Ultraviolence: Meia década do melhor de Lana Del Rey

(Foto: Reprodução)

Isabelle Tozzo

Ultraviolence é o melhor de todos. Essa é a frase que meus amigos já ouviram de mim algumas vezes em conversas sobre Lana Del Rey. Como fã da artista, afirmo sem hesitar que o terceiro álbum da cantora – que completa cinco anos – é o mais belo, coeso e intimista de toda a carreira da norte-americana.

O álbum foi lançado no dia 13 de julho de 2014, e como de costume, com atrasos. Logo após o lançamento do EP Paradise, em fevereiro de 2013, Lana comentou que estaria empenhada na produção de um novo disco. Porém, vazamentos de algumas faixas como Black Beauty desanimaram a cantora que chegou a cogitar em não lançá-lo mais. No início de 2014, Lana conheceu Dan Auerbach, e o álbum – que até então Del Rey julgava estar finalizado – foi completamente refeito pela produção do vocalista do The Black Keys. 

A produção de Dan trouxe as influências necessárias para o álbum. Segundo Lana, Auerbach achou a obra inicial muito “rock clássico” e propôs a reformulação do mesmo. O álbum que conhecemos hoje incorpora elementos do rock psicodélico com presença do surf rock da costa oeste dos estados unidos e do jazz de Nina Simone. Essas influências casam acertadamente com temas já conhecidos ao universo de Lana Del Rey: homens, dinheiro, amor e fama. E, na minha opinião, combinam bem mais do que o pop orquestrado com batidas de hip hop presentes no anterior Born To Die. 

Lana Del Rey passou duas semanas no estúdio Easy Eye, de Dan Auerbach, em Nashille refazendo Ultraviolence (Foto: Reprodução)

O álbum abre com Cruel World. Uma música longa com presença de uma pesada guitarra elétrica, novidade até então no trabalho dela. A voz rouca de Lana fica levemente esganiçada ao longo da música e se funde perfeitamente com o instrumental. Na letra ela canta sobre a liberdade com o fim de um relacionamento desgastante. 

“I’m finally happy now that you’re gone.” 

Essa faixa de abertura traduz bem o que virá neste trabalho: uma mulher forte cantando sobre seu próprio renascimento. Mesmo com letras que tratam temas comuns e presentes em todas as obras da cantora, consigo enxergar uma grande revolução em Ultraviolence. Não há aqui a amante obsessiva e que é capaz de fazer de tudo pelo parceiro. Pelo contrário. O eu lírico está liberto dessa vez e Lana muito mais confiante no próprio trabalho.

A vida pessoal da cantora na época talvez explique essa libertação. Lana havia acabado de terminar seu relacionamento de três anos com o também cantor Barrie-James O’Neill durante a produção de Ultraviolence. Brooklyn Baby foi escrita com ele e nela Lana diz que o namorado é legal, mas não tanto quanto ela. Esse verso seria algo novo para a cantora, que costumava se mostrar submissa e inferior aos homens.

Mas, obviamente Lana Del Rey não se mostraria uma cantora feminista de uma hora para outra. O álbum além de apresentar o endeusamento aos homens, como no blues rock Sad Girl, e a melancolia comum da cantora presente em Pretty When You Cry, possui a polêmica faixa-título Ultraviolence. Seja querendo glamourizar ou criticar a violência doméstica (ou nenhum dos dois), Lana canta o verso da banda The Crystals, “he hit me and it felt like a kiss.” Na época do álbum, a cantora já havia mencionado em algumas entrevistas que não se importava muito com o feminismo e chegou até a levar bronca da ex-Sonic Youth, Kim Gordon. Cinco anos depois, hoje Lana Del Rey não se sente mais confortável cantando esses versos.

Apesar das polêmicas, sinto uma força libertadora neste álbum. Talvez até um feminismo à maneira de Lana Del Rey. Em Fucked My Way Up To The Top  ela canta sobre a tentativa de usar a própria sexualidade para crescer no mundo da música. Independentemente da intenção, pra mim se encaixa como uma crítica a indústria musical comandada por homens. 

Em termos musicais, Ultraviolence é completamente diferente de Born to Die e dos sucessores Honeymoon e Lust for Life. Há aqui uma maior variedade de instrumentos, como teremim, mellotron e guitarra elétrica. Os vocais de apoio masculinos e os solos de guitarra em algumas faixas ajudam a completar o clima setentista que encaixa bem com a aura vintage da cantora.

Ultraviolence retoma as canções cinemáticas de Born to Die, mas com uma grande ruptura na musicalidade (Foto: Reprodução)

Como inspiração, Lana traz na bagagem Nina Simone, Billie Holiday, Leonard Cohen, Lou Reed e bandas como Nirvana. Em Brooklyn Baby ela cita o Lou Reed. E não à toa. A faixa teria participação do cantor que faleceu no dia da gravação. O álbum também conta com um cover de Nina Simone. Em The Other Woman, a voz suave de Lana acomoda-se à música e encerra Ultraviolence de forma satisfatória. 

Para completar o clima intimista do álbum, o clipe de Ultraviolence não tem uma grande produção exuberante como em Born To Die, por exemplo. Com uma movimentação de câmera instável e um filtro vintage, a produção lembra um filme caseiro e relembra Video Games ou até mesmo os clipes feitos pela própria cantora quando ainda se chamava Lizzy Grant. 

Com Ultraviolence, Lana Del Rey conseguiu dar mais autenticidade a sua própria obra. Juntando boas referências, temas que tanto já conhecemos e com um excelente trabalho de produção de Dan Auerbach. 

Uma vez, Lana disse que Ultraviolence é uma viagem da Costa Oeste ao Brooklyn. Nesta grande jornada, sempre me sinto inebriada e imersa com esse álbum. Que, vale reafirmar, é o melhor de sua carreira. 

Um comentário em “Ultraviolence: Meia década do melhor de Lana Del Rey”

  1. Não sabia que o Lou Reed ia cantar em Brooklyn Baby (chorando pois a Lana é fãzona dele né? Daí imagina tu conseguir um feat com um artista que você admira e NO DIA da gravação, ele morre. Tipo AAAAAAA enfim)

    Tu já ouviu o álbum do Barrie? Se chama Cold Coffee e ele lançou ele em 2016. Eu tô viciado nele porque é MUITO bom, ainda mais sabendo que é sobre a Lana. (Fico surtando internamente por supostamente termos as duas versões do relacionamento deles em forma de álbuns, pode entrar Ultraviolence e Cold Coffee). Enfim, fica a dica.

    Eu gostei disso que você falou sobre o feminismo à lá Lana Del Rey. Acho que é bem isso. Só não sei se se encaixa em Fucked My Way Up To The Top sob o olhar dela usar a sexualidade dela pra chegar ao topo. Vejo mais essa música como ela respondendo às críticas de que ela tinha sido fabricada, que não era autêntica e etc. Tipo “EU ME FUDI PRA CHEGAR AQUI CARALHO, ME RESPEITA QUE ESSE É O MEU SHOW!!!!” jdisksjdkd enfim, sinto mais esse mood na música, que por esse lado, vejo mais feminismo. s2

    Aliás, tenho a impressão que o Ultra é uma mistureba sombria dos demônios da Lana na época — (que eu identifiquei até agora) a tristeza, as traições e as possíveis agressões do Barrie e as críticas misóginas contra ela. Apesar de ter ouvido um milhão de vezes, nunca tinha me atentado às letras e a tudo o que ela fala, então preciso dar uma estudada melhor. Enfim, só mais um ponto de vista.

    Adorei a crítica e quero ler maisss sobre Laninha. Não sei se tu escuta uma tal de Lizzy Grant, recomendo também pra fazer alguma crítica ao “Lana Del Rey AKA Lizzy Grant” amo esse álbum <3 xeru.

Deixe uma resposta