Novo álbum dos Peppers é um conflito entre fantasmas do passado, presente e futuro

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Victor Pinheiro

Desde a saída de John Frusciante em 2009, os Red Hot Chilli Peppers enfrentam a desconfiança de seus fãs. Sobretudo depois da crítica apontar a falta de familiarização do substituto Josh Klinghoffer como um dos fatores responsáveis pela falta de tempero do último álbum, I’m With You (2011). No entanto, qualquer curioso que pesquisar o passado da banda deve perceber que a trajetória dos Peppers está recheada de mudanças, inclusive na formação e nas propostas musicais.

O 11° álbum, The Getaway, lançado semana passada, não é uma obra revolucionária ou que espante os fãs. Porém marca um importante período de mudanças e adaptações e mostra o esforço da banda quanto a isso. Rick Rubin, produtor de todos os álbuns do grupo desde Blood Sugar Sex Magic (1991) foi substituído por Danger Mouse, ex-parceiro de Cee Lo Green na extinta Gnarls Barkley e produtor de álbuns como Demon Days, do Gorillaz. Além disso, impossível não notar que Josh parece estar cada vez mais à vontade dentro da banda, como Chad Smith afirmava desde 2013.

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A banda atualmente, da esquerda para a direita: Chad Smith, Flea, Josh Klinghoffer e Anthony Kiedis

Se por um lado a obra utiliza-se de características de álbuns anteriores como as linhas de baixo agressivas de Flea e os ‘raps’ de Kiedis, a presença de acordes de pianos nas músicas representa uma das novidades do The Getaway. “Dark Necessities” ilustra bem tal afirmação ao explorar as linhas de baixo combinadas a um poderoso piano. O refrão animado e bem construído ainda deve garantir a música como um dos singles da coletânea.

Por sua vez, a faixa homônima de abertura, traz um funk rock guiado por uma linha de baixo marcante e o som incessante de cordas abafadas somado aos vocais de Kiedis que atribui à música a típica característica Peppers de ser. Enquanto isso, “We Turn Red” vai mais além e resgata o clássico funk rock da banda, representando a melhor adaptação de Josh. Assim como em “Goodbye Angels”, na qual os arranjos de guitarras remetem às atuações de John Frusciante.

“The Longest Wave” traz um melodia calma e simpática, porém não empolga. Em “Sick Love” e “Go Robot” é notável a intenção da banda em introduzir cada vez mais efeitos sintéticos. Já “Feasting on The Flowers” soa estranha e ao mesmo tempo familiar aos fãs: se o riff inicial causa dúvidas em um primeiro momento, a entrada da voz de Kiedis e a base de guitarra de Josh resgatam os elementos conhecidos. Em seguida, o refrão recheado com outros poderosos acordes de piano volta com as novas propostas musicais da banda, que, no entanto, dão certa sustância ao trabalho, tornando-o bem interessante.

“Detroit” surpreende com fortes acordes de guitarra que fazem lembrar o final dos anos 80 e o começo dos anos 90 da banda. “This Ticonderoga” flerta com o punk rock e explora a agilidade dos dedos de Flea, no baixo e grooves de Chad Smith, na bateria. “Encore” volta a quebrar o ritmo do álbum. Contudo, ao contrário de “The Longest Wave”, a faixa aproveita muito bem a adaptação de Josh ao grupo e constrói uma composição forte aliada novamente ao piano, tão presente no álbum.

Nas últimas duas músicas, os Peppers colocam à prova suas intenções. “The Hunter” tem uma melodia dramática reforçada por uma base elegante de piano e uma guitarra delicada. Tudo isso somado a letra que menciona “The Hunter is haunted”, em contrapartida as escritas rotineiras meio “non-sense” ou relacionadas ao sexo feminino de Anthony Kiedis. Para finalizar, “Dreams of Samurai” também esbanja de distorções de guitarra e da sonoridade do piano (de novo?) – no entanto, Chad Smith volta a ditar um ritmo mais Peppers para a música.

O fato é que The Getaway propõe as mudanças musicais, que parecem ser, ou deveriam ser, o desejo da banda. Talvez influenciados por projetos paralelos ou mesmo pela produção de Danger Mouse, que procura explorar bastante o potencial de cada instrumento. No entanto, fica também evidente que a banda sentiu o baque de I’m With You e percebeu a necessidade de manter elementos típicos de sucessos anteriores, mas sem abrir mão de novas experiências.

Aos fãs resta entender que esse já configura o 11° álbum de uma banda com mais de três décadas de carreira, a qual ainda esforça-se para produzir música de qualidade. Assim como Josh não deve se render a nostalgia do público e tornar-se uma imitação de Frusciante. Talvez o Red Hot Chilli Peppers esteja longe de produzir outro álbum histórico como Blood Sugar Sex Magic e Californication. Porém, é irracional esperar que os cinquentões voltem a tocar funk rock vestindo apenas meias no palco ou que eles devam fazer paródias deles mesmos. O novo álbum supera seu antecessor, ao mesmo tempo que exige paciência e, é necessário ao público, estar aberto às novas investidas da banda e reconhecer seus méritos.

 

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