Eu Me Importo: quando o filme tenta parecer mais do que realmente é

Cena do filme Eu Me Importo. No centro da cena está Rosamund Pike, mulher branca de cabelos loiros acima dos ombros e é a intérprete de Marla Grayson. Ela veste um terno cinza escuro, está utilizando batom vermelho e fumando. A fumaça se esvai pela boca e pelo nariz.
Marla Grayson (Rosamund Pike) é a golpista sarcástica do filme (Foto: Reprodução)

Andreza Santos

“Você é um leão ou um cordeiro?” Essa é uma das perguntas feitas à Marla Grayson, protagonista do novo filme da Netflix intitulado Eu Me Importo, interpretada pela brilhante e muito competente Rosamund Pike (de Garota Exemplar), o que lhe rendeu uma indicação – vitoriosa – ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical. Todos os elogios são válidos para a protagonista, mas o longa infelizmente deixa a desejar.

Continue lendo “Eu Me Importo: quando o filme tenta parecer mais do que realmente é”

Nomadland transforma o sonho americano em farofa

Cena do filme Nomadland. Vemos Fern, interpretada por Frances McDormand, uma mulher branca, de sessenta anos e cabelos pretos curtos, sentada numa cadeira de praia. Ela está de camisola branca, pernas cruzadas, segura uma caneca verde na mão esquerda e olha para o lado. Usa sandálias marrons e tem uma lamparina vermelha aos seus pés. Ao fundo, vemos grama verde e sua van branca.
Com Frances McDormand na melhor atuação da carreira e indicado a 6 Oscars, Nomadland usa do sútil para sensibilizar (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

O ano era 2018. A elite de Hollywood se reunia no Dolby Theatre para a maior cerimônia do ano. Vestidos glamourosos, poses para fotos e estatuetas douradas, aquela noite era só sobre isso. Então, sobe ao palco Frances McDormand. Esbaforida, enérgica, com a cabeça à mil, ela agradece solenemente ao amor do marido e do filho, agradece o trabalho do diretor. Ela coloca seu prêmio no chão e pede para todas as mulheres indicadas se levantarem e faz um discurso atemporal sobre oportunidades no mercado de trabalho, ela cita o termo ‘inclusion rider’, que estourou em buscas poucas horas depois. 3 anos mais tarde, Nomadland chega para provar que Frances não brinca em serviço.

Continue lendo “Nomadland transforma o sonho americano em farofa”

45 anos de Falso Brilhante: a vida de Elis Regina é a nossa joia mais preciosa

Fotografia de Elis Regina apresentando seu espetáculo Falso Brilhante. A artista está ao centro da imagem, numa passarela, cercada pelo público. Ela está de frente para a câmera mas contra a luz, que impede de exergarmos seu rosto. Ela segura uma bandeira grande na mão direita e um microfone na mão esquerda. Elis usa um vestido lingo, branco, de alças finas e estampado por estrelas prateadas. Ela também usa uma chapéu com uma pena grande e seus cabelos são curtos. A fotografia está colorida em tons de amarelo e um cinza azulado.
O disco que nasceu do espetáculo sobre a vida de Elis Regina é considerado um dos mais importantes da música brasileira e da carreira da artista (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

O legado na música brasileira não é o suficiente para eu me conformar. Vez ou outra, ainda me pergunto como é que alguém conseguiu convencer o sofrido povo brasileiro de que “viver é melhor que sonhar”. O sentido ensaia desenhar-se segundos depois, quando eu me lembro que quem cantou isso foi a sonhadora que é a concretização da ideia mais pura e completa do que pode vir a ser a vida. Mas mesmo assim, ainda é instigante, já que ela, em toda sua grandiosidade e relevância, ainda acrescenta que “qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa”.  

Quer profundidade mais condizente com a maior artista do Brasil do que a que ela mesma cria na obra que conta a sua história de vida, realiza seus maiores sonhos e desmistifica sua própria arte? Muito significado, muita intensidade e muita pulsão de vida: assim foi Elis Regina, e assim foi Falso Brilhante, cuja riqueza era autoexplicativa em 1976 e assim permanece até os dias de hoje – e muito provavelmente, assim será por todo o resto da nossa história.

Continue lendo “45 anos de Falso Brilhante: a vida de Elis Regina é a nossa joia mais preciosa”

Wolfwalkers é mais do que só um filme de fantasia para crianças

Cena do filme Wolfwalkers. Em meio a uma floresta, ao centro, vemos Mebh, uma menina baixa, branca, de cabelos ruivos volumosos e decorados com folhas coloridas, vestindo roupas verdes e de braços cruzados, encarando Robyn. Ao seu lado, vemos Robyn, uma menina alta, branca, de cabelos loiros compridos, presos em uma trança e decorados com uma flor vermelha, vestindo roupas verdes, uma capa preta e botas marrons, com as mãos na cintura. Entre as árvores ao redor delas, vemos, do pescoço para cima, lobos marrons as encarando e sorrindo.
Indicado ao Oscar 2021, Wolfwalkers é fruto da parceria do estúdio irlandês Cartoon Saloon com a Apple TV+, streaming onde foi lançado um mês após a estreia (Foto: Reprodução)

Vitória Lopes Gomez

Nunca esteve tão claro que filmes de animação não são sinônimos de infantilidade. Soul talvez seja o exemplo mais popular e atual disso: o visual é apenas a técnica escolhida para um filme que explora o metafísico e desperta o existencial. Um pouco mais fantasioso, um pouco menos alegórico (ou vice-versa), da Pixar aos Estúdios Ghibli às irreverentes séries americanas, os ‘desenhos’ comportam uma multiplicidade que alcança diferentes faixas etárias. E é em meio a diversidade de narrativas e a crescente predileção por computações gráficas que chega Wolfwalkers, que se destaca pelo visual 2D cada vez mais raro e, desde o seu lançamento no Festival de Cinema de Toronto, aproveita a atenção para encantar todos os públicos.

Continue lendo “Wolfwalkers é mais do que só um filme de fantasia para crianças”

Supernatural entrega a última missão dos irmãos Winchester

Imagem de Sam, Dean e Jack. Dean, cabelos castanhos, está vestindo uma camisa preta lisa com mangas dobradas e uma calça jeans. Sam, cabelos castanhos, veste uma camisa vinho com listras pretas com mangas dobradas e calça jeans. Jack, cabelos castanhos mais claros, está vestindo um moletom azul com faixas brancas nas mangas, na base e na gola e calça jeans. Eles estão em um ambiente com paredes de tijolos claros, há uma estante com livros e um conjunto de espadas samurais atrás deles. Há uma poltrona marrom de couro ao lado direito da estante e na frente deles, em primeiro plano há uma mesa de madeira com duas cadeiras e um abajur. Sam e Jack estão se olhando. Sam está com uma das mão apoiadas no ombro dele que tem as mãos cruzadas em frente ao corpo. Dean está mais atrás olhando para os dois.
Em Supernatural, a família é o laço mais forte que existe (Foto: Reprodução)

Letícia Depiro

Sam (Jared Padalecki) e Dean (Jensen Ackles) Winchester são filhos de uma tragédia. Após a misteriosa morte de Mary (Samantha Smith), o pai dos garotos passa a buscar vingança contra as forças do Mal que mataram sua esposa. Vinte anos depois, Sam, que parece determinado a não seguir os negócios da família, não vê outra escolha a não ser se juntar a seu irmão na jornada em busca de seu pai John (Jeffrey Dean Morgan), que está desaparecido, dando início ao primeiro ano de Supernatural.

Continue lendo “Supernatural entrega a última missão dos irmãos Winchester”

Nota Musical – Os Vencedores do Grammy 2021

Arte retangular de fundo na cor azul vivo. Do lado esquerdo, foi adicionado o texto "nota musical - grammy 2021" e o desenho de um gramofone, na cor laranja vivo. Foi adicionado também o logo do Persona, estilizado de forma com que a íris do olho fique azul. Do lado direito, foi adicionado um acrílico de CD com um disco dentro. Dentro do disco foram adicionadas 4 fotos: de Beyoncé, Taylor Swift, Megan Thee Stallion e Dua Lipa.
Destaques entre os vencedores do Grammy 2021: Beyoncé, Taylor Swift, Megan Thee Stallion e Dua Lipa (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Jho Brunhara)

A cerimônia do Grammy Awards 2021 foi delas. Beyoncé quebrou o recorde de artista feminina com mais gramofones ao receber o prêmio de Melhor Performance de R&B, pela importantíssima BLACK PARADE, somando 28 estatuetas no total. Taylor Swift também quebrou um recorde ao receber o prêmio de Álbum do Ano, por folklore, ao se tornar a primeira mulher com três gramofones na categoria.

Praticamente ninguém saiu de mãos abanando: diferentemente do ano passado, quando Billie Eilish rapou as quatro categorias principais de uma vez – fato que só tinha acontecido uma vez na história até então, em 1981 –, em 2021 assistimos uma diversidade maior de premiados. Eilish levou para a casa a estatueta de Gravação do Ano pela segunda vez consecutiva, e em uma surpresa muito positiva, H.E.R. venceu o gramofone de Canção do Ano, com a tocante e política I Can’t Breathe.

Megan Thee Stallion derrotou as fortes competidoras Doja Cat e Phoebe Bridgers e foi consagrada a Artista Revelação de 2021, de forma muito merecida. A dança da chuva de Lady Gaga e Ariana Grande deu certo e as queridinhas do pop venceram a categoria Melhor Performance de Pop Duo/Grupo, se tornando a primeira dupla feminina a alcançar tal feito. E Dua Lipa, que perdeu AOTY, ROTY e SOTY pelo menos pôde levar o gramofone de Melhor Álbum de Pop Vocal para a casa.

Fiona Apple, ao vencer o gramofone de Melhor Álbum de Música Alternativa por Fetch the Bolt Cutters, se tornou a terceira mulher na história a realizar tal feito. Nas categorias Melhor Álbum de Country e Melhor Canção de Rock também assistimos mulheres fazerem história: pela primeira vez mais da metade dos indicados eram artistas femininas.

Porém, competições também dão margem para injustiças: infelizmente alguns grandes nomes não levaram para casa nem um mísero gramofone. É impossível não citar The Weeknd, que nem indicado foi e denunciou a corrupção e racismo dos votantes do Grammy. Mesmo com quatro indicações, a genial Phoebe Bridgers perdeu todas as estatuetas que concorria. Jhené Aiko, Chloe x Halle e Doja Cat, com três cada, também perderam tudo. As talentosíssimas irmãs da banda HAIM também foram embora da cerimônia principal só com os salgadinhos do buffet no estômago.

Pelo menos o quesito apresentação compensou a ida das três irmãs ao Centro de Convenções de Los Angeles. Elas cantaram a excelente The Steps, que concorria a Melhor Performance de Rock. Assistimos também Dua Lipa entregar um eletrizante medley de Levitating (com o rapper DaBaby) e Don’t Start Now. Taylor Swift, Megan Thee Stallion e Cardi B também apostaram no modelo. A loirinha cantou as suaves cardiganaugust willow, com participação especial de Jack Antonoff e Aaron Dessner. Já a dupla Megan e Cardi colocou todo mundo para dançar com BodySavage (Remix)Up e a lendária WAP, que ganhou trecho especial com o remix do brasileiro Pedro Sampaio.

Outro representante da América Latina que cantou e encantou no Grammy foi o maravilhoso Bad Bunny, com DÁKITI, que contou com participação de Jhay Cortez. Do outro lado do mundo, os meninos do BTS explodiram o palco com o hit Dynamite. Doja Cat não aguenta mais cantar Say So, mas ainda sim entregou tudo em sua apresentação. Harry Styles e Billie Eilish abriram a premiação com performances individuais de Watermelon Sugar e everything i wanted, e os Black Pumas transbordaram talento com Colors.

Também assistimos apresentações de Silk Sonic, DaBaby, Roddy Rich, Anthony Hamilton, Mickey Guyton, Miranda Lambert, Maren Morris, John Mayer, Post Malone, Lil Baby, Tamika Mallory e Killer Mike. E as homenagens para os que já nos deixaram ficaram na voz de Lionel Ritchie, Brandi Carlile, Brittany Howard e Chris Martin.

A Editoria do Persona se reúne num Nota Musical Especial, e comenta os méritos, deméritos, prós e contras dos principais indicados e vencedores do Grammy 2021, em forma de resumão. Falamos das categorias da premiação, chances de vencer, campanhas na imprensa e, no caso de injustiças, quem merecia ter ganho. Fique por dentro do que rolou na premiação mais importante do mundo da música com o Persona.

Continue lendo “Nota Musical – Os Vencedores do Grammy 2021”

5 anos de Velho Chico: a novela que foi uma obra de arte

Cena da novela Velho Chico. Na imagem, vemos a cerimônia de casamento do Coronel Afrânio Sá Ribeiro e Leonor. O Coronel está no altar, trajando um terno marrom, ao lado da sua noiva, que usa um véu transparente sobre o rosto.
Em retorno inédito à TV nacional, o astro Rodrigo Santoro deu vida ao coronel Afrânio Saruê na melhor fase da trama (Foto: Reprodução)

Vanessa Marques

Uma história de amor e guerra no sertão nordestino. Há cinco anos, Velho  Chico, do autor Benedito Ruy Barbosa (Rei do Gado e Pantanal), chegava ao horário nobre da Globo. A telenovela, marcada por uma tragédia em sua reta final, rompeu a hegemonia dos centros urbanos para levar o sotaque baiano e a paisagem sertaneja para as noites dos lares brasileiros. Com o forte apelo estético de Luiz Fernando Carvalho (Capitu), o melodrama desfrutou de uma tríade de peso: elenco, direção de arte e trilha sonora. Ambientada na cidade fictícia de Grotas do São Francisco, a narrativa reuniu a imagem de um Brasil esquecido e devastado pela seca — enquanto as águas do Rio São Francisco banhavam os conflitos de três gerações das famílias Sá Ribeiro e Dos Anjos.

Continue lendo “5 anos de Velho Chico: a novela que foi uma obra de arte”

Os 60 anos de Chico Bento e a religiosidade do Brasil profundo

Desenho de um quadro das histórias do Chico Bento. A personagem Chico Bento ajoelha-se, rezando e chorando, enquanto seus pais olham preocupados.
Desolado pela maldade humana, Chico (ch)orou (Foto: Chico Bento, 144ª Edição, Editora Globo, 1992)

Carol Dalla Vecchia e Mateus Conte

A década de 60 no Brasil foi tortuosa. Naquela época, o país vivia uma crise política sem precedentes: a posse e repentina renúncia de Jânio Quadros abalava as bases democráticas da nação. Enquanto isso, a mil quilômetros do centro do planalto vazio, um ex-repórter policial iniciava uma das suas criações mais memoráveis.

Começos raramente são pomposos. Não foi diferente com o interiorano Mauricio Araújo de Sousa, convidado pela conhecida Cooperativa Agrícola de Cotia para desenvolver uma nova obra dos quadrinhos: os caipiras Zezinho e Hiroshi. Hiro, como é conhecido, representava os funcionários e familiares da CooperCotia, formada quase exclusivamente por isseis e nisseis. Dois anos depois, surgia o hoje famoso Chico Bento. Ou seja, ainda que Francisco Antônio Bento tenha surgido apenas em 1963, sua turma nasceu há exatos 60 anos. 

Continue lendo “Os 60 anos de Chico Bento e a religiosidade do Brasil profundo”

Changes é a pior mudança de Justin Bieber

A imagem é uma cena do videoclipe da música Yummy, de Justin Bieber. Na imagem, há um salão de jantar com várias mesas espalhadas. Ao centro, o cantor Justin Bieber está em cima de uma mesa, dançando. Justin é um homem branco, de cabelos lisos curtos e pintados de rosa claro, ele veste uma regata, calça xadrez larga e um par de tênis em tons de rosa. Ao fundo, há outras pessoas dançando em cima das mesas e espalhadas pelo salão, todos vestem roupas bem coloridas.
Em seu álbum mais recente, Bieber segue caminhos que não precisavam ser explorados (Foto: Reprodução)

Vitória Silva

Justin Bieber é o queridinho declarado da música pop, e tirar ele desse posto não vai ser tão fácil. Aos 15 anos de idade, o rostinho já conhecido de vídeos do YouTube deu entrada no mundo da música com seu álbum de estreia, My World. Seu carisma e rostinho adorável de imediato desencadearam uma pandemia fanática ao redor do globo terrestre, que, mais tarde, com o My World 2.0, o consagraria como o mais novo ídolo adolescente. 

Continue lendo “Changes é a pior mudança de Justin Bieber”

Em tempos de amnésia seletiva, Cidade Invisível entrega esperança e suscita discussões

Cena da série Cidade Invisível. Fotografia retangular do ator Marcos Pigossi, dos ombros até o topo da cabeça. Ele é um homem de cabelos castanhos, barba e bigode. Ele está sentado numa poltrona azul claro e possui uma borboleta sobre os olhos. Ela é roxa azulada com manchas pretas nas bordas das asas. Na parte inferior de cada asa, tem um círculo branco com um círculo roxo dentro, imitando dois olhos. Marcos possui a boca semiaberta, com a parte debaixo dos dentes da frente aparecendo, como se estivesse num cochilo. Ao fundo, há um aparador de madeira. A imagem possui uma tonalidade amarela acentuada.
“As pessoas são cruéis, elas têm medo de tudo que é diferente porque a gente revela como elas são absurdamente iguais e entediantes” (Foto: Reprodução)

Júlia Paes de Arruda

Como seria se o nosso folclore se materializasse e convivesse todos os dias conosco, com seus personagens despercebidos e infiltrados na sociedade? Se as histórias de infância fossem realmente verdade? Essa é a proposta de Carlos Saldanha (diretor das franquias Rio e A Era do Gelo) em Cidade Invisível. Diferentemente do que estamos acostumados, o novo sucesso da Netflix ganha um teor adulto ao unir-se com um suspense investigativo. Apesar da narrativa envolvente e provocante, a execução das ideias traz algumas problemáticas que merecem ser destacadas. 

Continue lendo “Em tempos de amnésia seletiva, Cidade Invisível entrega esperança e suscita discussões”