Algo está vindo, algo bom… Para o cineasta que já realizou de tudo (dos tubarões assassinos aos soldados resgatados e os cavalos de guerra), o desafio de recriar seu musical favorito foi ideal para Steven Spielberg modelar, com as mãos e o coração, uma história clássica. A reimaginação de Romeu e Julieta, que foi batizada de West Side Story em referência ao cenário nova-iorquino e periférico da obra, surgiu em 1957 nos palcos do teatro. Quatro anos depois, Jerome Robbins e Robert Wise fizeram da peça um filme.
O que você faria se descobrisse um meteoro vindo em sua direção? Diminuindo a distância que o separa do planeta Terra a cada vez que você respira, ou na medida em que lê essas palavras? O diretor Adam McKay achou que seria apropriado rir das nossas caras de tacho. E assim, nasceu Não Olhe para Cima (Don’t Look Up), com seu elenco estrelado vomitando o iminente fim da humanidade. O que você faria então, mediante tamanho desastre? Desviaria o olhar, vestiria seu uniforme de imbecil, e abriria o TikTok para ser feliz novamente vendo vídeos de cachorros fofos, com certeza.
Em uma sociedade que precifica os seres humanos e os valoriza de forma desigual, vale a pena vender sua própria veracidade por dignidade plastificada? Caso esse não seja o principal questionamento inspirado por Passing – traduzido no Brasil como Identidade – com certeza é um de seus pilares. O longa-metragem lançado em novembro de 2021 na Netflix é um retrato delicado do quanto a sua própria pele pode ser sufocante em uma sociedade estruturada pelo racismo. O filme é a adaptação audiovisual do livro de mesmo nome escrito por Nella Larsen, e é também o trabalho de estreia da atriz Rebecca Hall como diretora.
A raiz que busca um solo para se firmar, o sonho que busca um meio de se realizar e o Cinema que busca um espaço para se expressar. Assim é Minari: tão belo, suave e poderoso quanto o fenômeno mais fundamental da natureza, tão feliz quanto o processo mais gratificante da experiência humana, e tão transformador quanto o ato de criar seu próprio caminho. O drama familiar dirigido e roteirizado por Lee Isaac Chung se destaca dentre muitos filmes ambiciosos, fechados e maquiados com sua narrativa delicada, representativa e verdadeira. Encantando em absolutamente todos os lugares que passou desde sua estreia no Festival de Sundance em janeiro de 2020, o filme chega em 2021 representando uma série de narrativas e existências que não precisam e nem querem gritar em obras de estruturas grandiosas para serem ouvidas. Apenas desejam encontrar seu espaço para existir.
O prêmio dos Sindicato dos Atores de Hollywood foi um bocado diferente em 2021. Começando pelos atrasos, consequência da pandemia, a premiação teve sua data inicial roubada pelo Grammy. A Academia de Música clamou para si aquele 14 de março, jogando o SAG para a primeira semana de abril.
Depois da exibição virtual do Globo de Ouro, o Sindicato decidiu que não faria sua entrega de troféus ao vivo, e sim gravaria com alguns dias de antecedência. No Dia da Mentira, começaram a rolar listas de supostos vencedores do ‘Actor’, como é apelidada a honraria. A singela cerimônia tomou parte na noite de domingo, 4 de abril, e rendeu 7 troféus à Netflix, destaque máximo de 2021. Com apenas uma hora de duração, a 27ª edição do SAG foi corrida, carente do charme característico do evento ao vivo e, no fim das contas, sem nenhum momento realmente marcante.
Esse ano, o Elenco majoritariamente branco e exclusivamente masculino de Os 7 de Chicago venceu o maior prêmio da noite. Batendo as equipes etnicamente diversas de Minari, A Voz Suprema do Blues, Destacamento Blood e Uma Noite em Miami…, o filme de Aaron Sorkin finalmente venceu algo grande, depois de ver o Sindicato dos Roteiristas premiar Bela Vingança, o dos Produtores chamar ao palco (virtual) Nomadlande o nome do diretor não aparecer na lista final do Oscar.
Se os pálidos de Chicago vigoraram na categoria principal, pela primeira vez na história os ganhadores de atuação foram apenas atores não-brancos. A dupla dinâmica de A Voz Suprema do Blues venceu Ator e Atriz. Chadwick continuou sua varredura até a noite do Oscar, mas o prêmio de Viola Davis foi uma baita surpresa. A veterana, que encarna Ma Rainey com uma eficácia divina, não havia ganhado nenhum precursor até agora, e bota lenha na categoria. O próximo passo até o Oscar é o BAFTA, onde apenas Frances McDormand e Vanessa Kirby (das nomeadas à Academia) podem vencer.
Outro que continuou na onda dos prêmios vencidos foi Daniel Kaluuya. O Melhor Ator Coadjuvante do ano foi agraciado por sua atuação no visceral Judas e o Messias Negro, onde interpreta Fred Hampton, um das figuras mais importantes do movimento dos Panteras Negras. Em Atriz Coadjuvante, foi a vez de Yuh-Jung Youn se colocar com força na corrida para o Oscar. A vovó de Minari bateu sua principal concorrente, Maria Bakalova por Borat 2, e agora tem a vantagem para 25 de abril. Continuando a onda dos filmes de heróis perseverando na categoria de Dublês, Mulher Maravilha 1984 ganhou em 2021.
Na parte da TV, a Netflix confirmou uma porção de favoritismos. The Crown venceu Melhor Elenco em Drama pelo segundo ano consecutivo, se colocando na ponta da lista de apostas para o Emmy de setembro. Em Atriz, as 5 nomeadas representavam apenas 2 séries, é claro, da Netflix. Gillian Anderson colocou a competição no bolso, botando a Rainha, Lady Di e a dupla de Ozarkpara comer poeira. E falando em Ozark, Jason Bateman também comemorou um bicampeonato, vencendo o SAG de Ator em Drama.
As categorias de Comédia continuaram o jogo de batata-quente que Schitt’s Creeke Ted Lasso vem fazendo por todo o ano. A série canadense venceu Elenco e Atriz para Catherine O’Hara, enquanto a original da Apple TV+ coroou Jason Sudeikis como o Melhor Ator em Série de Comédia. O Screen Actor Guild Awards foi o último dos prêmios de Schitt’s Creek, que se despede da temporada vencendo tudo que teve chance.
Anya Taylor-Joy, por O Gambito da Rainha, continua sua caminhada até o Emmy de Atriz em Minissérie, enquanto Mark Ruffalo finaliza sua longa jornada. O Hulk já havia vencido o Emmy e o Globo de Ouro por sua performance em dose dupla em I Know This Much Is True. Ruffalo agora abre alas para outro ator dominar a categoria em setembro, na maior premiação da TV. Na parte de Dublês em Série, campo dominado por Game of Thrones na última década, The Mandalorian foi coroado.
Premiando apenas categorias de atuação individual, elencos e equipes de coreografias, o SAG tenta abrir espaço para o reconhecimento dos Dublês no Oscar, mas a burocracia impossibilita a agilidade do processo. A edição de 2021 reuniu seus indicados por formato (comédia, minissérie, drama), misturando homens e mulheres na mesma conferência online. Os discursos não passavam de 90 segundos, e os próprios atores apresentavam uns aos outros, reacendendo a chama de proximidade do Sindicato dos Atores.
O SAG 2021 foi pouco memorável, mas rendeu a distribuição mais justa dos prêmios até agora. Acendendo o fogo para o Oscar no fim do mês e pavimentando favoritos até o longínquo Emmy, o Sindicato dos Atores rendeu um Cineclube Especial, assinado pela Editoria do Persona, discutindo os indicados, os vencedores, as tendências e os novos recordes. Vida longa ao SAG, o prêmio com a estatueta mais bonita dos Estados Unidos da América.