Pedregulhos e o poder silencioso dos oprimidos

Cena do filme Pedregulhos. A imagem mostra um homem e um menino, ambos indianos, em pé sobre um chão de areia, a uma certa distância um do outro. No fundo há uma pequena cabana com diversos produtos pendurados. O cenário é seco, mas com verde nas copas de algumas árvores.
Pedregulhos integra a Competição Novos Diretores da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Rowdy Pictures)

João Batista Signorelli

Um pai, um filho, e uma árida paisagem. Estes são os três protagonistas de Pedregulhos, longa indiano selecionado para representar o país na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, e que está em exibição na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O filme parte de um pai alcoólatra que retira o filho da escola, forçando-o a acompanhá-lo na procura da mãe, que fugiu de casa devido à violência doméstica sofrida pelas mãos do marido. 

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Mindhunter exterioriza os monstros que vivem dentro de nós

Cartaz da segunda temporada de Mindhunter. Na imagem, Bill e Holden estão de costas um para o outro. Bill está à esquerda e é um homem branco de meia idade com expressão rígida e cabelos cortados baixos. Holden está à direita e é um homem branco mais jovem, com cabelos bem penteados e curtos, e uma expressão dispersa. Ambos estão de terno. A imagem é em preto e branco.
O desempenho ruim na audiência da 2ª temporada de Mindhunter foi o motivo do desprezo da Netflix pela série, que segue ignorando o apelo dos fãs e divulgou em 14 de outubro outro projeto com David Fincher (Foto: Netflix)

Nathália Mendes

Mindhunter te faz um convite: sente-se à mesa com os protagonistas da série para entrevistar uma lista de criminosos repulsivos. A década de 70 nos Estados Unidos foi uma máquina de serial killers, mas a onda de horror causada por Ted Bundy, O Filho do Sam e BTK também foi acompanhada pelo fascínio. Da abominação por esses homens, houve a curiosidade e necessidade de entendê-los. O que pensaram para escolher aquela vítima e matar daquela forma? Por que todas as suas ações seguem um padrão meticuloso, específico, premeditado, mas as vítimas são estranhas? A série mostra os pioneiros em fazer essas perguntas cujas respostas são indigestas, na busca por traçar perfis de assassinos – um trabalho da vida real que revolucionou a Unidade de Ciência Comportamental do FBI. E mesmo assim, sem cancelamento ou continuação, a série está há 2 anos no limbo da Netflix.

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Quem tem medo de Jennifer Check?: Garota Infernal e o verdadeiro inimigo

Cena do filme Garota Infernal. Megan Fox, que interpreta Jennifer Check, é uma mulher branca, de olhos azuis e cabelos pretos. Jennifer é uma adolescente no colegial. Ela se olha no espelho de um armário azul marinho, típico dos colégios estadunidenses. O espelho é arredondado com strass prata e rosa em sua volta. Na lateral superior esquerda e na lateral inferior direita do espelho estão colados dois adesivos de desenhos orgânicos, também em rosa. Não se vê nada na cena além da vista do rosto de Jennifer refletido no espelho e o fundo azul marinho do armário.
Fracasso comercial, Garota Infernal pouco a pouco se restabeleceu como terror cult feminista (Foto: Fox/Dune Entertainment)

Ayra Mori

Se em 2009 Garota Infernal foi considerado um crasso fracasso, após uma década de seu lançamento o filme se restabeleceu como Terror cult feminista à frente de seu tempo. Escrito por Diablo Cody, dirigido por Karyn Kusama e protagonizado pela dupla Megan Fox e Amanda Seyfried, Garota Infernal é um estudo de caso sobre como um roteiro perspicaz, um enquadramento subversivo da câmera e personagens autoconscientes são capazes de transfigurar o olhar masculino predominante no gênero, pondo em foco a perspectiva feminina quanto às violações do corpo através de Jennifer e, bem, “O inferno é uma garota adolescente”.

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Os 5 anos de The Good Place nos deixam uma pergunta: o que devemos uns aos outros?

Cena da série The Good Place. A imagem mostra os seis personagens principais dentro de um balão, eles sorriem e olham para a câmera.
Seis narrativas diferentes que trazem uma história única (Foto: NBC)

Gina Zapparoli

Nunca é esperado que alguém tome notas de ações boas e ruins que fazemos durante o tempo em que as pessoas passam na Terra, correto? Talvez colar em uma prova importante a qual você queira muito passar ou comprar uma “mistura de margarita para mulheres solitárias” para passar o fim de semana não parecem ser opções tão ruins vez ou outra.

No entanto, The Good Place mostra que há sempre uma pessoa anotando seus erros e acertos e que, bem, isso poderá te dar uma futura dor de cabeça. A narrativa da série se baseia em como as decisões dos personagens principais Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil), Jason Mendoza (Manny Jacinto) e Chidi Anagonye (William Jackson Harper), por mais bobas que sejam, tragam grandes consequências para os mesmos.

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O outro lado do Mar Infinito atormenta uma geração

Cena do filme Mar Infinito. Na imagem, o personagem Miguel está debaixo d’água e conectado por um aparelho de oxigênio que sai do lado esquerdo da imagem. Ele é um homem branco de cabelos castanhos, está sem camisa e com o corpo e braços flutuando sozinhos, virado de lado. A máscara de oxigênio está presa no alto e lados de sua cabeça
Jorge Quintela fotografa um jovem abandonado pela própria espécie através de lentes precisamente calmas, na produção que integra a Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de São Paulo (Foto: Bando à Parte)

Nathália Mendes

Submerso nas águas de uma piscina qualquer, Pedro Miguel (Nuno Nolasco) abre os olhos e enxerga um azul sem fim. A vastidão do desconhecido é iluminada por feixes de luzes brilhantes vindas de um mundo acima do seu, enquanto as bolhas de seu oxigênio flutuam ao redor e ele só está ali, existindo. Não há como imaginar que esse momento é mais uma tentativa do protagonista em enfrentar sua aquafobia, mas sim que o mesmo estaria tão intrinsecamente conectado com a premissa de Mar Infinito. O longa estreou na Competição Novos Diretores na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo como um filme de ficção intergalático em que um jovem luta por um lugar com a humanidade fora do planeta, mas é, na verdade, a solidão de uma geração sem rumo, afogada por uma incerteza esmagadora.

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O medo em O Chamado de Cthulhu na verdade é uma sugestão

Capa do livro O Chamado de Cthulhu, pela editora Darkside Books. Foto quadrada, com o livro no centro. A capa é composta majoritariamente pela figura do monstro se levantando do oceano. A criatura posiciona-se de costas para o observador, estando visível principalmente suas asas e braço direito. A imagem possui tons brancos, cinzas e pretos que dão uma impressão de nevoeiro.
Uma das principais inspirações do autor ao escrever esse conto foi o poema O Kraken de Alfred Tennyson (Foto: Darkside Books)

Angelus Simões

O clima é de abóboras, doces e Terror. Outubro chega e traz com ele uma das datas mais aguardadas pelos amantes do gênero, o Halloween. E é impossível falar de cultura do Horror sem evocar o nome de Howard Phillips Lovecraft, contista de ficção de Terror e fundador de um novo gênero dessa mesma cultura, e autor de O Chamado de Cthulhu.

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Lavoura Arcaica: tradições podem destruir uma família

Cena do filme Lavoura Arcaica em que aparece toda a família sentada à mesa, com quatro membros de cada lado e o pai ao centro como o patriarca.
20 anos depois de seu lançamento, os simbolismos familiares de Lavoura Arcaica permanecem fortes (Foto: Núcleo Luiz Fernando Carvalho)

Gabriel Gatti

Toda família se constrói em cima de tradições e costumes passados de geração em geração. Muitos desses hábitos sofrem modificações conforme os tempos avançam, mas em alguns casos há resistência daqueles cegados pelas crenças pavimentadas em sua mente. Essa relação familiar complicada é o que motiva André (Selton Mello) a abandonar o lar e partir rumo ao desconhecido em busca daquilo que realmente acredita. A premissa de Lavoura Arcaica se desenvolve em uma trama complexa e profunda durante 2 horas e 43 minutos de filme.

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Ceremonials: há uma década, Florence exorcizava seus demônios e dançava com eles

Ensaio para promoção do álbum Ceremonials. Fotografia retangular em fundo preto. No centro, está Florence acompanhada de dois de seus reflexos em cada lado como se estivessem de costas uma para outra. Uma mulher branca de cabelos ruivos. Ela veste um vestido de gala coberto de esmeraldas. Florence segura seu cotovelo direito com a mão esquerda, enquanto a mão direita está sobre seu peito na altura do coração.
Após sucesso de disco de estreia, Florence vê em um trabalho grandioso a chance de se consolidar (Foto: Tom Beard)

Guilherme Veiga

Os dias de cão acabaram, mas alguns traumas ficaram. Em seu segundo álbum de estúdio, a banda britânica Florence + The Machine tem a difícil missão de conviver com eles além de manter o alto nível que seu disco de estreia Lungs (2009) proporcionou. Para isso, Florence apostou na grande produção e em sua já consolidada poesia e voz. Tal aposta resultou em um grito muito bem afinado com aspirações megalomaníacas, que flerta com o gótico e o gospel ao mesmo tempo, e que demonstra excelência, além de evidenciar a notável evolução do grupo dois anos após seu debut.

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Vire-se, seus sonhos serão frutificados no Deserto Particular

Cena do filme Deserto Particular, mostra uma mulher dentro do carro, escuro e com apenas seu nariz e cabelo iluminados pelo poste da rua.
Submissão do nosso país para o Oscar 2022, Deserto Particular estreou na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra de SP (Foto: Pandora Filmes)

Vitor Evangelista

A tarefa de selecionar, entre uma vastidão de olhares e marcas, um único filme para representar o país mundo afora não é nada fácil. Afinal, qual a fórmula secreta para a submissão perfeita? Quais atributos um longa nacional deve possuir para, de fato, ser o “mais brasileiro” possível? Em 2022, a missão é de Deserto Particular, bela produção comandada por Aly Muritiba e presente na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Já que Ninguém me Tira pra Dançar: eu também quero ser Leila Diniz

Cena do documentário Já que Ninguém me Tira pra Dançar. Ao centro está Leila Diniz. Uma mulher branca de cabelos curtos. Ela está de braços abertos. Veste um sutiã com lantejoulas e ombreiras também com lantejoulas e fios. Em segundo há dezenas de homens. A imagem está em preto e branco
Realizado em 1982 e remasterizado em 2021, o documentário inédito tem sua estreia na seção Mostra Brasil da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Nova Era Produções)

Ana Júlia Trevisan

“Toda mulher quer ser amada/Toda mulher quer ser feliz/Toda mulher se faz de coitada/Toda mulher é meio Leila Diniz.” Os trechos compostos por Rita Lee pressupõem toda a graça e grandiosidade de Leila Diniz. Atriz brasileira, Rainha das Vedetes e transgressora pela liberdade feminina, Leila é representante de Todas as Mulheres do Mundo. Com estreia marcada para acontecer durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Já que Ninguém me Tira pra Dançar é o documentário sobre Leila Diniz dirigido por sua amiga e também atriz Ana Maria Magalhães. 

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