5 anos depois, Com Amor, Simon permanece necessário às gerações atuais

Cena do filme Com Amor, Simon. Nela, observa-se o personagem Simon sentado, segurando um garfo, com um moletom preto e uma jaqueta jeans com pelo bege.
Ambientado no típico Ensino Médio americano, Com Amor, Simon, inova ao abordar os anseios da juventude LGBTQIAP+ (Foto: 20th Century Studios)

Guilherme Machado Leal

Em Com Amor, Simon, filme lançado em 2018, baseado no livro Simon vs. A Agenda Homo Sapiens, escrito por Becky Albertalli, a história retratada é a de um adolescente que guarda um segredo a sete chaves. Simon Spier (Nick Robinson) teme, ao revelar que é gay, ser discriminado pelos seus colegas de aula e, por isso, esconde sua orientação sexual. No entanto, em certo momento da história, o protagonista decide conversar com um outro garoto em um blog – com os codinomes Jacques e Blue, respectivamente –, dando espaço para conhecermos o íntimo do jovem.

Eu sou igual a você” é uma das primeiras frases ditas por Simon, e é ela que serve como fio condutor do longa. Durante os 110 minutos do filme, o roteiro de Isaac Klausner e Elizabeth Berger – com o auxílio da autora – lembra aos seus espectadores de que a homossexualidade, assim como a heterossexualidade, é algo natural. O lema pregado pelo protagonista reconhece que o caráter do indivíduo está acima da sua sexualidade e que, se os entes queridos realmente se importam, eles estarão ao seu lado. Não é difícil se surpreender com o pensamento de Simon, já que o personagem possui uma família livre de preconceitos.

Cena do filme Com Amor, Simon ambientada no pátio de uma escola de ensino médio. Da esquerda para a direita, é possível reconhecer seis personagens, são eles: um homem negro de jaqueta cinza com um boné, uma mulher negra de cabelo cacheado, uma mulher branca de cabelo cacheado, um homem branco com uma camiseta cinza e uma jaqueta verde amarronzada, um homem branco louro com um moletom cinza e um homem negro com um moletom preto com listras brancas.
Ao fazer parte de um filme necessário, o elenco de Com Amor, Simon entrega atuações comprometidas com a seriedade do tema (Foto: Ben Rothstein/20th Century Studios)

Infelizmente, o medo de Simon acerca de sua sexualidade é exclusivo da dinâmica repressiva do ambiente escolar. O conflito principal de Love, Simon se dá pela descoberta do antagonista Martin Addison (Logan Miller) em relação à sexualidade do protagonista e de seus e-mails trocados com Blue. A partir desse momento, o personagem ameaçado faz de tudo para que seu segredo não seja revelado aos demais estudantes do colégio Creekwood, provocando o rompimento de uma relação de fidelidade com seus amigos próximos. Nessa perspectiva, o longa se destaca ao abordar precisamente a angústia vivida por jovens da comunidade queer no momento em que precisam se assumir aos seus pais e colegas, algo que não acontece com pessoas heterossexuais – e que é até ironizado em uma cena do filme. 

Além disso, o humor é uma ferramenta fundamental na história, pois é usado para dizer o que deve ser dito de uma forma que seja compreensível, para o maior número de pessoas. É visível qual era a intenção de todos os envolvidos na produção de Com Amor, Simon: fazer com que o filme ressoe entre as diferentes gerações, para que a conversa não seja restrita à juventude moderna. É nesse ponto em que a obra se fundamenta como necessária às gerações atuais, por ser o primeiro filme sobre um adolescente gay produzido por um grande estúdio. Com a sua linguagem simples e direta, o longa dirigido por Greg Berlanti é capaz de servir como um guia confiável, em que os adolescentes podem se basear ao terem dilemas em relação a sua orientação sexual.

O impacto causado por Com Amor, Simon é surpreendente, uma vez que, ao lado de Para Todos os Garotos que Já Amei, o filme é um respiro para o gênero das comédias ambientadas no Ensino Médio, que teve o seu ápice nos anos 90 e 2000, com filmes como 10 Coisas que Eu Odeio em Você e Meninas Malvadas. Embora não tenha sido deixado totalmente de lado, o estilo sofreu um perceptível declínio em suas histórias recheadas de clichês. É notável que obras transgressoras, como Com Amor, Simon, foram fundamentais para o ressurgimento de histórias focadas em adolescentes, uma vez que, após cinco anos do seu lançamento, o longa é recorrentemente lembrado nas listas de melhores comédias teen.

Cena do filme Com Amor, Simon. Nela, pode-se ver o protagonista Simon, interpretado pelo ator Nick Robinson, que usa uma jaqueta jeans com pelo bege.
Nick Robinson (Simon) é a alma do filme e dá ao público o melhor de si ao retratar os anseios
do jovem LGBTQIAP+ [Foto: 20th Century Studios]
Outro ponto essencial para a aclamação da obra é a atuação de Nick Robinson. Conhecido por Jurassic World: O Mundo Dos Dinossauros e A 5ª Onda, em Com Amor, Simon, ele obtém não só o prestígio da crítica, mas também o do público, uma vez que, por conta de sua interpretação, é natural se conectar com o protagonista logo no início. A escolha do ator também reflete no recorte determinado pelos produtores Wyck Godfrey (Crepúsculo), Marty Bowen (Sorria), Pouya Shahbazian (Divergente) e Isaac Klausne (Alguém Avisa?), posto que Simon é um jovem gay, branco e heteronormativo que, quando comparado ao personagem Ethan (Clark Moore) – um garoto gay, negro e afeminado, que serve como alvo de zombaria dos valentões da escola –, é perceptível o privilégio que tem por estar no armário. Aliás, essa questão pode desagradar os mais engajados na causa LGBTQIAP+, devido à falta de representatividade.

Contando com sucessos como I Wanna Dance With Somebody (Who Loves Me), de Whitney Houston, seria um erro falar sobre Com Amor, Simon e não mencionar a sua excelente trilha sonora, feita pelo produtor de sucesso Jack Antonoff. A música de Houston é utilizada de uma forma genial na história, ao mostrar os estereótipos de homens gays, como se, por causa da sexualidade, o indivíduo precisasse gostar de musicais e de divas pop para ser aceito no mundo queer. Com o objetivo de conversar com as gerações atuais, a trilha de Antonoff ainda conta com diversas canções de sua banda Bleachers, além do hit de sucesso Love Lies, dos cantores Khalid e Normani.

Cena do filme Com Amor, Simon. Nela, encontram-se quatro pessoas. Da esquerda para a direita, são elas: um homem branco de cabelo liso com uma camiseta verde listrada, uma menina branca e loura com uma blusa rosa, uma mulher branca com o cabelo ondulado e um homem com o cabelo grisalho e uma roupa cinza. Todos estão sentados e sorrindo.
É nos diálogos entre Simon e sua família que o longa mostra ao espectador a tamanha importância de se ter uma rede de apoio (Foto: 20th Century Studios)

No filme, é impressionante – e, de certa forma, incomum – a forma como os pais de Simon, interpretados pelos carismáticos Josh Duhamel e Jennifer Garner, aceitam a sua sexualidade. A mãe, por exemplo, deseja que o jovem seja a melhor versão de si mesmo. Por esse mesmo ângulo,  em uma das cenas mais impactantes do longa, há a conversa entre o protagonista e o seu pai, Jack (Duhamel), que revela ao filho que não mudaria nada nele. São nessas cenas, carregadas de emoção, que levam o público a amar Com Amor, Simon com toda a intensidade, dado que é rara a ocorrência de produções delicadas e bem pensadas para um público que não se vê nas telas por uma óptica tão cuidadosa.

Nos momentos finais da história, Simon é tirado do armário e se vê sozinho. Entretanto, ele tem uma ideia e decide convocar os seus colegas em uma missão: encontrar o anônimo Blue na roda-gigante do parque de diversões de sua cidade, para se declarar ao amado. É nesse momento que há a revelação da identidade do interesse amoroso do protagonista. Nesse ponto do longa, todos estão esperando ansiosamente por algo a mais entre os dois garotos, que cedem à pressão popular e aos seus desejos pessoais, proporcionando ao público um dos beijos mais carinhosos vistos até então em um filme adolescente. 

Com Amor, Simon faz-se imprescindível na hora de se escolher uma obra cinematográfica que represente tão bem os anseios da comunidade LGBTQIAP+. É por causa de longas-metragens como esse que histórias plurais e diversas podem e devem ser contadas na ficção. A essa altura, torna-se indiscutível a importância de se ter um personagem tão imponente como Simon, no que se relaciona ao desafio vivido por jovens do mundo inteiro – seja esse desafio a descoberta da própria sexualidade ou o medo de ser abandonado após se assumir. No seu aniversário de cinco anos de lançamento, a bela história de Simon Spier se mantém mais atemporal e necessária como nunca.

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