Não há paz em Oslo

Cena de Oslo. Nela vemos Andrew Scott. Um homem branco, de cabelos lisos e pretos. Ele está sentado, veste um paletó cinza, camisa branca e gravata azul. À direita está o ombro e a cabeça desfocada de outro homem. Ao fundo vemos caixas de plástico. A imagem tem um filtro amarelo.
Lançado em maio, Oslo concorre a duas categorias no Emmy 2021 (Foto: HBO)

Ana Júlia Trevisan

Oslo é a capital na Noruega, além de ser a maior cidade do país. Revelando sua importância, o município é centro cultural, científico, econômico e governamental dos noruegueses. Com um dos maiores custos de vida, mas também um dos melhores lugares para se viver, Oslo é o palco do filme de mesmo nome que traz Mona Juul (Ruth Wilson) e Terje Rød-Larsen (Andrew Scott) com um heroico casal de diplomatas ajudando nas negociações dos Acordos de Paz em 1993. 

O conflito entre judeus e Palestina perdura há décadas, entretanto foi após a Segunda Guerra Mundial, juntamente com a propagação do antissemitismo, que as divergências se intensificaram. O extermínio dos judeus pelos nazistas, levou muitas famílias a imigrarem para a Palestina, fortalecendo o movimento sionista que se consumou, em 1948, com a criação do Estado de Israel.

Em 1993, líderes de Israel e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se reuniram na capital da Noruega para negociar os Acordos de Paz de Oslo. Entre muitas tentativas de cessar fogo, o plano apostou em diálogos entre os representantes para, eventualmente, alcançar o resultado esperado. O filme se inicia nesse ponto, toda essa breve introdução é história, e conhecer o básico, ajudará a entender o recorte temporal da trama, escolhido pelo diretor Bartlett Sher, que adaptou a peça teatral de mesmo nome, para as telas da HBO

Cena do filme Oslo. Na cena, vemos os personagens principais agachados ao lado de um carro cor de creme. Ao fundo, está uma mulher segurando uma criança no colo, e fugindo daquele ambiente. Está de dia e a cena reflete um ar de guerra e caos, com os personagens, dois atores brancos e adultos, aflitos. Ruth Wilson está agachada, veste roupas claras e sapatos marrons Seu cabelo é castanho escuro e na altura dos ombros. Andrew Scott tem cabelos pretos, usa terno cinza e sapatos marrons.
Após contracenarem em His Dark Materials, Andrew Scott e Ruth Wilson se reencontram em Oslo (Foto: HBO)

Diferente de tudo que possa ser imaginado sobre o filme, Oslo não traz grandes discussões ou brigas entre inimigos mortais, apenas meras trocas de farpas. Pelo ponto de vista de Mona e Terje é que a história se manifesta, diferenciando o telefilme dramático de um documentário. Os diplomatas são construídos de maneira humanizada, com seus cansaços, fraquezas e suas sensibilidades. É o casal que rouba a cena da produção, após verem a olho nu a destruição na Faixa de Gaza. Tidos como quase-heróis, são eles que organizam os representantes e o local das negociações – o próprio governo norueguês não sabe na integra todas as movimentações.

As negociações acontecem a portas trancadas por sete chaves. O telespectador quase não tem acesso aos diálogos que podem mudar o rumo do conflito, já Mona e Terje tem acesso negado para garantir a neutralidade do Acordo. Nas cenas do ambiente externo, enquanto tudo está sendo encaminhado a passos lentos, a mão da produção pesa para gritarem que Oslo é um filme sobre o Oriente Médio. A forte iluminação, extremamente amarelada, típica de qualquer cenário que fuja da Europa ou dos EUA, faz a vista doer, reiterando a sensação de heroísmo das protagonistas. 

Cena de Oslo. Ao centro está Andrew Scott. Ele veste roupa social esverdeada, camisa branca e gravata vermelha. Sua mãos estão juntas. À esquerda está um homem branco, com cabelos e bigode preto. Ele veste roupa social preta, camisa bege e gravata marrom. Na sua mão direita há uma maleta laranja. À direita de Andrew Scott está um homem branco e careca. Ele veste roupa social preta, camisa azul clara e gravata verde. Na sua mão esquerda há uma maleta preta. O fundo é uma parede cheia de livros.
Por mais um ano, Andrew Scott bate na trave e seu nome não aparece na lista de indicados ao Emmy (Foto: HBO)

Lançado em maio, Oslo concorre a duas categorias no Emmy 2021, o Oscar da TV. Ele é mais uma produção para a conta da HBO, que lidera as indicações desse ano. Caso o filme ganhe, a HBO continua com título de Melhor Telefilme que, até então, está nas mãos de Bad Education, protagonizada por Hugh Jackman. Mas a pedra no sapato do streaming pode ser seu concorrente Amazon Prime Video, que vem forte na disputa com Sylvie’s Love e Uncle Frank.

Na categoria de Melhor Composição Musical em Série Limitada ou Antologia ou Telefilme ou Especial (Trilha Dramática Original), quem assina a composição da trilha sonora de Oslo é Jeff Russo e Zoë Keating. O nome de Russo aparece mais uma vez na lista de indicados da mesma, a dobradinha acontece pela trilha de Fargo, que já lhe rendeu um Emmy em 2017. Na área da produção executiva, quem dá o nome é Marc Platt. Conhecido no Tony Awards por Dear Evan Hansen e Wicked, Platt já faturou o Emmy nos anos de 2016 e 2018

Oslo peca na tecla que mais bate: a neutralidade. O falso equilíbrio do filme humaniza apenas os seus protagonistas, colocando as demais figuras políticas num cenário descontextualizado. Mesmo com a imponência dos Estados Unidos nas discussões sendo mostrada, o longa não deixa de ser uma visão ocidental da crise. O subir dos créditos é um dos pontos altos; Oslo não se encerra de maneira leviana, trazendo dados e cenas reais dos acontecimentos que precedem o Acordo. Quem dera se o mesmo tivesse sido feito no início.

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