Palm Springs e seu reflexo do looping no isolamento

O nome do filme é em referência ao lugar onde a história se passa, Palm Springs na Califórnia (Foto: Reprodução)

Ana Beatriz Diogo Rodrigues 

A rotina da quarentena é extremamente cansativa por mais que não precisemos mais sair de casa. Acordar e fazer as mesmas atividades todos os dias se tornou um ciclo desagradável e nunca achar uma saída para esse cotidiano é ainda mais preocupante. Mesmo gravado em cenário pré-pandêmico, o filme Palm Springs se relaciona com essa atual realidade. Os protagonistas vivem um looping temporal da mesma maneira que nosso isolamento é repetitivo.

A obra que estreou na plataforma Hulu no dia 10 de julho foi escrita por Andy Siara que se inspirou em certos conceitos do filme Feitiço do Tempo (1993). Outro filme que mistura romance com questões temporais é Questão de Tempo (2013). Com Palm Springs, é possível ver que essa fusão dá certo. Dirigido por Max Barbakow, o filme é a maior aquisição do Festival de Sundance. Os primeiros minutos do longa-metragem mostram como Nyles (Andy Samberg) se comporta antes, durante e depois do casamento de uma amiga de sua namorada Misty (Meredith Hagner). O protagonista age de forma natural durante todo o dia, sem se importar em se comportar de maneira correta para a ocasião. Ao contrário do esperado, ele vai à cerimônia de camisa havaiana, bermuda e sempre segurando uma cerveja. 

Essas ações de Nyles causam estranhamento nos convidados e até no público, em certo momento. Infelizmente, nós mesmos experimentamos um pouco desse comportamento. Ao viver todos os dias dentro de casa, algumas coisas não carregam tanto significado e outras deixam de ter tanta importância. Na festa, a irmã da noiva, Sarah (Cristin Milioti) é convidada para um discurso para o qual não está preparada. Nesse momento, Nyles a salva de um desastre na frente de toda a família. Mesmo namorando, o protagonista chama a atenção da moça e os dois flertam durante um bom tempo. Aqui é que a história começa a ficar boa. Sem querer estragar a experiência de assistir Palm Springs, Sarah entra junto com Nyles em um looping temporal, onde eles vivem o dia 9 de novembro, o dia do casamento de Tala (Camila Mendes) e Abe (Tyler Hoechlin), todos os dias.

Nyles acorda todos os dias com a sua namorada Misty (GIF: Reprodução)

À primeira vista parecendo ser uma história batida e uma comédia romântica típica de sessão da tarde, o diretor e o roteirista entregam um filme que cativa por cada segundo. Não seguindo o caminho óbvio e renunciando a certos clichês, a obra surpreende em todos os sentidos. A narrativa amorosa dos protagonistas é construída de forma singela e sem que se perceba, você já está apoiando a mãe de How I Met Your Mother (2005-14) com o Jake Peralta de Brooklyn Nine-Nine (2013). Essa relação não é forçada para o telespectador, que acompanha o desenvolvimento do casal. Aos poucos se descobre um pouco mais sobre eles e como mudaram desde o dia que se conheceram. Inclusive sobre como Sarah não é um exemplo para sua família perto de sua irmã que é tão generosa. 

A escolha de elenco realmente perfeita, Andy Samberg e Cristin Milioti se encaixam de forma impecável e é possível perceber uma química através de seus personagens tão bem interpretados. Eles conseguem explorar a profundidade dos dois protagonistas sem perder a essência engraçada que o longa promete. Samberg, que é conhecido por seus papéis em comédias e ganhou até um Globo de Ouro nessa categoria, não abandona algumas características de Peralta. Outro ator que também se destaca é J. K. Simmons mas é preferível não contar a história de seu personagem que é uma peça importante na construção do filme. É relevante saber que a obra não se resume somente o romance entre Sarah e Nyles.

Sarah e Nyles entram no looping por uma caverna (Foto: Reprodução)

Com uma perspectiva diferenciada, o filme aborda como vivemos a nossa jornada e como poderíamos mudar ela se tivéssemos oportunidade. Numa aventura que é bonita de se apreciar, a vida é valorizada. Mesmo sendo produzido antes da pandemia e do isolamento social, Palm Springs trabalha elementos que podem trazer reflexões para esse tempo. A rotina dentro de casa que parece a mesma todos os dias, em que o próprio cotidiano virou um looping temporal. Todos os dias acordando, cansados pela vista da janela e procurando algo em nosso ser que faça ser um dia diferente. É isso que os Nyles e Sarah passam nessa história, viver juntos uma história diferente. 

A produção acertou em cheio nessa obra delirante, de apenas 90 minutos. Uma história bem profunda em certos aspectos, mas que acaba leve e agradável de assistir. Esse filme conseguiu me tirar risadas sinceras e importantes nesse tempo tão difícil. Palm Springs é, sem dúvidas, uma história que vou querer viver e reviver várias vezes. 

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