Bradley Cooper orquestra o seu Maestro interior

Cena do filme Maestro. Na imagem, o protagonista Leonard Bernstein aparece conduzindo uma orquestra. Ele é interpretado pelo ator Bradley Cooper, um homem branco de cabelos escuros e olhos claros. A câmera captura em cores e a partir da cintura o maestro angulado para o lado com suas mãos realizando gestos para cima enquanto segura uma batuta com uma delas. Ele veste um terno preto por cima de uma camiseta branca. Ao fundo, é possível ver de forma desfocada os membros da orquestra tocando seus respectivos instrumentos e a esposa de Bernstein com seu vestido azul.
Bradley Cooper usou 137 próteses de nariz ao longo de Maestro (Foto: Netflix)

Nathalia Tetzner

Todo ator é, no fundo, movido pela atenção. Acostumado a esconder a ambição por trás de performances gloriosas, seu maior pesadelo é transparecer pela pele do personagem. Essa situação terrífica acontece com Bradley Cooper que – pela segunda vez assumindo o cargo de diretor em um filme que também protagoniza –, orquestra o seu maestro interior em uma cinebiografia que parece dizer bem mais sobre ele do que o objeto de estudo, o lendário Leonard Bernstein. Ainda que tenha bons momentos, Cooper não consegue desaparecer por completo na pele do compositor do musical West Side Story, fato previsto quando acusações de antissemitismo surgiram por todos os lados pelo uso questionável de uma prótese de nariz.

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Bela Vingança incomoda e você sabe o porquê

Cena do filme Bela Vingança. A foto tem um formato retangular com cores fortes e quentes e iluminação baixa. A cena é em um ambiente interno. Ao fundo, no canto superior, ocupando parte da foto, temos um espelho que reflete imagens de uma boate, com alguns elementos de brilho e reflexos de algumas pessoas. A esquerda, em desfoque, um homem de idade mediana e cabelos curtos escuros veste uma camisa branca de manga longa acompanhada de um terno social da cor cinza. Logo ao centro, com um foco de luz, a personagem Cassie, de trinta e cinco anos, com os cabelos loiros claros presos em coque e uma franja solta, veste uma camisa social branca de mangas longas, um terno e saia femininos da cor cinza escuro acompanhados de um salto alto preto. A personagem está sentada em um sofá de couro vermelho que se estende por toda a foto e apresenta um semblante exaustivo.
O chute nas bolas de Hollywood foi tão bem dado por Emerald Fennell que conquistou 5 indicações ao Oscar 2021 (Foto: Reprodução)

Caroline Campos

“A culpa não é minha se ela bebeu demais. A mulher tem que se dar ao respeito, se garantir. Aí, se acontece alguma coisa, vem reclamar. Ela foi até para casa comigo, vai dizer que não queria? Se arrependeu? Assim é fácil… fazem de tudo para acabar com a vida de caras como eu. Eu sou um menino do bem. Um cara legal. Tenho mãe, sabe. Óbvio que respeito as mulheres. Ela queria, eu tô te falando. Aquele ‘para, por favor’ foi só para pagar de difícil”. Familiar, não é? Você sabe que já ouviu isso

A sensação é de impotência. É de ira. Um poço grande e fundo até a boca de solidão. Alguém aí para escutar nossa versão? Ficar do nosso lado? Bela Vingança sim. O primeiro filme dirigido pela britânica Emerald Fennell, também atriz (The Crown) e roteirista (Killing Eve), é uma resposta doce ao sexismo e a cultura do estupro, que abraçam e protegem a frágil figura masculina. Doce, sim, mas com ressalvas. A personagem de Carey Mulligan, a mais pop da temporada de premiações, está atolada até a cabeça de amargura e apatia, traumatizada pelos desdobramentos de um estupro, assistido e aplaudido, que sua amiga Nina sofreu.

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