Ao longo de 1 hora e quarenta minutos, vemos a história de Guarulhos por diversas perspectivas (Foto: Embaúba Filmes)
Marcela Lavorato
Qual seria o seu sentimento se, ainda criança, tivesse o território invadido, a casa demolida e a vida inteiramente mudada, para sempre, para dar lugar a um aeroporto? O Estranho se apresenta dessa forma, como uma ficção, mas entrega um caráter mais documental pelo motivo de que essa é a história de muitas pessoas que são afetadas pela colonização, seja a de 500 anos atrás ou a de ontem.
“A sorte favorece os corajosos, cara” (Foto: Warner Bros. Pictures)
Larissa Mateus
“Sempre pensávamos que vida alienígena viria das estrelas, mas veio das profundezas do mar“, explica o protagonista Rayleigh nos primeiros segundos do filme sobre a reviravolta que seu mundo sofreu, cuja consequência foi uma guerra contra seres de fora do planeta que durou mais de dez anos. Círculo de Fogo (2013) constrói um plano de fundo que se leva extremamente a sério, mas lava seus elementos realistas com as verdades de sua narrativa: a pura nostalgia e a total admiração por robôs gigantes batendo em alienígenas ainda maiores.
Tony Leung e Leslie Cheung protagonizam uma icônica cena de tango (Foto: Golden Harvest Company)
Eloah Kaway
Felizes Juntos, dirigido por Wong Kar-Wai, é um retrato fascinante e complicado sobre relacionamentos e descoberta pessoal. O filme mostra a relação tumultuada entre Ho Po-Wing (Leslie Cheung) e Lai Yiu-Fai (Tony Leung), um casal gay de Hong Kong perdido na melancolia de Buenos Aires. Com suas cenas ambientadas nas ruas da cidade e nas impressionantes Cataratas do Iguaçu, Kar-Wai cria uma história visualmente incrível que nos faz pensar no amor em todas suas formas.
O filme foi inspiração para o músico Johnny Hooker compor a canção Flutua (Foto: Film4 Productions)
Davi Marcelgo
Os apartamentos de um subúrbio londrino são palco de opressão e violência. Dentro das paredes de um quarto azul, habita a tranquilidade e doçura de um romance púbere entre dois garotos: Ste (Scott Neal) e Jamie (Glen Berry). No mundo confortável de ambos, dedos passeiam através da pele e a câmera do longa de estreia da diretora Hettie MacDonald (Normal People) revela muito mais do que palavras conseguem. Delicada Atração (Beautiful Thing, no original) é um retrato cru de vivências homoafetivas, mas que não abandona o otimismo.
O amor à primeira vista antecede os encontros e desencontros de Sidney Magal e Magali West (Foto: Manequim Filmes)
Rebecca Ramos
Em uma comédia romântica envolvente e sentimental típica da década de 1970, O Meu Sangue Ferve por Você acompanha a história de amor de Sidney Magal, protagonizado por Filipe Bragança, e Magali West, interpretada por Giovana Cordeiro. Ao seguir uma rotina de shows repleta de compromissos, Magal, um dos cantores mais emblemáticos de uma geração, acaba por conhecer o amor de sua vida em Salvador, sendo acometido por uma enorme e avassaladora paixão.
Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo captura com precisão o início de uma amizade na adolescência (Foto: Blue Fox Entertainment)
Arthur Caires
De tempos em tempos, surge uma história de romance adolescente que se passa em um verão calorento e que envolve duas pessoas que acabaram de se conhecer. Um formato clássico sempre bem-vindo e que, se bem executado, pode facilmente entrar na lista de obras reconfortantes que revisitamos com carinho. O filme Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo almeja esse status e, de certa forma, quase chega lá, mas perde seu propósito no meio do caminho.
Pepper LaBeija era a mãe da House of LaBeija na época das gravações de Paris Is Burning (Foto: Miramax Films)
Esther Chahin
“É como atravessar o espelho para o País das Maravilhas. Você entra nos bailes e sente-se 100% bem em ser gay. Não é assim no mundo, e deveria ser”
– Paris is Burning
Madonna, Ryan Murphy, RuPaul e diversos outros nomes influentes da cultura pop inspiraram-se na mesma fonte para criação de alguns de seus trabalhos. Estamos falando da cultura Ballroom, que dominou a cena afro-descendente, latina e LGBTQIAPN+ da periferia nova-iorquina em meados da década de 1980. As diversas categorias que compunham os bailes e parte das narrativas sensíveis dos membros da comunidade queer à época são expostas no documentário Paris Is Burning. Lançada em 1991, a obra foi produzida e dirigida pela cineasta Jennie Livingston, obtendo seu reconhecimento com prêmios como Teddy Award, no Festival de Berlim, e de Melhor Documentário, no Festival de Sundance.
Cabeças falantes nem sempre precisam fazer sentido (Foto: Arnold Stiefel Company)
Guilherme Veiga
Um tablado preto de teatro. Uma luz no fundo, de onde vem um par de pernas que veste uma calça cinza clara e um sapato terrivelmente branco. Essas pernas chegam até um microfone e então é posto um rádio ao lado. A mão do corpo a quem pertence tais pernas dá play no aparelho, e então uma bateria digital começa aquela que seria uma das versões mais emblemáticas de Psycho Killer. A câmera sobe até o vislumbre de um jovial David Byrne e o resto é história. Assim começa aquela que, posteriormente, seria considerada a obra definitiva quando o assunto é filmes-concerto: Stop Making Sense.
A produção nacional teve sua primeira exibição no Cine Ceará, o Festival Ibero-americano de Cinema (Foto: Embaúba Filmes)
Felipe Nunes
Em A Filha do Palhaço, o título engana e que bom por isso. A história, inicialmente simples sobre mais uma relação paternal problemática, se transforma em uma trama catártica cheia de reviravoltas que te prende do início ao fim e está longe de ser um drama clichê. É com Renato (Demick Lopes) e Joana (Lis Sutter) que vemos uma disfuncional relação entre pai e filha abrir portas para a polissemia da cinematografia. Da maternidade solo ao abandono parental, a obra passeia por temas delicados com uma abordagem fiel ao que se propõe. O mérito é do excelente roteiro assinado por Amanda Pontes, Michelline Helena e Pedro Diogenes.
O uniforme todo branco de O-Ren lembra o da Yuki, principal personagem de Lady Snowblood (Foto: Miramax Films)
Guilherme Moraes
Apostar em uma maior cadência depois do sucesso do primeiro filme, que foi inspirado no clássico Lady Snowblood, é um desafio. No entanto, Kill Bill – Volume 2mostra que essa foi uma escolha acertada ao encerrar a saga dando mais substância à protagonista. Quentin Tarantino nos surpreende ao diminuir a violência em tela, mostrando que o caminho que a personagem trilhava era em direção ao fim do ciclo sangrento em que ela vivia, mas que, paradoxalmente, exigia o sacrifício de mais alguns personagens.