A esperança é o antídoto para o vício em Four Good Days

Cena do filme Four Good Days. Na imagem, vemos uma mulher de meia idade à esquerda; de cabelos loiros com franja, lisos e curtos; e pele clara. Ela está usando uma camisa de mangas longas, estampada de marrom e amarelo, uma calça bege, e está com os braços cruzados. Ela está sentada em uma cadeira verde escura estofada, com as pernas cruzadas, com uma expressão de preocupação, olhando para a moça que está sentada ao seu lado direito. Ao lado dela, à direita, está uma mulher jovem. Ela tem cabelos compridos, loiros, lisos e soltos. Ela está usando uma camisa xadrez cinza de mangas longas, com outra camiseta cinza por baixo, e calça preta; está olhando séria para a senhora que está sentada à sua esquerda, com as mãos fechadas sobre as pernas. Atrás delas há uma parede azul clara, com um quadro de tamanho médio. Elas estão em ambiente interno.
Indicado ao Oscar 2022, Four Good Days mostra-nos a realidade do consumo excessivo de substâncias ilícitas e como esse abuso pode destruir os laços familiares mais fortes, como o de mãe e filha (Foto: Vertical Entertainment)

Sabrina G. Ferreira

A narrativa de Four Good Days tinha tudo para ser óbvia e seguir o roteiro clássico de um filme com essa abordagem, entretanto o que se vê é um show de atuações, e um recorte instigante do problema apresentado. Baseado em fatos reais, o longa dirigido por Rodrigo García (Em Terapia, Questão de Vida), mostra a trajetória de Molly (Mila Kunis), uma mulher jovem viciada em drogas, que retorna para a casa da sua mãe, Deb (Glenn Close), em busca de ajuda para vencer sua dependência química. Após levar a filha à reabilitação, pela 15ª vez, elas descobrem um método novo e intensivo de cura para o vício, mas para iniciar o tratamento, Molly precisa ficar quatro dias sem usar nenhum tipo de droga.

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tick, tick… BOOM! sabe exatamente o que é

Cena do filme tick, tick…BOOM! O personagem de Andrew Garfield está sentado de perfil olhando para cima. Ele é branco, com cabelo liso e está vestindo camisa azul. Na sua frente há um piano e um microfone. O fundo da imagem é branco e tem algumas palavras soltas em letras cursivas.
O longa foi indicado ao Oscar 2022 de Melhor Montagem e Melhor Ator pela atuação de Andrew Garfield (Foto: Netflix)

Marcela Zogheib

Quando falamos de musicais, alguns nomes vêm imediatamente à cabeça. Clássicos contos de bruxas cantados por Bernadette Peters, felinos noturnos cantando sobre amor e memórias, romances proibidos com fantasmas mascarados… Tudo isso morou por anos na cabeça de Jonathan Larson. O grande nome da Broadway inovou e mudou a cena do teatro musical por anos ao escrever o fenômeno Rent, que ficou em cartaz por muito tempo, sendo remontado milhares de vezes em diferentes palcos ao redor do mundo.

Mas antes de Rent, existiu tick, tick… BOOM!. Nesse musical originalmente estrelado por seu próprio criador, acompanhamos a história de Jon, um nova-iorquino aspirante a compositor no início dos anos 90. Ele está preocupado com a chegada dos 30 anos, se comparando com grandes nomes que haviam conquistado muitas vitórias antes de atingir a fatídica idade. No longa-metragem, dirigido por Lin-Manuel Miranda e roteirizado por Steven Levenson, vemos mais detalhes da vida de Jonathan que tornam a obra original um trabalho semi-autobiográfico, traçando paralelos das vivências reais de Larson com as dos personagens que ele criou. 

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Carolina Maria de Jesus e o Quarto de despejo persistem

Montagem com a capa do livro Quarto de despejo: Diário de uma favelada. Ao centro, em frente a um fundo amarelo, vemos a capa azul clara. No topo, vemos grafismos em branco, que aparentam imitar a silhueta das casas de uma favela. Ao centro, vemos a palavra “QUARTO” e, abaixo, “de DESPEJO”, em branco, uma letra sem serifa, estilizada. Logo abaixo, vemos as palavras “Diário de uma favelada”, em branco. Abaixo, vemos as palavras “CAROLINA MARIA DE JESUS”, em caixa alta, em uma fonte serifada e branca. Na parte inferior central, vemos o logo da editora Ática e, logo abaixo, as palavras “editora ática”, em caixa baixa e em branco.
Quarto de despejo foi o livro debatido em Fevereiro pelo Clube do Livro do Persona; hoje, 14 de março, sua autora completaria 108 anos (Foto: Editoria Ática)

Vitória Lopes Gomez

Das confissões mais íntimas de Carolina Maria de Jesus, surge Quarto de despejo. Mesmo com mais de 1 milhão de cópias vendidas – 10 mil só na primeira semana -, tendo ganhado traduções para 13 idiomas e sendo comercializado em mais de 40 países, o nome da autora não significava tanto, à época, quanto agora – que ainda é pouquíssimo, se comparado aos devidos créditos merecidos. Mulher negra, mãe solo, moradora da favela, antes de ter seus diários publicados, a luta do dia a dia de Carolina era por comida. Seus escritos sempre foram importantes para ela, mas nunca mais do que os filhos e o árduo trabalho diário, o único meio de alimentá-los.

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Eduardo e Mônica: o amor sempre fala mais alto

Seja na Música ou nas telas de cinema, Eduardo e Mônica exalam química em uma paixão fascinante de se ver e escutar (Foto: Paris Filmes)

Guilherme Teixeira

Quatro anos após o início de suas gravações, a aguardada comédia romântica Eduardo e Mônica chega aos cinemas reverenciando não só a música de Renato Russo, clássica brasileira que inspirou o filme, mas também o amor e o respeito às diferenças. O longa, dirigido por René Sampaio e estrelado por Gabriel Leone e Alice Braga, narra a história do jovem vestibulando e da médica independente que se cruzam na tal festa estranha com gente esquisita e mostram que, definitivamente, os opostos se atraem. Ele, que assiste novela e joga futebol de botão com o avô, em contraposição se apaixona por ela, que bebe conhaque e gosta do Bandeira, Bauhaus, Van Gogh, Mutantes, Caetano e de Rimbaud. 

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Todos os caminhos levam ao Beco do Pesadelo

Imagem retangular é uma cena de O Beco do Pesadelo. Centralizado e ao fundo da imagem está Bradley Cooper, um homem branco, adulto, de olhos claros, cabelos castanhos e médios e barba rala, que usa um terno marrom batido com um chapéu da mesma cor. Ele está dentro de um tubo que possui um padrão em espiral vermelho e branco. Ao redor do cano e nos cantos da imagem há uma parede forrada de olhos abertos com íris azuis claras.
Com 4 indicações ao Oscar 2022, o novo filme de Guillermo del Toro é fascinante (Foto: Searchlight Pictures)

Caroline Campos

Guillermo del Toro sempre teve uma predileção pelo inóspito e o bizarro. Conforme sua carreira foi amadurecendo, o diretor se viu cada vez mais confortável em meio às suas criações monstruosas com olhos nas mãos, chifres reluzentes e escamas pelo corpo, buscando reforçar que, no final das contas, o estranho pode ser um convite para uma vida fantástica. No entanto, em O Beco do Pesadelo, sua nova empreitada, del Toro prende as criaturas no baú, fecha o livro de histórias mágicas e assume uma roupagem realista à sua maneira para provar, mais uma vez, que o ser humano é bem mais perigoso que o pior dos monstros.

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Belfast: vá agora e não olhe para trás

Cena do filme Belfast. Na cena, em preto e branco, da esquerda para a direita, vemos a personagem de Judi Dench, Buddy e o personagem de Ciarán Hinds sentados em um sofá, em uma sala de estar de uma casa. Judi Dench é uma mulher branca de cerca de 80 anos, com cabelos curtos e lisos, usando óculos de grau, um casaco escuro e um vestido claro, sentada na ponta esquerda do sofá e segurando um jornal aberto. Sentado no meio do sofá, vemos Buddy, um menino de cabelos claros, aparentando cerca de 9 anos, vestindo um suéter e um casaco escuro. Ele tem seus pés esticados sob uma mesa, à frente dele. Na ponta direita do sofá, vemos o personagem de Ciarán Hinds, um homem branco, de cerca de 70 anos, vestindo um casaco, suéter e calça escuros. Ele encara Buddy e tem um jornal aberto sob suas pernas.
Vencedor do importante Prêmio do Público no Festival de Toronto, Belfast chega como um forte concorrente no Oscar 2022 (Foto: Universal Pictures)

Vitória Lopes Gomez

Belfast ainda estará aqui quando você voltar”. Dito e feito: o bom filho à casa torna e o ator, diretor, roteirista e produtor Kenneth Branagh usou seu espaço na Sétima Arte para reviver a infância na sua familiar vizinhança. Irlandês, o cineasta se mudou para a Inglaterra aos nove anos de idade, em um período em que seu país e cidade natal enfrentavam os conflitos entre católicos e protestantes. Branagh, um dos principais entusiastas shakespearianos da indústria cinematográfica, entre outras diversas produções no currículo, se voltou, agora, à sua própria história. Com um molde autobiográfico, Belfast relembra os dias de seu idealizador na cidade, mesmo que a nostalgia não seja tão simples.

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Gold-Diggers Sound: Leon Bridges tem o poder de parar o tempo

Gold-Diggers Sound, terceiro álbum de estúdio de Leon Bridges e figura marcada nas categorias de R&B do Grammy 2022, ainda recebeu versão Deluxe com uma faixa extra (Foto: LisaSawyer63/Columbia Records)

Enrico Souto

“Nós não paramos, mas o tempo sim”. Há uma conduta inusitada nessa afirmação, não? Bem, é assim que Leon Bridges escolhe abrir Motorbike, o segundo single do seu terceiro álbum de estúdio, Gold-Diggers Sound. É comum que o tempo seja entendido, tanto na Arte quanto no inconsciente coletivo, como uma entidade intocável, totalmente fora da nossa compreensão e controle, que existe independente da nossa capacidade de percebê-lo, e que é efêmero por definição. Ou seja, que se vai apaticamente, e quem não o acompanha é fatalmente suprimido. 

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Licorice Pizza: os amores possíveis sob o olhar de Paul Thomas Anderson

Cena do filme Licorice Pizza. Na imagem retangular colorida, os atores Cooper Hoffman e Alana Haim correm lado a lado. Cooper é um jovem branco, possui cabelos ruivos e olhos castanhos, e veste uma camisa azul de mangas curtas, uma camiseta de cor branca e uma calça bege. Ele está com a cabeça inclinada para a esquerda, olhando para Alana. Ela é uma mulher branca, possui cabelos castanhos e olhos azuis, e veste um cropped com estampas floridas, de cores roxas, azul e branco. Os dois estão sorrindo com os dentes à mostra, e ao fundo há um campo de cor verde.
Indicado em três categorias no Oscar 2022, Licorice Pizza é uma reflexão sobre crescer e viver em um mundo problemático (Foto: Universal Pictures)

Bruno Andrade

No início dos anos 1970, os Estados Unidos começaram a receber as primeiras respostas negativas à efervescência cultural que se deu na década anterior. Após as aberturas políticas e libertárias que se estabeleceram como força motriz da sociedade civil organizada – além de manifestações políticas profícuas e históricas –, o país começou a enfrentar uma diminuição do interesse público nas políticas liberais e de contracultura. Na esteira, ainda estava por vir a quebra da coletividade e do bem comum que nortearam os ideais hippies anos antes. O neoliberalismo ganhou força popular, Richard Nixon chegou à presidência (1969-1974) e o culto da imagem se estabeleceu – algo que Guy Debord já alertava em A Sociedade do Espetáculo (1967). Mas ao contrário do que se pode imaginar, quando nada pode acontecer, tudo é possível de novo.

Esse é o caótico cenário cultural de Licorice Pizza, 9º filme do diretor Paul Thomas Anderson (PTA), estrelado por Cooper Hoffman e Alana Haim, ambos estreantes em longa-metragens. Lançado nos EUA em novembro de 2021, a trama traz Gary Valentine (Hoffman), um jovem ator de 15 anos com verve de pequeno empreendedor, e Alana Kane (Haim), uma mulher de 25 anos perdida sobre o futuro, vivendo em meio aos conflitos sociais – e geracionais – de 1973. A obra concorre no Oscar 2022 como Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original – categoria em que é um dos favoritos à estatueta.

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Identidade: quanto vale o pertencimento?

Cena do filme Identidade. Na imagem aparecem os rostos das personagens Irene Redfield, interpretada por Tessa Thompson, e ao seu lado Clare Bellew, interpretada por Ruth Negga. A fotografia é em preto e branco e as duas estão de perfil, Irene usa um chapéu com tons escuros e Clare usa um com cores claras, ao fundo a comunidade do Harlem aparece embaçada.
Identidade foi lançado pela Netflix em 2021 e marca a estreia de Rebecca Hall como diretora (Foto: Netflix)

Jamily Rigonatto 

Em uma sociedade que precifica os seres humanos e os valoriza de forma desigual, vale a pena vender sua própria veracidade por dignidade plastificada? Caso esse não seja o principal questionamento inspirado por Passing – traduzido no Brasil como Identidade – com certeza é um de seus pilares. O longa-metragem lançado em novembro de 2021 na Netflix é um retrato delicado do quanto a sua própria pele pode ser sufocante em uma sociedade estruturada pelo racismo. O filme é a adaptação audiovisual do livro de mesmo nome escrito por Nella Larsen, e é também o trabalho de estreia da atriz Rebecca Hall como diretora.

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A busca pelo amor ideal em meio aos desencontros de Duas Garotas Românticas

Cena do filme Duas Garotas Românticas. Na imagem, vemos uma mulher jovem à esquerda; de cabelos loiros com franja e lisos, soltos até os ombros; pele clara; segurando um trompete nas mãos. Ela está usando um vestido branco de comprimento acima dos joelhos, com recortes de cor rosa, que descem da cintura até a barra; e uma boina cor de rosa na cabeça. Ela está sorrindo, e está em pé. Ao lado dela, à direita, está outra mulher jovem. Ela tem cabelos ruivos, lisos, com franja, soltos, e de comprimento até os ombros. Ela está usando um vestido branco, de comprimento acima dos joelhos, com recortes amarelos, que vão da cintura até a barra; está sorrindo, enquanto segura um bandolim nas mãos, e está de pé. Atrás delas há uma parede de madeira branca; uma mesa de madeira com rosas em cima; um piano preto e dourado; e um violoncelo no lado direito. No lado esquerdo há uma janela de cor rosa aberta, e um espelho. O chão é de madeira. Está de dia.
Mesmo após 55 anos de seu lançamento, Duas Garotas Românticas continua intocável (Foto: Festival de Cinema Francês Varilux)

Sabrina G. Ferreira

Para amenizar os males emocionais causados durante a Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 50 e 60, houve o que se pode chamar de Era de Ouro dos musicais nos cinemas. Mostrando que é possível criar obras de qualidade fora dos muros de Hollywood, o diretor francês Jacques Demy (Os Guarda-Chuvas do Amor, A Baía dos Anjos) se destacou com o sucesso de bilheteria lançado em 1967, Duas Garotas Românticas (Les Demoiselles de Rochefort), arrebatador tanto pela energia vibrante que provém de cada cena, quanto pela simplicidade da trama, ao tratar assuntos considerados sérios de forma leve e sutil. 

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