A 2ª temporada de Alice in Borderland bagunça o baralho e guarda uma carta na manga

Cena da série Alice in Borderland. Da esquerda para a direita na imagem, as personagens Ann Rizuna, Hikari Kuina, Yuzuha Usagi e Ryōhei Arisu estão escondidos em meio a uma batalha contra o Rei de Espadas. Rizoma, Kuina e Usagi são mulheres asiáticas de cabelos e olhos escuros. Arisu é um homem asiático de cabelos e olhos escuros. A câmera captura todos agachados. Ann Rizoma veste uma camiseta de botões sem mangas na cor branca e shorts e botas na cor preta. Ela segura uma pistola. Hikari Kuina veste um sutiã azul, um colar, uma calça jeans azul com cinto e tênis na cor branca. Yuzuha Usagi veste uma regata de cor vermelha com legging e tênis na cor preta. Ryōhei Arisu veste uma camiseta branca, calça jeans azul e tênis na cor branca. Ele segura uma arma. O cenário é um estabelecimento acometido pela passagem do tempo e o avanço da natureza verde.
Em poucas horas de lançamento, a 2ª temporada de Alice in Borderland alcançou o topo do Top 10 da Netflix (Foto: Netflix)

Nathalia Tetzner e Thuani Barbosa

Inspirada no mangá de mesmo nome, Alice in Borderland retorna ainda mais brutal em sua 2ª temporada. Dirigida por Shinsuke Sato, a trama persegue os protagonistas Ryōhei Arisu (Kento Yamazaki) e Yuzuha Usagi (Tao Tsuchiya) em uma Tóquio apocalíptica e repleta de jogos mortais, criados a partir dos naipes de Reis e Rainhas de um jogo de mesa. A criatividade para executar a sequência dos desafios é surpreendente, além de muito fiel à obra original, agregando valor sentimental para os fãs que acompanham a saga dessa Alice distópica. Sem medo de jogar com quem assiste, a série da Netflix bagunça o baralho e guarda uma carta na manga. 

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Em Estado elétrico, Simon Stålenhag ilustra um apocalipse contemporâneo

Estado elétrico, graphic novel de Simon Stålenhag, está em adaptação para os cinemas pela Netflix (Foto: Companhia das Letras/Quadrinhos na Cia/Arte: Bruno Andrade)

Bruno Andrade

Somos rostos em meio à multidão, mas dificilmente pensamos naquilo que torna a multidão real. Sistemas de armas termonucleares coexistem com comerciais de refrigerante em um ambiente dominado pela publicidade, no qual é possível enxergar apenas pequenas frações de uma realidade mais ampla, dominada pelo inalcançável. Na tentativa de reunir o maior número de consumidores sob as armas da especulação, da alienação e de tudo que o dinheiro pode comprar, os donos do poder tecnológico resumem a grande trama neoliberal da contemporaneidade: tentar concentrar o máximo de atenção e especulação às empresas, às redes sociais e aos produtos. É sob esse contexto que Estado elétrico (2017), de Simon Stålenhag – lançado no Brasil em Maio deste ano pelo selo Quadrinhos na Cia da Companhia das Letras, sob tradução de Daniel Galera – ganha novos e assustadores contornos.

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A morte é corporativa em Plano 75

Com uma menção especial do prêmio Camera d’Or na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes, Plano 75 integrou a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Loaded Films)

Bruno Andrade

Em um Japão não muito distante, na tentativa de lidar com o envelhecimento da sociedade e aliviar o sufocamento econômico promovido pela política neoliberal, é criado um programa que encoraja cidadãos idosos a serem voluntários de eutanásia. A política em torno do projeto é simples: encurtar institucionalmente a vida dessas pessoas, oferecendo uma recompensa de 100 mil ienes pelo sacrifício, que podem ser gastos livremente com o objetivo de fornecer o necessário para um “último desejo”. Esse é o enredo de Plano 75 (Plan 75), a distopia necropolítica dirigida e roteirizada por Chie Hayakawa, que integra a Competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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O fantasma da gentrificação assombra Distopia

Cena do documentário Distopia. A foto é uma captura de um dos trechos do filme Distopia. Quatro prédios amarelos — parte do conjunto habitacional do bairro do Aleixo — estão sendo demolidos. O prédio da direita cai em meio a fumaça, abaixo se encontram outras habitações e um terreno verde.
O documentário chega à Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo carregando o prêmio HBO Portugal para Melhor Filme da Competição Portuguesa no DocLisboa International Film Festival 2021 (Foto: Bando a Parte)

Enzo Caramori

Se a vida real, capturada em seu fluxo, for passível de ser ficcionalizada para ser compreendida, o documentário português Distopia (2021) é um filme de terror que desde seu início já desmascara os seus monstros. Representando Portugal no repertório da Perspectiva Internacional da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o filme introduz o fantasma da gentrificação como o motor dos desterramentos e demolições que atravessam a cidade do Porto, em um retrato de treze anos da vida dos bairros de Bacelo, Aleixo e Fontainhas. Dirigido por Tiago Afonso, a forma documental encontra sua força ao direcionar a câmera tanto aos sujeitos atravessados por essa desterritorialização quanto aos espaços e ruínas, o que constitui uma espécie de anti-documento nessa condição de filmar o que está na iminência de não mais existir.

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Medida Provisória: uma distopia iminente se anuncia

Cena do filme Medida Provisória. A foto exibe dois atores negros com olhares atentos em um ambiente noturno, cena de um momento de tensão do filme. À esquerda aparece o personagem Antônio, interpretado pelo ator Alfred Enoch. Ele é um rapaz alto, com cerca de 1,90 de altura, usa barba e cavanhaque e está encapuzado com uma jaqueta preta. Ao lado esquerdo da imagem temos o personagem André, interpretado pelo ator Seu Jorge. Ele é um pouco menor que Antônio, usa bigode e cavanhaque, carrega um colar por cima de uma jaqueta preta. Diferente de Antônio, André não veste um capuz.
Conduzido por uma direção inédita e uma trilha sonora composta por nomes como Elza Soares, Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Cartola e Liniker, Medida Provisória chega aos cinemas quebrando paradigmas, emocionando e alarmando para um futuro não tão distante (Foto: Elo Company)

Gabriel Gomes Santana

Em um Brasil distópico, mas não muito distante da presente realidade, resgatar as origens deixa de ser uma opção e passa a ser uma lei. É diante desse bizarro cenário que Medida Provisória, primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, se desenvolve e quebra recordes de bilheteria nacional. O filme trata de uma tragicomédia, que aborda o que há de pior em nosso jeitinho brasileiro de mascarar problemas profundos dos porões racistas e cordiais, nos quais Gilberto Freyre de maneira dualista e polêmica tanto criticou em Casa Grande e Senzala.

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Persona Entrevista: Anita Rocha da Silveira

Diretora de Medusa relembra o processo de produção do filme e comenta sobre a experiência no Festival de Cannes

Arte retangular horizontal de fundo vermelho. No lado esquerdo, foi adicionado o texto "PERSONA ENTREVISTA" na vertical, repetidas vezes. No centro, foi adicionada uma foto em preto e branco da diretora Anita Rocha da Silveira. No lado direito, foi adicionada uma imagem do poster de seu filme, Medusa, e acima, foi adicionado seu nome, "anita rocha da silveira".
Finalizando os trabalhos de cobertura da 45ª Mostra de Cinema em São Paulo, o Persona Entrevista recebe Anita Rocha da Silveira, diretora de Medusa (Foto: Reprodução/Arte: Jho Brunhara)

Caroline Campos e Vitor Evangelista

Em formato híbrido, a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo possibilitou oportunidades de ouro para a equipe do Persona. Entre cabines de imprensa de filmes com sonho de reconhecimento no Oscar e um esperado encontro presencial dos membros da Editoria, tivemos a oportunidade de não apenas conferir a vibração descomunal de Medusa, como também de entrevistar sua realizadora, a majestosa diretora Anita Rocha da Silveira.

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Era melhor quando o Amanhecer não chegava

Cena do filme Amanhecer. Na imagem, em uma paisagem montanhosa com uma gramado baixo e algumas árvores baixas espalhadas, vemos, ao centro, um homem branco, de cabelos lisos na altura do ombro, sem camisa e de calças jeans, sentado em uma cadeira de madeira e virado de costas para a câmera. Ao redor dele, vemos cadeiras de madeira idênticas à qual ele está sentado, caídas espalhadas pela grama.
Amanhecer se dividiu entre as salas de cinema e as exibições online da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na qual integrou a seção Perspectiva Internacional (Foto: Kinorama)

Vitória Lopes Gomez

De filmes que denunciam e encaram ataques à humanidade de frente a outros que se aprofundam nas consequências sociais e emocionais, os recorrentes conflitos no Leste Europeu acharam na Arte lugar para serem refletidos e relembrados. Amanhecer, coprodução entre Croácia e Itália dirigida por Dalibor Matanic, torce a abordagem dramática em uma distopia fantasiosa, estreando no Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, como parte da seção Perspectiva Internacional. Usando de simbologias, significados ocultos e muito mistério, o longa-metragem exibido no Festival de Karlovy Vary, tradicional do país de origem, imagina possibilidades a partir do passado croata.

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O outro lado do Mar Infinito atormenta uma geração

Cena do filme Mar Infinito. Na imagem, o personagem Miguel está debaixo d’água e conectado por um aparelho de oxigênio que sai do lado esquerdo da imagem. Ele é um homem branco de cabelos castanhos, está sem camisa e com o corpo e braços flutuando sozinhos, virado de lado. A máscara de oxigênio está presa no alto e lados de sua cabeça
Jorge Quintela fotografa um jovem abandonado pela própria espécie através de lentes precisamente calmas, na produção que integra a Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Nathália Mendes

Submerso nas águas de uma piscina qualquer, Pedro Miguel (Nuno Nolasco) abre os olhos e enxerga um azul sem fim. A vastidão do desconhecido é iluminada por feixes de luzes brilhantes vindas de um mundo acima do seu, enquanto as bolhas de seu oxigênio flutuam ao redor e ele só está ali, existindo. Não há como imaginar que esse momento é mais uma tentativa do protagonista em enfrentar sua aquafobia, mas sim que o mesmo estaria tão intrinsecamente conectado com a premissa de Mar Infinito. O longa estreou na Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo como um filme de ficção intergalático em que um jovem luta por um lugar com a humanidade fora do planeta, mas é, na verdade, a solidão de uma geração sem rumo, afogada por uma incerteza esmagadora.

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Fahrenheit 451: Alienação, ideologia e fogo

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Vitor Guatelli Portella

“Onde se lançam livros as chamas, acaba-se por queimar também os homens”.

A leitura é ferramenta mais poderosa de esclarecimento da humanidade. Livros são objetos de valor inestimável para uma sociedade. Um mundo sem livros é um mundo à mercê do supérfluo, da ignorância e da submissão. Somos formados pelo o que lemos, pelo o que nossos pais leram e pelo o que os pais de nossos pais leram. A emancipação vem da reflexão. Continue lendo “Fahrenheit 451: Alienação, ideologia e fogo”

O atual Admirável Mundo Novo de Huxley

João Pedro Pinheiro

Completaram-se, em 2016, os 75 anos da primeira edição brasileira (1941) de Admirável Mundo Novo, principal obra do escritor e visionário britânico Aldous Huxley, publicada inicialmente na Inglaterra, em 1931. E, embora escrito há mais de oito décadas, o livro continua surpreendendo com sua atualidade.

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