Os Melhores Filmes de 2020

Arte retangular de fundo verde. Ao lado esquerdo, foi adicionada uma colagem com 8 personagens dos filmes que estão na legenda. Na mesma ordem, esses são: Fern (Frances McDormand), Emicida, Joe (Jamie Foxx), Canário Negro (Jurnee Smollett), Norman (Chadwick Boseman), Autumn (Sidney Flanigan), David (Alan Kim) e Tutar (Maria Bakalova). Ao lado direito, foi adicionado o texto OS MELHORES FILMES DE 2020, em verde, dentro de um retângulo de cor preta. No canto inferior direito foi adicionado o logo do Persona, com a íris do olho na cor verde.
Destaques de 2020 no Cinema: Nomadland; AmarElo; Soul; Aves de Rapina; Destacamento Blood; Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre; Minari e Borat 2 (Foto: Reprodução)

2020 foi um ano extremamente atípico, mas isso já é de conhecimento geral. Todos sabemos que os cinemas fecharam e o conteúdo passou do presencial para o ambiente virtual. Nessa virada de mesa, quem se beneficiou foi a Netflix, citada à exaustão nas seleções abaixo. Outros gigantes de streaming, como a Amazon, a Apple e a Disney também tiraram uma casquinha do cenário pandêmico.

As indicações ao Oscar 2021 foram anunciadas e, com a Netflix angariando 35 nomeações, o futuro não pode andar para trás. Daqui em diante, o digital terá a força que os grandes estúdios sempre temeram. E, falando em Oscar, as regras para um filme (ou curta, ou documentário, ou o que quer que seja Hamilton) entrar na lista de Melhores do Ano foram um pouco mais puxadas.

De cara, qualquer produção que fez parte da temporada de premiações anterior não entra aqui. Com lançamento nacional em 2020, Joias Brutas, 1917, Retrato de uma Jovem em Chamas e Parasita não puderam passar de menções honrosas, impedidos de integrar qualquer ranking. Isso por conta do péssimo mercado de distribuição nacional, que atrasa o que pode para lucrar com o buzz dos prêmios.

Ainda considerando o careca dourado e seu prazo de elegibilidade maior, a lista do Persona abarca lançamentos entre primeiro de janeiro de 2020 e vinte e oito de fevereiro de 2021, a mesma janela delimitada para algo concorrer ao Oscar desse ano, que acontece no fim de abril, dois meses atrasado pela pandemia. E vale a data de lançamento tanto no país de origem como no Brasil, desde que obedeça à regra anterior de ter ficado de fora dos prêmios passados.

Sempre inclusiva e multifacetada, a lista da Editoria e dos colaboradores do Persona tem de tudo. Lançamentos pré-pandêmicos, filmes da Netflix, obras apresentadas na 44ª Mostra Internacional de São Paulo (que rendeu cobertura com direito a entrevistas) e produções normalmente escanteadas num ano comum e cheio de blockbusters no Cinema. O texto sobre Os Melhores Filmes de 2020 atrasou para abraçar lançamentos da temporada, mas finalmente chegou. Sente-se confortavelmente para embarcar numa viagem cheia de detalhes, nuances e vozes diferenciadas no Cinema do ano mais terrível para todos nós.

Cena do filme A Voz Suprema do Blues. Na imagem um homem centralizado sentado de frente para a câmera e de costas para um piano encostado na parede. De pele negra escura, está encostado de braços abertos no piano olhando para o lado. Usa uma camisa social branca com listras pretas e mangas levantadas até o cotovelo, um colete cinza com um lenço no bolso, calça cinza e uma gravata marrom com detalhes pretos. O cabelo crespo está repartido ao meio.
Chadwick Boseman foi uma perda enorme, e a sua última obra em vida reafirma seu inestimável talento; ele será lembrado, Wakanda para sempre! (Foto: Reprodução)

Giovanne Ramos

2020 foi um ano trágico em diversos sentidos devido ao vírus que prefiro não nomear aqui. Num momento de incertezas, os adiamentos foram inevitáveis na indústria cinematográfica, mas, com esforços e saídas criativas, fomos alimentados por uma variedade de filmes. E, com certeza, um dos filmes que fez o ano valer a pena foi A Voz Suprema do Blues, não tinha como ser diferente numa obra protagonizada por Viola Davis e o eterno Chadwick Boseman. Com pouquíssimos cenários (uns 3?), o forte da trama são os diálogos significativos e o show de atuação das personagens. O enredo não fica atrás, o drama da Netflix explora uma complexidade de temas como racismo, religião e a indústria musical e apagamento na perspectiva dos olhares negros.

Trazendo muita reflexão e um nível absurdo de profundidade – desde que você se entregue por completo – fomos agraciados por mais uma animação da Pixar – e Disney -, Soul. O filme segue a mesma carga dramática e divertida dos antecessores Viva e Divertida Mente e entrega uma mensagem otimista, tudo o que precisamos. Na mesma linha de positividade, tivemos a sequência da maior heroína da atualidade, Mulher Maravilha 1984. Ao contrário do longa-metragem de introdução às telinhas, temos acesso a uma Diana Prince mais madura e acostumada com o ‘mundo dos homens’. As cenas de lutas constantes diminuíram também comparado ao anterior, mas as sequências de ações da metade para o fim foram suficientes para consagrar a sequência de títulos como os poucos acertos do universo recém construído pela DC Comics no cinema.

E, falando em DC Comics, ao contrário do universo cinematográfico que tenta se estabelecer nos trancos e barrancos, o seu império das animações é reconhecido e a qualidade inegável. Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips é tudo o que os diretores Zack Snyder e Joss Whedon sonham para um futuro dos heróis no live-action. A sequência fecha definitivamente com chave de ouro a adaptação da linha editorial Os Novos 52 com um mega evento de heróis, onde todos tiveram espaço para brilhar na história. E, fechando a lista, não poderia deixar de citar Black is King. Inspirado no enredo de O Rei Leão, Beyoncé faz um resgate de ancestralidade africana com muito simbolismo, ostentação e um conjunto de músicas e parcerias incríveis, os pretinhos agradecem.

Filmes Favoritos: 1. Soul / 2. A Voz Suprema do Blues / 3. Black is King / 4. Mulher Maravilha 1984 / 5. Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips


Cena do filme Os 7 de Chicago. Sacha Baron, que interpreta Abbie Hoffman, e Jeremy Strong, que interpreta Jerry Rubin, caminham no centro de um corredor cercado de fotógrafos. Os fotógrafos estão atrás de uma barreira de segurança de metal. Eles estão indo para um julgamento judicial. Sacha Baron veste uma jaqueta preta e camisa social azul clara, Jeremy Strong veste uma jaqueta verde e camiseta listrada amarela e marrom. Os dois são homens brancos e têm cabelos bagunçados, Jeremy Strong tem barba.
Sacha Baron Cohen, como Abbie Hoffman, e Jeremy Strong, como Jerry Rubin, em Os 7 de Chicago (Foto: Reprodução)

Bruno Andrade

Com o tempo fica mais difícil fazer uma lista de favoritos. Talvez porque seja cada vez mais subjetivo escolher o que é melhor comparado a outro. Em 2020 — apesar da pandemia impedir lançamentos em cinema —, filmes muito bons foram lançados, alçando o streaming a um patamar ainda maior. Soul me surpreendeu positivamente. A animação que chegou ao Disney+ consegue ser profunda e delicada — assim como Toy Story — sem perder o compasso.

Em meio aos protestos do Black Lives Matter, o filme Destacamento Blood chegou à Netflix. Como já de costume na carreira do diretor Spike Lee, o filme tem um olhar irônico e também dramático sobre a questão racial. Com cenas de depoimentos de Angela Davis e Malcolm X, o longa levanta um olhar particular sobre a Guerra do Vietnã e traz a ideia de que, junto aos interesses coloniais, estavam presentes ideias racistas já antigas no país. Também em diálogo com a força que movimentos fundamentalistas e racistas retomaram, a sequência que acompanha o irreverente jornalista Borat também chegou em um momento oportuno. Com as críticas ainda mais afiadas e, até certo ponto, um pouco mais polidas e direcionadas, Borat: Fita de Cinema Seguinte trouxe em diversos momentos a sensação de rir de algo dramático, como a situação política dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump.

Com lançamento em meio às eleições presidenciais — e também com Baron Cohen no elenco —, Os 7 de Chicago desenvolve a trama quase fielmente à sequência de fatos que ocorreram nesse que é um dos casos mais emblemáticos de parcialidade judicial nos EUA. Misturado com flashbacks e um enredo bem amarrado, o filme não deixa de emocionar em nenhum momento. Termino a lista com O Homem Invisível, readaptação do filme de 1933, baseado no livro de H.G. Wells, que conseguiu colocar no clássico a discussão de relacionamentos abusivos e a questão de vítimas de violência doméstica. Uma atualização complicada, porém necessária.

Filmes Favoritos: 1. Os 7 de Chicago / 2. Destacamento Blood / 3. O Homem Invisível / 4. Soul / 5. Borat: Fita de Cinema Seguinte 


Ilustração presente no filme AmarElo: É Tudo Pra Ontem. A imagem retrata um protesto em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, ilustrado ao fundo. O teatro é pintado em um tom cinza claro e tem uma arquitetura clássica. A fachada, que é a parte visível na ilustração, possui janelas arredondadas que emanam uma luz amarela de dentro do local. Na frente do teatro, de costas para o prédio e de frente para a imagem, existem centenas de pessoas protestando, algumas com a mão direita levantada. A multidão levanta faixas brancas que dizem ‘POR IGUALDADE RACIAL’, ‘ABAIXO AO RACISMO’, e ‘CONTRA A DISCRIMINAÇÃO’. Está de noite e o céu é pintado de preto.
O documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem é uma das obras imperdíveis de 2020 (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Ano horrível, filmes fantásticos. Que coisa curiosa o Cinema ter oferecido tanto material incrível nascido em um ano tão, tão, tão ruim. Particularmente, eu coloco esse mérito na conta dos muitos cineastas independentes e narrativas costumeiramente ignoradas pelas grandes produções, quase sempre encabeçadas por mulheres e pessoas não-brancas, que encontraram seu espaço num ano que rasgou todos os planos e adiou boa parte de seus grandes lançamentos. Produções de diretoras estreantes, como o ácido e perfeito Bela Vingança, e a obra-prima indie capturada pela Disney, Nomadland, encontraram visibilidade e todos os elogios mais que merecidamente, e que só ficarão de fora da minha lista para dar lugar a outras produções igualmente louváveis.

Começo meu pódio já consagrando o primeiro lugar com o filme que representa tudo de melhor que eu vi no Cinema de 2020. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre me revirou em silêncio de uma forma reconfortante. O que o drama faz a partir de uma história sobre direitos reprodutivos é um conto preciso, sensível, respeitoso e representativo, assim como Minari, outra obra fascinante pela sensibilidade e pelo domínio técnico que demonstra ter com uma história delicada nas mãos. Qualidades que também transbordam em AmarElo – É Tudo Pra Ontem. O documentário do grandioso projeto multimídia de Emicida é formação obrigatória para todo brasileiro que conserva respeito pelo povo que construiu o nosso país – concreta e culturalmente. 

No 4º lugar, eu agradeço por existir uma produção tão corajosa quanto Judas e o Messias Negro, que não tem medo de ser radical ao defender a memória de um dos movimentos mais importantes para a história recente da América. Por fim, cito o filme que representa uma das coisas mais legais que fiz em 2020: cobrir uma mostra de Cinema e entrevistar uma cineasta brasileira. Êxtase foi um dos filmes que me tirou o fôlego na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo enquanto participava da cobertura do Persona, e a conversa que eu tive com a diretora do documentário marcou meu 2020. 

Filmes Favoritos: 1. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre / 2. Minari / 3. AmarElo – É Tudo Pra Ontem / 4. Judas e o Messias Negro / 5. Êxtase


Cena do filme Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre. Duas mãos conectadas pelos mindinhos, apoiadas contra uma superfície de tijolos enegrecidos. Ambas as mãos são caucasianas, a da direita com uma manga bege e a da esquerda com uma manga azul.
O silêncio e a simplicidade enquadram a narrativa de Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (Foto: Reprodução)

Gabriel Oliveira F. Arruda

Quando eu penso sobre o que mais me marcou em 2020, minha mente inevitavelmente vai para um momento de Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, escrito e dirigido por Eliza Hittman. Assim como o resto do longa, é um momento simples, parte de uma odisseia silenciosa e extremamente pessoal, mas que traduz uma intimidade tão profunda entre suas duas protagonistas que é difícil até de ser posta em palavras. É uma obra que nunca deixa te esquecer as personagens que a habitam, mesmo nas circunstâncias mais trágicas, e por isso é, sem dúvidas, o meu filme favorito do ano.

Shirley, dirigido por Josephine Decker, é exatamente o meu tipo de experiência: um quebra-cabeça com peças que aparentemente não se encaixam e que te deixa perdido do início ao fim, uma história fictícia sobre pessoas reais, um conto de terror erótico e sinistro centrado numa das melhores performances da carreira de Elisabeth Moss. Por outro lado, o retorno triunfal da direção de Alice Wu em Você Nem Imagina foi uma das melhores surpresas do ano: uma comédia romântica sensível e atenta a seus personagens como poucas são, foi um dos filmes que eu simplesmente desejava que nunca tivesse acabado.

Com a boa sorte de ter podido ver numa tela IMAX, logo percebi que Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (o melhor título de qualquer filme em 2020) foi a maior diversão que eu tive no cinema desde que saí encantado por Homem-Aranha no Aranhaverso (2019). Cathy Yan comanda um blockbuster esteticamente distinto que reinventa suas personagens em meio às melhores coreografias de luta do gênero, entregando pura diversão cinematográfica. E, por fim, não há como não citar o trabalho mais recente de Spike Lee, Destacamento Blood, marcado tragicamente por uma das últimas performances de Chadwick Boseman, que serve para nos lembrar do incrível talento que perdemos ano passado. Uma obra sobre o presente, passado e a maneira como escolhemos nos lembrar do trauma que sofremos e causamos.

Filmes favoritos: 1. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre / 2. Shirley / 3. Você Nem Imagina / 4. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 5. Destacamento Blood


Cena do filme Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição. Mary Twala, uma senhora negra de 80 anos, está vestida toda de preto, com um vestido que cobre até a cabeça. Ela está sentada em uma cama com lençol branco e, no seu colo, está apoiada uma mulher negra e jovem de uns 30 anos. A mulher chora e está vestida com uma roupa preta que a cobre por inteiro. Ao fundo, na parede bege marcada, está pendurado um crucifixo com Jesus.
A viúva descrente da falecida Mary Twala foi uma das melhores interpretações da temporada, mas, infelizmente, ignorada pela crítica (Foto: Divulgação Imprensa/Mostra SP)

Caroline Campos

Mesmo com o déficit de obras e lançamentos devido ao apocalipse insano que o mundo vem experimentando, o Cinema – aquele com C maiúsculo – não se deixa abater. Falar dos melhores filmes de 2020 é um assunto delicado, visto que foi um ano que necessitamos, acima de tudo, de um pouco de conforto que só a arte pode oferecer. A 44ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que ganhou uma cobertura deslumbrante pelo Persona, foi online e nos possibilitou o encontro cultural com os países mais remotos e suas mentes criativas. De lá, trouxe dois nomes para minha lista: a obra-prima lesotiana Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição, dono de uma resistência incomparável, e o sérvio Pai, com a peregrinação de Goran Bogdan – dois filmes que abordam a crueza e a complexidade da natureza humana. 

Como uma fã devota de filmes de terror, o ano passado veio recheado. Relic, O Que Ficou Para Trás e O Farol são menções obrigatórias, mas o vencedor da vaga foi o guatemalteco La Llorona, que mescla a lenda da Mulher Que Chora com o genocídio da população indígena sob a justificativa do anticomunismo. Político, assustador e belo. Outro dos favoritos, que até poderia ser chamado de terror por retratar um medo diário e constante das mulheres do mundo, é o amargo Bela Vingança. Com a direção decidida de Emerald Fennell, a satisfação que seu clímax gera é daquelas de gargalhar. Obrigada, Carey Mulligan!

Obviamente, foi quase impossível fechar uma lista com apenas 5 filmes. Burlando as regras na surdina, os que ficaram de fora do pódio, mas foram aplaudidos por essa que vos fala, foram o histórico Hamilton, o sensível Nomadland, Minari e seu elenco magnífico, e o divertido Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa. No entanto, encerrando o top 5, eu coloco o documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem. Leandro Roque de Oliveira é um dos cantores mais geniais em atividade, e a mescla política-musical-histórica que percorre AmarElo é pontual e dolorosa. Fora a apresentação incrível do cantor no Theatro Municipal de São Paulo – Emicida é mesmo um em um milhão.

Filmes Favoritos: 1. Isso Não É um Enterro, É uma Ressurreição / 2. La Llorona / 3. Bela Vingança / 4. Pai / 5. AmarElo – É Tudo Pra Ontem


Cena do filme Borat 2. O protagonista está no centro da imagem. Ele é um homem branco, com cabelo preto cacheado e bigode. Ele veste terno e calça social cinza. A camisa é verde escuro e a gravata amarela. Ele carrega uma mochila marrom. Ele está carregando uma caixa de madeira, puxado por duas rodas. Esta caixa está atrás dele, e suas mãos estão segurando o cabo de madeira que carrega ela. À direita vemos vários homens. À esquerda vemos duas crianças. À direita, mais ao fundo, vemos alguns telhados. O chão é de lama.
Cena do Filme Borat: Fita de Cinema Seguinte em que o protagonista se prepara para viajar aos EUA (Foto: Reprodução)

Letícia Ramalho

A quantidade de filmes lançados em 2020 foi pouca comparada aos anos anteriores, e por isso mesmo foi fácil e difícil ao mesmo tempo escalar os melhores do ano pandêmico. Começando pelo mais recente, Soul foi a animação lançada pela Disney no último Natal. Conta a história do Joe, músico de jazz, que sofre um acidente e passa a lutar pela vida na companhia da enérgica Número 22. Dessa vez, a Pixar se afasta bastante do mundo infantil, com conteúdo e camadas da história bem filosóficas. Nem todos os pais curtiram assistir com os filhos, mas, para quem está atrás de uma animação esteticamente instigante de assistir e uma história reflexiva, Soul é o filme.

Borat: Fita de Cinema Seguinte corre para o lado oposto, é o tipo ácido e provocativo na base do humor que escancara as incoerências do mundo político nos EUA. Cheio de ironias que podem incomodar se não gosta tanto assim. Um filme documentário que registra as relações humanas na atualidade. Outro longa que pode incomodar, mas dessa vez por ser difícil de entender, é Estou Pensando em Acabar com Tudo, o filme mais recente do diretor, produtor e roteirista Charlie Kaufman, reconhecido por suas montagens doidas e pouco convencionais, e ele mantém o estilo nesse de 2020. Interessante na medida em que cada espectador entende algo diferente, as interpretações podem ir de um extremo ao outro, enquanto conversam com as experiências individuais de quem assiste.

Para encerrar minha lista, Sergio, a biografia estadunidense do brasileiro que foi diplomata no Iraque. Estrelado por Wagner Moura, que soube criar um personagem sério e respeitado enquanto responsável por decisões importantes em guerras, sem perder a fragilidade do homem pai e amante. Vale a pena assistir ao filme e conhecer a história do brasileiro que foi muito honrado depois de sua trágica morte. 

Filmes Favoritos: 1. Soul / 2. Estou Pensando em Acabar com Tudo / 3. Sergio / 4. Borat: Fita de Cinema Seguinte


Foto de divulgação do filme Soul. Na imagem o personagem Joe Gardner tem pele negra e usa blusa preta de gola alta, chapéu cinza e óculos com armação preta, em seu ombro está o gato Mittens, de pelagem laranja, preta e branca e olhos esverdeados. Ao lado direito estão as almas de Joe e 22, ambas têm baixa estatura e tonalidade azulada.
Soul nos põe para repensar nosso caminho (Foto: Reprodução)

Jamily Rigonatto

Em um ano excepcionalmente conturbado como 2020, o que não me faltou foi tempo para explorar os antigos e novos lançamentos do audiovisual, e digo de antemão que o Cinema soube muito bem como lidar com tudo de caótico e nos proporcionou obras maravilhosas que me fizeram hesitar várias vezes para escrever essa lista. Depois de relembrar tudo que assisti, foi impossível deixar de dar destaque às produções que me foram mais reflexivas e reconfortantes, e sim, meu top 5 não poderia ser menos clichê. 

Logo no início da quarentena esbarrei com Por Lugares Incríveis no catálogo da Netflix, e, sinceramente, foi um roteiro com cenário adolescente surpreendente, a trama soube encantar com a trajetória romântica entre os protagonistas Violet Markey (Elle Fanning) e Theodore Fitch (Justice Smith), e ainda entregar personagens profundos com histórias comoventes. Seguindo a linha dos dramas, Clouds pode ser definido como emocionante. A adaptação do livro High in the Clouds é facilmente associável a títulos como A Culpa é das Estrelas e ao longa também dirigido por Justin Baldoni, A Cinco Passos de Você, mas dessa vez o bônus são mais lágrimas e uma bela reflexão sobre os sonhos e a efemeridade da vida. 

Mais um achado da Netflix foi o extremamente fofo Você Nem Imagina, explorando a evolução e os sentimentos da introvertida e complexa personagem, Ellie Chu (Leah Lewis), o filme traz representatividade LGBT e consegue desenvolver lindos laços sem ser previsível. Não seria justo deixar de consagrar Miss Juneteenth, um drama sobre a falta de oportunidade de mulheres negras e o mundo dos concursos de beleza, com um contexto social e uma história comovente, ele com certeza vale a pena. Por fim, o meu primeiro lugar precisa ficar com Soul, animação da Pixar que merece 5 estrelas. Retratando a frustração de um músico de 40 anos, o filme desbrava a alma, pré e pós-vida, e faz repensar sobre quem somos, quais nossas prioridades e o que realmente importa. Além disso, a produção é acompanhada por uma trilha sonora incrível e um humor mais maduro do que outras animações Pixar

Filmes Favoritos: 1. Soul / 2. Miss Juneteenth / 3. Você Nem Imagina / 4. Clouds / 5. Por Lugares Incríveis


Cena do filme Babyteeth. Na cena, vemos o casal num close-up, de perfil. Ele está à esquerda, tem pele branca, cabelo moicano comprido, usa uma corrente e tem uma tatuagem atrás da orelha. Ela é branca, usa uma peruca azul. Eles se olham nos olhos e entre eles está uma estrutura de sofá cor de creme.
No ano do isolamento social, minha lista de Melhores Filmes reflete produções com forte senso familiar; na foto, Babyteeth (Foto: Reprodução)

Vitor Evangelista

Chega a ser injusto encabeçar uma lista do tipo com Nomadland. O trabalho conjunto de Chloé Zhao e Frances McDormand é diferente de tudo que é feito no mercado americano, e suas maiores virtudes estão exatamente na capacidade de fazer Cinema não como um exercício de ego, e sim como uma demonstração ímpar de amor e dever ao contar histórias que merecem ser alastradas. O mesmo pode ser dito sobre a delicadeza de Minari.

Escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, a história de amadurecimento conjunto de uma família de imigrantes nos anos 70 é o filme mais amável de 2020. Sobram momentos recheados de afeto e cuidado, principalmente por parte do pequeno Alan Kim e de Youn Yuh Jung, sua avó na tela. A obra mais descarada da lista é Babyteeth, um sick-lit que toca todas as notas certas e umedece os olhos.

O longa australiano é comandado com a mão de fada de Shannon Murphy, diretora que eleva o grau clichê da história do casal de apaixonados mas acometidos por uma doença fatal, e dá as deixas perfeitas para que Eliza Scanlen e Toby Wallace entreguem atuações críveis e dolorosas de acompanhar. Outro lançamento marcante do meio do ano é The King of Staten Island. De Judd Apatow e com Pete Davidson no papel principal, é um coming-of-age tardio mas sóbrio. Por fim, destaco Sofia Coppola e seu On the Rocks, que revive narrativas familiares ao mesmo tempo em que cristaliza o carisma de Rashida Jones, e apenas por isso deve ser condecorado. 

Filmes Favoritos: 1. Nomadland / 2. Babyteeth / 3. Minari / 4. The King of Staten Island / 5. On the Rocks


Cena do filme A Metamorfose dos Pássaros. Fotografia retangular colorida. No centro está um jovem, personagem do filme. Um homem branco, com barba feita e cabelo preto curto. Ele veste uma camisa social vermelha. Está escondido atrás de folhas grandes e metade de seu rosto está coberto pelas folhas.
Filmes incríveis tiveram a oportunidade de brilhar mesmo num ano difícil como 2020; na foto, A Metamorfose dos Pássaros (Foto: Reprodução)

Caio Machado

Minha relação com o Cinema se tornou mais próxima e intensa neste ano conturbado que foi 2020. Com o fechamento dos cinemas e o adiamento de vários filmes por causa da pandemia, a internet e os festivais de cinema online desempenharam um papel importantíssimo para que eu conhecesse obras incríveis. 

Meu destaque principal vai para A Metamorfose dos Pássaros, filme-ensaio de Catarina Vasconcelos. Através de um relato sensível das memórias da família da diretora, a obra faz poesia através das imagens e nos faz refletir sobre a vida, a morte, o amor e nossa relação com aqueles que amamos. Em seguida, o estilo e a energia vibrante de Meu Nome É Bagdá também me conquistaram. Filmado de um jeito quase documental, acompanhar o cotidiano da skatista adolescente que dá nome ao título flui de uma maneira tão natural e cativante que nem dá para sentir o tempo passar. 

2020 também foi o ano do novo filme de Christian Petzold, Undine. Ao inserir a figura mitológica europeia no contexto da Berlim atual, o cineasta alemão apresenta um conto de fadas contemporâneo, preocupado em valorizar os gestos mais simples (como o abraço de um casal apaixonado) mas sem um “e viveram felizes para sempre…” no final.  Por fim, não podia deixar de mencionar Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre. A jornada de Autumn, adolescente que precisa lidar com uma gravidez indesejada, expõe quão doloroso pode ser tomar grandes decisões quando se é jovem demais para isso, num mundo tão vasto que parece não se importar contigo. Por outro lado, também demonstra o valor que a amizade tem em situações assim: é ela que torna a vida mais suportável, mais leve.

Filmes Favoritos: 1. A Metamorfose dos Pássaros / 2. Meu Nome É Bagdá / 3. Undine / 4. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre


Cena do musical Hamilton. Na imagem, vemos o personagem Alexander Hamilton, com a vestimenta de cavaleiro branca e azul, sobre um tablóide, enquanto é iluminado por um feixe de luz. Logo atrás, outros seis cavaleiros estão sobre cadeiras espaçadas no palco. Todos olham para frente
Hamilton está entre os filmes mais assistidos de 2020 na plataforma Disney+ (Foto: Reprodução)

Ana Marcílio

Após um ano repleto de surpresas no audiovisual, foi complicado criar um ranking com apenas cinco produções, por isso trouxe algumas menções honrosas. Não tem como sair de 2020 sem falar sobre Soul, uma animação linda e profunda, sem perder o tom divertido, característico da Pixar. Outra menção honrosa é o filme M8 – Quando a morte socorre a vida, uma surpresa incrível anunciada no ano passado e comprada, recentemente, pela Netflix. M8 soube abordar assuntos importantíssimos em meio a um enredo instigante, com a atuação admirável de Mariana Nunes e Juan Paiva, mãe e filho no longa. Jeferson De fez um ótimo trabalho na direção, a fotografia sabe ressaltar bem os sentimentos durante os diálogos, sendo um dos grandes destaques da produção – uma dica: assista o pós-créditos. 

Como amante dos filmes de época, não poderia deixar Emma. de fora, mais uma adaptação dos livros de Jane Austen. Apesar das opiniões contraditórias quanto à personagem principal, a atuação de Anya Taylor-Joy permite que o público veja a profundidade dos sentimentos e conflitos da protagonista. Além disso, o figurino e os cenários dão a ambientação perfeita para a história. Já o terceiro e o quarto lugar tiveram disputas acirradas, mas os escolhidos foram O Homem Invisível, um dos thrillers mais bem produzidos da última década, e O Que Ficou Para Trás, um horror psicológico britânico de tirar o fôlego. Ambos apresentam roteiros impecáveis e uma produção minuciosa, preocupada com a experiência do telespectador. Vale a ênfase para a fotografia muito bem desenvolvida, aproveitando-se da luz e sombra e do foco nas cenas de suspense.

Nas primeiras posições, aqueles que me arrepiaram da cabeça aos pés. Em segundo lugar, Hamilton com toda sua genialidade e exuberância. A saída dos palcos para as telas foi sagaz, garantindo ao filme a posição de mais assistido do Disney+. Lin-Manuel Miranda merece tudo isso, com um espetáculo marcante e inigualável, o musical é o melhor dos dois mundos: real e ficcional. Apesar disso, o pódio é comandado por AmarElo – É Tudo Pra Ontem, um documentário sensível, necessário e brilhante. Emicida é um dos grandes artistas da atualidade e carrega um talento admirável. O roteiro é criativo, consegue amarrar diversos símbolos e torna o filme uma obra-prima. Uma das criações mais emocionantes do último ano, deixando sua marca na cultura brasileira.

Filmes Favoritos: 1. AmarElo – É Tudo Pra Ontem / 2. Hamilton / 3. O Que Ficou Para Trás / 4. O Homem Invisível / 5. Emma.


Cena do filme Enola Holmes, em que a protagonista, interpretada por Millie Bobby Brown, segura uma madeira e faz o gesto como se tivesse para atirar uma flecha de um arco. Ela tem pele branca, veste uma camisa branca e um corpete amarelo com flores e está com o cabelo amarrado em trança. Ao fundo, o cenário do escritório é composto por cortinas, um candelabro, livros e elementos de decoração.
“A lutar. Foi para isso que minha mãe me criou” (Foto: Reprodução)

Larissa Vieira 

2020 foi um ano que nos exigiu muito, e filmes e séries foram um dos únicos reconfortos que encontramos em meio a tantas incertezas. Os filmes Sessão da Tarde foram os que mais me agradavam, já que ver o mundo desabando já não parecia tão ficção assim. Foi assim que produções do Disney+, recém-chegado ao Brasil, agradaram tanto o paladar de uma amante dos universos mágicos e apaixonantes. A animação Soul tem destaque na lista dos favoritos como um dos mais consoladores do ano, ao mesmo tempo que abria nossos olhos a um dos temas mais pertinentes do ano: a morte. Tema que ainda é pertinente em Clouds, um retrato de uma história real, que toca o coração de maneira que você sente a perda como se fosse um parente seu, mas ainda assim termina o filme feliz e sorrindo. 

A Netflix, de outro modo, reconfortou nossos corações com clichês de comédias românticas. Trazendo ex-estrelas do Disney Channel, a plataforma agradou ao criar Feel The Beat e Dançarina Imperfeita (Work It), com enredos clichês parecidos porém super convenientes ao período que vivemos; mas a plataforma surpreendeu ao descobrir uma nova forma de contar essas histórias românticas já conhecidas. Foi o caso de Tudo Bem no Natal que Vem, que traz uma nova representação do Natal: nada de neve, e sim o calor de 30º brasileiro, confusões de família ao invés daquela troca de presentes perfeita! A comédia previsível de Leandro Hassum tem uma reviravolta tão clichê, porém tão inesperada… 

Esse inesperado é o que garante à Enola Holmes o topo da lista. Trazer o clichê de histórias de Sherlock Holmes para uma nova visão é o que torna o filme tão surpreendente. O desenvolvimento brilhante da personagem, em contraponto a história de herói do irmão, é mérito, em grande parte, da atuação de Millie Bobby Brown, que nasceu certa para o papel, mas também da forma como a história foi contada, com o protagonismo das personagens femininas, os “locais” em que as personagens masculinas foram postas e todo o cenário criado para a história.

Filmes Favoritos: 1. Enola Holmes / 2. Tudo Bem no Natal que Vem / 3. Clouds / 4. Soul / 5. Feel The Beat


Cena do filme Palm Springs. Na esquerda, uma mulher de cabelos escuros até o ombro, com um óculos escuro de armação branca, ao seu lado um homem branco e moreno, também com óculos escuros, usando uma camisa vermelha florida. No fundo temos uma paisagem de montanha com céu azul e o começo de uma casa à direita.
Cristin Milioti, que interpreta Sarah, mostrou bastante versatilidade com um papel que a possibilitou explorar outros lados da sua atuação ao lado de Andy Samberg (Nyles) (Foto: Reprodução)

Marcela Zogheib

Para mim, timing é muito importante quando você decide ver um filme, e não sei dizer como 2020 se encaixa nisso. Foi um ano estranho para o Cinema, a indústria não tinha pra onde ir e a gente não podia ir pra onde queria, as salas de cinema. Nesse ano houveram lançamentos, mas os filmes que eu mais gostei foram aqueles antigos que traziam uma lembrança de vida fora do usual (não é à toa que todo mundo surtou quando Scooby Doo entrou na Netflix). Por isso, acho que já vou começar com o filme que realmente mais amei esse ano, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, uma produção que, apesar de ser da Pixar, fiquei com um pouco de receio e acabei me encantando, em mais de um sentido. A história de dois irmãos e um (meio) pai que embarcam em uma aventura mística era tudo que a gente precisava no começo quando tudo que dava para fazer era esperar.

Aproveitando o tópico Pixar, Soul foi o lançamento que eu mais esperei, mostrei o trailer para todo mundo e via sempre que lembrava. O filme toca em questões sobre a vida que chegaram no momento certo, e muito estratégico, sendo lançado no dia do Natal. Outro lançamento muito esperado, quase por cinco anos, foi Hamilton, Lin-Manuel Miranda, o roteirista e protagonista sempre dizia que a espera ia valer a pena, e ele estava certo. O musical traz uma emoção diferente de outras peças filmadas no mesmo formato, dá para sentir a performance dos atores como se cada movimento fosse feito calculadamente para nos emocionar. 

No tópico filmes que eu talvez não teria visto se não tivesse atingido um alto nível de estresse do EAD e tédio de ficar em casa, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fabulosa me surpreendeu muito, todo mundo já sabe que a Arlequina é incrível e a Margot Robbie mais ainda, mas o filme traz muito mais que isso em uma produção divertida que eu nem lembrava que a DC sabia fazer. Por fim, o meu escolhido como melhor filme do ano é Palm Springs, fui assistir sem saber absolutamente nada e ele entregou tudo que eu queria e precisava. Não quero me estender nele porque acho que a surpresa é a melhor parte, mas não tem como não esperar grandes coisas quando falamos de Andy Samberg. A história é intrigante, divertida e tem só 90 minutos, afinal acho que pouca gente consegue olhar para uma tela por mais tempo que isso a essa altura do campeonato.

Filmes Favoritos: 1. Palm Springs / 2. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica / 3. Hamilton / 4. Soul / 5. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fabulosa


Cena do filme "Por Lugares Incríveis". Fotografia retangular da atriz Elle Fanning e do ator Justice Smith, dos ombros até a cabeça. Elle é loira, de cabelos bem claros, presos de "maria-chiquinha" mais frouxos. Ela está de perfil, com o lado direito do rosto à mostra, e veste uma camisa branca de listras azuis claras de gola. Ela sorri e está com os olhos fechados. Justice é moreno, cabelo curto e cacheado. Ele está de perfil, com o lado esquerdo do rosto à mostra, e veste uma jaqueta vinho. Os dois estão próximos, tocando o nariz e a testa um no outro, momentos antes de se beijarem, com uma parte de uma porta do carro atrás deles. Atrás da cabeça de Ellie, ao fundo, está o pôr do sol.
“Porque não é mentira se for como você se sente” (Foto: Reprodução)

Júlia Paes de Arruda

Assistir algum filme, especialmente acompanhado de pipoca, sempre foi meu refúgio para não beirar a loucura. Ano passado, cheio de preocupações, anseios e incertezas vindas de todos os lados, não foi diferente. Qualquer entretenimento que eu via, eu corria atrás.

Dentre os meus favoritos do ano, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa foi o que vi pela última vez dentro de um cinema. O filme solo da anti-heroína é divertido, colorido e, de certa forma, inspirador. Por se falar em inspiração, Por Lugares Incríveis me deixou encantada. É aquela dose de emoção perfeita para ser vista em dias de chuva, especialmente se você está viajando de ônibus de uma cidade pra outra. 

Já dentro da quarentena, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica caiu de paraquedas e tocou o coração. Animações que falam de sentimentos sempre mexem comigo. Aliás, Soul merece um destaque especial nessa lista. Não só pela temática extremamente importante, mas também por ter apresentado a 22, com sua espontaneidade e energia cativantes. Por fim, não poderia deixar de citar Mulan que, mesmo com as mudanças de roteiro, deixou a história emocionante. 

Filmes Favoritos: 1. Soul / 2. Por Lugares Incríveis / 3. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 4. Mulan / 5. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica


Foto retangular da atriz Vanessa Kirby. Ela é uma mulher branca e loira, seu cabelo é ondulado e na altura dos ombros. Vanessa está nua, de costas e sentada numa banheira branca. Suas pernas estão levantadas na altura do ombro e o joelho dobrado em 90° graus está apoiado na parede. Suas mãos estão esticadas, alcançando seus pés. A parede é feita de azulejos brancos. À esquerda vemos uma porta cinza.
Com início denso, Pieces of a Woman nos faz sentir as mesmas dores de Martha Weiss (Foto: Reprodução)

Ana Júlia Trevisan

I believe in Sacha Baron Cohen supremacy. Ator destaque em dois lançamentos – Os 7 de Chicago e Borat: Fita de Cinema Seguinte – apresentou produções antagônicas e vendeu de forma fenomenal os dois papéis. Uma delas não poderia ficar de fora do meu pódio, conquistando o primeiríssimo lugar: Os 7 de Chicago. Ambientada em 1969, o filme traz o julgamento de sete pessoas que lideraram manifestações contrárias a Guerra do Vietnã, que havia se iniciado no ano anterior. Tendo como cenário principal o tribunal, a direção propõe um segmento interessante para um filme de guerra longe dos campos de batalha.

O sucesso de Parasita na anterior temporada de premiações me deixou de olhos abertos para produções sul-coreanas, que ganham dois espaços nessa lista. O primeiro a conquistar meu coração foi o apaixonante Minari. Apesar da produção ser estadunidense, o filme foi escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, e estrelado por atores da mesma nacionalidade. Merecidamente, Minari pegou uma vaga em Best Picture no Oscar, e meu sonho é ouvir o discurso de vencedor do representante presente na premiação. Call, da Netflix, foi o outro filme que me agradou. Amante dos filmes de terror que sou, me envolvi na perturbadora história de solidão de duas jovens em épocas distintas.

Personagens femininas arrebatadoras com narrativas atemporais também sempre tiveram minha atenção, mas esse ano conseguiram se superar. Pieces of a Woman vai além desse ranking, entra para a lista de filmes mais sensíveis sobre assunto pesado. Vanessa Kirby interpreta com transparência as brutais dores de Martha Weiss que perdeu sua filha recém nascida, envolvendo o telespectador no luto. Outro filme em que a protagonista é dona do enredo, se fazendo presente em todas as cenas e nos fazendo submergir na história é Bela Vingança. Impactante, deixa gosto amargo na boca e seu final faz reverberar todas as discussões que surgem ao longo da trama. Não é atoa que ambas atrizes estão concorrendo às principais premiações. 

Filmes Favoritos: 1. Os 7 de Chicago / 2. Minari /  3. Pieces of a Woman / 4. Bela Vingança / 5. Call


Flyer do filme Bad Boys Para Sempre. Dois homens negros, vestindo camisa preta e colete à prova de balas da polícia, segurando armas. Ao fundo, palmeiras, céu em cores alaranjadas e azuladas, está no final da tarde, um carro fugindo de duas motos e um helicóptero.
É importante se sentir representado (Foto: Reprodução)

Elder John 

Apesar das dificuldades apresentadas pelo ano de 2020, tivemos produções importantes nesse período, e minha lista consiste em filmes que, de alguma forma, me fizeram refletir. Soul, mesmo que uma animação, foi um filme que se destacou pela temática apresentada. Assim como O Poço, referência nesse sentido e se tornou marcante.

Em contrapartida, Destacamento Blood e Por Lugares Incríveis me despertaram um sentimento de proximidade muito forte com algumas cenas. São filmes com temáticas totalmente distintas, mas eu enxergo uma identificação com as obras e por isso o lugar especial na lista.

Por fim, Bad Boys Para Sempre, talvez pelo sentimento nostálgico de rever a dupla icônica de policiais, ou até mesmo por ser fã de Will Smith e Martin Lawrence. A expectativa para 2021 é assistir mais filmes que me surpreendam e me façam sentir parte.

Filmes Favoritos: 1. Bad Boys Para Sempre / 2. Destacamento Blood / 3. O Poço /  4. Por Lugares Incríveis / 5. Soul


Cena do documentário Miss Americana, onde a cantora Taylor Swift - uma mulher branca de cabelos loiros que veste uma camiseta rosa e uma jardineira jeans - toca piano, enquanto seu gato - um filhote de pelagem que mescla branco e marrom - caminha sobre as teclas do instrumento. O piano tem tons de madeira, assim como o ambiente retratado na imagem.
Taylor Swift e seu mais novo gato, Benjamin Button, em cena exibida no documentário Miss Americana (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Zanuni

Definir um filme favorito em todos os quesitos é uma missão impossível. Portanto, decidi pontuar um em cada “categoria”, passando pelos tradicionais cotados para o Oscar [Nomadland], divisores de opiniões [Bela Vingança], filmes de herói – ou nem tanto – [Aves de Rapina], documentários [Miss Americana] e as comédias típicas das produções de streaming [Eu Me Importo].

O mais novo filme estrelado por Rosamund Pike – vencedora do Globo de Ouro pelo papel -, Eu Me Importo é surpreendente, desconfortável e fora da caixa, relembrando os primeiros filmes produzidos pela Netflix, e que agora se encaixa no perfil das realizações do Prime Video. Pike carrega o longa-metragem de maneira exemplar, em uma jornada sem vilões ou heróis, que te faz duvidar da sua própria moral. Continuando nas distribuições da Netflix, Miss Americana fecha o arco de redenção de Taylor Swift, após os eventos de 2016, com uma obra íntima e emocionante, sendo essencial para todo e qualquer fã da cantora.

Estreiado há mais de um ano, Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa se coloca como um dos maiores acertos da DC nos cinemas, sempre contando com o carisma de Margot Robbie, e, depois das decepções de Mulher Maravilha 1984, conquista o trono de melhor filme de herói do ano, tranquilamente. Falando de emancipação, Bela Vingança – ou o representante de Kill Bill da década de 2020 – tem uma narrativa engajante, e aborda uma história de traumas, vinganças e cheia de plot twists. Por fim, em Nomadland, Chloé Zhao não deixa dúvidas do porquê merece mais do que ninguém o Oscar por Melhor Direção e Melhor Filme, com uma história reflexiva, contada brilhantemente por meio da atuação de Frances McDormand, que volta a atenção do público às questões econômicas dos Estados Unidos e a vida dos ‘nômades’ do país em um momento extremamente necessário, quando o mundo passa por uma nova crise. 

Filmes Favoritos: 1. Nomadland / 2. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 3. Bela Vingança / 4. Miss Americana / 5. Eu Me Importo


Cena do filme Sem Ressentimentos. Ao fundo, vemos uma casa de madeira verde. Próximos da parede estão sentadas três pessoas pardas, um homem, uma mulher, e outro homem. À frente deles está uma mesa, com panelas em cima. O chão é de tijolinhos.
Sem Ressentimentos, primeiro longa de Faraz Shariat, captura a juventude gay e discute a migração no mundo moderno (Foto: Reprodução)

Jho Brunhara

Algumas semanas atrás li um artigo da i-D Magazine sobre como mulheres assassinas do audiovisual e da literatura se tornam ícones para crianças LGBTQ+ durante a infância e adolescência. Resumidamente, em um mundo no qual a masculinidade é hegemônica, assistir o poder emanar de mulheres que, muitas vezes, buscam vingança e justiça, é encorajador e satisfatório. Enquanto assistia Bela Vingança (Promising Young Woman), esse era o único sentimento que explodia dentro de mim. Ao longo das 2 horas de filme, a protagonista Cassie, interpretada pela maravilhosa Carey Mulligan, transborda astúcia e meticulosidade, que, infelizmente, vem de um lugar horrível de seu passado. Enquanto enfrenta o inimigo do longa, o machismo estrutural que causa dores terríveis e arruína vidas para sempre, a personagem vira um espelho de todo espectador que alguma vez já sentiu na pele alguma forma de violência oriunda dele. Emerald Fennell costura um roteiro de tirar o fôlego e deixar na ponta do sofá. 

Sem Ressentimentos (Futur Drei), drama alemão de Faraz Shariat, é outro que luta contra um sistema preconceituoso. Nesse longa de amadurecimento, assistimos o florescer de um romance gay em um centro de refugiados, e também roemos as unhas durante o processo de uma irmã e um irmão iranianos para conseguir cidadania alemã e fugir de um país em que a homossexualidade é crime. O arrebatador Nomadland, de Chloé Zhao, desmantela o capitalismo e prova que a solidão pode ser menos só do que aparenta. Frances McDormand se funde perfeitamente à atmosfera do filme e, em momentos, parece ser a própria Fern em carne e ossos. 

Valentina, drama LGBTQ+ imperdível de Cássio Pereira Dos Santos, é, sem dúvidas, um dos longas mais importantes do ano. Estrelado pelas talentosíssimas Thiessa Woinbackk e Guta Stresser, o coming-of-age brasileiro discute a adaptação de uma menina trans numa cidade do interior de Minas Gerais, juventude, transfobia, amizade e, principalmente, identidade. Por fim, o milagroso Minari, drama familiar de Lee Isaac Chung, é muitas coisas de uma vez só, mas funciona. Exatamente como as relações de uma família de verdade, Chung consegue colocar na tela todas as sensações de tensão e pertencimento, nos fazer passar raiva e também nos emocionar. 

Filmes Favoritos: 1. Bela Vingança / 2. Sem Ressentimentos / 3. Nomadland  / 4. Valentina / 5. Minari


Foto da cena do filme Sergio, onde o ator Wagner Moura e a atriz Ana de Armas, que interpretam Sergio e Carolina na Cinebiografia, estão em ruínas no meio de uma floresta. Ambos se encontram de costas para a câmera e se encaram, de mãos dadas.
Cena do filme Sergio (Foto: Reprodução)

Luize de Paula

2020 foi um dos anos em que eu mais assisti filmes em casa pelos serviços de streaming devido a pandemia, mas antes que isso acontecesse e começassem os longos meses em que chorei (e choro) de saudades de uma pipoca de cinema, a estreia de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa foi um dos maiores presentes da DC no Universo Cinematográfico até hoje. Desde a estreia de Esquadrão Suicida, os rumores de algo futuro envolvendo as personagens femininas dos quadrinhos me deixaram animada para ver novamente a Arlequina de Margot Robbie. Apesar do medo de ser uma continuação da confusão que o filme de 2016 foi, a diretora Cathy Yan não decepcionou e entregou um dos melhores filmes do ano. Desde a divulgação até a introdução de novas personagens dos quadrinhos para os cinemas, Aves de Rapina é, em poucas palavras, simplesmente fantabuloso.

Muitos filmes e séries de 2020 trouxeram a atenção internacional para o Brasil por causa de seu grande destaque nas plataformas de streaming, como é o caso do filme norte-americano sobre o brasileiro Sergio Vieira de Mello – interpretado pelo brilhante Wagner Moura – ou “O Homem que queria salvar o mundo”, título do livro que inspirou a produção da Netflix. Mostrando parte da vida do Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, Sergio é uma cinebiografia repleta de flashbacks e cenas esteticamente impecáveis e emocionantes, contando a história do diplomata e ainda com uma história de amor em segundo plano. Ana de Armas e Wagner Moura nos entregam cenas cheias de paixão e beleza, não restando dúvidas que a representação do romance de Sergio com a argentina Carolina não seria o mesmo se não fosse pela escolha desses atores. Ainda nas brasilidades, o filme Tudo Bem no Natal que Vem é um prato cheio de comédia, com drama e sutileza ao mesmo tempo. Leandro Hassum consegue nos tirar risadas em duas horas, ao mesmo tempo que nos faz chorar, refletir e aquece os nossos corações com uma história leve. Em uma mistura de um Natal bem brasileiro, com reviravoltas envolventes e um roteiro que lembra nostalgicamente o filme Click (2006), a Netflix acertou novamente.

Não podendo faltar um musical na minha lista, a gravação do musical Hamilton na Disney+ também entra como um dos meus favoritos. Apesar de ser o pior pesadelo para quem não gosta de musicais, por ser pura música e sem diálogos ao longo de toda sua gravação, Hamilton é agradável esteticamente e sonoramente aos que gostam e apreciam. É uma experiência única, como assistir um álbum completo com todos os seus sentidos. Também da Disney+ e com um forte apelo aos que gostam de música, a animação Soul tocou as almas de todos que assistiram. Assim como as outras grandes produções da Pixar, o desenho vem acompanhado de teorias de conexão com outros filmes do estúdio, o que faz a experiência não ser apenas para as poucas horas de filme. Emocionante, faz ponderar sobre seguir seus sonhos e sobre o nosso propósito na vida de maneira impactante.

Filmes Favoritos: 1. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 2. Sergio / 3. Tudo Bem no Natal que Vem / 4. Hamilton  / 5. Soul


Cena do filme O Diabo de Cada Dia. Mostra o personagem de Robert Pattinson sentado em um banco de igreja. Ele tem metade do corpo virado e olha para trás. Em sua mão direita, que está apoiada nas costas do banco, ele segura um livro. O personagem é um homem branco de cabelos castanhos claros e curtos. Ele usa uma blusa social branca, um relógio de ouro no pulso e um anel no dedo mindinho. Ao fundo vemos uma grande janela desfocada e mais alguns bancos marrons.
“Como e por que pessoas de dois pontos em um mapa, e nem sequer em linha reta, podem ter se conectado é o centro de nossa história em Knockemstiff” (Foto: Reprodução)

Ana Laura Ferreira

Mesmo com cinemas fechados, estreias adiadas e sets de filmagem lacrados, a Sétima Arte deu um jeito de driblar os empecilhos da quarentena. E dessa vontade magistral de mostrar para o mundo as maravilhas cinematográficas que os estúdios tinham guardadas na manga que fomos felizes por meio dos streamings. Ainda em tempos normais, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica da Pixar trouxe uma história recheada de carinhos familiares e se destacou por pegar o cinema pipoca e recheá-lo de carga dramática, tornando o filme “infantil” ideal para todas as idades – coisa que a produtora sabe bem como fazer.

Mas, já em momentos de lockdown, plataformas como Netflix e Amazon se destacaram pelo nível de qualidade que vinham mostrando há algumas temporadas de premiações, mas que agora se comprovam de forma mais sólida a olhos leigos. Entre os destaques, O Diabo de Cada Dia traz uma atmosfera bruta e melancólica que conflita com doses de thriller psicológico, criando uma narrativa imersiva.  Mas não podemos esquecer de Os 7 de Chicago, que chegou com a carga política potente e abriu caminho entre as premiações, graças ao seu roteiro primoroso e a atuação de Sacha Baron Cohen.

Migrando para o gênero de comédia, Andy Samberg nos presenteou com a cômica ficção científica Palm Springs, que não se deixa perder no gênero, criando personagens profundos e dinâmicos. E é claro que ainda existem inúmeras produções que merecem ser consagradas por sua magnitude, entre elas Nomadland, Uma Noite em Miami… e Judas e o Messias Negro. Porém, destaco como a melhor obra Promising Young Woman, ou Bela Vingança. Pesado, complexo, dramático e poderoso de todas as formas possíveis, Carey Mulligan nos entrega a protagonista mais marcante dos últimos tempos e toca em temas delicados com a quantidade perfeita de acidez necessária para causar o incômodo que precisa. 

Filmes Favoritos: 1. Bela Vingança / 2. Os 7 de Chicago / 3. Palm Springs / 4. O Diabo de Cada Dia / 5. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica


Cena com as protagonistas do filme Aves de Rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa. Ao centro vemos Arlequina, uma mulher branca com olhos azuis e cabelos loiros com as pontas coloridas meio a meio com as cores azul e rosa. Vestindo um macacão dourado e segurando uma marreta. Ao lado direito da foto, está Cassandra Cain, uma garota asiática de cabelos pretos. Vestindo um moletom vermelho e bermuda jeans. Mais à direita, está a Canário Negro, uma mulher negra de cabelos loiros. Vestindo uma calça preta e top dourado. E está segurando um taco de baseball. Ao lado esquerdo, está a Caçadora, uma mulher branca de cabelos pretos e curtos. Vestindo uma calça e blusa na cor preta. E está segurando uma besta. Mais à esquerda, está a detetive Renee Montoya, uma mulher latina de cabelos castanhos e ondulados. Vestindo uma calça preta e camisa azul com uma regata branca por baixo. Ela está usando um soco inglês na mão esquerda.
Com mulheres ao comando da nova produção, Arlequina destaca-se devido a sua personalidade e não a sua sensualidade: cercá-la de mulheres fortes exaltou seu empoderamento e reforça ainda mais sua emancipação (Foto: Reprodução)

Gabriel Brito de Souza

Em meio a turbulência de 2020, tivemos a sorte de ainda podermos contar com tantos filmes incríveis que saciaram nossa sede por entretenimento, mesmo estando longe das tradicionais salas de cinema. Muito aguardado pelos fãs da guerreira chinesa, o live-action de Mulan distancia-se de um remake da animação de 1998, mas rebusca na lenda folclórica chinesa uma releitura mais fiel e respeitosa. Nessa adaptação, acompanhamos a história de uma heroína na descoberta e construção de sua identidade e tudo ao seu redor, nos mostrando sua verdadeira força e espírito. 

E, falando em animação, Michel Ocelot veio nos emocionar com sua nova produção, Dilili em Paris. A trama se dá quando, ao visitar Paris, a personagem descobre que um grupo maléfico vem misteriosamente sequestrando garotas na capital francesa. Junto com seu jovem amigo Orel e a Dama Emma Calvé, eles estão determinados em enfrentar a quadrilha que vêm fazendo este mal. Entre as emblemáticas fotografias parisienses, como a famosa torre Eiffel, o filme fica ainda mais adorável com a participação de figuras importantes da história, como a cientista Marie Curie e o aeronauta brasileiro Santos Dumont, além de abordar questões como racismo e empoderamento feminino.

Entre os sucessos de bilheteria, a DC Comics lançou os filmes Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa e Mulher Maravilha 1984. Acompanhar a trajetória de empoderamento da anti-heroína mais maluca dos quadrinhos e mais uma das aventuras da Amazona mais poderosa dos HQs nunca foi tão emocionante. Além dos figurinos descolados de Arlequina e o visual deslumbrante de Diana, é primordial salientar o quão importante foi a produção de ambos os filmes por direções femininas. Os olhares de Cathy Yan e Patty Jenkins sobre as personagens foi fundamental para nos entregar cenas de ações surpreendentes e tornar suas histórias ainda mais cativantes. E, ainda falando do universo DC, a animação Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips trouxe o encerramento de uma era iniciada em 2014, do Universo de Filmes Animados da DC Comics. Nesta nova aventura, a Liga da Justiça prepara-se para derrotar Darkseid, buscando evitar a devastação da Terra. Entre tantos combates, nos deparamos com um cenário sombrio e realmente apocalíptico, que nos faz pensar que esse talvez seja o fim para as heroínas e heróis da Liga. Contudo, pudemos nos emocionar com o grande final de uma trama recheada de perseverança na luta do bem contra o mal.

Filmes Favoritos: 1. Mulan / 2. Dilili em Paris / 3. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 4. Mulher Maravilha 1984 / 5. Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips


A fotografia do filme A Casa apresenta os dois personagens principais, Javier e Tomás. Em primeiro plano, Javier é um homem branco de estatura média, pouco cabelo, olhar franzido e braços cruzados.Ele está vestindo jaqueta e camisa preta. Ao seu lado direito está Tomás, um homem branco, alto, com cabelos pretos e barba, suas mãos estão no bolso da sua calça.Ele está vestindo terno, gravata, camisa e calça em tons escuros. Em segundo plano, o fundo é composto por árvores verdes em desfoque.
O suspense espanhol A Casa trabalha a questão do status social e desemprego (Foto: Reprodução)

Geovana Arruda

A linha tênue entre os filmes que aquecem o coração e os que geram reflexões insaciáveis esteve presente durante todo o meu ano, principalmente com a situação caótica que estamos vivendo. Soul é o melhor dos dois mundos, a animação da Pixar aborda o sentido da vida através de Joe, um professor de música do Ensino Médio, trazendo de forma leve a reflexão sobre o propósito na vida. Também seguindo a linha dos lançamentos que o Disney+ proporcionou, Mulan me surpreendeu positivamente como um live-action totalmente de ação. 

Mais um da lista dos filmes conforto, Tudo Bem no Natal que Vem foi uma surpresa ótima que me tirou lágrimas e muitas risadas. A comédia protagonizada por Leandro Hassum é um clichê de Natal, mas com o toque do humor brasileiro. Em contrapartida, a produção espanhola A Casa trouxe muito incômodo em todas suas cenas e a reflexão acerca dos problemas que temos e como lidamos com eles. O suspense da Netflix ficou reverberando na minha cabeça durante dias e, apesar de não ser uma grande produção, é uma forma de representar todos os muitos suspenses que assisti esse ano. 

Por fim,  Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa não se enquadra nas categorias de caos e conforto, mas foi um lançamento de 2020 que me surpreendeu. A narrativa da já famosa Arlequina (Margot Robbie) é empoderada mas sem perder sua essência, trazendo outras mulheres que querem se libertar de algo ou alguém, relacionadas a muitas problemáticas da realidade não fantasiosa, como suas roupas, sexualidade e estereótipos de comportamento. Apesar de existirem diversos pontos a serem repensados, acredito que o filme pode inspirar as novas gerações sobre ser uma mulher livre, deixando de lado muitas vezes as desavenças de lado e lutando para um bem maior de todas. 

Filmes Favoritos: 1. Soul / 2. Mulan / 3. Tudo Bem no Natal que Vem / 4. A Casa / 5. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa


Cena do filme Crimes de Família. Nas imagens constam duas pessoas sentadas em uma mesa. A protagonista Alicia está de frente olhando para seu filho, Daniel, que está ao lado desfocado da câmera. Alicia é uma mulher de meia idade branca, com cabelos loiros na altura do ombro, ela veste uma blusa listrada preta e rosa claro e está de braços cruzados sobre a mesa. Daniel é um homem branco, com barba e cabelo castanho liso, ele veste um suéter cinza. O cenário por traz é branco e também está desfocado.
O drama argentino Crimes de Família é protagonizado pela incrível Cecilia Roth (Foto: Reprodução)

Isabella Siqueira

Durante um ano decepcionante, estar presa em casa me inspirou a procurar novas obras e distrações para a realidade complicada, assim, a palavra diversidade é a base para contemplar meus Melhores Filmes de 2020. Começando pelo drama policial argentino da Netflix, Crimes de Família não é apenas mais uma produção policial clichê. A impunidade envolvida nas agressões domésticas e os conflitos familiares e sociais são apenas a superfície do que é abordado no longa. Liderada pela incrível Cecilia Roth, a obra retrata com força o peso da responsabilidade que recai em uma mãe confrontada pelos erros do filho e do declínio da família perfeita. 

Já fugindo da bolha dos streamings, Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, dirigido pela sensacional Eliza Hittman, é aquela obra atemporal por trazer uma sensibilidade que transborda para fora da tela. Com uma narrativa centrada na angústia de uma adolescente prestes a realizar um aborto, o longa arranca emoções ao apontar sugestões sutis da violência presente na vida das protagonistas.

Para representar a categoria comédia, Palm Springs foge dos clichês com um looping temporal absurdo. Os perfeitinhos Andy Samberg e Cristin Milioti estrelam o revigorante longa que mistura ficção, humor e romance. Já o coreano Call é uma boa pedida para quem tem mente aberta e topa uma trama confusa, o suspense utiliza o telefone para compor a história de duas mulheres reunidas pela solidão, mas separadas pelo tempo.  Esperando a atualização dos filmes adolescentes queridinhos da Netflix, acabei esbarrando com a obra italiana O Sol de Riccione, que mostra como as produções teens estrangeiras tem potencial. Ao estilo Idas e Vindas do Amor (2010), a trama consiste em vários jovens e suas crises amorosas no verão agitado da comuna litorânea de Riccione.

Filmes Favoritos: 1. Crimes de Família / 2. Nunca, Raramente, Ás Vezes, Sempre / 3. Palm Springs / 4. Call / 5. O Sol de Riccione


Foto de divulgação do filme Meu Nome é Bagdá. Ao centro, do busto para cima, vemos Bagdá, uma menina branca, de cabelos castanhos, curtos e lisos e olhos castanhos. Ela veste um top preto e uma corrente prata ao redor do pescoço e abraça um skate com a parte de baixo rosa e com a palavra “caos” pintada. Ela está em frente a uma fachada de madeira rosa clara.
Meu Nome é Bagdá estreou mundialmente no Festival de Cinema de Berlim e foi premiado com unanimidade (Foto: Reprodução)

Vitória Lopes Gomez

Restrita à sala de casa, recorri aos filmes: procurando me emocionar, me fazer pensar, me distrair e fugir da minha realidade, mergulhei em tantas outras. Com o meu preferido do ano, Nomadland, foi assim, um verdadeiro mergulho. Da trilha sonora imersiva à direção atenciosa e magnífica de Chloé Zhao, acompanhar a vida nômade de Fern pelos Estados Unidos conciliou beleza e solidão e me emocionou até mais do que eu previa. O meu segundo lugar fica com O Som do Silêncio, em que o baterista Ruben perde a audição e tem de se adaptar à nova realidade, em uma narrativa tocante e brutal que encanta também pela sonoplastia. 

Esse próximo, mais perto de casa, Meu Nome é Bagdá, da diretora Caru Alves de Souza, segue a vida da skatista Bagdá. Num Skate Kitchen político e paulistano, o longa celebra o poder feminino e reivindica às mulheres espaços tipicamente masculinos – inclusive o Cinema, já que a equipe de produção é majoritariamente feminina. Outro preferido de 2020, Summerland me pegou de surpresa: desavisada, dei play esperando um romance, mas depois de assistir à reclusa Alice ser obrigada a abrigar um menino londrino e acabar formando uma relação familiar com ele, os amores do passado são só um bônus. 

Antes de fechar a lista com uma estreia de 2021, cabe aqui menções honrosas aos divertidos Borat: Fita de Cinema Seguinte e Hamilton, e aos pré-selecionados ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o francês Deux e o mexicano Ya no estoy aquí. E por último, mas não menos importante, Minari, a delicada semi-autobiografia do diretor Isaac Lee Chung, acompanha uma família sul-coreana lutando para prosperar nos Estados Unidos. Em outro, Farewell, Amor, a vida da diretora americo-tanzaniana Ekwa Msangi também inspirou a narrativa de uma família de refugiados angolanos em busca do ‘sonho americano’. As jornadas são duras, mas são cheias de amor. 

Filmes Favoritos: 1. Nomadland / 2. O Som do Silêncio / 3. Meu Nome é Bagdá / 4. Summerland / 5. Minari


A imagem é uma cena do filme A Assistente. Na imagem, está a personagem Jane, interpretada por Julia Garner. Jane é uma mulher branca, de cabelos loiros e presos em um coque; ela veste uma blusa rosa de manga comprida e gola alta e está com um relógio preto em seu pulso direito. Jane está em um escritório, segurando um telefone branco com fio com a mão direita ao seu ouvido direito, ela também está com a cabeça e olhar levemente voltado para a sua direita. O fundo da imagem está um pouco embaçado, mas é possível visualizar um outro funcionário trabalhando em uma das mesas do escritório.
A Assistente é um dos melhores e mais subestimados filmes de 2020 (Foto: Reprodução)

Vitória Silva

Entre todos os desafios que 2020 trouxe, o Cinema com certeza foi um dos que mais sofreu as consequências. Com salas fechadas ao redor do mundo, não foi fácil para a indústria se sustentar. Apesar de muitos lançamentos terem facilmente se adaptado para o streaming, alguns acabaram saindo por baixo dos panos, como foi o caso de A Assistente. O filme, dirigido por Kitty Green, teve sua estreia nas telonas totalmente barrada pela pandemia, o que, infelizmente, dificultou que uma história contada de forma tão necessária tivesse conhecimento do grande público. O mesmo aconteceu com Três Verões, que, por se tratar de um filme nacional, já não teria muito apelo nos cinemas, e acabou sendo ainda mais afetado. 

Por outro lado, e também se tratando de uma obra com temáticas sociais e pertinentes, Os 7 de Chicago conseguiu fazer barulho suficiente via Netflix, e já conquistou suas posições na corrida para o Oscar 2021. A produção de Aaron Sorkin não poderia ter vindo em um momento político mais ideal, e entrega tudo que um drama judicial deveria entregar. Ela é instigante, triste e acalentadora em doses certas, e todos os prêmios que ainda receber virão merecidamente. 

Em um ano tão difícil e trágico, sobrou espaço para se buscar filmes que servissem de consolo. Palm Springs é facilmente um dos melhores romances já feitos, mesmo sem se esforçar muito para isso. O documentário AmarElo: É Tudo Pra Ontem, do Emicida, é um sopro de esperança e uma aula essencial de um dos maiores músicos da atualidade. E, se a Pixar nos fez chorar de soluçar por tantos anos seguidos, em 2020 ela decidiu nos entregar também uma reflexão. Soul fechou com chave de ouro os 12 meses mais turbulentos da história recente, e concedeu tudo que nossos corações (e almas) precisavam ver e ouvir. 

Filmes Favoritos: 1. A Assistente / 2. Três Verões / 3. Soul / 4. AmarElo: É Tudo Pra Ontem / 5. Palm Springs / 6. Os 7 de Chicago


 O cenário é uma praia, à noite, com pedras grandes e uma fogueira ao fundo. No plano principal destacam-se três personagens, da esquerda para a direita temos John um homem negro de estatura alta usando um conjunto molenton vermelho, uma camisa branca e correntes de outro no pescoço; ao lado de John está Allinson, uma mulher branca, ruiva usando um conjunto de líder de torcida amarelo e branco, a personagem aparece com as mãos na cintura; por fim, ao lado de Alisson tem o personagem Max, um homem branco, alto, musculoso e que aparece sem camisa, apenas com uma calça jeans. Os três personagens estão encarando algo na sua frente que não aparece na cena.
McG, diretor de The Babysitter e The Babysitter: Killer Queen, confirmou que há planos para um terceiro filme (Foto: Reprodução)

Nathalia Franqlin

2020 foi um ano relativamente fraco para lançamentos de filmes no Cinema nacional e internacional, atrasos em estreias, problemas nas produções e a transformação na forma de interagir com a Sétima Arte, tudo isso em decorrência, é claro, da pandemia de covid-19, que assolou o mundo ao longo do ano. Mas, nem tudo são lágrimas, em meio a tantas derrotas há, é claro, algumas vitórias. Um dos primeiros a chegar com tudo é Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, a emancipação de Arlequina foi esperada com temor por parte dos fãs após o fracasso de Esquadrão Suicida, mas, visando seu público alvo, a película conseguiu agradar e servir momentos leves e divertidos, sendo o tipo de filme perfeito para um fim de tarde com as amigas.

Ainda sobre filmes divertidos e com a capacidade de elevar o astral, coisa que foi necessária para todos em 2020, temos A Babá: Rainha da Morte. O longa é uma continuação do filme de 2017, A Babá, e faz uma mescla de personagens antigos e carismáticos com novos personagens também carismáticos e inusitados – menção honrosa para Jenna Ortega, que vive a complicada e inesquecível Phoebe. O longa lavou o enredo com várias referências a filmes clássicos, como O Exterminador do Futuro, dando aquele gostinho de nostalgia para os mais antigos. No campo das animações, a Disney não poderia ficar de fora, e trouxe mais um filme pra fazer marmanjo chorar de emoção. Soul é uma obra extremamente sensível e necessária que cumpriu com todas as expectativas dos fãs. Já faz tempo que as animações deixaram de ser um espaço unicamente para crianças e Soul demonstra isso, sendo um filme que eleva os níveis da estética, arte, sensibilidade e maturidade trabalhados na Sétima Arte.

As plataformas de streaming foram muito necessárias no ano em que ninguém podia sair de casa, e a Netflix vem novamente para essa lista com Eu Me Importo, estrelando Rosamund Pike em mais um papel polêmico de psicopatia. Esse longa, diferente dos últimos aqui citados, não é leve e divertido, mas sim um suspense intenso e visceral, muito recomendado para aqueles que amam cair de cabeça numa narrativa em alguma tarde solitária. E, para fechar, a cereja do bolo, Borat: Fita de Cinema Seguinte. A obra vem num formato totalmente diferente do que o Cinema tradicional costuma apresentar, o longa é a continuação do filme de 2006 e mantém a estética de falso-documentário com atores reais, o que torna a trama uma divertida experiência antropológica para aqueles que gostam de ver a nação mais orgulhosa do mundo sendo expostas como meros protagonistas de casos de desinteligência. Borat: Fita de Cinema Seguinte é uma peça memorável por vários motivos, mas o principal é o trabalho de Sacha Baron Cohen como o protagonista do filme.

Filmes Favoritos: 1. Borat: Fita de Cinema Seguinte / 2. A Babá: Rainha da Morte / 3. Soul / 4. Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa / 5. Eu Me Importo


Cena do filme Bela Vingança. Carey Mulligan, uma mulher branca adulta, está no centro da imagem. Ela tem o cabelo loiro com várias mechas coloridas e está maquiada com lápis azul nos olhos e batom vermelho nos lábios. Ela usa uma roupa de enfermeira branca com detalhes em vermelho e nas mãos está colocando uma luva na cor rosa. Sua expressão é de maldade. O fundo da imagem está desfocada, mas é possível ver alguns homens jovens conversando.
Na sua estreia como diretora, Emerald Fennell tratou sobre o machismo e a cultura do estupro em Bela Vingança (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Rodrigues

O papel de cada produto cultural e a valorização da arte foi bastante abordado no ano passado. A temporada de premiações estreou e os Melhores do Ano já começaram a ser discutidos. Para classificar esse pódio, que foi bem difícil, levei em conta o que esses filmes causaram em mim, por isso essa lista pode não ser tão duradoura e daqui uns meses tudo mudar. O quinto lugar é ocupado por comédias que estão dispostas a te dar um puxão de orelha e um pouquinho de realidade. Borat: Fita de Cinema Seguinte é ainda melhor que o primeiro e a produção de Sacha Baron Cohen foi capaz de levar o Globo de Ouro como Melhor Filme de Comédia ou Musical. Como um belo presente de Natal, a Netflix estreou em dezembro o filme Tudo Bem no Natal que Vem. O filme estrelado por Leandro Hassum ocupou o top 10 do streaming em diversos países. Contando sobre o Natal nesse país tropical e looping temporal, a produção surpreendeu com um filme emocionante. 

Em 2020, ganhamos outro presente também, o Disney+ finalmente chegou ao Brasil, e um dos seus principais lançamentos foi Hamilton. A gravação do musical em 2016 veio em forma de filme. A história de um dos pais fundadores dos Estados Unidos com muito talento foi incrivelmente adicionada ao catálogo, dando prestígio a um dos musicais mais queridos do mundo. Nomadland foi o melhor em tantos sentidos que é complexo demais para explicar. O roteiro e a direção de Chloé Zhao levaram a obra a um resultado inexplicável.

Outra obra que não pode ser deixada para trás é o longa Bela Vingança (Promising Young Woman). A atuação de Carey Mulligan dança em conjunto com o roteiro, e esse movimento faz com que esse seja um filme que te faz pensar dias sobre o final. Por mais que não seja perfeito, Palm Springs foi a felicidade e escape em alguns dias tristes da quarentena. Com Andy Samberg e Cristin Milioti, a comédia, que foi sucesso no Festival de Sundance, garantiu espaço do melhor do ano do meu coração. 

Filmes Favoritos: 1. Palm Springs / 2. Bela Vingança / 3. Nomadland / 4. Hamilton / 5. Borat: Fita de Cinema Seguinte / 6. Tudo Bem no Natal que Vem


Cena do filme Dois Irmãos. A imagem mostra três elfos, um garoto grande, usando uma camiseta preta com um colete jeans e uma bermuda cargo verde, com pele e cabelos azuis, segurando um copo com canudo, aparentando confiança. Ao seu lado a metade de um homem, aparece apenas suas pernas. Ele veste uma calça social bege, meias listradas roxas, e um sapato social marrom. E ao lado dele, um garoto, com a pele e cabelos azulados encaracolados, camisa xadrez vermelha e calça jeans, segurando um cetro mágico de madeira, com cara de medo. Eles estão no meio de uma rua de uma cidade, com construções inspiradas na arquitetura medieval.
A história dos dois irmãos elfos acabou sendo prejudicada pelo coronavírus: o filme, que foi lançado em março, teve uma das piores estreias da Pixar, tendo um faturamento similar ao do esquecível O Bom Dinossauro (Foto: Reprodução)

Pedro Gabriel

Os filmes em 2020 estiveram muito presentes, pois eram um escape para apreciar com a família na quarentena. Não posso iniciar essa lista sem citar Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica. O longa-metragem, que sofreu com os efeitos do início da quarentena, acabou passando despercebido por muitos, mas não deixa de encantar quem o assiste. A história dos dois irmãos elfos é instigante e emocionante, maravilhosamente construída nesse mundo fictício, com a magia Pixar. Continuando nas produções do estúdio, novamente emocionando a todos que assistem, a animação Soul veio como um presente de Natal da Pixar para o mundo. Com um dos melhores finais do estúdio, a obra transcende a tela com suas questões.

Na quarentena, em meio ao turbilhão de coisas que estavam acontecendo, a chegada de Quase Uma Rockstar foi uma grande surpresa. Esperava algo completamente diferente do que recebi, uma trama sensível e que não tem pressa em contar história. A protagonista é muito carismática, fazendo você torcer por ela logo nos primeiros segundos do filme. O mesmo sobre Por Lugares Incríveis, que retira dos lugares mais improváveis grandes paisagens. A narrativa do filme trabalha de forma delicada as questões de saúde mental e o amor entre os protagonistas. Foi uma grata surpresa, que retirou baldes de lágrimas enquanto assistia com a minha mãe.

Por fim, fiquei muito confuso com o que escolheria. De um lado, temos o absurdo retorno de Borat: Fita de Cinema Seguinte, o jornalista do Cazaquistão, que, mesmo não tendo o grande fator surpresa do primeiro filme, consegue segurar a sequência com seu dinamismo e química com sua filha, Tutar. Mas não poderia deixar de citar The Boys in the Band. O filme baseado na peça homônima, que conta a história de um grupo de amigos gays que se encontram em uma festa de aniversário, foi um grande presente em 2020. Os dramas que surgem nessa festa, o texto rápido teatral, e as atuações incríveis – com um destaque para o Jim Parsons – tornam a produção desconfortável e com um ar intrigante. Você quer ver suas resoluções, mesmo que o caminho para isso necessite um mergulho nos traumas de cada personagem.

Filmes Favoritos: 1. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica / 2. Soul  / 3. Quase uma Rockstar / 4. Por Lugares Incríveis / 5. The Boys in the Band


Cena do filme Você Nem Imagina. Duas jovens estão deitadas na água. A da direita é uma mulher branca de cabelo escuro e blusa amarela, que olha para o céu. Ao seu lado, outra mulher branca de blusa laranja e óculos preto também tem o rosto virado para cima. Na água de tom esverdeado embaixo delas, é possível ver o reflexo de seus rostos.
Romance e amizade são discutidos no filme Você Nem Imagina (Foto: Reprodução)

Mariana Chagas

Antes mesmo de ser premiado no Grammy, folklore já havia se tornado meu Álbum do Ano. Com músicas íntimas, inteligentes e acima de tudo criativas, Taylor construiu um universo próprio. E no documentário folklore: the long pond studio sessions, a cantora abre as portas da cabana onde a mágica ocorreu e nos deixa viajar dentro da sua imaginação. Ela e seus parceiros de trabalho batem um papo sobre as histórias e memórias que inspiraram a obra. Dentre elas, uma das discussões mais interessantes é acerca da faixa my tears ricochet, uma narrativa sobre como a pessoa que você mais ama e confia é a que mais saberá te machucar.

E é exatamente isso que o filme Malcolm & Marie retrata. O longa da Netflix tem como protagonistas  – e únicos personagens – o casal interpretado por John David Washington e Zendaya. A atuação incrível junto com a absurda química dos dois conseguiu me prender na discussão longa e incansável de um casal um tanto complicado. Ainda nos romances, o terceiro lugar da minha lista vai para Você Nem Imagina. A premissa é simples: o atleta da escola quer ajuda da nerd para conquistar a garota popular. Mesmo com todos os elementos de um clichê, o filme segue um caminho surpreendente que o público, de fato, nem imagina. Abordando amizade, amor, autoconhecimento e sexualidade, o filme é uma tentativa certeira da Netflix de um romance LGBT+. 

Também produzido pela plataforma, o curta-metragem Canvas aqueceu meu coração. A animação melancólica mostra a tristeza e a solidão de um senhor que perdeu sua esposa. Com ajuda da sua netinha e da arte, os 9 minutos da obra são o suficiente para que o idoso ache a felicidade que havia perdido junto a sua amada. A dor da perda é tema também do filme Pieces of a Woman, protagonizado pela indicada ao Oscar Vanessa Kirby. O roteiro de Kata Weber acompanha uma mulher que, quando sua filha morre no nascimento, precisa confrontar seu sofrimento, sua família e seu marido numa busca de autodescoberta e superação. Seja me fazendo chorar ou sorrir, cada uma dessas histórias deu um pouco do conforto que todos tanto necessitamos em tempos como estes.

Filmes Favoritos: 1. folklore: the long pond studio sessions / 2. Malcolm & Marie / 3. Você Nem Imagina / 4. Canvas / 5. Pieces of a Woman 

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