Uzumaki e Dylan Dog: dois extremos do quadrinho de horror

Gato de Cazã. Arte popular russa do século XIX, sem autoria.

O japonês Junji Ito e o italiano Tiziano Sclavi produzem quadrinhos de horror de maneiras bem distintas. Enquanto um explora conceitos, o outro se destaca pelas personagens carismáticas. De qualquer forma, ambos são mestres da imagem.

Lucas Marques

Primeiro, um recente causo: na madrugada do último dia 31, Dia das Bruxas, meu vizinho de quarto bateu em minha porta para questionar se era eu que tinha visto um gatinho preto em casa. Respondi que sim e ele falou “então olha isso!”, desocultando das costas um desenho feito com traços grossos em um papel de caderno já empoeirado e rasgado. A imagem me gelou a espinha de primeira vista. Era um gatinho desenhado com giz de cera preto, as formas tão tortas que poderiam ser mesmo de autoria de uma criança, mas com alguns detalhes que só poderiam ser feitos por um jovem ou adulto que sabe o cânone de tal coisa: dentes e orelhas pontiagudas; olhos elípticos com o preto interno também elíptico, mas invertido; calda em espiral. Continue lendo “Uzumaki e Dylan Dog: dois extremos do quadrinho de horror”

Após 10 anos, a lógica de Fun Home ainda é funcional

fun home capa

Adriano Arrigo

É muito estranho pensar que um filme como Velozes e Furiosos 6 tenha passado no Teste de Bechdel. Para quem não conhece, é um teste nada científico que leva somente em consideração prática a representação das mulheres em filmes. Se houver pelo menos duas delas e as mesmas aparecem conversando entre elas sobre algum tópico que não seja homens, esse filme passou no Teste de Bechdel. Parece simples, mas é assustador a quantidade de filmes que não conseguem passar nesse sistema criado pela cartunista americana Alison Bechdel, autora de Fun Home.

Numa brincadeira de uam tirinha, BEchedel criou um teste compeltamente legitimo sobre a representação feminina em filmes. (Reprodução)
Numa brincadeira de uma tirinha, Bechedel criou um teste completamente legitimo sobre a representação feminina em filmes (Reprodução)

Continue lendo “Após 10 anos, a lógica de Fun Home ainda é funcional”

Fábio Moon e Gabriel Bá: os quadrinistas internacionais

Fábio Moon (esquerda) e Gabriel Bá em conversa com o público no FestA! de Bauru. (Foto: Sesc Bauru/Juilio Riccó)
Fábio Moon (esquerda) e Gabriel Bá em conversa com o público no FestA! de Bauru (Foto: Sesc Bauru/Júlio Riccó)

Em entrevista exclusiva ao Persona, a dupla fala um pouco de seus quadrinhos internacionais e a relação com o público

Adriano Arrigo

Portugal, Argentina, Argélia, Itália e Suécia. Esses são alguns dos países que os quadrinistas brasileiros Gabriel Bá e Fábio Moon já visitaram, por conta do sucesso de suas obras. Na palestra “O Quadrinista Internacional”, que ambos trouxeram para Bauru como parte do FestA! – evento que aconteceu entre os dias 13 e 14 de março, em todas as unidades do Sesc – foram precisos mais de cinco mapas-múndi para mostrar todos os países que eles percorreram. “Faz tempo que não brinco de War”, brinca Moon, ao não saber mais que países são aqueles pintados no mapa. Continue lendo “Fábio Moon e Gabriel Bá: os quadrinistas internacionais”

Old Man Logan: o quadrinho inspirou o filme?

wolverine 66 old man logan capa
Capa da edição 66 de Wolverine Volume 3, começo do arco Old Man Logan

Eli Vagner Rodrigues

Se você é daqueles que acham que os quadrinhos e os filmes de heróis infantilizam o público, tem alguma razão; mas, diante da atual indiferença em relação à própria crítica, sobretudo aquela que se coloca como resistência a sistemas culturais hegemônicos, este parece ser um problema menor.  Continue lendo “Old Man Logan: o quadrinho inspirou o filme?”

Sick Sad World: Como Daria e Enid mostraram o quão fantasmagórico o nosso mundo é

Daria (ao centro) e a serenidade no olhar de quem não tem baixa auto-estima e, sim, baixa estima por todas as outras pessoas.
Daria (ao centro) e a serenidade no olhar de quem não tem baixa auto-estima e, sim, baixa estima por todas as outras pessoas

Bárbara Alcântara

É difícil de acreditar, mas houve uma época em que a MTV gastava os seus minutos com programas muito mais interessantes que Jersey Shore e My Super Sweet 16. Um exemplo é a série animada Daria, lançada em março de 1997 como um spin-off da queridinha da Era Dourada do canal, Beavis and Butt-Head. A protagonista era uma antítese da dupla de amigos sem noção que fez tanto sucesso: uma jovem inteligente, sarcástica e antissocial, que arrancava boas risadas do público ao tecer críticas ácidas ao estereótipo do americano “médio” – tudo isso sem esboçar um sorriso sequer. Continue lendo “Sick Sad World: Como Daria e Enid mostraram o quão fantasmagórico o nosso mundo é”

“História em quadrinhos, não quadrinho em história”: Uma entrevista com Daniel Batista

Estudante de design da Unesp lança sua primeira Graphic Novel na Comic Con Experience 2016.

Daniel Batista na Comic Con Experience
Daniel Batista na Comic Con Experience

Camila Ramos

Bê-a-bá, vamos começar? Criada por Daniel Batista, Beabá é uma história em quadrinhos com uma grande dose de Brasil. Narra a história de Beto, um escoteiro apaixonado por guaraná e, motivado por isso, segue em busca da fonte da fruta junto com uma “presença inusitada no Brasil”.

Continue lendo ““História em quadrinhos, não quadrinho em história”: Uma entrevista com Daniel Batista”

A arte de Leandro Gonçalez coloca em cena quadrinhos e fanzines locais

O desenhista fala sobre sua carreira em Bauru, algumas de suas produções e o cenário atual da produção de quadrinhos nacionais.

1-leandro-goncalez-hq-bauru
Leandro Gonçalez em seu estúdio

Mariana Faria

O mercado de quadrinhos no Brasil é substancialmente voltado às produções internacionais. Embora seja evidente a queda no âmbito nacional, ainda há circulação de material produzido no Brasil, como é o caso do desenhista Leandro Gonçalez que cria obras ligadas a cultura local. Em entrevista ao blog ele fala um pouco sobre suas produções de HQs e comenta sobre o cenário atual dos quadrinhos nacionais. Continue lendo “A arte de Leandro Gonçalez coloca em cena quadrinhos e fanzines locais”

Alan Moore e seu “suspense sofisticado” de Monstro do Pântano

O britânico Alan Moore entrou no mercado norte-americano em 1983, em um título deixado de escanteio pela DC Comics, para desestabilizar de vez a indústria dos quadrinhos.

monstro-do-pantano
Além do escritor Alan Moore, muito da concepção da personagem se deve aos artistas Stephen Bissette e John Totleben/ DC Comics

Lucas Marques

A chamada “Sophisticated Suspense” (Suspense Sofisticado) presente na maioria das capas de A Saga do Monstro do Pântano não traduz nas histórias o que os editores da DC Comics queriam indicar por ela: algo nos moldes da literatura de H. P. Lovecraft ou mesmo de Stephen King, que nesses meados dos anos 80 vinha de sucesso após sucesso. Mas essa sofisticação é verdadeira, não se engane, concretizada em uma miscelânea inédita nos quadrinhos. Ao longo de mais de 40 edições, Alan Moore reuniu em um mesmo espaço religião e filmes trash, Freud e Aleister Crowley, biologia e erotismo, movimentos sociais e cinema pastelão, o racional e o irracional. Continue lendo “Alan Moore e seu “suspense sofisticado” de Monstro do Pântano”

Batman – O Cavaleiro das Trevas III: mais um retrato da paranoia de Frank Miller

Continuação do quadrinho clássico começa bem, mas é logo barrado pela cruzada antiterrorista do autor.

Dark Knight III

Após uma sequência ruim de obras, Miller retorna a sua série mais conhecida. (Créditos: DC Comics)

Lucas Marques dos Santos

O primeiro Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, lançado em 1986, é um inegável marco nas histórias de quadrinhos ao situar os super-heróis em um ambiente político, de violência explicita e midiatizado. Junto com Watchmen, de Alan Moore, os quadrinhos de super-heróis começaram um movimento de conquista de um público que ia além do infanto-juvenil masculino já estabelecido. Hoje, 40 anos depois do original, O Cavaleiro das Trevas III está sendo publicado – por enquanto somente nos EUA com o título Dark Knight III: The Master Race. Entretanto muita coisa se passou e Frank Miller não é o mesmo. Continue lendo “Batman – O Cavaleiro das Trevas III: mais um retrato da paranoia de Frank Miller”

Maus: quando humanos se tornam ratos

Art Spiegelman relata em quadrinhos a vida de seu pai, sobrevivente do holocausto

Maus-Art-Spiegelman-PortableOs prisioneiros em versão antropormófica, com os uniformes típicos dos campos nazistas (Ilustração: Art Spiegelman)

Danielle Cassita

A Segunda Guerra Mundial e seus horrores são de conhecimento geral, principalmente aqueles que envolvem o holocausto, um dos eventos mais trágicos que foram escritos em nossa história. O tema foi abordado de várias formas: no cinema, “A Lista de Schindler” e “Tribunal de Nuremberg” são referências. Já na literatura, podemos considerar títulos como “O Diário de Anne Frank”, “O Menino do Pijama Listrado”, “A Menina que Roubava Livros” e um menos conhecido, a graphic novel “Maus”, de Art Spiegelman. 

Continue lendo “Maus: quando humanos se tornam ratos”