No primeiro ato de Instinto Materno, que se passa na década de 1960, as casas vizinhas e os filhos da mesma idade são o pano de fundo para a amizade entre Céline (Anne Hathaway) e Alice (Jessica Chastain). Como ponto de tensão, ocorre um acidente que transforma a relação entre as duas e desperta o que há de mais instintivo entre essas mulheres. O desenrolar, em um suspense fraco e previsível, é pautado em desconfiança e inveja, que interferem na amizade entre as protagonistas. Não é um exercício de criatividade muito complexo imaginar o final de Mothers’ Instinct (no original). Então, é preciso se esforçar para capturar os únicos acertos do filme: as atuações.
Em 2002, o caso Richthofen escandalizou o Brasil pela extrema brutalidade do crime, orquestrado por Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. A indústria cultural, desde então, explorou diversas formas de recriar esse trágico evento, seja por meio de livros, podcasts ou no Cinema. Em 2021, dois filmes apresentaram uma nova abordagem, revelando a perspectiva de Suzane e a de Daniel Cravinhos, seu então namorado. Dois anos depois das primeiras adaptações cinematográficas, surge um novo capítulo com A Menina Que Matou os Pais – A Confissão, prometendo narrar os acontecimentos desde a noite do crime até o dia em que confessaram.
Rachel Weisz nunca pode ser demais e Gêmeas – Mórbida Semelhança sabe disso. Com a atriz britânica na pele das gêmeas Beverly e Elliot Mantle, a releitura do filme (quase) homônimo de David Cronenberg vira do avesso para explorar o outro lado da moeda: o longa original se torna uma minissérie e os irmãos, irmãs. No entanto, a obsessão e a relação doentia um pelo outro se mantém e a produção leva os limites médicos ao extremo, ao mesmo tempo que lida com duas figuras opostas presas em uma só.
Na série, Beverly e Elliot são médicas obstetras insatisfeitas com a maneira como o sistema de saúde lida com mulheres grávidas. Juntas, elas buscam investimento para abrir seu próprio centro de maternidade. A perfeita harmonia das duas beira a insanidade, mas a simbiose funciona no âmbito profissional e pessoal – até a chegada de Genevieve (Britne Oldford). Quando a atriz se envolve com uma das irmãs e elas se veem obrigadas a não mais viver uma para outra, o desequilíbrio leva desde a convivência doméstica até os bastidores da medicina ao extremo.
Uma travessia de 180 km, Annette Bening e Jodie Foster, a soma equaliza uma das maiores produções inspiradas em histórias da vida real dos últimos anos: NYAD. A trama lançada pela Netflix em 2023 traz um combo de veracidade, suspense e uma atuação de primeira, com um equilíbrio bastante acertado. Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, o longa-metragem mixa tons de persistência e uma ousadia quase negligente.
O filme conta a história da nadadora Diana Nyad (Annette Bening) que, aos 60 anos, vai em busca de refazer um feito que tentou aos 28: atravessar o oceano de Cuba até a Flórida nadando. O sonho que já parecia completamente insano na juventude, quando a protagonista persistiu por 42 horas no trajeto com uma gaiola de tubarão, mas não conseguiu aguentar, agora soa impossível. No entanto, quebrar as regras do lógico é uma das características desta história.
Há como argumentar que não há sentimento mais antigo à humanidade do que a fome. Não apenas a sempre presente fome metafórica para expandir a experiência humana (poder, conhecimento, amor, etc), mas a fome que serve ao imperativo biológico máximo: sobrevivência. Todos nós nascemos com um espaço vazio na barriga, que grita para ser preenchido que paradoxalmente nunca o será – pelo menos não por muito tempo. Neste exato momento, se você se concentrar, é possível olhar para dentro e sentir a besta arreganhando os dentes ou lambendo as patas, se preparando para a próxima caçada. Até que ponto você consegue deixar ela enjaulada?
Na segunda temporada de Yellowjackets, drama do Showtime indicado ao Emmy, nos reencontramos com o time de futebol feminino de Wiskayok High, dessa vez tendo que sobreviver ao brutal inverno canadense, com a falta de comida e tensões crescentes entre o grupo ameaçando enterrá-las sob a neve. Em um flashforward para o momento de seu resgate, diversos repórteres se amontoam sobre elas, todos desejando serem os primeiros a perguntar o que todos querem saber: como elas sobreviverem lá fora? Lottie (Courtney Eaton) é a única a oferecer uma resposta, na forma de um grito primal e sinistro que ecoa sobre a audiência antes de ser engolido pela abertura do seriado.
Salpique uma jovem fumante sem apetite, ferva um ator latino esquecido, cozinhe alguns empresários corruptos, tempere um fanático por gastronomia, corte uma crítica sem papas na língua e adoce um chef de cozinha assombrado pelo próprio trabalho, faça todas as etapas no desconforto de um restaurante rodeado pelo mar e pronto: a receita de terror psicológico está servida. Na direção do seu primeiro filme de grande investimento, Mark Mylod prepara para as telas do Cinema o sabor transformador da sátira unida ao suspense com O Menu.
Inspirada no mangá de mesmo nome, Alice in Borderland retorna ainda mais brutal em sua 2ª temporada. Dirigida por Shinsuke Sato, a trama persegue os protagonistas Ryōhei Arisu (Kento Yamazaki) e Yuzuha Usagi (Tao Tsuchiya) em uma Tóquio apocalíptica e repleta de jogos mortais, criados a partir dos naipes de Reis e Rainhas de um jogo de mesa. A criatividade para executar a sequência dos desafios é surpreendente, além de muito fiel à obra original, agregando valor sentimental para os fãs que acompanham a saga dessa Alice distópica. Sem medo de jogar com quem assiste, a série da Netflix bagunça o baralho e guarda uma carta na manga.
O confronto pelo papel de destaque em obras cinematográficas não é novidade. Porém, a inveja por sua irmã ter se destacado no cinema enquanto sua carreira declina pode contribuir para desavenças familiares profundas, como é o caso da trama de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?. Dirigido e produzido por Robert Aldrich, o filme contou com Bette Davis e Joan Crawford no elenco, duas atrizes largadas às traças por Hollywood, que retornavam às telonas para um thriller audacioso para seu ano de lançamento e icônico para a história do Cinema após 60 anos de sua estreia.
Para além de roteiro, atuação, direção e produção, parte importante do que faz um filme ser ou não um sucesso quando entra em cartaz é o seu marketing. Mas o que acontece quando aqueles que encabeçam a obra estão tão preocupados com sua imagem na mídia que o longa fica em segundo plano? A resposta para isso pode ser facilmente vista e destrinchada com o desenvolvimento de Não Se Preocupe, Querida, dirigido por Olivia Wilde e protagonizado por Florence Pugh, que tem seus pontos positivos contados nos dedos de uma mão.
É como se a fita amaldiçoada da Samara de O Chamado (2002) sofresse uma transfusão sanguínea da IST mortal que assola Corrente do Mal(It Follows, 2015). Não há maneira simples de descrever o sorriso mortal que intitula a estreia em longas do cineasta Parker Finn. Na simples e direta trama de Sorria (Smile), uma psicóloga testemunha um suicídio e vê a própria vida se tornar um labirinto nefasto, em que só há saída na morte.