonista Nina (Giovana Cordeiro) é uma influencer em ascensão que busca o tão sonhado e grandioso marco de 1 milhão de seguidores. Depois de uma traição, que viralizou na plataforma que a tornaria famosa, a jovem decide permutar uma viagem para o famoso carnaval de Salvador, ao lado de suas 4, e completamente diferentes, melhores amigas. Então, Michele (Gkay), Vivi (Samya Pascotto) e Mayra (Bruna Inocencio) embarcam para as luxuosas comemorações do famoso cantor baiano Freddy, interpretado por Micael Borges. 

Imagem do filme Carnaval. Na imagem, ao fundo podemos ver o letreiro do aeroporto de Salvador com o escrito SALVADOR BAHIA AIRPORT. Da direita para a esquerda, temos uma mulher negra, de cabelos com tranças, usando um vestido vinho e azul, segurando uma bolsa marrom no ombro, e uma mala de viagem azul. A seu lado, uma mulher branca, de cabelos loiros, usa uma blusa de alça rosa, com um calça jeans, segurando uma mala de viagem azul e rosa nas mãos, com uma igual à sua frente. Depois, uma mulher branca, de cabelos rosas, usa uma blusa estampada branca, com calças jeans, está com uma mochila e uma pochete em seu corpo e segura com as mãos malas douradas e rose. A última, uma mulher negra, de cabelos pretos, usa uma blusa de uma manga vermelha e uma saia estampada bege, segurando uma bolsa amarela e malas vermelhas. No canto esquerdo, ainda podemos ver um homem negro, usando um acamisa amarela e vermelha estampada e segunda uma pasta azul.
Carnaval mostra o poder da amizade, das redes sociais e do calor de Salvador (Foto: Netflix)

O filme surpreende ao ser mais do que apenas uma representação das fervorosidades, do calor, da muvuca e do bem conturbado mar de emoções que é o Carnaval, mas também ao saber costurar, ao mesmo tempo, a história da cultura de influenciadores digitais e, consequentemente, a cultura do cancelamento, que vem surgindo nos últimos anos e ganhou uma grande proporção em 2021. A produção, ainda, consegue construir isso de maneira leve e reflexiva, o que faz com que você entenda o peso da situação enquanto que ainda não carregue suas bagagens. 

Além disso, não só o peso da cultura do cancelamento, mas também sobre como é a relação dos influenciadores com o público e as redes sociais, mostrando como isso pode ser consumidor e frustrante. Isso porque Carnaval mostra que, nem sempre, os milhões de seguidores tem uma grandiosa importância como as mídias aparentam. Esse cenário é brilhantemente apresentado com a personagem de Flávia Pavanelli, atriz e influencer com 18,3 milhões de seguidores, que interpreta Luana, uma famosa e grandiosa blogueira, inspiração para Nina. 

À medida que os seguidores da jovem aspirante a influencer vão crescendo, os problemas em sua vida pessoal vão se tornando uma grande bola de neve, dentro da famosa fórmula das comédias românticas, mas que ainda assim se afasta do clichê. Uma vez que Carnaval carrega as realidades do feriado, seja ao mostrar o calor das comemorações, ou os traumas de aglomeração, deixando distante, portanto, um cenário perfeito e ideal do estereotipado padrão norte-americano

Imagem do filme Carnaval. A imagem mostra um espaço com 2 piscinas, em que podemos ver 4 mulheres na sua borda e uma em pé, ao lado. A primeira, na esquerda, em pé, é uma mulher branca de cabelos pretos, usando um top dourado e saia azul, segurando uma bolsa rosa. Depois, uma mulher branca, de cabelos loiros, usando um top rosa e shorts jeans. A terceira, uma mulher branca de cabelos rosas, usando um top azul e shorts jeans, está com uma toalha branca no ombro. Depois, uma mulher negra, de cabelos pretos, usa um roupão branco e, por fim, uma mulher negra, de cabelos pretos trançados, usa um biquíni azul, um shorts verde militar, um colete bege e uma tiara verde água.
Carnaval vai além da comédia romântica para falar sobre a cultura do cancelamento (Foto: Netflix)

Carnaval, ainda, mostra o poder da amizade das jovens. Cada uma tem sua personalidade específica, mas que se completam quando elas se tornam quatro. A fluidez e leveza da intimidade entre elas é completamente natural e mostra que a química apaixonante foi levada de fora das câmeras para o filme. É com isso que o novo longa da Netflix consegue aproximar, mais ainda, a história de pessoas reais que estão por trás das telas assistindo. Enquanto Nina, Michele, Vivi e Mayra podem ser completamente diferentes do público, cada uma tem um traço ou atitude que vai fazer você se sentir próximo delas. 

Além disso, o retrato do filme faz você relembrar aqueles momentos, que, com certeza, já viveu em meio ao Carnaval, sejam os perrengues ou os melhores acontecimentos. Assim mesmo, por conta dele ter sido gravado, em partes, em meio às comemorações reais de Salvador, em 2020, sendo, então, super verossímil e matando um pouco da nossa saudade do maior feriado brasileiro. 

Imagem do filme Carnaval. Na imagem, 4 mulheres se abraçam. Uma branca de cabelos rosa, usando uma blusa azul escuro, uma jardineira jeans e uma mochila listrada azul claro e branca dá um beijo em outra, mulher negra de cabelos pretos que usa um vestido listrado em laranja e branco. Atrás dela está uma mulher negra, de cabelos trançados pretos e, por último, uma mulher branca, com os cabelos loiros presos, usando uma blusa rosa e shorts jeans abraçando as outras. Ao fundo podemos ver um quarto de hotel, com detalhes nas portas de madeira e um sofá branco.
A amizade e lealdade é uma das maiores qualidades do filme escrito por Luisa Mascarenhas e Audemir Leuzinger e dirigido por Leandro Neri (Foto: Netflix)

Ainda vale lembrar como Carnaval homenageia um dos lugares brasileiros mais bonitos, honrando toda a história de Salvador e da Bahia. As imagens da bela cidade são de cair o queixo e mostram além da beleza estética nordestina. O filme consegue, então, construir e valorizar a cultura local, de uma forma bela e apaixonante para além das telas do streaming, carregando a leveza e poder do Candomblé e Axé.  

Apesar de, por conta da pandemia, o filme não ter sido gravado inteiramente durante o tempo programado, no início do ano, em 2020, durante o feriado de fato, a todo momento a essência de Salvador e seu calor baiano passam para o espectador através da tela, deixando uma sensação que você está na cidade. Além disso, o visual da produção remete a alegria e vivacidade brasileira, como uma ótima representação, para o mundo afora, de como é a beleza urbana e riqueza cultural única do Nordeste do Brasil.  

Imagem do filme Carnaval. Na imagem, 4 mulheres e 1 homem comem em uma barraca de comidas de uma mulher negra, que usa um turbante e um vestido azuis, que os serve. A mulher branca e loira, usa um shorts branco, um top colorido neon e uma pochete estampada rosa e preta segura em sua mão um acarajé. Ao seu lado, está uma mulher branca de cabelos rosas, presos em coques, que usa uma camisa rosa e come também um acarajé. Depois, uma mulher negra, com tranças no cabelo, usa um vestido estampado bege, azul e rosa e observa a banca, enquanto a sua esquerda está uma mulher negra, com cabelos pretos, comendo um acarajé, usando um top amarelo e saia vermelha. Por fim, um homem negro, usando óculos e uma camisa estampada azul e vermelha, segura em mãos um acarajé. Ao fundo podemos ver uma rua de Salvador, com casas e estabelecimentos comerciais e, a direita, dois homens negros caminhando.
A rica Salvador e sua cultura são valorizadas e embelezadas a todo momento em Carnaval (Foto: Netflix)

E, prepare-se, além de toda comédia romântica o final do filme carrega um plot interessante e que vai fazer você valorizar mais ainda a produção, que, de primeiro momento, pode parecer rasa e fútil. Já que a trama consegue, então, abordar a representação de uma nova maneira, trazendo a aceitação pessoal como um dos maiores elementos da história, que se tornam, ainda, um dos momentos mais ricos e valorizadores de toda a produção. 

O novo longa brasileiro da Netflix, portanto, é aquela comédia romântica que vai fazer você querer dar o play quando o filme estiver no topo do seu catálogo do streaming. Isso porque ele é cativante e atrativo, só pelo nome, mas vai te prender a atenção logo nos primeiros minutos. Mas, além disso, você ainda vai refletir e, ao mesmo tempo, se sentir leve depois de ter começado a assistir. 

A produção, ainda, é inteligente ao, durante o meio do ano, reviver o feriado que não pudemos viver no início dele, e dar um ar de esperança para o tão sonhado de 2022, se as vacinas forem compradas, claro. Carnaval, portanto, é inteligente, leve, interessante, nostálgico, esperançoso, divertido, empolgante, frustrante – um mar de sensações – assim como é o melhor feriado brasileiro. 

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