Entre cinebiografias e ficções, a categoria de Melhor Atriz é formada apenas por figuras que esbarram na maternidade
Todo ano a categoria de Melhor Atriz gera um dos maiores burburinhos do Oscar, e em 2022 não tem como ser diferente. Além do repeteco do cenário passado, quando nenhuma concorrente fez a rapa nos precursores, a disputa de agora vê 5 mulheres consagradas na indústria, em papéis fortes, encorpados e marcantes. E, como coincidência do destino, todas interpretam mães. Porém, como a ausência de correlações entre as suas obras e a categoria principal denota um ponto negativo da Academia: ela parece não se importar o suficiente com histórias sobre a figura da mulher.
Em Uttar Pradesh, estado do norte da Índia que é um dos mais populosos do mundo, níveis endêmicos de violência atravessam a vida das mulheres que ali habitam. No sistema de castas que define a organização social do país e reforça suas profundas desigualdades, elas estão com os Dalits, o extremo inferior da hierarquia de classes da cultura indiana ainda vigente, estabelecido 1500 anos antes de Cristo. Da população que compõem a interseção das maiores opressões do país, surgiu, em 2002, uma forma de expressão urgente através do jornal Khabar Lahariya com uma expectativa de fracasso. Mas ao invés disso, ele resiste, 20 anos depois, Escrevendo com Fogo uma revolução social, política e cultural através das mãos mais rejeitadas da sociedade indiana.
Como forma de condensar a longa e complexa cobertura do Oscar 2022, o Persona decidiu reunir os 15 curtas em um único post, enxugando as informações e entregando a seus leitores uma experiência de imersão dentre a vasta gama de alcance dos títulos reconhecidos pela 94ª edição da cerimônia. Abaixo, você confere comentários, curiosidades, opiniões e contextualização a respeito das 5 animações, 5 live actions e 5 documentários que a Academia prestigiou.
Ela já foi muitas pessoas em muitas narrativas diferentes: Princesa Diana de Gales para a burocracia da realeza inglesa, Alteza Real para os súditos do sistema monárquico europeu, e Lady Di para a legião de admiradores fiéis de uma das figuras mais relevantes do século 20. Mas entre todas as suas identidades criadas, exploradas e eternizadas entre 1 de julho de 1961 e 31 de agosto de 1997, a que foi responsável pelo início de tudo ainda era olvidada – até setembro de 2021, quando na 78ª edição do Festival de Cinema de Veneza, o diretor Pablo Larraín fez surgir pela primeira vez a única face que ainda lhe era particular. Então, agora ela é Spencer.
Em julho de 2021, uma personagem singular chamou a atenção no meio das estreladas atuações da 74ª edição do Festival de Cannes. A seleção de atrizes consideradas para o prêmio de interpretação feminina do maior festival de Cinema do mundo era composta por nomes como o de Agathe Rousselle, a força motriz do grandioso vencedor da Palma de Ouro, Tilda Swinton, a detentora de boa parte do prestígio do Júri presidido por Spike Lee, e Marion Cotillard, a protagonista da direção favorita dos votantes do último ano. Mas quem terminou o dia 17/07/2021 premiada ante suas veteranas foi Renate Reinsve. Não era para menos, afinal. Ela é A Pior Pessoa do Mundo.
Dando sequência ao novo formato do querido Nota Musical, a Editoria do Persona se reúne novamente para trazer suas impressões sobre os mais empolgantes – e outros nem tanto – lançamentos do mês. Despedindo-se do último palíndromo (22/02/2022) da década, Fevereiro foi uma montanha-russa de sentimentos. Em curtos 28 dias suando de calor, chegamos até a assistir de longe uma guerra ser declarada. No dia 23 de fevereiro, o mundo também deu adeus à Paulinha Abelha, vocalista da banda de forró tecnobrega Calcinha Preta. Presente no ambiente da Música nacional desde 1996, o ritmo sônico do grupo ecoa pelos mais diversos sons brasileiros.
Não poderíamos terminar o Melhores do Ano sem falar do setor que retomou os seus dias de glória em 2021: o Cinema. Após a paralisação completa das salas ao redor do mundo em 2020, em decorrência da pandemia de covid-19, o audiovisual precisou se readaptar. Com isso, ano passado foi o momento de observar o efeito da ascensão dos streamings, assim como o retorno da sagrada experiência de subir as escadas para sentar em uma poltrona aconchegante e comer pipoca fresquinha enquanto assiste ao mais novo lançamento cinematográfico na telona.
Fevereiro se despediu de nós em clima de Carnaval e de expectativa pela nova versão do Cavaleiro das Trevas nos cinemas, desta vez estrelada pelo maravilhoso Robert Pattinson. Com a polêmica cerimônia do Oscar no horizonte e a disputa entre os longas cada vez mais acirrada, o entretenimento variou: de filmes de terror de qualidade duvidosa a mais séries adolescentes produzidas pela Netflix, passando pelos dramas intensos da HBO e novas obras dentro de franquias consagradas, mas sem esquecer dos trabalhos inéditos de cineastas conhecidos. No mês mais curto do ano, o segundo Cineclube de 2022 te convida a ficar por dentro do que rolou no mundo do entretenimento ao longo desses 28 dias.
É um clichê introduzir uma lista de melhores do ano dizendo que o tal período foi “muito rico” ou “memorável” ou “maravilhoso” para a determinada área que a seleção em questão se propõe a registrar. Mas ao fim de 2021, não resta outra conclusão: o ano foi realmente muito especial. É uma série de motivos que sustentam a afirmação para além de uma expressão comum, e o Persona, que acompanhou cada Nota Musical dos referidos 12 meses, não só pode como deve te explicar o porquê o ano que passou ficará marcado na História da Música. Então, para fazer valer o clichê é que estamos aqui com Os Melhores Discos de 2021.
Fevereiro oficializou uma tradição do Clube do Livro: se no começo não passava de um mero acaso, cinco meses depois, os membros da Editoria não conseguiram mais negar que são as autoras que dominam nossas leituras em grupo. Com o Mês da Mulher em mente, a decisão pela obra da segunda rodada do ano não poderia ser diferente. A escolhida? Carolina Maria de Jesus e seu impactante Quarto de despejo.
Contemplando, também, o mês de aniversário da escritora, o Clube mergulhou em sua primeira história não-ficcional, e uma das produções mais doloridas lidas em conjunto até então. Publicado em 1960, o livro foi um achado do jornalista Audálio Dantas, que se deparou com Carolina e seus diários ao reportar o cotidiano da favela do Canindé, na cidade de São Paulo. Por sorte, Dantas reconheceu o poder daquela documentação e revelou ao mundo o simples, mas potente, dom da autora de contar sua história. Da vida de Carolina Maria de Jesus, nasceu Quarto de despejo: Diário de uma favelada.
No encontro único de Fevereiro, os membros do projeto literário do Persona se chocaram com os relatos crus e cruéis da obra. Também, exercitaram seu entendimento das vivências do outro, investigaram o título do trabalho, se impressionaram com a figura articulada e à frente de seu tempo que foi Carolina, além de discutirem o valor das narrativas não-ficcionais. De acordo, o Clube compreende que a importância de uma história verídica é documentar e fazer entender a realidade de quem escreve.
Depois de se surpreenderem com as similaridades das Pessoas normais com nosso mundo, os membros mergulharam na vida real, de fato. Firme e forte em suas leituras, renovadas no mês dedicado a Quarto de despejo, o Persona continua empenhado em expandir seu escopo de gêneros e obras.
Nisso, o projeto aproveitou o gás dos encontros mensais e emplacou a renovação da colaboração com a Companhia das Letras: agora, o projeto ganha o crachá de Parceria Fixa. Enquanto os próximos conteúdos do mundo literário não chegam, o Estante do Persona segue com seus comentários e com as Dicas do Mês, de obras escritas exclusivamente por autoras, em homenagem ao Mês da Mulher.