Estamos cansados de saber sobre o avanço da influência artificial e seus impactos na realidade cotidiana – não soa incomum se apaixonar por alguém que conhecemos através de uma tela virtual. Por mais que pareça a um primeiro olhar, o filme Elanão foca na evolução tecnológica e seus efeitos nas interações humanas. De fato, o diretor Spike Jonze deu vida a um romance entre humanos e máquinas, mas ao finalizar a experiência da obra, é possível notar que esse não é o seu tema principal. Her (no original) nada mais é do que um retrato subjetivo da solidão, sentimento esse compartilhado por todo e qualquer ser humano.
Para uma geração, o MTV Video Music Awards foi um grande acontecimento. Mobilizou votações, foi palco de grandes anúncios e era uma das premiações mais aguardadas do ano, sendo prestigiada por diversos nomes de peso da indústria musical. Madonna, Michael Jackson, Whitney Houston, Spice Girls, Britney Spears, Eminem, Beyoncé, Lady Gaga e diversos ícones se apresentaram no palco ao longo das décadas, disputando as estatuetas do Homem na Lua e fazendo história em Nova York ou Los Angeles. No entanto, ao olharmos para o presente, não podemos afirmar que o evento tem o mesmo brilho, mas, aos trancos e barrancos, tenta recuperar os tempos de glória de um passado não tão distante.
Segundo a ciência, o arco-íris é explicado pela refração, dispersão e reflexão da luz solar por gotículas de água presentes na atmosfera. Já para os supersticiosos, o arco luminoso pode significar prosperidade e abundância, tal qual a história clássica do duende e o pote de ouro. Porém, nos versos de Katy Perry, a magia está no Double Rainbow, algo que você somente seria capaz de testemunhar uma vez na vida.
Mas, afinal, se a misticidade determina que a duplicidade do fenômeno físico pode ocorrer uma única vez ao longo da trajetória de uma pessoa, quantas vezes é possível se alcançar o topo do mundo? Contrariando as estatísticas de discos que são amaldiçoados pelo sucesso estrondoso do anterior, PRISM (2013) refratou todas as cores de Perry ao colocá-la no caminho certo para encontrar a recompensa dourada novamente em sua carreira.
O três, seja na numerologia ou não, é cheio de significados. A representação da trindade paira desde a Igreja Católica até mesmo à triforce de Zelda e carrega com si uma enorme carga, explicada ou não. Ele também simboliza um novo caminho, em que, na melhor de três, a inserção de um terceiro elemento ultrapassa a tirania do um e traz um novo horizonte para o impasse do dois. Da mesma forma em que juntamente significa o fechamento, quando é nesse conjunto ímpar que a maioria dos arcos, seja na literatura ou no audiovisual, se arranja em trilogias.
Na Música, porém, é difícil algo que fuja da unidade. Você deve estar pensando agora em milhares de bandas ou groups, estes últimos impulsionados pelo K-pop. Sim, eles existem, mas é de se analisar que, no caso das bandas, elas são personificadas muitas vezes em seu frontman e, com os boy ou girl groups, a persona criada para seus integrantes é tão forte que, às vezes, ultrapassa a própria organização da qual fazem parte. No entanto, é mais uma vez no três que as coisas funcionam de modo diferente.
É dessa arrumação que surgiu o termo power trio, popularizado na década de 1960 e que difundiu a formação guitarra, baixo e bateria. Na lógica de que três cabeças pensam melhor do que uma, surgiram grandes nomes desde Nirvana à Tribalistas e, nesse sentido, o trio composto por Phoebe Bridgers, Julien Baker e Lucy Dacus já mostrou a que veio em seu primeiro disco, the record.
É graças à figura imponente do Zorro que, no universo dos heróis, não há nada tão clássico quanto um vigilante trajado de preto com sede de vingança e senso de justiça por aqueles que não podem se defender. Criado pelo escritor pulp Johnston McCulley em 1919, o mascarado assistiu a sua história se repetir nos quadrinhos, na Televisão e nas grandes telas do Cinema em incontáveis versões. Mas, foi apenas oito décadas depois de seu nascimento que, graças a genialidade de Steven Spielberg através das lentes de Martin Campbell, ele se consagrou como um símbolo universal no longa A Máscara do Zorro, uma aventura de pouco mais de 120 minutos marcada pelo entretenimento afiado como a rapieira usada para esculpir o Z nos corpos dos inimigos.
É ao som de The Best Summer of My Life, do compositor Graham Reynolds, que Antes da Meia-Noite se desenrola pelos seus 108 minutos. Com idas e vindas da canção ao longo do filme, o último capítulo da trilogia Antes – dirigida por Richard Linklater – dá, logo no seu início, o tom de como serão os próximos momentos vividos por Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). Lançado em 2013, Before Midnight tem a difícil tarefa de superar ou, pelo menos, se equiparar ao nível de seus antecessores Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr do Sol (2004).
“Estou escrevendo para você de dentro de um corpo que era teu. O que é o mesmo que dizer: estou escrevendo como um filho.”
Nas primeiras páginas de Sobre a terra somos belos por um instante, o autor Ocean Vuong constrói sua posição durante toda a narrativa na tentativa de se refazer, se ver e perdoar por meio da alteridade de uma comunicação ao mesmo tempo concreta e hipotética. Através do resgate analítico da memória e da apresentação do ambiente, Vuong, chamado de Cachorrinho pela avó, escreve cartas para sua mãe, analfabeta funcional, revisitando episódios da infância no Vietnã e de sua adolescência nos Estados Unidos.
Colonialismo, maternidade, identidade, sexualidade, violência e luto são os pilares do livro, cujos episódios de trauma rememorados traçam um caminho linear para o entendimento da história de três gerações da família do escritor,e as complexidades recalcadas de pessoas estruturadas em meio à guerra, ao preconceito, ao refúgio e à vulnerabilidade.
Começando pelas memórias quando criança em um Vietnã desestabilizado pela guerra, Cachorrinho – a maneira que Vuong também se retrata em sua escrita – inicia o romance relembrando das primeiras vezes em que sua mãe foi violenta com ele. No acesso à infância, o escritor lembra alguns momentos em que ensina a matriarca a escrever, reproduzindo o que aprendeu naquele dia no jardim de infância. Esse é o momento em que a vulnerabilidade de quem o cria é escancarada para ele e que percebe que possui o que ela precisa para resolver esse problema. De uma forma sutil e perturbadora, esse episódio demonstra a maneira que o autor consegue colocar os dois se olhando do mesmo lugar.
“Você é uma mãe, Mãe. Você também é um monstro. Mas eu também sou – e é por isso que eu não posso me afastar de você. E é por isso que eu peguei a mais solitária criação de deus e te coloquei dentro dela.”
Passando pela situação de refugiado quando criança, em um paralelo sensível com o nascimento e morte de sua avó – entre o Vietnã e Estado Unidos –, a narrativa se torna mais política e identitária. A partir do momento que Cachorrinho conta a história das mulheres que o criaram, frutos de um estupro de guerra, nada segue sem que pautas sociais sejam colocadas de forma explícita, no entanto, nunca deixando com que a poética fique em segundo plano. Assim, Vuong cria uma atmosfera sólida de questionamento, ao mesmo tempo que deixa claro as complexidades subjetivas geradas a partir desses contextos, e quão decisivas são essas condições para que ele seja ele mesmo, a mãe seja a mãe e o país seja o país.
Chegando aos Estados Unidos, na casa de seu pai com quem nunca conviveu, o escritor tem um espaço para descobrir e explorar sua sexualidade (atualmente se identifica como uma pessoa queer). No livro, Vuong relata suas primeiras experiências com um homem pobre como ele, porém branco: Trevor, a única pessoa com quem ele realmente desenvolve uma relação além de sua mãe e avó. De uma forma totalmente analítica, o escritor apresenta todas as fases dessa relação, passando pelo estranhamento, o escatológico, as drogas, o entendimento, a identidade, o amor e a morte. Cachorrinho pôde conhecer a vulnerabilidade e a violência do amor e de uma relação que requer um entendimento político, social, subjetivo e identitário que não foi apresentado a nenhum dos dois, tornando tudo mais difícil e mais intenso na mesma medida.
O resgate da memória nas passagens da infância no meio da narrativa linear da história do Cachorrinho é o traço mais analítico de Sobre a Terra Somos Belos por um Instante. Ocean Vuong usa a escrita como ferramenta de articulação e busca, narrando sempre em primeira pessoa e, diretamente com a sua mãe, faz com que o objetivo de suas cartas nunca seja esquecido: dizer que se é. As coisas mais duras são lembradas de um jeito poético e grotesco, e quase sempre seguidas de uma imagem que bate de frente com a beleza apresentada de forma visual pela escrita.
“Uma vez você me perguntou o que é ser um escritor. Então vamos lá. Sete dos meus amigos estão mortos. Quatro de overdose.”
Cachorrinho tem acesso ao significado social de sua existência a partir do momento em que começa a reunir os episódios traumáticos de sua vida e colocá-los em uma posição de questionamento: ser um homem vietnamita refugiado, queer, adicto e pobre nos Estados Unidos significa algo. Além disso,as pessoas em volta dele fazem parte desse significado e a escrita tem o papel de síntese de sua própria vida. É como se, caso não fosse um escritor, Vuong jamais poderia contar quem é a ninguém, nem mesmo a sua mãe.
A busca pela identidade nunca acaba, mas toma um outro caráter. Depois que Cachorrinho entende sua existência, quem sua mãe e sua avó foram, e quem seu novo país abriga, o fluxo se torna outro e assume uma calma assustada de quem sabe que seu lugar está predefinido. Então, a subjetividade assume, mais que nunca, o papel de resgate do que nunca foi dado e uma possibilidade de se reconhecer no mundo. A escrita é o que salva: é o que salvou Cachorrinho de sua relação com sua mãe, que termina o livro rindo enquanto se lembra.
“Porque o pôr do sol, assim como a sobrevivência, existe apenas à beira de seu desaparecimento. Para ser belo, você primeiro precisa ser visto, mas ser visto sempre permite que você seja caçado.”
Há 5 anos, Debbie Ocean (Sandra Bullock) disse: “Se for ele é notado, se for ela é ignorada. E, pela primeira vez, queremos ser ignoradas”. Em Oito Mulheres e um Segredo, requel da sequência de filmes Onze Homens e um Segredo, a fala é a explicação do porque a criminosa deseja apenas mulheres em seu time para roubar um colar de diamantes de US$150 milhões durante o prestigioso Met Gala em Nova York. Para além disso, é uma declaração de que não se trata apenas de uma versão feminina do longa original, aqui, ser mulher é essencial para que o plano dê certo.
AIR: A História Por Trás do Logo não é sobre o homem que voava nas quadras e sim sobre as asas dele – ou melhor: como as asas do homem que podia voar se tornaram o que são hoje. Baseado em fatos reais, a produção do Amazon Prime Video conta a história dos Air Jordan, tênis que viraram referência no basquete. No entanto, a obra não foca no esporte ou na carreira de Michael Jordan, mas opta por protagonizar os homens que fizeram uma parceria quase improvável acontecer, dando destaque ao ambiente corporativo que presenciou a mudança do marketing esportivo. Entre acordos e cadarços, o filme é uma agradável surpresa para o público.
Aviso: o texto contém alguns spoilers da maior série da atualidade
Guilherme Veiga
Peças brancas. Bispo em C4, dama em H8, posteriormente em A8, depois em A4, peão em F4, rei em C1, finalizando com dama em A7. Essa foi a sequência final de Garry Kasparov, que culminou na desistência de Veselin Topalov, naquela que ficou conhecida como A Imortal, uma das partidas mais brilhantes da história do xadrez, que ocorreu em um campeonato na Holanda, em 1999.
O esporte, símbolo do elitismo e da estratégia, não é acessível à maioria dos públicos, principalmente por conta de sua complexidade. Porém, recentemente, a também imortal Succession foi responsável por emular o xadrez em sua magnitude para as telas. Nesse tabuleiro televisivo, as coordenadas são um pouco diferentes. “L em OG/ Dude be the OG/ A-N…” foram algumas das jogadas, e a produção da HBO jogou como a profissional que é e, em quatro temporadas, entregou uma das maiores obras-primas da história da Televisão.