A terceira temporada de Hacks é inconsistente, mas ainda consegue nos fazer rir

Cena da terceira temporada de Hacks. Na imagem estão Deborah e Eva dentro de um elevador. No centro esquerda está Deborah olhando para o terno de Eva. Ao centro direita está Eva olhando diretamente para o rosto de Deborah.
Jean Smart e Hannah Einbinder estão indicadas ao Emmy de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia, respectivamente, na edição de 2024 (Foto: Max)

Guilherme Moraes

A terceira temporada de Hacks mantém o script das anteriores, com uma comédia metalinguística ancorada na amizade de Deborah Vance (Jean Smart) e Ava Daniels (Hannah Einbinder) que encontra, no drama pessoal da protagonista, a própria forma de fazer humor profissionalmente. Apesar das dinâmicas entre a dupla e das questões internas dos personagens funcionarem, a temporada demora para engrenar. Na dúvida se mantinham a fórmula vazia para gerar comicidade ou exploravam um caminho mais arriscado e profundo, os roteiristas deixaram boa parte da season inconstante. Por sorte, Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky reencontram o caminho do sucesso nos últimos episódios, o que garantiu várias indicações ao Emmy 2024, incluindo ao prêmio de Melhor Série de Comédia.

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Lute por sua vida, Babilônia

O filme tem como base a bíblia de fofocas dos primórdios da Sétima Arte: Hollywood Babylon (Foto: Paramount)

Ana Júlia Trevisan

Babilônia é sinônimo de grandeza. Uma das sete Maravilhas do Mundo Antigo, seus jardins também são os mais indecifráveis da história. Na alçada da Sétima Arte, Babilônia remete a um livro com suas páginas alimentadas por fofocas escandalizantes do Cinema nas décadas de 20 e 30, quando os roteiros ainda não imaginam ser preenchidos por diálogos. Bebendo da fonte dessa obra, o diretor e roteirista Damien Chazelle concebe seu mais novo trabalho, Babylon, ambientado em uma Hollywood em movimento de transição e abastecida a sexo e drogas. 

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Tudo Sobre os Vencedores do Emmy 2021

Arte retangular horizontal de fundo verde-água. Na parte superior esquerda foi adicionado um retângulo laranja saindo da lateral esquerda da imagem, e, em cima dele, foi adicionado o texto ‘os vencedores do emmy 2021’. Ao lado direito do retângulo, foi adicionado o logo do Persona e a estatueta do Emmy. Abaixo, foram adicionadas imagens de quatro atores, com uma borda na cor laranja. Esses sendo: Michaela Coel, Olivia Colman, Jason Sudeikis e Kate Winslet. Todos eles estão acompanhados do troféu do Emmy que receberam e usam trajes de gala.
Os destaques do Emmy 2021: a histórica e merecida vitória de Michaela Coel; a coroação da Rainha de Olivia Colman; o reconhecimento do fenômeno de Ted Lasso em Jason Sudeikis; e a celebração da genialidade de Kate Winslet em Mare of Easttown (Foto: Reprodução/Arte: Ana Júlia Trevisan/Texto de Abertura: Vitor Evangelista)

O segundo Emmy em tempos pandêmicos chegou e já foi embora. Com a retomada das atividades presenciais, sem máscaras à vista e com muitas vacinas no braço, o prêmio da Academia de TV adotou um formato mais intimista em 2021, coroando os melhores do ano sob a apresentação do rapper Cedric the Entertainer. A festa começou com um karaokê bem animado, na paródia de Just a Friend, em tributo a Biz Markie, falecido alguns meses atrás. O anfitrião puxou a canção, que foi entoada por uma porção dos nomeados da noite, incluindo os sempre estonteantes Anthony Anderson e Billy Porter.

Longe das reuniões em salas do Zoom e dos troféus entregues por funcionários vestidos como sobreviventes de um apocalipse nuclear, a edição de 2021 recebeu seus nomeados em dois lugares. Nos Estados Unidos estava a concentração de estrelas, enquanto o Reino Unido abrigava as joias da Coroa: boa parte do elenco de The Crown que, alerta de spoiler, quebrou uma porrada de recordes.

No ano em que uma maoria de artistas negros apareceu nas categorias de atuação, a Academia de Artes e Ciências da Televisão premiou 12 pessoas brancas, entre atores principais e coadjuvantes, nos campos de Drama, Comédia e Série Limitada. O retrocesso de diversidade acontece uma edição após a performance gloriosa de Watchmen, e no mesmo ano em que produções como Lovecraft Country, I May Destroy You, black-ish e The Underground Railroad se destacaram pela excelência técnica e artística.

Em Drama, The Crown se junta ao grupo de Angels in America e Schitt’s Creek, que agora são as três únicas séries a vencerem todas as categorias em uma noite. O episódio War, o final da quarta temporada, rendeu um prêmio de Roteiro (para o criador Peter Morgan) e outro de Direção (para Jessica Hobbs, em uma vitória histórica para as mulheres). Gillian Anderson (que foi perguntada, depois de vencer, se havia conversado com Margaret Thatcher sobre o papel na série) saiu como a Melhor Atriz Coadjuvante, enquanto a avalanche da Rainha premiou também o Ator Coadjuvante Tobias Menzies. 

O grande favorito na disputa, entretanto, era Michael K. Williams, que morreu no começo do mês e entregou em Lovecraft Country uma das interpretações mais fortes do ano passado. Antes de anunciar o destino, Kerry Washington honrou o amigo, lembrando de sua luz e presença com amor e saudade. Sua derrota evidencia uma frequente nada positiva: depois do Oscar fazer uso da imagem de Chadwick Boseman para atrair audiência e, na sequência, premiar um ator branco em seu lugar, o Emmy faz igual.

O segmento In Memoriam, apresentado pela ternura de Uzo Aduba e guiado pelas cordas sensíveis de Jon Baptiste e Leon Bridges, finalizava-se com um depoimento em vídeo de Williams, discursando sobre a sustentação que atores negros criam um para o outro. No fim das contas, a diversidade da lista de 2021 foi propaganda enganosa. Tobias Menzies venceu um Emmy pelo papel quase imperceptível do Duque de Edimburgo na 4ª temporada de The Crown. Michael K. Williams viveu Montrose Freeman com a garra de um campeão, e morreu sem prêmio algum da Academia.

A categoria de Ator, que deveria reconhecer Billy Porter pelo ano final de Pose (que só venceu na cerimônia técnica), acabou chamando o nome de Josh O’Connor, que deu vida ao monstruoso Príncipe Charles. Seu par, a Lady Di de Emma Corrin, foi surpreendida pela zebra Olivia Colman, a Toda-Poderosa-Rainha. Assustada, surpresa, emocionada e galante, Colman discursou com o magnetismo que virou sua marca registrada, mas a amargura de não poder assistir Mj Rodriguez fazer história no palco da Academia é grande demais para sorrir do “Michaela Coel, fuck yeah!”, que Colman soltou logo após homenagear o pai, vítima da pandemia.

Na semana anterior, The Crown havia vencido um importante indicativo do apoio da Academia: o Emmy de Atriz Convidada, para Claire Foy, que retornou em um flashback como a jovem Rainha (o episódio em questão, 48:1, também rendeu o prêmio de Olivia Colman). Contrariando especialistas, Charles Dance perdeu a categoria de Ator, que premiou Courtney B. Vance, na única lembrança “grande” de Lovecraft Country.

Melhor Série de Drama, que ano após ano fecha a cerimônia, foi a penúltima das categorias anunciadas em 2021. Na acertada decisão de reconhecer o prestígio das Séries Limitadas, o Emmy finalmente se curvou à Netflix e chamou a equipe de The Crown ao palco britânico, rendendo à pioneira do streaming seu primeiro prêmio de Série. Viu? Só precisou de uma pandemia, de atrasos gigantescos de produção e da HBO quase que de folga, para a Netflix ganhar os prêmios grandes. De fato, a emissora do ‘Tudum’ conseguiu 44 estatuetas e se igualou a um recorde da CBS, que venceu o mesmo número em 1974.

A categoria de Série Limitada dividiu mais suas honras que a de Drama, mas ainda assim houve uma aglomeração na cidadezinha de Easttown. Kate Winslet, Julianne Nicholson e Evan Peters subiram ao palco, agradeceram à HBO e ao elenco formidável de Mare of Easttown, sensação de 2021. Winslet venceu uma década depois de triunfar por Mildred Pierce, outra original da HBO com quem ela faz par romântico com Guy Pearce. Nicholson e Peters, nas categorias de Coadjuvante, venceram os primeiros Emmys da carreira.

A zebra veio em Ator, com o Visão levando rasteira do estilista mais sexy da Netflix: o próprio Halston. Em mês de Met Gala, Ewan McGregor foi recompensado por sua atuação extravagante e deliciosa na minissérie de Ryan Murphy. Com apenas essa nomeação na noite principal, McGregor exibiu seu charme inebriante, e na quarta nomeação, adicionou um Emmy à estante.

O prêmio de Roteiro em Série Limitada nos mostrou que ainda há bem no mundo. Michaela Coel, que sangrou suas dores em toda a concepção de I May Destroy You, confirmou um dos favoritismos mais merecidos do ano, e discursou sua poesia bruta e sincera. A festa parecia estar indo muito bem, até que Scott Frank foi chamado para receber o troféu de Direção, por seu trabalho milimetricamente calculado na desgastada O Gambito da Rainha

O discurso do diretor, que também criou e escreveu a série, se estendeu por três minutos e meio, e sua falta de carisma tornou a leitura do papel uma das experiências mais desgastantes de acompanhar na noite. Na mesma semana em que a Netflix é processada por uma enxadrista por difamação, Frank achou de bom tom evidenciar a força feminina da produção. 

Quando um produtor subiu ao palco, no fim da noite, para receber o Emmy de Melhor Série Limitada ou Antologia, ninguém aguentava o homem branco falando de diversidade, além de reduzir a atriz principal, dizendo que “Anya Taylor-Joy trouxe o sexy de volta ao xadrez”. Que sonho seria se Beth Harmon estivesse ali presente, para de uma vez por todas, dar, a mais um de seus adversários machistas, um xeque-mate.

Nos prêmios fora dos gêneros grandes, Last Week Tonight with John Oliver venceu Programa de Entrevistas e Variedades e Roteiro no segmento. O Saturday Night Live ficou, para surpresa de ninguém, com a categoria de Série de Esquetes, enquanto o programa eleitoral de Stephen Colbert triunfou na categoria de Especial de Variedades (Ao Vivo). Na parte de Variedades (Pré-Gravado), não deu outra: Alexander Hamilton! O musical filmado do Disney+ adicionou o Emmy à prateleira que já conta com 11 Tonys, 1 Grammy e 1 Pulitzer

Em Programa de Competição, RuPaul’s Drag Race venceu. RuPaul, premiado com seu 11º Emmy, se tornou a pessoa negra com mais estatuetas, e agradeceu à juventude, ao lado de Gottmik e Symone, os grandes destaques da décima terceira temporada do reality. A grandiosa Debbie Allen, atriz, diretora, coreógrafa e lenda da Televisão, foi homenageada com o Governors Award, prêmio que honra a excelência em carreiras. Allen se tornou a segunda pessoa negra a receber tal honraria, depois de Tyler Perry no ano passado, e a primeira mulher negra. No discurso, ela foi enfática: o futuro está na juventude.

Chegando, enfim, na parte de Comédia, o Emmy 2021 dividiu seus prêmios principais entre duas fortes produções. Hacks, original do HBO Max, ficou com Roteiro e Direção (marcando a primeira vez em 73 anos que diretoras vencem juntas em Comédia e Drama), além da vitória de Jean Smart como Melhor Atriz. Ovacionada, aplaudida de pé e feliz da vida com o reconhecimento de sua outra “família” (Mare of Easttown), Smart dedicou o Emmy ao marido, falecido meses atrás, no processo de filmagens da produção.

O resto dos troféus do gênero foi para Ted Lasso. Abrindo a noite, Hannah Waddingham e Brett Goldstein não esconderam o sorrisão ao ouvirem seus nomes chamados como os Melhores Coadjuvantes de 2021. O senso de companheirismo reinou na equipe esportiva da Apple TV+, que ainda foi celebrada em Melhor Ator (para o majestoso Jason Sudeikis) e em Melhor Série de Comédia, com direito a abraços e lágrimas, e claro, muito amor pelo AFC Richmond.

Com a promessa da diversidade, que ia da maioria negra em atuação principal de Drama à ascensão dos heróis, o Emmy 2021 jogou seguro. O conservadorismo dos votantes resultou na ausência de vitórias significativas para The Boys, The Mandalorian e WandaVision, expoentes da fantasia que lotaram a lista de indicados, para saírem com quase nada embaixo do braço. 

A oportunidade de fazer história com vitórias de Billy Porter, Mj Rodriguez, Michael K. Williams e I May Destroy You não foi páreo para a familiaridade da Coroa britânica ou do olhar masculino que hipnotiza uma partida de xadrez. Que o Emmy melhore, que o Emmy evolua e que o Emmy mostre, na prática, que as minorias que eles insistem em chamar para perder, enfim merecem a vitória. Abaixo, você lê tudo que aconteceu na 73ª edição do Oscar da TV pelas palavras da Editoria do Persona, que mergulha no passado, presente e futuro da televisão, comemorando recordes e lamentando injustiças. Até logo, Emmy 2021.

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Não há espaço para heróis em Mare of Easttown

A imagem é uma cena da série Mare of Easttown. Nela, Kate Winslet, que interpreta Mare, está sentada na cozinha colocando queijo cheddar em um biscoito. Mare é uma mulher branca, de cabelos loiros presos em um coque baixo, ela veste uma camisa xadrez.
Mare of Easttown foi indicada em 16 categorias no Emmy 2021, e é um dos principais nomes cotados para dar o xeque-mate em O Gambito da Rainha na disputa pela estatueta de Série Limitada (Foto: HBO)

Vitória Silva

Não há isca melhor para prender o telespectador do que uma boa história de suspense. Crie uma morte inesperada e um núcleo de possíveis suspeitos, ainda por cima, ambiente-a em uma cidade interiorana pequena. Pronto, tem aí a fórmula perfeita para causar um burburinho necessário. Mas não o suficiente para, de fato, ter uma narrativa interessante, em meio a tantas outras que utilizam os mesmos ingredientes, e muitas que acabam se perdendo

Mare of Easttown se apoia no gênero para criar sua trama. Ambientada na pequena cidade da Pensilvânia presente no título da série, a obra acompanha Mare Sheehan (Kate Winslet), uma policial durona de meia-idade, que se ocupa diariamente com a solução de diversos crimes que atingem a população local. Entre ter que resolver pequenos problemas de demais habitantes, como a implicância da senhora Carroll (Phyllis Somerville) com seu vizinho delinquente, a detetive também lida com a investigação do desaparecimento da jovem Katie Bailey (Caitlin Houlahan), caso até então não solucionado.

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Hacks: quanto vale entrar para a História?

Indicada a Melhor Série de Comédia, Hacks vai bater na trave da primorosa Ted Lasso (Foto: HBO Max)

Ana Júlia Trevisan

Deborah Vance é uma comediante de quase 70 anos, pioneira do gênero no stand-up e com shows intocáveis em um grande cassino nas noites de Las Vegas. Suas piadas beiram a autodepreciação, escancarando o machismo e a misoginia por trás da comédia. Ava Daniels é uma jovem, roteirista, recém-cancelada e desempregada. Os sonhos de Ava em Los Angeles vão por água abaixo após um tweet de teor homofóbico envolvendo o filho de um senador. Já Deborah tem seu show fixo em um cassino de Las Vegas finalizado, contra sua vontade, após 2500 apresentações.

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Big Mouth: a construção de uma identidade e a assustadora chegada da adolescência

Cena da sitcom animada Big Mouth em sua quarta temporada. O cenário da imagem é o interior de um ônibus. No plano principal há três personagens, na parte esquerda da imagem está Connie, uma monstra hormonal, ela está sentada com os pés em cima do banco e a cabeça virada ¾ para a câmera. A personagem está sorrindo, ela é alta e sua cabeça chega à margem superior da imagem, a personagem tem traços extremamente exagerados típicos de cartoons, ela tem um par de chifres amarelos, assim como o resto de seu corpo, um cabelo longo, liso e vermelho escuro amarrado em duas partes, seus braços e pernas são cobertos de pelo marrom e seus pés são de cascos de cavalo. As roupas da personagem são um shorts azul e uma blusa rosa amarrada em cima da cintura. No meio da foto está o personagem Nick, ele é desenhado com sua cabeça e boca extremamente exagerados. Sua expressão é de atenção, ele é pequeno, magro, tem o cabelo castanho, liso e curto, pele branca e olhos azuis. O personagem está usando uma camisa verde claro, shorts azul e tênis roxo. Na parte esquerda da imagem está o personagem Andrew, ele está virado ¾ da frente da imagem para a direita e sua expressão é de tranquilidade. O personagem é branco, tem o cabelo castanho claro, curto e liso, olhos castanhos claros. O personagem usa óculos preto de grau e suas roupas são uma camisa de manga longa roxa e branca e shorts cinza.
O personagem Andrew Goldberg foi inspirado no co-criador da série de mesmo nome (Foto: Reprodução)

Nathalia Franqlin

Finalmente chegou na Netflix a tão esperada continuação de Big Mouth. A série animada de comédia estreou em 2017, surfando nessa onda nova de animações para adultos nas plataformas de streaming. Ela conta com a participação de nomes relevantes no gênero, como seu co-criador Andrew Goldberg, que já participou do roteiro de Uma Família da Pesada. O criador da série, e amigo de infância de Andrew, Nick Kroll, também não é um novato nessa área, ele fez parte do elenco de Festa da Salsicha, que é – de fato – uma predecessora das animações esteticamente infantis, de gosto duvidoso e explicitamente sexuais.

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