Eu Era um Homem Comum: morrer é tão difícil quanto viver

Cena do filme Eu Era um Homem Comum. A imagem mostra um homem idoso descendente de japoneses deitado em uma cama, de olhos abertos. Ele tem cabelos grisalhos na altura dos ombros. Ele tem bigode. Há uma mulher do seu lado direito, sussurrando em seu ouvido. Ela é descendente de chineses. Ela tem cabelos pretos e usa uma flor como adereço no cabelo.
Exibido no Festival de Sundance, Eu Era um Homem Comum está presente na seleção da 45ª Mostra de São Paulo (Foto: Flies Collective/Island Film Group)

Jho Brunhara

Em uma pequena casa simples no Havaí, somos introduzidos à uma vida de memórias, recheadas de significados familiares e culturais. Eu Era um Homem Comum repete diversas vezes ao longo de seus cem minutos a frase “morrer não é simples, não é?”, e enquanto faz uma conexão direta com o título original (I Was a Simple Man) e o principal tema do filme – a morte –, também se conecta indiretamente com os eventos realmente relevantes para a obra: as lembranças complexas de uma vida. O segundo longa de Christopher Makoto Yogi foi exibido na seção Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

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Só restam cinzas após A Noite do Fogo

Cena do filme A Noite do Fogo. Três meninas, de aparentemente 8 anos, estão do lado uma da outra, enquadradas do peito para cima e de frente para a câmera. A primeira tem a pele mais escura, cabelos escuros compridos e usa uma camiseta amarela. Ela está com o dedo nos lábios. A segunda tem a pele mais clara, tem os cabelos escuros presos e usa uma camisa branca com um coração e um colar. A última é mais alta que as outras duas, também tem a pele clara e os cabelos escuros presos. Ela usa uma blusa vermelha com o número 23 e mangas compridas, e olha em direção ao chão.
O trio de protagonistas mirins de A Noite do Fogo são um show à parte dentro da seção Perspectiva Internacional da Mostra de SP (Foto: Vitrine Filmes)

Caroline Campos

“Agora vamos deixar você feia, minha mãe disse”. As primeiras palavras do livro de Jennifer Clement, Reze pelas mulheres roubadas, são marcadas pela dor – e é exatamente nesse sentimento que a livre adaptação cinematográfica de Tatiana Huezo se pauta. A Noite do Fogo, presença fortíssima na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é um filme de muitas cicatrizes, todas elas compondo a grande ferida aberta e pulsante de cores e dores que é a América Latina.

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Por que buscamos a Memoria?

Cena do filme Memoria. A foto mostra Jessica, uma mulher branca, de cabelo ruivo-escuro, vestindo camisa clara e calça jeans.Ela está sentada em uma cama bagunçada, em um quarto com mobília e quadros antigos e paredes brancas. Uma luz branca forte emana da janela.
Memoria está sendo exibido na seção Perspectiva Internacional da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: MUBI)

João Batista Signorelli 

Todas as memórias são imperfeitas, incompletas, limitadas. Um som, um gesto, uma visão, tudo se dissolve passado o seu momento de existir, e sobrevivem apenas em uma reconstituição nebulosa registrada em nossa mente. Uma memória pode não traduzir com exatidão os eventos vivenciados por um indivíduo, o que não quer dizer em nenhuma hipótese que ela é sem significado. As lembranças representam ideias que, muitas vezes, não somos capazes de traduzir em linguagem, mas que, ainda assim, sentimos, e sentindo sabemos que aquilo é significativo. Do mesmo modo que uma memória paira em nossa mente, Memoria, exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é uma obra enigmática e impossível de ser descrita com precisão, mas que, talvez por isso mesmo, está repleta de significados. 

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Uma década depois, toda a magia de Once Upon a Time veio com um preço

Capa retangular da série Once Upon a Time. O cenário é uma floresta sombria, com árvores de troncos finos e altos. Ao fundo, sai uma luz azulada clara iluminando o título em letras maiúsculas, ao centro, em prata. A palavra Once está no meio, Upon a está dentro da letra C e Time substitui o traço do meio da letra E.
Os criadores Adam Horowitz e Edward Kitsis escreveram a série em 2004 antes de fazerem parte da equipe de roteiro de Lost, mas só depois da finalização deste seriado que eles se dedicaram ao primeiro projeto (Foto: ABC)

Júlia Paes de Arruda

Em 2011, Once Upon a Time trazia uma premissa em efervescência: a retomada dos contos clássicos. Conhecidas histórias ganharam remakes, como A Garota de Capa Vermelha e A Fera. O clima era promissor para que seu sucesso alavancasse e, sem dúvidas, foi essencial para a constituição das demais temporadas. Porém, como tudo que é bom dura pouco, a ganância falou mais alto, e a série, que já dava indícios de tribulações, viu seu fiasco bater na porta. É por isso que, após 10 anos, lembrar de Era Uma Vez é um misto de tristeza com felicidade. 

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Sob o olhar ingênuo de uma criança, Luca é uma aventura na diversidade

Três crianças montadas em uma Vespa verde-água. A primeira é Alberto, garoto de pele parda, cabelo enrolado com um topete, olhos verdes dentes amostras em um sorriso destemido, camisa regata amarela. Atrás está Luca, garoto de pele branca, cabelos ondulados castanho escuro, olhos castanhos claros, expressão feliz, com a cabeça levemente inclinada para trás, camisa social branca com a manga dobrada, e segurando em Alberto. E atrás de Luca está Giulia, garota branca, de cabelos ondulados na altura dos ombros ruivos, com uma touca azul, olhos castanhos, expressão de animação, com uma blusa listrada de laranja e branca, e com as mão levantadas. No fundo, uma ladeira de pedra e a cidade de Portoroso.
O diretor do filme participou de Viva: A Vida é uma Festa (2017) e do subestimado Robôs (2005), no departamento de arte [Foto: Pixar Animation Studios]
Pedro Gabriel

A Pixar é muito conhecida por suas obras carregadas de mensagens profundas, e por sua tentativa de explicação de conceitos complexos para crianças. Durante os 35 anos de existência da empresa, eles trataram sobre depressão em Divertida Mente (2015), amadurecimento nos quatro filmes de Toy Story, o luto em Dois Irmãos (2020) e até o sentido da vida em Soul (2020). Parecia que a aventura era um bônus na história. Mas, eis que surge Luca, em junho de 2021, e os papéis se invertem. A mensagem está lá, mas não é o foco principal.

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Corte de Chamas Prateadas nos mostra o que há de mais humano em personagens mágicos

Foto do livro Corte De Chamas Prateadas, em sua versão original. Em uma superfície branca e lisa, o livro cinza esta apoiado. Na capa há um desenho laranja de uma mascará que segue até a parte de trás. No canto superior até o centro da capa está escrito, em letras brancas, " A Court Of Silver Flames". No canto inferior, também em branco, está o texto 'Sarah J. Maas #1 New York Times bestselling author".
Sarah J. Maas finalmente publica o tão esperado Corte De Chamas Prateadas (Foto: Bloomsbury)

Mariana Chagas

Em maio de 2015, Sarah J. Maas apresentou o começo de sua saga Corte de Espinhos e Rosas. Com um universo mágico cheio de personagens fascinantes  e romances abrasadores, a escritora conquistou um público gigante no mundo todo. A história se tornou a queridinha dos leitores de fantasia e hoje é difícil um bookstan nunca ter, pelo menos, ouvido falar dela. Anos depois de ter lançado o final da trilogia principal, a autora nos leva de volta para Prythian, em uma sequência que, não apenas fez justiça aos livros anteriores, como também conseguiu superar todos eles.

Desde que as irmãs Archeron voltaram à cena no final de Corte de Névoa e Fúria, Sarah já sabia que, em suas histórias, ainda havia muito para ser contado. A escritora comentou diversas vezes sobre o seu apego emocional por Nestha Archeron, e escolheu a feérica-ex-humana para nos guiar em Corte de Chamas Prateadas. Com bastante presença dos personagens já conhecidos e aparição de novas figuras, Sarah discute as questões mais profundas de cada um e nos presenteia com uma obra linda sobre saúde mental e superação.

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Skyward: uma jornada arrebatadora pelas estrelas

Ilustração de capa do livro Skyward. No centro da ilustração vemos uma garota de cabelos soltos, de costas e olhando para o céu. Ao redor, há vários destroços de espaçonave. Mais acima uma nave corta os céus, deixando um rastro branco, rumo a um céu estrelado. Toda a ilustração é composta por tons diferentes de cinza e preto.
“Conquiste as estrelas, Spensa” (Foto: Reprodução)

Beatriz Sabino

Brandon Sanderson, autor da renomada série de livros Mistborn, surpreendeu o público mais uma vez trazendo uma space-opera com protagonismo feminino jovem, muitos alienígenas, frases históricas e guerras no espaço. Skyward é seu livro de estreia nesse subgênero da ficção científica que marcou gerações, tendo como exemplo: Star Wars, Duna (livro de Frank Herbert) e a mãe da fanzine: Star Trek. Geralmente, essas obras possuem batalhas espaciais épicas que ignoram as leis da física, jornadas a inúmeros planetas exóticos, alienígenas parecidos com os seres humanos e, claro, um protagonista invencível. Mesmo fazendo parte desse grupo de histórias, a narrativa de Sanderson tem um pouco menos opera, e mais space.

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Supernatural entrega a última missão dos irmãos Winchester

Imagem de Sam, Dean e Jack. Dean, cabelos castanhos, está vestindo uma camisa preta lisa com mangas dobradas e uma calça jeans. Sam, cabelos castanhos, veste uma camisa vinho com listras pretas com mangas dobradas e calça jeans. Jack, cabelos castanhos mais claros, está vestindo um moletom azul com faixas brancas nas mangas, na base e na gola e calça jeans. Eles estão em um ambiente com paredes de tijolos claros, há uma estante com livros e um conjunto de espadas samurais atrás deles. Há uma poltrona marrom de couro ao lado direito da estante e na frente deles, em primeiro plano há uma mesa de madeira com duas cadeiras e um abajur. Sam e Jack estão se olhando. Sam está com uma das mão apoiadas no ombro dele que tem as mãos cruzadas em frente ao corpo. Dean está mais atrás olhando para os dois.
Em Supernatural, a família é o laço mais forte que existe (Foto: Reprodução)

Letícia Depiro

Sam (Jared Padalecki) e Dean (Jensen Ackles) Winchester são filhos de uma tragédia. Após a misteriosa morte de Mary (Samantha Smith), o pai dos garotos passa a buscar vingança contra as forças do Mal que mataram sua esposa. Vinte anos depois, Sam, que parece determinado a não seguir os negócios da família, não vê outra escolha a não ser se juntar a seu irmão na jornada em busca de seu pai John (Jeffrey Dean Morgan), que está desaparecido, dando início ao primeiro ano de Supernatural.

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Dark é um marco temporal

A última temporada da produção alemã se consagra como a melhor original da Netflix (Foto: Netflix)

Vitória Silva 

O começo é o fim….

Um dos primeiros contatos do cinema com viagem no tempo foi na trilogia De Volta Para O Futuro, lançada em 1985, e, com o passar do tempo, novas produções como Efeito Borboleta, Donnie Darko e Vingadores: Ultimato foram surgindo. Essa temática pode ser considerada um dos assuntos mais utilizados em produções de ficção científica.  Apesar das diferentes abordagens, a reviravolta em grande parte das narrativas parece ser sempre a mesma: provocar alterações no passado geram consequências no futuro. E, por muito tempo, pode ter se pensado que essa era uma das únicas maneiras de se criar histórias sobre viagem no tempo, até o surgimento de Dark.

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