Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos celebra a Arte como resistência

Cena do documentário Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos. Ao fundo está uma paisagem montanhosa nublada com nuvens ao topo. À frente estão dois homens negros montados em cavalos. Eles estão olhando para a esquerda. Os homens vestem agasalhos reforçados. O de trás está com uma touca amarela e um casaco verde, enquanto o da frente está totalmente enrolado em um agasalho que cobre desde sua boca até suas pernas. A estampa segue formas geométricas e se destaca por suas cores amarela, marrom e vermelha.
O curta-metragem, além de estar disponível no Itaú Cultural Play para exibição na 47º Mostra Internaciona de Cinema em São Paulo, também está na íntegra no YouTube (Foto: Cultures of Resistance Films)

Henrique Marinhos

Do Lixo ao Tesouro: Transformando Negativos em Positivos é um documentário que mostra como a Arte pode ser uma forma de resistência, transformação e empoderamento de uma comunidade. O filme acompanha a trajetória de diversos artistas do Lesoto, um pequeno país nas montanhas da África do Sul, que usam o lixo como matéria-prima para suas obras, além de muitas outras atividades sociais. Através da criatividade, da reciclagem e principalmente da paixão pelo que fazem, eles criam peças e projetos que expressam suas identidades, culturas e lutas em um cenário que por muitos seria considerado infértil.

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Delírio e desobediência em Das Tripas Coração

Cena do filme Das Tripas Coração (1982), em frente ao prédio da escola, na foto estão algumas alunas, vestidas de saia e camisa escolar, entre outros personagens, aglomerados, sem olhar para a câmera. Na direita da imagem, Guido (Antônio Fagundes) segura a professora de química do colégio enquanto ela vomita, abaixada, vestindo uma saia xadrez e camisa branca
Das Tripas Coração foi exibido na seção Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo juntamente com outras produções da cineasta Ana Carolina, vencedora do Prêmio Humanidade (Foto: Crystal Cinematográfica)

Juliana Boaventura

As transformações físicas, descobertas sexuais e emoções intensas que fazem parte da transição da infância para a adolescência povoam e intrigam o imaginário popular. Muitos artistas buscam examinar isso em suas obras, partindo de suas experiências íntimas. Em Das Tripas Coração (1982) – em inglês, Heart and Guts –, a cineasta Ana Carolina constrói um microcosmo que expõe aspectos dessa transição de forma cômica e teatral, valendo-se de uma narrativa onírica não-linear, declamações inflamadas e murmúrios fora de cena. Uma inclinação à rebeldia e à desobediência permeia o longa-metragem, que desenrola-se dentro de um colégio feminino, austero, religioso e falido. O filme compõem a seção Apresentação Especial na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Cinema Almanac é uma coleção enfadonha

Cena do filme Cinema Almanac. Nela, vemos um homem e uma mulher parados ao lado de uma estátua durante o dia. Ambos são brancos. O homem tem barba branca, usa chapéu coco, veste uma camisa bege com terno branco e calça jeans. A mulher tem cabelo ruivo na altura dos ombros, veste uma camisa vermelha e carrega uma bola no braço direito.
O longa faz parte da Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: microFILM)

Caio Machado

A produção romena Cinema Almanac (Almanah Cinema, no original), presente na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é apresentada como uma coletânea de seis curtas de Radu Jude (Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental), que assina a direção e roteiro em algo semelhante a quando um escritor publica um volume de seus contos ou poesias. Por estarem reunidos em um mesmo conjunto, faz sentido pensar que possuem características em comum, além da mera aleatoriedade. Cinco dos curtas que a compõem, Caricaturana, Os Potemkinistas, Memórias do Front Oriental, As Duas Execuções do Marechal e Punir e Disciplinar, mostram que o cineasta busca refletir sobre as imagens do passado e o possível impacto que podem causar no observador contemporâneo. Porém, ele próprio mal consegue impactar, devido à forma como utiliza as fotografias. 

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20 anos de Durval Discos: Às vezes, as melhores histórias vêm de onde menos imaginamos

Cena do filme Durval Discos. No lado esquerdo da imagem, temos a atriz Marisa Orth. Ela é uma mulher branca, de cabelos pretos, fumando um cigarro branco na boca. Ela está com um vestido levemente amarelado com bolinhas vermelhas. No lado direito, temos o ator Ary França. Ele é um homem branco, de cabelos pretos longos e vestindo camisa cinza com listras pretas. Ele está de braços cruzados em cima de um balcão, com um cinzeiro verde, blocos de notas e um suporte verde para fitas adesivas à sua frente. Na frente dos dois, temos uma banca cheia de discos de vinil. Ao fundo, temos várias capas de discos de vinil coladas na parede azul. A cena acontece durante o dia.
A comemoração do vigésimo aniversário de Durval Discos é uma das atrações da Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Foto: Dezenove Som e Imagens, África Filmes)

Nathan Nunes

Quando se trata de Durval Discos, existem dois tipos de público: aquele que começa a assistir o filme esperando uma coisa e o que termina tendo recebido outra. É fato que a vivência é comum para qualquer obra, mas, no caso específico desta em questão, o aspecto é muito mais chamativo. A experiência é tão marcante que a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo programou uma exibição do longa para o dia 28 de outubro, como parte da seção Apresentação Especial e no exato dia da comemoração dos 20 anos de aniversário da produção. 

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Deus e o Diabo na Terra do Sol: Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e o Cinema Brasileiro nas costas

Cena do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Nela temos o personagem de Corisco. Com roupas típicas de cangaceiro, ele ergue uma espingarda para o céu, enquanto range os dentes. Ele está em um terreno descampado com uma vegetação rasteira ao fundo. A imagem é em preto e branco.
Em caráter de Apresentação Especial, o primeiro embate entre o Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro é revisitado na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Copacabana Filmes)

Guilherme Veiga

Falar em Cinema Brasileiro é naturalmente evocar Glauber Rocha. E é inevitável falar sobre Glauber Rocha sem lembrar de Deus e o Diabo na Terra do Sol. Isto está longe de ser uma máxima unicamente brasileira, pelo contrário: indo de Martin Scorsese, adentrando em Godard, passando por Bong Joon-Ho e chegando em Quentin Tarantino; todos exaltam a importância do cineasta e do Cinema Novo para a Sétima Arte, às vezes, mais do que nós mesmos. Após a restauração do longa no Festival de Cannes deste ano, a obra retorna ao seu país de origem, na Apresentação Especial da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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Não tem como se blindar de Titane

Cena do filme Titane. Na imagem, vemos a protagonista, Alexia, uma mulher branca, de cabeça raspada, aparentando cerca de 30 anos, de ponta cabeça, com o corpo nu arqueado e com uma expressão de dor no rosto.
Comprado pela plataforma de streaming MUBI e com data de estreia marcada para 28/01/2022, Titane foi exibido no Brasil primeiro na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, onde participa como Apresentação Especial (Foto: Kazak Productions)

Vitória Lopes Gomez

Opte por separar o artista da Arte ou não, Julia Ducournau já cravou seu nome em suas produções. Titane, a mais nova empreitada da cineasta francesa, estreou no Festival de Cannes, onde fez história ao levar a honraria máxima da premiação, a Palma de Ouro, e chegou ao Brasil na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O segundo projeto veio antecipado depois do sucesso do polêmico Grave, mas a sangrenta e canibalesca estreia da diretora vira só a porta de entrada para os horrores que vem depois. E não adianta, nem Cannes conseguiu: não tem como se blindar de Titane.

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A arte berra em Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro

Imagem retangular e colorida retirada do documentário ‘Ziraldo - Uma Obra que Pede Socorro’. Nela, vemos em foco Ziraldo, um homem de idade avançada, pele parda, cabelos e sobrancelhas brancos, que veste uma camisa branca com um colete bordado bege e preto. Ele olha para cima, pensativo, enquanto coloca o dedo indicador da mão direita sobre a boca, em sinal de reflexão.
Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro, exibido pela 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, é a única produção da seção Apresentação Especial disponibilizada online (Foto: Elo Company)

Enrico Souto

“Arte não é um privilégio do artista, é um direito do ser humano”. É com essa e outras contestações que abre-se Ziraldo – Uma Obra que Pede Socorro, parte do acervo da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. O ponto de partida é Ziraldo, “o Michelangelo da boemia carioca”, um dos artistas mais geniais da história contemporânea do Brasil. Aprendemos um pouco mais sobre seu talento e ofício, agora por entre lentes pouco exploradas. Todavia, o documentário vai muito além da pessoa Ziraldo. Além de um panorama singular sobre sua obra, o que se apresenta aqui é um comentário amplo sobre a urgência da atual situação das artes no Brasil e como a cultura do país é constantemente negligenciada em diferentes esferas sociais. O resultado é uma poderosa denúncia e um clamor por socorro.

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Desmistificando La Planta

O documentário de Beto Brant emplacou na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Vitor Tenca

A cannabis faz parte da história humana por milhares de anos e tem tremendas propriedades além de sua mera utilização recreacional. Seu papel central para a compreensão do sistema endocanabinóide e sua relação especial com o sistema químico corpóreo a torna única, e ainda há muito a se descobrir. O que você sabe sobre cannabis? É com essa pergunta que o documentário La Planta, exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, vem nos instigar de uma forma sensível, informativa e, o mais importante, afirmativa. 

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Coronation é o pesadelo coletivo do qual todo indivíduo gostaria de acordar

O documentário proporciona um mergulho aos bastidores esterilizados do hospital de campanha em Wuhan (Foto: Divulgação Imprensa)

João Batista Signorelli

Caso você não tenha prestado atenção às notícias dos últimos dez meses, ou se o isolamento social já lhe era regra antes de 2020, é importante saber que o mundo vive um momento bastante delicado de sua história: uma pandemia global. Nesse contexto de grande impacto a todos os continentes, o documentário Coronation, dirigido pelo artista multifacetado Ai Weiwei, tem sua estreia no Brasil como Apresentação Especial durante a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nele, Weiwei traz um olhar singular para a experiência de indivíduos durante os primeiros meses da pandemia em Wuhan, além de mergulhar nos bastidores do combate ao vírus, tecendo uma crítica ousada ao governo chinês.

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Masters in Short: os curtas da Mostra de São Paulo passeiam entre o onírico e o real

A projeção solitária de um filme em A Visita é um espelho da própria situação do público em isolamento (Foto: Divulgação Imprensa)

João Batista Signorelli

Um cineasta chinês lidando com a solidão durante a quarentena, uma sucessão surreal de imagens vindas do inconsciente, uma visita à ópera de Paris na década de 50, e por fim uma garota curda proibida de cantar em público podem não ter muito em comum, mas todos estão presentes em Masters in Short, a seleção de curtas da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, exibidos como Apresentação Especial. Os 5 curtas escolhidos podem de início aparentarem não ter nada de comum, mas ao comparar o modo como cada um retrata a sua realidade diegética, relações interessantes começam a despontar.

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