A cantora, compositora e produtora Rosalía nasceu em Sant Esteve Sesrovires, na Catalunha, em 1992 e se tornou um fenômeno da música pop com o lançamento de seu segundo álbum, El mal querer, há 5 anos. A obra conceitual mistura elementos do flamenco, pop e urban com vocais e visuais esplendorosos e surpreendentes para um projeto de conclusão de curso na Escola Superior de Música da Catalunha.
Juras de um amor eterno e um pedido de casamento marcaram o lançamento de um dos casais mais queridos do mundo pop. Enquanto os fãs se decidiam entre Versace e Louis Vuitton para o matrimônio do ano, a notícia que ninguém esperava veio à tona: Rosalia e Rauw Alejandro se separaram. Para os filhos do divórcio, felizmente, restou um álbum impecável marcado pela mistura de estilos e vocais que definem o fim da era RR.
Viajar sem rumo, conhecer um novo lugar a cada mês, ser um cidadão do mundo. Com sete passaportes completos e dezenas de vistos, Adriana Calcanhotto nos traz uma experiência nômade no universo da Música Popular Brasileira em seu décimo terceiro álbum, Errante. Pode parecer contraditório, mas, apesar do título e da temática, se há algo que Calcanhotto sabe é onde quer chegar e, especialmente, de onde veio.
Errante foi concebido no olho do furacão que foi a pandemia de Covid-19, mais especificamente em 2021, sendo, segundo a própria compositora, o projeto com o tempo de produção mais longo de sua carreira. O isolamento transformou o pensamento da cantora sobre si mesma e sobre as escolhas que a levaram a errar; não no sentido de cometer erros, mas, na origem latina da palavra, de vaguear literal e metaforicamente.
O contexto de celebração do fim da pandemia está muito presente nas faixas Levou para o Samba a Minha Fantasia e Era Isso o Amor?. A primeira tem algo de teatral com a harmonia da percussão somada ao som do violão que realça o frescor do último respiro de carnaval antes da pandemia. Já a segunda descreve um amor ardente que também nos faz entrar em combustão em termos de musicalidade e calor, já que suas pitadas de rock enunciam uma paixão cálida que apenas uma poeta como Calcanhotto poderia descrever antes da pandemia.
Outros focos do álbum são identidade, pertencimento e história própria, pelo qual a artista descreve seu ponto de partida da jornada, valorizando todas as suas ancestralidades, como sua ascendência judaica sefardita, recém-descoberta. O ritmo que desacelera ao “cruzar desertos” e acelera ao nos levar ao “mundo da lua” – onde habita uma mente tão criativa – traz conforto, porém, na insegurança da artista em se ver “impostora” em tudo que faz.
Em um jardim, o clipe de Larga Tudo embala quem ouve em um samba reconfortante, que também remete às raízes da cantora, mas com um eu lírico que agora pede o desapego. Horário de Verão carrega um certo aconchego de uma lareira e um chá quente numa tarde fria, que gera grande contradição ao título. Talvez a ausência do excedente da luz do dia propiciada pela estação seja o que mais se encaixe nas notas delicadas da música, uma das mais sentimentais do disco.
Continuando no tópico de identidade, poucas vezes Adriana Calcanhotto foi tão pessoal quanto em Quem Te Disse?, na qual novamente ela referencia sua origem sefardita para falar de rejeição e do feminino. Todas as características da canção são artifício para perguntar: “Quem te disse que o amor vêdiferenças?”. Se com mais de 30 anos de carreira o etarismo poderia se tornar um um obstáculo, como cita na composição – “mesmo se eu fosse moça” –, a música ainda flui em melancolia quando nos lembra que a sociedade inferioriza as mulheres e cria exigências artificiais que, mesmo cumpridas, nunca são suficientes.
Lovely é uma viagem ao exterior que a artista bem conhece e já conquistou. Desde 2006, quando ganhou o primeiro de seus cinco Grammys Latinos com o disco infantil Adriana Partimpim, ela vem sendo reconhecida como uma das grandes expoentes da música do Brasil para o mundo. A faixa mergulha em um ritmo de bossa nova sutil e discreto, que suavemente ajuda o ouvinte a viajar também no tempo em sua sonoridade tridimensional.
As melodias melancólicas que se inserem no projeto ecoam um tom triste de despedida e que, junto de Horário de Verão e Quem te Disse?, contrastam do resto do obra, que tem um soar mais alegre e positivo. A presença dessas canções, como Reticências, enriquecem o álbum de forma a nos preparar para o encerramento dessa viagem, assim como instauram seu propósito. A reflexão sobre o caminho percorrido por quem escolhe uma vida sem âncoras, descobre que “deixar a solidão sozinha e caminhar” é um ato de coragem libertador que revela que ser errante não é sinônimo de solidão. No entanto, ficar estacionado num mesmo lugar por muito tempo, sim.
Nômade finaliza sua jornada musical no lugar onde todo o espírito do álbum vive. Seu ritmo constrói a ideia de um balançar de passos, conquistando essa sensação com os mais variados instrumentos, desde o coquinho ao trombone. Como entoado pela sua autora, a “casa é corpo” porque é móvel, sendo a única coisa que todos temos e que todos carregamos. E por versos como esses, a obra de Adriana Calcanhotto fica mais rica a cada sílaba que ela profere, como se fosse algo involuntário, de sua própria natureza – tal como ser uma das maiores cantoras brasileiras vivas.
Agosto de 2012, Citibank Hall, São Paulo. Luzes apagadas, músicos subindo ao palco, plateia extasiada. Em seguida vem ela, Maria Rita, grávida de 7 meses, usando roupa branca e carregando a missão de eternizar a memória de sua mãe. A caminhada da coxia até o palco é silenciosa. Não há holofotes ou um grande tapete vermelho para a cantora. Peça essencial do espetáculo, a artista interage de maneira íntima com o mecanismo da banda, deixando explícito que a verdadeira estrela da noite é a única e onipotente Elis Regina. A chegada ao microfone é marcada por uma respiração funda, um frio na espinha e os acordes de um potente piano. Nesse momento a sensação é uniforme, podemos sentir um caloroso abraço: mãe e filha se reencontram.
“Quero tanta coisa legal, sabe. Que ela ria muito, que ela não fique pesada nunca” desejava Elis Regina à sua filha, Maria Rita. De um lado, a dona dos discos mais importantes do país. Do outro, a brasileira com maior número de Grammys Latino. A progenitora atacada por proteger sua família, a caçula golpeada por uma trupe ignorante que faz o insano questionamento de “como uma filha pode ser tão parecida com a mãe?”. Aqui o intuito não é comparar, e sim celebrar as duas carreiras meteóricas, construídas por duas mulheres libertárias, inspiradoras, donas da própria produção e que estão eternamente ligadas pelo laço materno.
Inúmeros são os prismas musicais de origem latina que despontam na indústria atual. A efervescência emergida de tantos ritmos vira elixir não somente rompendo com a hegemonia maçante da língua inglesa nos centros de visibilidade, como também investindo em criar, revisitar e renovar leituras artísticas. No entanto, mesmo ascendida nesse cenário difusor de novidades, Nathy Peluso surpreende no mínimo e no estrondoso desde o início de sua carreira.
O planeta Terra não era habitado por Marisa Monte quando este iniciava o ano de 2006 ao completar mais um ciclo ao redor do Sol. Depois de dar à luz ao fenômeno romântico filho de Vênus batizado de Memórias, Crônicas e Declarações de Amor em 2000, a jovem deusa da música pop brasileira se recolheu. Para bem longe do brilho, grandiosidade e tudo mais que envolvia a ideia de sua ascensão escrita nas estrelas, cuja concretização nesta galáxia lhe era prometida desde os anos 90, Marisa Monte passou seis anos orbitando o seu próprio universo.
Na tarde do dia 5 de novembro, o Brasil foi surpreendido por um plantão da Globo, o qual anunciava um acidente aéreo envolvendo a cantora Marília Mendonça. Até então, foi informado pela emissora, através de informações dadas pela assessoria da artista, que ela e outras quatro pessoas estariam bem. Entretanto, era tudo incerto, pois não haviam informações confiáveis que comprovassem tal afirmação. Após algumas horas de muito trabalho por parte da equipe de bombeiros, veio a notícia que ninguém queria receber: o falecimento da cantora Marília Mendonça, aos 26 anos de idade.
Não há medo mais apavorante do que o da solidão. Construímos nosso entendimento de mundo baseado em nossas conexões afetivas e, logo com a chegada da vida adulta, nos deparamos com a instância de trilhar um caminho tortuoso por conta própria. Nesse temor pelo desconhecido e por não pertencer, Machado, Lay e Lio – ou Tuyo, como os conhecemos juntos – encheram sua casa de gente, para não se sentirem sozinhos. Diante disso, Chegamos Sozinhos em Casa, o novo projeto artístico da banda, imerge na psique de seus integrantes, explorando o instante em que essas pessoas voltam para onde vieram, ou criam seus novos espaços, e o que sobra da gente quando, enfim, estamos sós.
O recente documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem foi aclamado quase por unanimidade. A produção original da Netflix exibe o evento de estreia do mais recente álbum do rapper Emicida, AmarElo. O artista reúne todas as pessoas que, durante muito tempo, não tiveram a oportunidade de sequer pisar no Theatro Municipal, principal símbolo da cultura erudita do país. Emicida nos revela o porquê de suas letras, mensagens, parcerias e missões. Mais do que isso, o show traz um profundo sentimento de esperança aos seus espectadores. Ao mesmo tempo que evidencia os diferentes males que assolam nosso país, também constrói um forte apelo à esperança de tentar mudar esse cenário.