10 anos de I’m with You: o álbum do Red Hot sem o Chili Peppers

Capa do CD I'm with You. Fotografia quadrada com o fundo cinza claro. A esquerda inferior está uma pílula de remédio rosa e branca. Na parte branca da pílula tem uma mosca pousada. Na parte rosa da pílula está escrito I'm With You. Na parte superior pode-se ler “Red Hot Chili Peppers” na cor branca.
I’m with You, lançado em 2011, é o primeiro álbum com o guitarrista Josh Klinghoffer após a saída de John Frusciante (Foto: Warner Bros Records)

Leticia Stradiotto 

E agora, será que John Frusciante vai voltar assim como na primeira vez? Esse era o questionamento dos ouvintes de Red Hot Chili Peppers após a segunda saída do tão querido guitarrista em 2009. No entanto, a resposta para tal pergunta é simples: não. John Frusciante não voltou e, agora, depois do grandioso Stadium Arcadium (2006), temos um novo álbum: I’m with You. Sem Frusciante, mas com o fofíssimo Josh Klinghoffer. A expectativa era grande, e apontar o dedo para a nova performance da banda é inevitável.

Completando 10 anos de lançamento, o disco da banda formada pelos californianos Flea, Anthony Kiedis, Chad Smith e o calouro Josh Klinghoffer é resultado de um projeto um tanto quanto acomodado de musicalidade, uma vez que soa como obras antecedentes e não conta com um imenso destaque de criação, como o memorável Blood Sugar Sex Magik (1991). Com I’m with You, fica claro que Josh Klinghoffer é ótimo, mas pouco inovador e muito menos destemido para criar riffs com atitude. No fim das contas, a produção fica totalmente sob comando de Flea, em razão da maioria das músicas iniciarem com o baixo. Não é uma reclamação, o baixista manda muito bem e a gente sabe disso.

Recorte do clipe da música Californication. Ambiente aberto de vegetação rasteira. Destaque ao céu cheio de nuvens. Todos os integrantes estão sem camisa e calça longa. Ao lado esquerdo, Flea de cabelo raspado está com o baixo branco e vermelho pendurado em seu pescoço e está pulando. Do lado direito de Flea, o vocalista Anthony Kiedis de cabelo tingido de branco está cantando. Do lado direito de Anthony Kiedis, o baterista Chad Smith veste um chapéu e toca bateria. Do lado direito de Chad Smith, está o guitarrista John Frusciante de cabelo raspado está tocando uma guitarra branca com design de violino. Na parte inferior, está escrito "Dream of Californication" em branco.
A música mais conhecida, Californication, apresenta na guitarra John Frusciante, que retornou em 2020 para a banda (GIF: Rick Rubin)

I’m with You não é ruim, mas falta pimenta. Red Hot Chili Peppers é para quem tem cabeça aberta e consegue apreciar a versatilidade. É fato que a musicalidade do grupo é repleta de originalidade, nos trouxe um mix maneirasso do rock alternativo, punk e rap, enquanto muitos novatos de bandas alternativas fazem um grande copia e cola dos veteranos. Nenhuma banda consegue ser criativa o tempo todo, e tá tudo bem! Dessa forma, o álbum traz músicas sem grandes revoluções, são sons apenas para curtir a vibe de vez em quando, afinal, é isso que os californianos querem: diversão.

Com 14 faixas, o disco inicia com um ótimo tira gosto, Monarchy of Roses abre com a guitarra do, desde então, misterioso Josh Klinghoffer. É a típica música chiclete. Por outro lado, reflete a parte mais obscura da vida de Anthony Kiedis, de quando o vocalista tinha problemas com drogas na adolescência. Seguida por Factory of Faith, que retrata justamente a recuperação dele, é importante para enaltecer a persistência como ser humano frente aos problemas. Com um baixo magnífico do Flea, segmentado pela bateria de Chad Smith, traz uma batida agitada dando a vontade de seguir em frente e pular toda vez que toca o refrão.

Ao fundo tem a arquibancada lotada no jogo de futebol americano do time Los Angeles Rams. No palco está o baixista Flea e o vocalista Anthony Kiedis iluminados por holofotes. Na parte superior esquerda, o baixista tem cabelo platinado e raspado. O baixista é registrado com o baixo de costas com um pulo alto em movimento de chute para a frente. O baixista veste a camisa do time Los Angeles Rams na cor azul e com detalhes amarelos, calça preta e tênis preto. Na parte direita da imagem, está o vocalista com cabelo castanho e bigode. O vocalista está de frente sem camisa, de bermuda amarela e tênis branco.
“Eu não toco o baixo. Eu bato e estalo essa merda” disse o baixista Flea em seu Twitter (Foto: Wally Skalij/Los Angeles Times)

E então as coisas saem um pouco dos trilhos, estava muito bom para ser verdade. Brendan’s Death Song e Annie Wants a Baby, como afirma o vocalista Anthony Kiedis em entrevista, foram escritas imediatamente pela banda, logo no começo da ideia do álbum. Talvez por isso seja um trabalho bem razoável. Ambas tem uma melodia boa, a voz de Anthony Kiedis flui bem, mas soam extremamente genéricas, como um pop não muito agradável para quem esperava um disco com aquele rock de bater cabelo. Rock de bater cabelo é definitivamente algo que não temos em I’m with You.

Nisso surge Ethiopia, com o típico estilo californiano criado desde o começo do Red Hot Chili Peppers, foi inspirada em músicas africanas e reflete uma espiritualidade diferente do grupo. Na letra, escolhem substituir as drogas e o álcool pela paz e o amor. Com a guitarra do novo integrante, a mudança no estilo característico da banda é notável, uma vez que comparado ao antigo guitarrista, o som de Josh Klinghoffer é mais poético e sútil. O que não deixa de ser bom, mas, obviamente, causa uma sensação estranha aos ouvintes de longa data. Look Around continua na mesma linha, porém garante um groove mais estilizado e o grande ressalto vai para o refrão.

 O baixista Flea e o guitarrista Josh Klinghoffer em um estádio de futebol americano. Flea tem o cabelo raspado em um tom turquesa, está de blusa branca com detalhes azuis, veste um boné branco, preto e amarelo. No corpo de Flea está pendurado um baixo preto e marrom. Flea está sorrindo e segurando um copo de café. Do seu lado direito está Josh Klinghoffer de camiseta azul com detalhes brancos e por cima uma camisa aberta cinza com detalhes azuis. Josh Klinghoffer está de boné azul com detalhes brancos e está segurando uma guitarra preta, marrom e branca.
Além de I’m with You, Josh Klinghoffer fez outro álbum com Red Hot Chili Peppers, The Getaway é destaque da banda e conta com sucessos, como a música Dark Necessities (Foto: Noel Vasquez)

Nisso chegamos à primeira metade do álbum com o primeiro single da banda, que na realidade foi vazado antecipadamente. The Adventures of Rain Dance Magic dá um up na expectativa para o restante da obra e é a transição perfeita para a próxima faixa, Did I Let You Know. É de longe o maior destaque de I’m with You e, sem dúvidas, a melhor canção. 

Com um enorme alcance criativo, tem o trabalho impecável de Chad Smith na bateria, o encaixe prazeroso da guitarra de Klinghoffer e, obviamente, tudo no comando de Flea no baixo. Achou pouco? Toma, um trompete para você! Com um swing encantador e contagiante lembra muito a musicalidade latina e, para a maior felicidade, tudo funciona perfeitamente bem.

Goodbye Hooray traz o bom e velho som dos californianos, é um acalento para quem gosta das antigas músicas da banda, uma vez que soa exatamente como o esperado. A faixa Happiness Loves Company conta com uma pequena novidade: o singelo piano. E é só isso mesmo. Sem sal e, muito menos, pimenta.

Assim, o álbum – na medida do possível – tem seu último engate para terminar da melhor maneira. Police Station ganha – perdendo para Did I Let You Know – o segundo lugar de destaque. A faixa conta a história da polícia de Los Angeles com casos de abusos do poder e manifestações raciais na virada do século. Dessa forma, a banda usa seu destaque global como forma de protesto às atrocidades. Com uma apresentação que já é muito marcada pelo RHCP durante seus anos de carreira, ouvimos um tom mais denso e reflexivo, que lembra a querida Under the Bridge.

Even You Brutus? é a tentativa de fazer algo diferente, que deu certo graças ao Flea. A música começa com uma introdução animadora, com muito estilo, e assim segue com aquele gostinho de “Nossa, imagina ouvir essa ao vivo!”. O que é raridade, a faixa é pouquíssima tocada em shows. E voltamos para a estaca zero, Meet Me at the Corner não impressiona. Por fim, Dance, Dance, Dance, que na realidade não dá a mínima vontade de dançar, encerra o álbum de maneira suave. Ridiculamente suave.

Gif de integrantes da banda Red Hot Chili Peppers em um estúdio de música preto. Todos estão pulando e se divertindo com brincadeiras
Com a volta de John Frusciante para a banda depois de 13 anos, a previsão do lançamento de um novo álbum com o guitarrista é para 2022 (GIF: Jonathan Dayton e Valerie Faris/Tell Me Baby)

Como um todo, I’m with You é divertido, mas de longe não é um destaque. Com faixas que alternam entre muito boas e sem graça nenhuma, o disco perde a empolgação encontrada em outros álbuns do Red Hot Chili Peppers. Contudo, é aceitável que toda mudança precise de uma adaptação, com o novo guitarrista existe um processo de amadurecimento evidente na obra. E, mesmo após 10 anos de lançamento do álbum, é perceptível que o envelhecimento do grupo não atinge o modo de produção, os californianos permanecem criando obras com faixas totalmente atemporais e bem trabalhadas.

A escolha de adicionar instrumentos diferentes no álbum foi importante para a complementação do estilo da banda e é porta de entrada para mais experimentos musicais futuros. Red Hot Chili Peppers permanece versátil, porém sem inovações. Independente disso, Josh Klinghoffer executa seu papel com maestria e não deixa de produzir músicas ótimas. Falta pimenta em I’m with You, mas sobra rock’n’roll.

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