Eu Era um Homem Comum: morrer é tão difícil quanto viver

Cena do filme Eu Era um Homem Comum. A imagem mostra um homem idoso descendente de japoneses deitado em uma cama, de olhos abertos. Ele tem cabelos grisalhos na altura dos ombros. Ele tem bigode. Há uma mulher do seu lado direito, sussurrando em seu ouvido. Ela é descendente de chineses. Ela tem cabelos pretos e usa uma flor como adereço no cabelo.
Exibido no Festival de Sundance, Eu Era um Homem Comum está presente na seleção da 45ª Mostra de São Paulo (Foto: Flies Collective/Island Film Group)

Jho Brunhara

Em uma pequena casa simples no Havaí, somos introduzidos à uma vida de memórias, recheadas de significados familiares e culturais. Eu Era um Homem Comum repete diversas vezes ao longo de seus cem minutos a frase “morrer não é simples, não é?”, e enquanto faz uma conexão direta com o título original (I Was a Simple Man) e o principal tema do filme – a morte –, também se conecta indiretamente com os eventos realmente relevantes para a obra: as lembranças complexas de uma vida. O segundo longa de Christopher Makoto Yogi foi exibido na seção Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. 

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Do Not Split: a liberdade de expressão agoniza em Hong Kong

Cena do curta Do Not Split. Ao centro, vemos um grupo de policiais prendendo um manifestante honconguês. O manifestante está sendo segurado por um homem de boné com um mata leão. Pessoas em volta estão gravando a cena utilizando celulares.
Do Not Split está indicado ao Oscar 2021 na categoria Melhor Documentário em Curta-Metragem (Foto: Field of Vision)

Jho Brunhara

Poder e território estão atrelados desde que o primeiro homem cercou um pedaço de terra e chamou de seu. Em meu texto mais recente publicado no Persona, discuti sobre os problemas que o nacionalismo gera. Coincidentemente, Do Not Split (不割席) é mais uma produção que retrata perfeitamente os perigos de nações soberanas e minorias execradas. Nesse documentário em forma de curta-metragem dirigido pelo norueguês Anders Hammer e produzido pela americana Charlotte Cook, acompanhamos os protestos de Hong Kong de 2019 e 2020 contra a tentativa de criação de uma Lei de Extradição entre a ilha e a China continental, que ameaçaria a autonomia e liberdade jurídica honconguesa. 

Eventualmente, as manifestações evoluíram para o lema “cinco demandas, nenhuma a menos”: retirar completamente o projeto da Lei de Extradição; não caracterizar os protestos como motins; retirar acusações contra manifestantes que foram presos; organizar uma comissão independente para investigar abuso de força policial; e a renúncia de Carrie Lam, atual chefe executiva, e a implementação de um sufrágio universal para eleição do Conselho Legislativo e chefe executivo.

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De fã para Mestre: 5 anos dos aprendizados de Kung Fu Panda 3

Cartaz de divulgação do filme Kung Fu Panda 3. Na imagem, o personagem Po está ao meio segurando um bambu. Ao lado direito de Po temos os personagens Mestre Shifu, a Garça e Li, pai de Po. Ao lado esquerdo temos as personagens Tigresa e a panda Mei Mei. Ao fundo, cenário de natureza puxando para tons de cinza e azul com árvores, montanhas e cachoeiras no estilo chinês.
Kung Fu Panda 3 estreou em janeiro de 2016 com orçamento de US$ 145 milhões (Foto: Reprodução)

Geovana Arruda

Sabe aquele sonho de todo fã: conhecer seu ídolo, se tornar amigo dele, ficar horas e horas imaginando os momentos que viveriam juntos? O panda mais cativante do cinema fecha a trilogia de filmes sendo a demonstração fiel de um verdadeiro fã. Mesmo após 5 anos, Kung Fu Panda 3 consegue representar tão bem o sentimento que temos quando algo bom acontece, e nos sabotamos pensando “eu? um mero mortal?”.

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E continuaremos Nadando Até o Mar se Tornar Azul

Cena do capítulo 16 – Colheita, presente na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Caroline Campos

A memória de um país só existe através da memória de seu povo. Pelas lembranças e histórias que são passadas de geração para geração, um país vai se construindo culturalmente. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Nadando Até o Mar se Tornar Azul entende e homenageia a importância de seus relatos geracionais na composição da China, país de origem do consagrado diretor Jia Zhangke – que, também, criou o pôster oficial do festival deste ano. O documentário pertence à seção Perspectiva Internacional e, ao longo de seus 111 minutos, nos aproxima da cultura chinesa e sua história.

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Coronation é o pesadelo coletivo do qual todo indivíduo gostaria de acordar

O documentário proporciona um mergulho aos bastidores esterilizados do hospital de campanha em Wuhan (Foto: Divulgação Imprensa)

João Batista Signorelli

Caso você não tenha prestado atenção às notícias dos últimos dez meses, ou se o isolamento social já lhe era regra antes de 2020, é importante saber que o mundo vive um momento bastante delicado de sua história: uma pandemia global. Nesse contexto de grande impacto a todos os continentes, o documentário Coronation, dirigido pelo artista multifacetado Ai Weiwei, tem sua estreia no Brasil como Apresentação Especial durante a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nele, Weiwei traz um olhar singular para a experiência de indivíduos durante os primeiros meses da pandemia em Wuhan, além de mergulhar nos bastidores do combate ao vírus, tecendo uma crítica ousada ao governo chinês.

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Caminhando Contra o Vento é como a nossa juventude vive a vida

A ficção chinesa é parte da seleção da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e baseia-se na história do próprio diretor e roteirista (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

É impossível ler o título desse filme sem cantá-lo no ritmo de Alegria, Alegria. Quem traduziu o nome da produção chinesa para o português brasileiro com certeza se ligou na semelhança enorme que o enredo de Caminhando Contra o Vento (Ye Ma Fen Zong, no original) tem com o sucesso da MPB. O filme, que integra a Competição Novos Diretores da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, se fundamenta num protagonista perdido na vida, divertidamente irresponsável que só quer aproveitar sua juventude e liberdade, assim como o eu-lírico da canção.

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