10 anos de Antes da Meia-Noite e o último suspiro de uma primeira noite de amor

Cena do filme Antes da Meia-Noite. Nela, observa-se os personagens Celine (à esquerda) e Jesse (à direita). Ele está usando uma camisa jeans azul claro, com uma calça azul escuro e sorri para Celine. Ela está sorrindo e está com um vestido azul e uma bolsa de crochê com dois tons de marrom.
O terceiro longa da trilogia Before desenvolve a relação conturbada entre Jesse e Celine (Foto: Sony Picture Classics)

Guilherme Machado Leal

É ao som de The Best Summer of My Life, do compositor Graham Reynolds, que Antes da Meia-Noite se desenrola pelos seus 108 minutos. Com idas e vindas da canção ao longo do filme, o último capítulo da trilogia Antes – dirigida por Richard Linklater – dá, logo no seu início, o tom de como serão os próximos momentos vividos por Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). Lançado em 2013, Before Midnight tem a difícil tarefa de superar ou, pelo menos, se equiparar ao nível de seus antecessores Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr do Sol (2004).

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A Morte do Demônio: A Ascensão é mais um sangrento acerto para a franquia de Evil Dead

Cena de abertura do filme A Morte do Demônio: A Ascensão. Na imagem, a silhueta de uma mulher, iluminada por trás pelo sol, flutua acima de um rio, os dedos dos pés arrastando sobre a superfície d'água avermelhada. Ao fundo, vê-se uma densa floresta e o céu também avermelhado, com o título do filme preenchendo o horizonte: Evil Dead Rise.
A Morte do Demônio: A Ascensão é o filme mais bem avaliado da franquia (Foto: Warner Bros.)

Larissa Mateus

Não há fenômeno mais comum na história do Cinema, principalmente no gênero do terror, do que a maldição da franquia não planejada. Basta um filme fazer sucesso suficiente na bilheteria que mais da mesma trama entrará em cartaz nos próximos anos, até que o público esteja exausto. A situação se torna cada vez mais exacerbada com a tendência de remakes da última década, recheando o cenário slasher atual com produtos repetitivos e franquias desnecessariamente revitalizadas anos após seus dias de ouro iniciais, como aconteceu com Halloween, O Massacre da Serra Elétrica e Pânico.

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Capitu e o Capítulo: Júlio Bressane não trai Machado de Assis e exalta o romance Dom Casmurro

Cena do filme Capitu e o Capítulo. Capitu, interpretada por Mariana Ximenes, está no centro da imagem. Os olhos lacrimejados, ela está séria, encostada em uma parede branca de aspecto áspero. Mariana Ximenes é uma mulher branca, de olhos verdes e cabelos loiros.
Capitu e o Capítulo foi exibido no Festival do Rio em 2021, mas só chegou aos cinemas em 2023 devido à pandemia e às janelas de filmes brasileiros, que precisam dividir espaço com produções americanas (Foto: Pandora Filmes)

Davi Marcelgo 

Das discussões de sala de aula às do Twitter, Capitu traiu ou não Bentinho? Narrado pelo protagonista, a ausência de veredito provoca o clássico embate da obra de Machado de Assis. Em Capitu e o Capítulo, adaptação de Dom Casmurro, o diretor Júlio Bressane mantém o olhar subjetivo do narrador enquanto passeia entre a dúvida e a ilusão. Na trama, Bentinho (Vladimir Brichta) acredita que sua esposa Capitu (Mariana Ximenes) o traiu com Escobar (Saulo Rodrigues), seu melhor amigo. 

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Oito Mulheres e um Segredo: 5 anos de um dos maiores acontecimentos do Met Gala

Cena do filme Oito Mulheres e um Segredo. Da esquerda para a direita, encontra-se Sandra Bullock, sentada vestindo um casaco branco, Cate Blanchett sentada com um casaco preto e branco, Rihanna sentada com um casaco verde e jeans, Mindy Kaling em pé com um sobretudo vermelho, Awkwafina sentada com uma jaqueta rosa, Helena Bonham Carter sentada com um vestido preto, Anne Hathaway em pé, com um sobretudo verde e Sarah Paulson sentada com um casaco cinza.
Conforme o tempo passa, o roubo de US$150 milhões fica ainda mais icônico (Foto: Warner Bros. Pictures)

Arthur Caires

Há 5 anos, Debbie Ocean (Sandra Bullock) disse: “Se for ele é notado, se for ela é ignorada. E, pela primeira vez, queremos ser ignoradas”. Em Oito Mulheres e um Segredo, requel da sequência de filmes Onze Homens e um Segredo, a fala é a explicação do porque a criminosa deseja apenas mulheres em seu time para roubar um colar de diamantes de US$150 milhões durante o prestigioso Met Gala em Nova York. Para além disso, é uma declaração de que não se trata apenas de uma versão feminina do longa original, aqui, ser mulher é essencial para que o plano dê certo.

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Se se sentir sozinho, Fale Comigo

Fale Comigo estreou no Festival de Sundance de 2023, onde foi adquirido pela A24 para ser distribuído nos Estados Unidos, e passou pelo Festival de Berlim (Foto: Diamond Films)

Vitória Gomez

Vivendo na linha tênue entre mainstream e marginal, o Cinema de Horror encontrou terreno fértil no público nos últimos anos. A A24 é um dos exemplos de produtora e distribuidora independente que, dando liberdade criativa para seus realizadores, lançou sucessos instigantes à audiência e à crítica, e pareceu reacender uma chama que sempre existiu no gênero, geralmente renegada ao lado B. Assim, a produtora assumiu um papel relevante em catapultar ao estrelato obras discretas sob o seu merecido selo de qualidade. Foi o caso de Fale Comigo: chegando aos cinemas mundiais já sob o título de “melhor terror de 2023”, o longa de estreia dos irmãos RackaRacka saiu da Austrália para ganhar o mundo mostrando tudo que o Horror sempre teve a oferecer.

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Em Vai Ter Troco, as diversas facetas do brasileiro são representadas na dinâmica patrão x empregado

Cena do filme Vai Ter Troco. Nela, observa-se as personagens Zildete (à esquerda) e Tonha (à direita). Ambas estão com um uniforme cinza com faixas brancas, além de usarem uma espécie de touca branca. Zildete usa óculos.
Em Vai Ter Troco, Nany People e Evelyn Castro esbanjam carisma com suas personagens Zildete e Tonha (Foto: Amaia Produções)

Guilherme Machado Leal

A música Xibom Bombom do grupo As Meninas é marcada pelo padrão de vida de pobres e ricos. Nela, os versos “Quero me livrar dessa situação precária” e “onde o pobre cada vez fica mais pobre e o rico cada vez fica mais rico” explicitam um tema recorrentemente abordado na cultura brasileira: a desigualdade social. Produtos audiovisuais sobre esse assunto são vastos, mas o que diferencia Vai Ter Troco de tudo que já foi explorado? O filme dirigido por Maurício Eça (A Menina que Matou os Pais) é centrado em duas protagonistas carismáticas: Tonha (Evelyn Castro), uma mulher com pavio curto, e Zildete (Nany People), uma senhora dócil e piedosa. Juntas, elas trabalham na casa dos ricaços Sarita (Miá Mello) e Afonso (Marcos Veras) – um casal superficial à décima potência. 

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Atravessando gerações, O Homem Cordial está sempre à espreita

Cena do filme O Homem Cordial. A cena se passa durante a noite em um bar, desfocado ao fundo. No primeiro plano, vemos à esquerda um homem branco de cerca de 50 anos, com cabelos e barba grisalhos, vestindo uma jaqueta preta e com a mão apoiada em um balcão. Do lado esquerdo, vemos uma mulher negra de cerca de 25 anos, com cabelos escuros presos em tranças, vestindo uma jaqueta jeans. Os dois olham para frente, para algo que está fora do quadro.
A semelhança do título com o conceito sociológico do Homem Cordial não é mera coincidência (Foto: O2 Play)

Vitória Gomez

Na tentativa de entender o Brasil da década de 1930, com as aspirações nacionalistas e a valorização da cultura brasileira, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda propõe a ideia do “homem cordial”. O conceito definia um cidadão movido pelo coração, afeto e pelo sentimentalismo em detrimento da razão, que extrapola o âmbito pessoal e o aplica no coletivo. Para Buarque de Holanda, essa seria a razão pela qual o brasileiro adota uma figura paternalista, familiar e passional. No entanto, é a mesma pessoa que se esconde por trás da face da cordialidade até que a hostilidade tome conta. Mais de oito décadas depois, O Homem Cordial busca a revitalização dessa ideia durante uma única e violenta noite em São Paulo.

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A Pequena Sereia de Halle Bailey comove e ensina como adaptar uma animação

 Cena do filme A Pequena Sereia. Nela, observa-se a personagem Ariel dentro do mar olhando o seu reflexo através da água.
O longa amplia a relação de Ariel com a sua liberdade, conceito até então desconhecido pela protagonista (Foto: Disney)

Guilherme Machado Leal

Em 2019, foi anunciado o elenco do live-action de A Pequena Sereia, tendo a atriz Halle Bailey como a protagonista Ariel, o que incomodou diversos fãs da animação original. Possíveis argumentos que poderiam ser levantados – mesmo sem um material promocional da obra sequer ter sido divulgado até aquele momento – deram lugar a uma enxurrada de comentários racistas pela internet. A cantora, da dupla Chloe x Halle, sofreu ataques desumanos devido a sua cor de pele: o primeiro teaser do filme foi bombardeado por um alto número de dislikes, o que mostra uma certa resistência – no caso, puramente racismo – do público para sua versão da Ariel. Agora, após a estreia, finalmente podemos avaliar de uma forma justa: Bailey fez jus à icônica sereia conhecida em 1989?

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John Wick 4: Baba Yaga é um épico de ação que redefine riscos

Cena do filme John Wick 4: Baba Yaga. John Wick em uma capela, protagonista da saga de filmes de mesmo nome, interpretado por Keanu Reeves. Um homem branco de cabelos longos na altura do ombro que veste um terno totalmente preto. Ele está andando de costas para o altar de uma capela com várias velas acesas em castiçais ao seu redor. A exibição está ao nível de sua cintura mostrando uma passarela cercada de cadeiras em que a frente está um homem sentado.
Keanu Reeves, conhecido por participar de vários filmes de ação e ser referência no gênero, chegou a doar parte de seu salário para a equipe de efeitos especiais de Matrix (Foto: Lionsgate)

Henrique Marinhos

John Wick 4: Baba Yaga reflete e pode ser definido pelo seu subgênero neo-noir, em sua exploração das complexidades do ser humano, desde seus conflitos internos até sua moral ambígua no contemporâneo. Ainda que a subcategoria o descreva tão bem, a ação e o suspense se sobressaem em função de sua construção, tanto pela direção de Chad Stahelski, à atuação do veterano Keanu Reeves. Em contrapartida às motivações triangulares – de construção simples, capazes de suportar grandes tensões e únicas –, todo desenrolar da narrativa segue a busca do protagonista pela vingança de um passado e uma esperança destruídos em atos simplórios em sua prequela, que ocasionaram uma sequência de desestruturações de escala mundial, reais e fictícias.

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