As verdades oblíquas de Dickinson

Cena da série Dickinson. Emily (Hailee Steinfeld) está sentada em sua escrivaninha, de frente para uma janela no centro da imagem. É dia, e uma cortina transparente cobre a janela. Emily se vira para a esquerda para observar alguma coisa, preocupada. Ela é uma mulher jovem, caucasiana e magra, de cabelos castanhos-escuros longos amarrados num coque. Ela usa um longo vestido azul marinho de mangas longas. Do seu lado esquerdo, vemos a ponta de um guarda roupa de madeira com alguns livros empilhados no topo e vários outros espalhados ao chão, apoiados num caixote. Ao seu lado direito, mais livros espalhados no chão e outros guardados numa pequena estante que vai até a altura da cintura e outra, acima dela, fixada na parede. Em uma pequena mesa ao seu lado, vemos dois livros maiores apoiados. No canto inferior direito, folhas verdes de uma planta aparecem. O papel de parede do quarto é coberto de flores e folhas sob um fundo bege.
“Conta toda a verdade, mas de viés —/O melhor caminho é o Círculo/Nosso frágil Prazer se ofusca/Se a Verdade vêm de súbito” (DICKINSON, 1872, p. 327)² [Foto: Apple TV+]
Gabriel Oliveira F. Arruda

O que esperamos de histórias biográficas? Quando olhamos para o passado e para as pessoas que viveram nele, buscamos nos identificar com elas? Ou apenas recontextualizar suas vidas e seus modos para inferir sobre nossa própria contemporaneidade? Buscamos fundo em seus registros para demarcar a fidelidade com nossa atual realidade ou apenas nos contentamos em preencher as lacunas de suas vidas para servir às histórias que desejamos contar, usando suas carcaças como figurinos e suas faces como máscaras?

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O poético mundo aberto de Ghost of Tsushima

Cena do jogo Ghost of Tsushima. Fim de tarde, com um céu azulado. Jin Sakai, o protagonista, está de costas para a câmera, observando a paisagem marcada por árvores e montanhas imersas em uma neblina densa. Ao longe, uma coluna de fumaça se ergue. Jin usa um chapéu de palha circular e roupas de viajante, com uma capa carmesim.
Lançado em julho de 2020, o último exclusivo do PlayStation 4 é uma mistura saudável de inovação e aperfeiçoamento (Foto: Gabriel Oliveira F. Arruda)

Gabriel Oliveira F. Arruda

O haiku é uma forma de poesia curta japonesa definida por três versos de 5, 7 e 5 on (sílabas poéticas). Esses on são então cortados por um kireji, uma palavra que revela a justaposição entre duas imagens, e um kigo, uma referência sazonal que descreve a natureza e a estação.

Não é por acaso que uma das atividades disponíveis em Ghost of Tsushima, o último grande exclusivo do PlayStation 4, seja a composição de tais poemas que refletem diversos questionamentos como morte, vida, sobrevivência, paz e tradição. De fato, a estrutura do haiku tradicional parece informar grande parte da experiência do título.

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