Stranger Things 2 mostra que seu sucesso não foi passageiro

stranger things 2
(Foto: Netflix)

Gabriel Soldeira

Quando foi lançada, em julho de 2016, ninguém poderia imaginar o sucesso estrondoso que Stranger Things faria. Com apenas oito episódios, a série entrou quase instantaneamente para a cultura pop, criando uma legião de fãs de todas as idades. Os mais velhos viram a série como um raio de nostalgia, tendo incontáveis referências a filmes, livros e músicas dos anos 80. Já os mais jovens foram introduzidos a essa cultura da forma mais amigável possível.


Desde então, o público esperava por mais do grupo de crianças desajustadas formado por Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughin), Will (Noah Schnapp) e Eleven (Millie Bobby Brown). E, no final de outubro desse ano, a Netflix entregou o que se esperava. Foi entregue um segundo ano tão bom quanto o primeiro, por mais que o efeito de surpresa tenha sido perdido.

Dessa vez, um pouco mais longa (com nove episódios), a série se encaminhou para uma produção mais cinematográfica, algo que se pode ver até pelo título “Stranger Things 2” e não “Stranger Things segunda temporada”, ainda que a direção continue nas mãos dos irmãos Duffer. Como em um filme, a narrativa foi dividida em três atos, onde no primeiro a ameaça é estabelecida, se reencontra personagens antigos e se apresenta os novos; no segundo temos os perigos se agravando e os personagens se desenvolvendo; e o fechamento com o terceiro ato, em que os conflitos têm uma resolução.

Por mais que os irmãos Duffer procurem apresentar um perigo muito maior e mais subtramas paralelas a narrativa principal, eles não se esquecem nunca que além de nostalgia, a base para seu sucesso foram os personagens carismáticos e perfeitamente escalados. E nessa segunda temporada, há um bom tempo para desenvolvê-los, separando o elenco em alguns grupos menores, e até inusitados, como Dustin e Steve (Joe Keery) e Eleven e Hopper (David Harbour), sendo esses dois últimos uma das melhores surpresas dessa temporada, já que a química entre Millie Bobby Brown e David Harbour numa relação paternal é perfeita.

Eleven e Hopper (Foto: Netflix)

Temos uma escolha acertada de não inchar demais a série com muitos personagens novos, só acrescentando o necessário, destacando aqui a nova integrante do elenco infantil, a atriz Sadie Sink, que interpreta Max. A personagem ganhou instantaneamente a simpatia do público e traz consigo um novo ar para o grupo de crianças por se caracterizar, assim como Eleven, como uma outsider.

Mas Max é quase o oposto da personagem, sendo muito mais marrenta e sempre desafiando os garotos, enquanto tenta se encaixar numa cidade nova. Também contamos com o acréscimo do autor Sean Astin – interpretando o namorado de Joyce (Winona Ryder) – que rouba a cena com seu jeito atrapalhado e ingênuo, sendo usado para estender as referências culturais da série ao nível metalinguístico, lembrando os antigos personagens do ator.

Sean Astin traindo o senhor Frodo com Joyce Byers (Foto: Netflix)

A série não se apressa em entregar tudo o que o público está esperando. A Netflix conhece seus fãs e sabe como provocá-los. Já na cena inicial em que, ao invés de um encontro de protagonistas, o que vemos é uma perseguição em que nenhum dos envolvidos é conhecido previamente e em uma locação bem diferente do que o público havia se acostumado. Essa cena é retomada, mas parece dar um gostinho do que será “Stranger Things 3”, sendo uma clara expansão do universo que antes se limitava a cidade de Hawkins, Indiana.

Mas os produtores também não se arriscaram muito, trazendo muito mais do que deu certo no ano anterior. Como, por exemplo, colocar uma maior participação de Dustin (um dos personagens mais aclamados pelo público), recriar versões modificadas de conflitos anteriores (como o incomodo de um personagem com uma nova pessoa integrando o grupo) e a volta do triângulo amoroso dos personagens do núcleo adolescente.  Por mais que a série esteja menos focada na Eleven nessa temporada, ainda tem episódios inteiros na evolução da personagem.

Stranger Things chegou para o seu segundo ano ainda com a pegada nostálgica, mas mostrando que é bem mais que isso. Valorizando a opinião dos fãs e usando ela a seu favor, a Netflix brinca com as expectativas do seu público. Ainda traz uma narrativa simples e direta, sem muitos rodeios e focando mais na evolução dos seus tão amados personagens. É difícil prever o que vem por aí no próximo ano, mas o potencial da série só aumenta.

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