Os Curtas do Oscar 2023

Em 2023, a entrega do troféu para as categorias de curta-metragem volta à transmissão ao vivo do Oscar (Arte: Ana Clara Abatte/Texto de abertura: Nathalia Tetzner)

Eles são rápidos, podem vir em diferentes cores, ritmos e formas. Alguns se debruçam sobre o drama, outros carregam o peso da história nos ombros e há ainda aqueles que são desenhados com os mais delicados traços. Todos são a escolha ideal para quem começou a assistir a lista de filmes indicados ao Oscar e sentiu que precisava descansar a vista após passar horas com os olhos vidrados em longas-metragens intermináveis. Sim, nós estamos falando deles, os curtas selecionados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para a 95ª edição da premiação.

Na disputa pela estatueta de Melhor Curta-Metragem Live Action, os lenços não são suficientes para enxugar as lágrimas do reencontro de dois irmãos e uma história de natal doce em meio ao amargo da guerra. Já na corrida pelo Melhor Documentário em Curta-Metragem, um bebê elefante órfão que nasceu como favorito ao prêmio divide espaço com uma loira estadunidense tão eloquente como a Hebe. Por fim, a estatueta de Melhor Curta-Metragem de Animação é arrastada de um lado para o outro com a sátira da vida sexual de uma jovem da década de 90 e a amizade improvável entre menino e animal. 

Se, no ano passado, a emissora ABC tomou a decisão infeliz de vetar a entrega das estatuetas das três categorias que dividem as 15 produções de menor duração, em 2023, a revolta do público e do Persona fez efeito e a cerimônia irá ao ar por completo. Repetindo o conteúdo informativo e imersivo do primeiro cineclube de curtas, a publicação está de volta com a estrutura pensada especialmente para os amantes da Sétima Arte. Dessa vez, com um ânimo especial pelo renascimento do Cinema e junto dos comentários apurados da Editoria, que não cansa de gabaritar os bolões dos principais eventos do meio, incluindo o Oscar 2023

Continue lendo “Os Curtas do Oscar 2023”

8 mortes e 1 narrativa: Gato de Botas 2 traça as nuances de entender sobre a vida e a morte

Cena do filme Gato de Botas 2. Na imagem vemos dois personagens, um sendo um lobo branco cartunizado com olhos vermelhos e um capuz preto, a qual é a Morte. Enquanto, ao seu lado, encontramos um gato com chapéu preto de pena amarela, uma capa preta, pelos ruivos e olhos verdes. O Gato segura um copo de leite nas mãos e ambos estão conversando de forma próxima.
Como qualquer boa história, tudo começa em um taverna (Foto: DreamWorks)

Dante Zapparoli

Uma narrativa a qual ouvimos desde os filmes de velho oeste é a de que lutar contra a Morte é algo impossível. Em Gato de Botas 2: O Último Pedido vemos mais uma faceta de um herói, que era considerado imortal e invencível, cair ao inevitável fim: o medo de sua história acabar.

Após 12 anos desde sua primeira produção, o Gato de Botas volta a ativa com mais uma aventura solo para as telas de cinema. A nova obra abre com uma estrela cadente que caiu na Terra e, segundo lendas, realizaria o desejo de quem a encontrasse. A narrativa se torna importante ao decorrer da história, pois é a motivação de sete personagens diferentes: o próprio Gato de Botas, Kitty Pata Mansa, Cachinhos Dourados e os Três Ursos, e João Trombeta.

Continue lendo “8 mortes e 1 narrativa: Gato de Botas 2 traça as nuances de entender sobre a vida e a morte”

A Baleia é um retrato sobre tudo o que nos faz humanos

Cena do filme The Whale. Na imagem, o personagem do ator Brendan Fraser está dentro de uma casa. Ele está sentado em um sofá, usa uma camiseta cinza e sorri. Ao seu lado direito, há um abajur de luz amarela. A iluminação é baixa e os tons são frios.
Além de indicações no Oscar, The Whale recebeu indicações em premiações como Critics Choice Award, Cannes, Globo de Ouro e SAG Awards (Foto: A24)

Clara Sganzerla 

Moby-Dick, ou The Whale, é um famoso romance publicado em 1851 pelo escritor estadunidense Herman Melville, que conta a famosa saga do capitão Ahab atrás da baleia que arrancou sua perna. A semelhança com A Baleia, um dos filmes mais comentados do Oscar 2023, não é apenas no nome. A nova obra do diretor Darren Aronofsky nos leva em uma triste trajetória de um outro protagonista atrás de algo que vai além da forma física: uma redenção para si mesmo.

Continue lendo “A Baleia é um retrato sobre tudo o que nos faz humanos”

O olhar de EO: a sensibilidade animal no Cinema

Sob o fundo de um céu azul, o burro Eo, de cor cinza, branca e leves tons marrons, olha diretamente à câmera. Suas orelhas estão levantadas e sua boca enlaçada.
Em Cannes, na competição do Grande Prêmio do Júri, EO empatou com o longa The Eight Mountains, dirigido por Felix van Groeningen e Charlotte Vandermeersch (Foto: Skopia Film)

Enzo Caramori

A simbiose entre a ficção com a representação da vida animal, não humana, poucas vezes se destitui da essência do bicho Homo sapiens. É como se não existisse, em uma contaminação da prática artística a um obrigatório humanismo, uma forma de evocação de sentimento e empatia senão por uma figura antropomorfa, ou então, uma figura humanizada por sua trajetória ou pelo próprio espectador. Daí nascem as fábulas e desenhos infantis com animais falantes e impasses morais, ou até mesmo A Grande Testemunha (1966), de Robert Bresson. Pela sua câmera minimalista, Au Hasard Balthazar, título original da obra, acompanha a tortuosa trajetória — análoga até mesmo à renúncia de Jesus Cristo — da vida de um burro; implicando em seu caminho as brutais relações de poder, classe, gênero, mas, acima de tudo, entre os humanos e animais.

Continue lendo “O olhar de EO: a sensibilidade animal no Cinema”

A Fera do Mar é a animação que a Netflix sempre sonhou em ter

“A nossa história é uma mentira. Por gerações, os reis nos fizeram odiar as feras, e fizeram os caçadores destruírem elas. E, com cada mentira, esse império cresceu” (Foto: Netflix)

Amábile Zioli

Na busca incessante em produzir uma animação que consiga competir com outros grandes estúdios já consolidados nesse mercado, como a Disney e a Universal, a Netflix recorreu à pessoa certa: Chris Williams. O currículo do diretor está longe de ser fraco e o cineasta tem seu nome em algumas das produções mais aclamadas dos anos 2000 – Bolt, o Supercão, Mulan, Detona Ralph e A Nova Onda do Imperador são alguns exemplos. Nessa nova empreitada, fica claro que o diretor e roteirista sabe o que está fazendo e isso se confirma em seu novo trabalho, A Fera do Mar.

Continue lendo “A Fera do Mar é a animação que a Netflix sempre sonhou em ter”

O visual deslumbrante e vazio não salva Blonde do sadismo de Andrew Dominik

Alerta de gatilho: abuso, violência doméstica, estupro, aborto, suicídio. 

Cena do filme Blonde. A imagem mostra as costas da personagem Marilyn Monroe com a parte de baixo de seu vestido levantada, em uma interpretação de sua icônica cena no filme O Pecado Mora ao Lado. Imagem em preto e branco.
Em Blonde, a primeira cena sugere qual será a abordagem de Marilyn Monroe, que o levou ao Oscar (Foto: Netflix)

Giovanna Freisinger

Blonde, produção que reimagina a história de Marilyn Monroe, proporcionou a Ana de Armas sua primeira indicação ao Oscar. Concorrendo pelo título de Melhor Atriz por sua interpretação da personagem, ela desponta como forte candidata ao prêmio. Apesar da citação não vir como uma surpresa, após indicações em outras premiações importantes, como o Globo de Ouro, o SAG Awards e o BAFTA, as respostas do público à essa nomeação foram divididas. Isso não em relação ao merecimento da atriz por sua performance, mas à inclusão do filme na premiação em primeiro lugar, cedendo visibilidade e prestígio à obra, que, para muitos, faria melhor ao mundo sendo esquecida.

Continue lendo “O visual deslumbrante e vazio não salva Blonde do sadismo de Andrew Dominik”

Lute por sua vida, Babilônia

O filme tem como base a bíblia de fofocas dos primórdios da Sétima Arte: Hollywood Babylon (Foto: Paramount)

Ana Júlia Trevisan

Babilônia é sinônimo de grandeza. Uma das sete Maravilhas do Mundo Antigo, seus jardins também são os mais indecifráveis da história. Na alçada da Sétima Arte, Babilônia remete a um livro com suas páginas alimentadas por fofocas escandalizantes do Cinema nas décadas de 20 e 30, quando os roteiros ainda não imaginam ser preenchidos por diálogos. Bebendo da fonte dessa obra, o diretor e roteirista Damien Chazelle concebe seu mais novo trabalho, Babylon, ambientado em uma Hollywood em movimento de transição e abastecida a sexo e drogas. 

Continue lendo “Lute por sua vida, Babilônia”

Entre Mulheres, ninguém nunca está só

Cena do filme Entre Mulheres. Na imagem, vemos oito mulheres de idades distintas dentro de um celeiro. Quatro delas estão de pé e quatro estão sentadas. Dessas, três estão sentadas em feno e uma delas está sentada no chão. Todas elas vestem vestidos do mesmo estilo: mangas três-quartos ou compridas, em cores escuras e floridos, com exceção de duas idosas, que vestem vestidos de manga comprida preto sem nenhuma estampa. Todas elas estão com os cabelos trançados e algumas usam um lenço preto, de modo a aparecer a parte da frente de seus cabelos
Entre Mulheres teve sua estreia no Festival de Cinema de Telluride no dia 2 de Setembro de 2022 e chegou aos cinemas brasileiros exatos seis meses depois (Foto: Universal Pictures)

Raquel Freire

Uma pequena colônia religiosa isolada. Apenas homens têm o direito de ser alguém. Durante a noite, tranquilizante de vaca. Ao amanhecer, quando o coração ainda bate, uma ferida que não cicatriza. Quem fez isso? Ou melhor, qual deles ainda não fez isso? Dali nove meses, uma vida – se for menino, um aprendiz; se for menina, uma vítima. Certa noite, um rosto. Enfim, custódia! Todos eles saíram da colônia para ajudar com a fiança (é claro que eles saíram). Isso significou 48 horas Entre Mulheres. Três famílias debateram o futuro de todas as outras. “Não fazer nada. Ficar e lutar. Ou ir embora”. Permanecer na comunidade que as violou? Ou se afastar de tudo o que conhecem, principalmente do Deus em quem ainda depositam sua fé? Ao mesmo tempo, tudo e nada a perder.

Continue lendo “Entre Mulheres, ninguém nunca está só”

Close nos aproxima da dor das rupturas

Cena do filme Close. Rémi e Léo estão olhando um para o outro. Léo é um garoto branco loiro de olhos azuis, ele está vestindo uma camiseta branca e tem uma mochila azul marinho nas costas. Rémi é um menino branco de cabelos e olhos castanhos, ele veste uma camiseta bordô e usa uma mochila verde musgo. Ambos têm feições sérias
Close é uma coprodução belga, holandesa e francesa, e concorre na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2023 (Foto: A24)

Jamily Rigonatto 

Ceder a pressão social é fácil, quase um instinto do ser humano em busca de aceitação e, por vezes, sobrevivência. O ponto é que tudo pode ser desfigurado para que possamos caber nas caixas ditas como certas: roupas, cabelos e até mesmo os amores. Em Close, filme lançado em 2022 sob a direção de Lukas Dhont, os protagonistas figuram o ato de cortar os laços mais profundos como se fossem uma linha fina – rompem-se com facilidade, mas ficam as pontas esfarrapadas. 

Continue lendo “Close nos aproxima da dor das rupturas”

Marcel the Shell with Shoes On: Nos menores frascos, estão os maiores corações

Cena do filme Marcel the Shell With Shoes On. Nela, vemos um personagem Marcel, uma concha do tamanho de uma polegada em cor nude com um olho onde era para ser sua abertura, uma boca e sapatos com a ponta vermelha. Ele está sobre um computador, olhando para a tela e boquiaberto.
Marcel the Shell with Shoes On é o resultado de mais de 10 anos de amor pelo personagem mais amoroso do audiovisual recente (Foto: A24)

Guilherme Veiga

Desde que o gênero mockumentary caiu nas graças do público, a vertente buscou explorar os contextos mais improváveis, indo de uma empresa de papel da Filadélfia, passando por um grupo de vampiros em Staten Island e chegando na vida de um excêntrico repórter cazaque aterrissando nos Estados Unidos. Naturalmente vinculado à comédia, é de praxe que falsos-documentários abracem o nonsense e joguem fora toda a busca por credibilidade. Porém, é da premissa mais absurda que o produto é tratado de forma mais séria.

Continue lendo “Marcel the Shell with Shoes On: Nos menores frascos, estão os maiores corações”