Junho é o mês de enaltecer o amor, e acima disso, é o mês da celebração, da luta e do Orgulho LGBTQIA+. Para marcar a data, o Persona apresenta esta edição do Nota Musical valorizando o trabalho de artistas que fazem parte da comunidade, com destaque especial para os que representam os tons de rosa e azul da bandeira. Nem nos dias que são dedicados à reivindicação de direitos o preconceito do país dá trégua, e ainda hoje, é necessário gritar que Vidas Trans Importam!
Para quem quer ressoar o grito, um primeiro passo é dar play em Liniker, uma das maiores referências da comunidade LGBTQIA+ brasileira, que nos presenteou com o caloroso clipe de seu mais novo single. O mesmo vale para potencializar as palavras e existência de Linn Da Quebrada, que prepara o terreno para seu novo álbum com muito conceito, coesão e aclamação.
Para quem procura novos artistas, Joy Oladokun canta sua vivência como mulher negra, pessoa gorda e LGBTQIA+, em letras biográficas transformadas pelo seu tato singular com as canções. Também falando sobre suas vivências, Home Video de Lucy Dacus é a história de amor e amadurecimento da cantora, que reflete sua própria existência.
Em CALL ME IF YOU GET LOST, Tyler, The Creator, que já explorou sua sexualidade em álbuns anteriores, revisita outras décadas do hip-hop para seu novo trabalho. Ainda assim, o cantor não deixa de passear entre o R&B e o soul e inspirar com sua autenticidade e destreza musical.
O mês firmou nomes que serão lembrados como os Melhores do Ano. No indie rock – com influência do jazz -, Rostam supera a Changephobia com um disco completo e original. No rock alternativo, a grandiosa Wolf Alice lançou o emotivo Blue Weekend. No pop, a revelação Griff se desprendeu da mesmice do gênero com One Foot In Front Of The Other. No pop alternativo, Japanese Breakfast marca 2021 com Jubilee e toda pureza de Michelle Zauner.
O pop brasileiro veio para esquentar o frio de Junho. IZA leva todo seu imenso poder para Gueto, que engrandece a cultura periférica. Marina Sena une o melhor da música nacional em VOLTEI PRA MIM. E com cringe entrando em nosso vocabulário, Garbo sai diretamente do Tumblr e nos apresenta a juventude softpop.
E se estamos sofrendo com as baixas temperaturas por aqui, na Coreia do Sul o girlgroup TWICE esbanja o clima tropical, trazendo um gostinho caloroso para nossas bocas. Ainda do lado oriental da Terra, o calor do verão dá espaço às sombras, no dolorido álbum da chinesa Pan Daijing.
Já Pabllo Vittar prova por a + b que piranha não sente frio, e nos deixa triste e com T em seu Batidão Tropical. O lançamento é uma prova de amor e orgulho por Maranhão, terra natal da cantora. Com regravações e inéditas, um dos melhores álbuns nacionais do ano é criado, dominando o Top 50 do Spotify Brasil.
Mas mais uma vez, é preciso lembrar que a pandemia ainda não acabou. E é para escapar desse ambiente de angústia gerado pelo isolamento social que vemos artistas florescerem e, até mesmo, se reinventarem. É o caso da rapper K.Flay que escuta todas suas Inside Voices e as solta como grito de guerra. De forma mais passivo-agressiva, mas ainda capaz de acolher, Cavetown externaliza seus atormentados sentimentos. Usem máscara, se cuidem e cuidem dos seus.
Seja pelas alterações climáticas, seja pela interminável pandemia, o mundo beira o inabitável. Para fugir disso, Doja Cat cria seu próprio planeta em um disco que divide opiniões. Reafirmando a influência do TikTok no cenário musical, Planet Her lidava com grandes expectativas e entregou os extremismos, entre músicas que vieram para habitar o repeat e outras que não queremos na porta de casa.
Junho veio também para ajudar as cantoras a saírem do meio do mato. Na Nova Zelândia, o fogo no rabo de Lorde nos deixou saudosos por verão e praia, e ainda trouxe o gostinho do novo álbum, Solar Power, que virá em agosto. Em solo brasileiro, Marisa Monte nos pediu Calma, pois, depois de uma década, o disco de inéditas está saindo do forno.
Dois anos depois do temível Love + Fear, MARINA volta revigorada com sons do tabu quebrando em Ancient Dreams In A Modern Land. Já Maroon 5 retornou de maneira oposta, batalhando para que JORDI não fosse um trabalho completamente esquecível. Billie Eilish se aproxima de estar mais feliz do que nunca com seu vindouro álbum e aposta numa versão mais debochada de si no single Lost Cause.
O mês das festas juninas foi propício para bolo, guaraná e muito doce. Dois discos gigantes da Música Internacional comemoraram seus aniversários, ganhando de presente edições especiais. O mais velho é o disco de estreia de Alicia Keys, Songs In A Minor, que inovou o R&B e o soul há 20 anos. Além dela, Lady Gaga convida a comunidade LGBTQIA+ para Born This Way The Tenth Anniversary, reinventando o álbum que marcou toda uma geração.
O fenômeno da internet, boy pablo já se tornou figurinha carimbada dos posts mensais. Dessa vez, o jovem chileno-norueguês aparece para finalizar sua trilogia e nos deixar atentos para quais podem ser os próximos passos. Quem também dá as caras de novo é Kali Uchis que, mais uma vez, espreme seu fenomenal trabalho Sin Miedo. Agora podemos apreciar a cantora em versão acústica e vê-la cavalgando em seu cavalo branco. Good Morning Sunshine.
Outra que não larga o osso é Dua Lipa, que ainda vive seu Future Nostalgia. Foi na sola da bota que a cantora lançou o clipe de Love Again, permitindo que fãs e haters criassem teorias sobre um ovo. Relacionamentos falhos? Relacionamento novo? Foto mais curtida do Instagram? Todas essas hipóteses passaram pela cabeça do fandom, mas nenhuma foi confirmada pela artista.
Para os amantes das mídias físicas, BROCKHAMPTON surpreendeu positivamente com o deluxe do psicodélico ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE. Com quatro novas faixas para acompanhar vinis e CDs, a banda mantém o alto padrão de qualidade proposto no disco.
A queridíssima Olivia Rodrigo – Olivia Rogéria, para os chegados – nos leva para o mágico mundo da Disney com The Rose Song, parte da trilha sonora da 2ª temporada de High School Musical: The Musical: The Series. A jovem ainda convidou seus amigos para a formatura online. Seguindo os típicos padrões estadunidenses, Olívia apresenta SOUR entre limusine e líderes de torcida.
Para um mês tão importante e recheado de novidades, a Editoria e os colaboradores do Persona encerram a primeira metade de 2021 reunidos para fuxicar os melhores e os piores de Junho e para celebrar o Orgulho LGBTQIA+. O guia mensal de CDs, EPs, músicas, clipes e performances acompanha uma playlist fresquinha pra escutar no carro, no banho ou onde quiser.
CDs
Lucy Dacus – Home Video
Home Video é a tentativa de Lucy Dacus entender o que a formou. Como uma história de amadurecimento revisitada na idade adulta, a narração preciosa de traumas e amores se une ao sentimentalismo da cantora, ao passo que ela abre a torneira das emoções e deixa a água fluir. Como a capa bem sublinha, Lucy é espectadora de sua vida, assistindo em uma tela empoeirada suas lembranças distorcidas.
Seja nas memórias agridoces (Hot & Heavy), ou nos momentos em que ressente uma figura paterna (Thumbs), ou até mesmo nas súplicas unilaterais (Please Stay), Dacus convida a si própria e a seu ouvinte para uma montanha-russa emocional. Sua voz se equilibra em uma linearidade desgastante, mas a convidativa Going Going Gone traz Phoebe Bridgers e Julian Baker para a festa, complementando o alcance do trabalho. Nesse frio de junho, Home Video foi feito para ser ouvido agarradinho com quem a gente gosta. – Vitor Evangelista
Tyler, The Creator – CALL ME IF YOU GET LOST
Depois de Tyler, The Creator reformular totalmente sua sonoridade com IGOR, se desvencilhando do rap convencional e explorando gêneros como o soul e o R&B em uma refrescante revisita à Música dos anos 60 e 70, enquanto se aprofundava em suas experiências pessoais com amor e sexualidade ao retratar um romance homoafetivo, o aclamado rapper e produtor lançou seu novo álbum CALL ME IF YOU GET LOST, agora andando alguns passos para trás ao percorrer pelos terrenos hoje inabitados das mixtapes gratuitas que tomaram conta da cena do hip-hop nos anos 2000, mas, óbvio, dando a sua cara e identidade únicas. Essa referência influencia desde a estética, musicalidade e duração das faixas, até a estrutura da tracklist e a presença massiva de colaborações com outros artistas.
Ouvindo o álbum, o que instantaneamente salta aos olhos é a produção. Como de costume, Tyler é responsável por escrever, compor e arranjar todas as canções, novamente sem deixar a desejar. Na mão de Tyler, qualquer coisa vira instrumento. Seu tato musical, criativo e sensível, transborda através de seu uso inventivo e refrescante de diferentes sons e samples, dessa vez voltando às suas raízes ao desenterrar as sonoridades e convenções da cultura de mixtapes – popularizada por nomes como Don Cannon e DJ Drama que, não coincidentemente, participa de todas as faixas como uma espécie de anfitrião do projeto –, porém ainda dando espaço para as melodias mansas do soul, R&B e, acredite se quiser, reggae em WUSYANAME e SWEET / I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE.
CMIYGL, diferente dos clássicos álbuns de Tyler, não segue uma narrativa linear, apesar de possuir um conceito claramente definido. Aqui, o rapper nos apresenta seu novo alter ego Tyler Baudelaire, uma versão excêntrica, arrogante, esnobe e presunçosa de si mesmo. De certa maneira, faixas como CORSO, JUGGERNAUT e MANIFESTO demarcam o retorno de Tyler aos tempos de Goblin e Wolf, com a energia despojada e irreverente e as rimas ousadas e constantemente chocantes que caracterizavam esses trabalhos, porém a partir de uma execução bem mais refinada, amadurecida e autocrítica. Além disso, essa atmosfera também é contrastada pela história de um romance proibido, encurralando esse personagem e expondo emoções e sensações antes inexploradas. Por fim, CALL ME IF YOU GET LOST é mais um fantástico e estimulante projeto que ocupa a prateleira de sua renomada discografia, e ressalta um fato que já é incontestável: estamos vendo a história sendo escrita. – Enrico Souto
Japanese Breakfast – Jubilee
Michelle Zauner deu um passo além do habitual tema do luto no terceiro disco de seu projeto musical Japanese Breakfast. Em busca de uma sonoridade mais ensolarada, a cantora trouxe em Jubilee uma nova variedade de temas, inspirada em gigantes da vanguarda pop, como Kate Bush e Bjork. O resultado foi um dos registros mais emblemáticos do ano, ainda marcado fortemente pela experiência traumática de perder um ente querido, mas enxergando novas perspectivas além da dor.
Canções como Savage Good Boy e Kokomo, IN mostram a evolução de Michelle enquanto compositora, que deixa de lado o tom autoral e passa a escrever letras sob o ponto de vista de outros personagens. O que se leva do disco é um trabalho transitório, de uma artista que sempre alinha sua carreira com as questões mais íntimas. A mudança de sonoridade, temática lírica e estética deixam evidente que trabalhos futuros serão o reflexo da constante evolução pessoal e artística da cantora. – Carlos Botelho
Pan Daijing – Jade 玉观音
Jade 玉观音, segundo álbum de estúdio da produtora de origem chinesa Pan Daijing, não é suave aos ouvidos. O experimentalismo da artista abre espaço para a criação de sons emotivos e emocionais, com direito a muita dor e angústia condensadas em melodias pesadas e vagarosas. Ela recria traumas à mercê das canções, essas que carregam nomes subjetivos e cargas dramáticas para lá de desconfortáveis.
Se música experimental não casa com a sua vibe normal no Spotify, a experiência de ouvir Jade 玉观音 pode cair em dois buracos. Ou você sai galvanizado e ciente de coisas sobre as quais nunca sequer considerou como canções, ou sai correndo, assustado pelo ronco do motor e o barulho do Oceano que Pan Daijing grava em estúdio e liquidifica à versos marcantes e, definitivamente, inesquecíveis. – Vitor Evangelista
Pabllo Vittar – Batidão Tropical
Nascida no Maranhão, Pabllo Vittar escolheu os ritmos do Norte e Nordeste para acompanhar suas letras apaixonadas e um tanto chorosas de Batidão Tropical. Com seis regravações e três originais, o álbum foi recheado de tudo que constitui o brasileiro: muita animação, um tanto de sofrência e, é claro, uma pitada de safadeza.
A resposta do público foi imediata e positiva. Todas as canções entraram no Top 50 do Spotify Brasil, tornando o álbum a segunda maior estreia do país neste ano. Diversos são os hits que Pabllo coleciona, e Batidão Tropical prova que essa lista ainda vai continuar crescendo. O segredo, talvez, seja a forma que ela celebra a nossa cultura com tanto carinho e amor que é impossível não querer gritar junto as suas maravilhosas canções. – Mariana Chagas
MARINA – Ancient Dreams In A Modern Land
Depois de mais de dois anos do lançamento decepcionante de Love + Fear, MARINA retorna a seu nicho com seu mais novo disco, Ancient Dreams In A Modern Land. Composto inteiramente pela galesa, o álbum passeia por elementos de soft rock e pop alternativo em 10 faixas muito bem produzidas. Muito mais interessante que seu antecessor, o LP trava uma batalha incerta entre lirismos pretensiosos e sonoridades revigorantes.
Por momentos, Modern Land soa como uma paródia de si mesmo. Purge The Poison até tenta apresentar uma análise séria sobre as mudanças climáticas e a realidade pandêmica, mas se revela extremamente superficial. Nessa mesma linha, Man’s World é uma carteirada feminista que poderia ter sido retirada do Tumblr de 2014. Quando Marina se desprende dessa persona, o resultado é fantástico. Venus Fly Trap é uma reflexão aguçada sobre padrões hollywoodianos, e I Love You But I Love Me More interpola um soft rock encantador. Ancient Dreams In A Modern Land não tem a genialidade lírica de FROOT ou a honestidade brutal de The Family Jewels, mas ainda entretém com sua própria humanidade. – Laís David
Joy Oladokun – In Defense of My Own Happiness
Joy Oladokun leva o total de 14 canções para soar com uma estrela da Música deve soar. De fato, seu álbum de estreia caminha por temas comuns às composições que preenchem o planejamento diários de playlists e rádios por aí, mas o tato singular da jovem artista é o que transforma In Defense of My Own Happiness em um estudo muito particular e, ao mesmo tempo, coletivo, do sentimento de sentir.
Como mulher negra, pessoa gorda e parte da comunidade LGBTQIA+, Oladokun canta sobre vivências próprias, guardando suficiente espaço para desabafos e válvulas de escape. O som passeia pelo pop melódico de Arlo Parks, sem se acomodar aos maneirismos que o cenário mainstream se acostumou a escutar no dia a dia. No Mês do Orgulho, ouvir Joy Oladokun vivendo livremente em toda sua maestria é motivo de sobra para celebração. – Vitor Evangelista
BROCKHAMPTON – ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE PLUS PACK
Algo que não foi comentado na minha crítica, mas que fica evidente ao observar a arte da capa de ROADRUNNER nas plataformas digitais, é que o último álbum lançado pela BROCKHAMPTON foi primordialmente idealizado para mídias físicas. Desse modo, talvez como uma forma de compensação para quem optasse por adquiri-lo nesses formatos, todas as alternativas físicas, de CDs à vinis, acompanhavam quatro faixas bônus exclusivas. Faixas que, mais tarde, seriam disponibilizadas digitalmente através de sua edição Deluxe, nomeada de ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE PLUS PACK, liberada quase dois meses depois da versão básica. E as canções novas, já antecipando, não decepcionam
Abrindo as músicas adicionais, PRESSURE / BOW WOW é um choque térmico, explorando a dicotomia entre dois climas totalmente opostos dialogando em curtíssimo período de tempo. A primeira parte ganha destaque pelo sentimento pungente de urgência, intensificado por um sample agudo de sirenes, por graves graúdos e longos, e versos agressivos de Merlyn Wood e Dom McLennon; enquanto a segunda parte é uma quebra de expectativa, que interrompe a ambientação sombria e dá espaço para um beat suave e ameno, acompanhado por rimas leves de Kevin Abstract e ssgkobe, que colabora com a banda aqui.
Essa atmosfera dualista também permeia as três faixas que sucedem. Na irreverente SEX, seis dos sete vocalistas da boyband evocam suas individualidades e personalidades únicas ao entregarem em cima de um instrumental pesado de trap versos eróticos e vulgares sobre… bom, sexo. Ao passo que JEREMIAH, tanto o remix quanto a original, é um pop com veias no R&B, dançante e frenético. Nesse caso, o remix apenas se diferenciará pela pós-produção pesada e pelos vocais achatados de autotune, o que afeta a dinâmica da música e até a torna, em certa medida, monótona. Ainda assim, todas as quatro canções são empolgantes e cheias de atitude. A única ponderação a se fazer é que, uma vez que a edição básica de ROADRUNNER tem uma narrativa autocontida muito bem desenhada, as faixas bônus pouco dialogam com o conceito geral do disco. Porém, como experiência isolada, com certeza valem a sua atenção. – Enrico Souto
Maroon 5 – JORDI
Não há forma melhor de definir o mais recente álbum da banda Maroon 5 do que como preguiçoso. De forma simples e direta, JORDI é um compilado de músicas rasas e sem criatividade que se sustentam em abatidas repetidas, tornando esse um trabalho extremamente inferior ao que esperaríamos dos donos de hits como Payphone. Construindo uma história sem pé nem cabeça, o álbum nos entrega uma playlist com músicas que parecem terem sido descartadas em outras oportunidades e agora estão sendo reutilizadas.
Apesar de extremamente genérico, é claro que JORDI teria alguns pontos positivos, três para ser mais específica. O primeiro deles é a faixa Memories que nos lembra o som que costumávamos escutar no início da carreira da banda, no melhor estilo This Love. Já as duas demais cartadas certas não se devem exatamente ao Maroon 5, mas sim às participações especiais que abrangem quase todo o álbum. Dando destaque para Remedy com Stevie Nicks e Convince Me Otherwise com H.E.R., somos agraciados com um suspiro de alegria em meio a tantos desastres, uma vez que os vocais femininos das cantora não só contrastam como apimentam as batidas sem sal de JORDI.
Com muito pesar e decepção, o que vemos e ouvimos é a transformação de uma das bandas pop mais imponentes dos anos 2000 se tornar nada mais do que mais um em meio a multidão. Os vocais de Levine continuam marcantes, mas isso não é suficiente para salvar uma obra que se prende em seu conforto e não ousa, em momento algum. Assim, JORDI é chato e esquecível, se bem que não seria nada mal se apagassem essa gafe das boas memórias que temos de Maroon 5. – Ana Laura Ferreira
Doja Cat – Planet Her
Doja Cat constrói seu próprio planeta e nos leva para visitá-lo em Planet Her. Lançado no dia 25, o mais novo álbum da cantora já nasceu com grandes expectativas. Depois de abalar a indústria musical com seu extremamente bem sucedido Hot Pink, era grande a espera por suas novas músicas. Seu primeiro single, Kiss Me More, estourou no TikTok e iniciou muito bem a nova era.
Dentre as 14 faixas, grandes nomes como Ariana Grande, The Weeknd e SZA participaram em feats que enriqueceram bastante a obra. Apesar dessas parcerias e algumas outras músicas com potencial de viralizarem, a outra metade do álbum não atingiu o nível que Doja é capaz de fazer com sua habilidade única de criar hits. Bem mais ou menos, Planet Her está dividido em composições completamente viciantes e outras nem mesmo divertidas de escutar. Em suma, um EP poderia ter sido uma escolha mais certeira da cantora, mas pelo menos recebemos canções ótimas para adicionar nas playlists de 2021. – Mariana Chagas
Lady Gaga – Born This Way The Tenth Anniversary
Quem imaginou que Lady Gaga poderia ficar mais gay ainda? Ou melhor, quem imaginou que o Born This Way poderia ficar ainda mais queer? Por incrível que pareça, a Mother Monster conseguiu. Em um relançamento mais que especial, comemorando os 10 anos do disco em pleno Mês do Orgulho LGBTQIA+, Gaga reuniu Kylie Minogue, Big Freedia, The Highwomen, Brittney Spencer, Madeline Edwards, Ben Platt, Years & Years e Orville Peck para presentear o mundo com covers de algumas de suas melhores canções.
Marry the Night, cantada pela lendária Minogue, e The Edge of Glory nos servem a energia do seriado Glee, no melhor dos sentidos. Highway Unicorn (Road to Love) e Yoü and I reimaginam a força das faixas em uma nova roupagem, sem perder o impacto e envolvimento. Born This Way (The Country Road Version) nos coloca para sentir a fivela gelada do cinto na barriga, dessa vez cantada por Peck. E Big Freedia fica com o melhor rework da compilação, uma insana e elétrica Judas, pulsante com sua fanfarra e a voz maravilhosamente grossa da artista.
O maior defeito do álbum reimaginado é que tenhamos tão poucas faixas novas. Existem tantos cantores e produtores LGBTQIA+ talentosíssimos por aí que poderíamos receber um cover para cada música do Born This Way original. Infelizmente, só podemos sonhar com uma Scheiße refeita por Kim Petras, por exemplo, ou uma Bad Kids de Isaac Dunbar. Quem sabe no aniversário de 15 anos? – Jho Brunhara
Rostam – Changephobia
Ao contrário do que o nome do disco sugere, Rostam não tem medo das mudanças. Ex-integrante da banda Vampire Weekend e agora atuando como produtor e artista solo, Rostam tem em seu currículo grandes investidas da música indie de agora, desde seu debut de 2017, Half-Light, até a produção do recente e próximo-da perfeição Women in Music Pt. III, das HAIM.
Sua segunda aventura solo é Changephobia, um disco encorpado e difuso, no melhor sentido das palavras. Dessa vez, Rostam Batmanglij não hesita em mergulhar sem proteção em influências do rock e do jazz, filtradas por seu apurado senso estético e pelas ideias originais que imprime em todas as onze faixas. As guitarras sambam e as vozes se esgarçam, ao passo que temas como amor, medo e ilusão viram formas geométricas frente à criatividade do músico, sedimentando, de modo claro e simples, Changephobia como um dos destaques sonoros deste ano de 2021. – Vitor Evangelista
iris – love and other disasters
iris é uma cantora norueguesa que, desde 2019, vem trazendo singles e EPs sensíveis e com um toque pessoal. Agora, ela debuta com o álbum love and other disasters. Suas dezesseis músicas decorrem no tempo certo de 47 minutos, não deixando sua crescente sonoridade ficar maçante, ou até mesmo exaustiva. Mas, como nem tudo são flores, a qualidade do disco cai nos momentos em que a cantora tenta forçar a voz em melodias que poderiam ser simplistas.
push, don’t push, canção que abre love and other disasters, tem toda essência pop e já deixa o spoiler de um trabalho mais livre, sem amarras ou tabus. É em la petite mort que a cantora se entrega, sem medo, a falar de sua sexualidade. voodoo voodoo traz acordes e técnicas vocais complexas porém, sem falhas, e é um ótimo resumo de tudo que você pode esperar do disco. love and other disasters lida com produção extrema, do melhor ao pior. O equilíbrio faz do álbum apenas um trabalho mediano. – Ana Júlia Trevisan
Mallu Magalhães – Esperança
O quinto projeto solo de Mallu Magalhães não poderia carregar um nome mais propício. A esperança de dias melhores ronda o país há anos, por mais que a dura realidade contraste com a ideia de utopia. Mallu, agora com a maturidade da idade e da maternidade à seu favor, canta em Esperança sobre uma porção de temas sensíveis e alegres, refletindo com lentes de otimismo sua jornada e seu alcance.
As 12 faixas foram compostas pela artista, sozinha, mas a produção de Mario Caldato Jr. encorpa a narrativa do LP, cantado e versado em português, inglês e espanhol. A faixa que vale o stream é As Coisas, um louvor agudo que revela o ar de leveza que Magalhães guarda em seu timbre. Deixa Menina, dueto incomum com Preta Gil, coloca a filha de Mallu em foco, misturando samba e bossa nova. Esperança pode não renovar os ares da paulista de 28 anos, mas com certeza envereda sua Arte para ruelas mais floridas. – Vitor Evangelista
¿Téo? – Sol
A mistura de bossa nova com hip-hop de ¿Téo? em Sol vai marcar presença em algumas listas de melhores álbuns de 2021 por aí. O segundo disco do artista colombiano-americano continua os trabalhos do seu álbum de estreia homônimo de 2018, agora elevando a habilidade do artista de mesclar gêneros distintos e desenhando novas faces de sua identidade, que está exatamente nas diferentes influências culturais.
A abertura do disco nos apresenta o resultado exato dessas experimentações, muito bem-sucedido, vale ressaltar. E enquanto Pantera e Buena existem na interseção dos ritmos das diferentes Américas, a continuação de Sol também consegue se separar dentro dos gêneros que combina em suas 12 faixas. Para os ouvintes do raiz hip-hop, ¿Téo? reserva The Most e Americano, modernizando seu estilo com um pouco de reggaeton em Rrrrico e desenvolvendo o ritmo latino de forma mais suave em What’s On Ur Mind, I’ll Wait e Suplicar, esta última que acumulou milhões de streams e foi patrocinada por Justin Bieber.
Compreendendo as nuances da música latina desde seu aspecto global às suas raízes regionais, Sol ainda entrega a beleza do new flamenco em UNI2 e Buena. E a bossa nova? Está presente de forma mais pura em Do U Wanna Leave, mixada às batidas do funk e vocais de Mirella Costa em Assim, mas ela surpreende mesmo é em Buzzeed, resultado da colaboração de ¿Téo? com WILLOW. Eu sei, o conjunto de Sol é difícil de explicar e mais ainda de acreditar. Mas facinho de apreciar. – Raquel Dutra
Wesley Joseph – ULTRAMARINE
Rapper em ascensão, o jovem Wesley Joseph não cansa de inovar. Surgido com um single auto produzido, acompanhado de um videoclipe que esbanjava talento e visão artística, chegou a hora de Joseph lançar seu primeiro trabalho de estúdio completo.
ULTRAMARINE aterrissa ciente do flow do cantor, que desata a rimar poeticamente, criando versos cinematográficos e que casam com o olho apurado que possui quando o assunto é complemento visual. Ecos de The Weeknd batem à porta enquanto ele convida a cantar sua conterrânea Jorja Smith na melhor canção do curto disco, Patience. – Vitor Evangelista
H.E.R. – Back of My Mind
Depois de ganhar não apenas um Oscar, mas também dois Grammys, H.E.R. consolidou seu nome como uma artista bem sucedida de 2021. Não tem como pensar em música nesse ano sem lembrar da jovem, e ao escutar seu álbum fica claro os motivos de tanto triunfo.
Back of My Mind é uma viagem para, como o próprio nome diz, dentro da cabeça da artista. A obra é cheia de desabafos emotivos e profundos que, com tanta verdade, tocam nossos próprios sentimentos. Em My Own, Gabriella não tem vergonha em admitir que está carente e com saudade do seu amor. A maneira que fala abertamente da sua necessidade por afeto é a mesma que usa para rimar sobre seus traumas na terceira faixa da obra.
Além dos solos, sete canções contam com feats que só elevaram ainda mais o potencial do álbum. Ty Dolla Sign, Lil Baby e outros grandes nomes se juntam a H.E.R. para cantar sobre suas emoções. De forma intimista, Back of My Mind vem para mostrar que a queridinha das premiações é apenas gente como a gente. – Mariana Chagas
Faye Webster – I Know I’m Funny haha
“Você me dá vontade de chorar, mas de um jeito bom”, canta uma jovem de 23 anos em In A Good Way, a voz fina e anasalada se engrandece ao mesmo tempo em que confessa esse sentimento conflituoso. E o quarto disco de Faye Webster é recheado deles. A começar pelo título, sutilmente passivo-agressivo, que rememora as risadelas características do MSN, lol.
I Know I’m Funny haha engana pelo escopo de suas criações, por suas letras aparentemente simples e pelos vocais de Webster, que brincam com tons e com formas. Ela é despreocupada, carente, inteligente e ela está entediada. Qualquer tema escolhido ao longo dos quarenta minutos são tratados com o mesmo grau de seriedade, fazendo da integridade artística e da entrega sincera os pontos mais altos do trabalho. – Vitor Evangelista
Wolf Alice – Blue Weekend
O Fim de Semana Azul da banda Wolf Alice já é um dos álbuns mais prestigiados do ano, e com toda a razão. Em suas onze faixas, ouvimos uma história contada através das letras e da ambientação alcançada através da produção detalhista das músicas. Quase como uma experiência cinematográfica, somos conduzidos a sensações que crescem e culminam numa catarse musical, embalada pela voz de Ellie Rowsell.
O rock alternativo e o shoegaze/dream pop já são conhecidos por esse poder de colocar o ouvinte quase num transe, e de transportar para uma atmosfera única e etérea, e Blue Weekend confirma a capacidade de Wolf Alice em acentuar essa força do gênero. Delicious Things com certeza tem Bowie nas suas veias, sendo uma das melhores faixas do disco.
Ao longo do LP, nos deparamos com sintetizadores ecoantes, guitarras calmas, e até mesmo um rock mais convencional, e tudo se encaixa, numa síntese sobre como manter um álbum coeso sem que se torne monótono. Não se assuste quando Blue Weekend aparecer nas listas de melhores do ano por aí, eles merecem isso e muito mais. – Jho Brunhara
Alicia Keys – Songs In A Minor (20th Anniversary Edition)
Em 2001, o mundo admirava a estreia aclamada e promissora de Alicia Keys. Hoje, celebramos junto dela seus maravilhosos 20 anos de carreira. A comemoração acontece através de Songs In A Minor (20th Anniversary Edition), edição especial do primeiro álbum da artista. Na época, o disco foi sucesso absoluto de público e de crítica, vencedor do Grammy de Artista Revelação, Melhor Álbum de R&B e Música do Ano, e o motivo por trás da fama da novata que ficou conhecida como “a próxima rainha do soul”.
O fenômeno partiu de uma jovem de apenas 20 anos que flutuava com completa liberdade criativa pelo soul, R&B, hip-hop, jazz, música clássica e gospel, em canções escritas e idealizadas durante a adolescência e no início da vida adulta, simbolizando, de forma pessoal e histórica, um amadurecimento em meio a um novo mundo e um novo momento da indústria musical. Assim, Songs In A Minor é onde a origem do piano clássico de Alicia se encontra com a sua existência enquanto mulher moderna, suas referências musicais dentro dos gêneros urbanos contemporâneos e sua habilidade enquanto compositora, arranjadora e produtora.
O trabalho abriga uma parte importantíssima da música dos anos 2000, como Rock wit U, que representa como nenhuma outra o R&B da época, em contraste com as juvenis Butterflyz, Troubles e Caged Bird. A tracklist original vem acompanhada de Foolish Heart, Crazy (Mi Corazon) e I Won’t (Crazy World), três faixas inéditas das sessões de gravação do disco em 2001. Parafraseando a música que é o carro-chefe do álbum, um dos destaques de sua discografia e considerada sua assinatura musical, 20 anos depois, nós continuamos a nos apaixonar por Alicia Keys. – Raquel Dutra
EPs
Cavetown – Man’s Best Friend
Apesar do isolamento, muitos sentimentos causados pela pandemia são, também, globais. Raiva, solidão, tristeza, carência… Tudo o que transformou o último um ano e meio em um dos momentos mais complicados se tornou tema do último lançamento de Cavetown, Man ‘s Best Friend.
Não é a primeira vez que saúde mental é discutida nas faixas de Robbie. Tema bastante comum, ele contou em entrevista que usa a escrita de músicas para aliviar o que está sentindo, e dessa vez não foi diferente. O EP nasceu em um momento bem conturbado de sua vida, o que pode ser refletido nas letras amarguradas e passivo-agressivas. Em Ur Gonna Wish U Believed Me, Let Me Feel Low, Guilty e Sharpener, o ruivo constantemente se refere a alguém, com uma certa hostilidade, como culpado de seus problemas. Já Idea of Her, que ele confessou ser sua favorita entre as faixas, traz mais à tona sua carência e saudades de uma certa pessoa.
A produção continua simples como sempre. Além de escrever, Robin também produziu todas as músicas, seguindo seu estilo mais clean. O objetivo, segundo o cantor, é fazer com que o ouvinte se sinta acolhido, como se ele estivesse cantando ao seu lado. O que funciona muito bem, ainda mais com a voz tão calorosa de Cavetown. E é a junção de todos esses elementos que ajudam na construção de um EP perfeito para servir de companhia em uma tarde solitária de pandemia. – Mariana Chagas
Griff – One Foot In Front Of The Other
Chamada por muitos críticos como a grande revelação do pop de 2021, haja visto seu prêmio na categoria homônima do BRIT Awards 2021, Griff prova merecer o título com o lançamento do seu primeiro EP, One Foot In Front Of The Other. Podendo ser vista como um suspiro de inovação em meio a um gênero musical que muitas vezes se repete, a cantora não faz nada incrivelmente surpreendente, apenas tem a ousadia de não se prender em clichês, assumindo sua identidade sonora de forma confiante mesmo em seu início de carreira.
Com vocais e estilos que lembram muito as composições de Julia Michaels, Griff é um pouco mais ousada ao adicionar pitadas de jazz e R&B em faixas como o single de abertura Black Hole. E uma vez que conseguimos comparar seu estilo com os primeiros singles de Dua Lipa, podemos esperar um futuro tão brilhante quanto para a nova revelação do pop. Outro destaque que precisa ser dado é para Shade of Yellow, canção que poderia muito bem fazer parte do arsenal de Taylor Swift, combinando perfeitamente em sonoridade e letra com a construção do álbum reputation.
Entretanto, por mais que estejamos falando em comparações, é muito difícil definir Griff de forma tão simples, uma vez que mesmo com apenas 7 faixas, seu registro consegue nos mostrar a versatilidade da cantora, que caminha entre as variáveis de seu gênero, indo desde de um pop eletrônico até uma batida oitentista em Walk. Sabendo como construir sua mistura perfeita, One Foot In Front Of The Other é um disco que não merece apenas ser escutado, mas sim reproduzido repetidas vezes, de forma que sua complexidade, humildemente disfarçada, possa ser um chamado para que apreciemos a abundância de sua construção. – Ana Laura Ferreira
Overcoats – Used To Be Scared Of The Dark
Pouco tempo depois de lançarem o tocante The Fight, disco que debatia o fim de um relacionamento, o duo Overcoats dá uma prévia do futuro com o rápido mas marcante Used To Be Scared Of The Dark, um EP que reúne apenas quatro canções. Entre elas, as artistas convidam vozes proeminentes do cenário folk, pop e rock para falar de cura e renascimento.
Antes escondidas na escuridão dos sentimentos negativos, elas agora se banham na luz que emana da superação. Para isso, Overcoats vai do Céu ao Inferno, da culpa à redenção e da infância à velhice. A abertura, na faixa-título em parceria com Middle Kids, regurgita o medo, e o encerramento, Blame It On Me, ao lado de Lawrence Rothman, saúda a inocência em busca do futuro. E nós mal podemos esperar por ele. – Vitor Evangelista
Olivia O’Brien – Episodes: Season 1
Depois de centenas de buzz singles e mini-mixtapes, Olivia O’Brien finalmente entrega um trabalho completo com seu divertido segundo álbum de estúdio, Episodes: Season 1. Dividido em dois extended plays, a primeira temporada de Episodes traz seis faixas recheadas de versatilidade e irreverência. Marcada por letras melodramáticas e sonoridade up-tempo, Episodes é um dos melhores lançamentos da carreira de Olivia.
Numa época que a Geração Z trouxe o pop rock de volta para as paradas, No More Friends é um dos maiores acertos da tracklist, e Oli Sykes eleva a faixa com seu icônico vocal metalcore. Também fica impossível não se emocionar com a realidade hollywodiana em Call Mom ou mergulhar em nostalgia com What Happens Now?. Episodes: Season One abre novos horizontes para O’Brien e deixa expectativas para a segunda parte do disco. – Laís David
boy pablo – wachito’s self-care tape
Fazendo jus ao título, as cinco faixas de wachito’s self-care tape são a trilha sonora perfeita para só relaxar. Depois de tuck me in e dancing by myself, também lançados em 2021, o quarto EP da carreira do boy pablo, nome artístico do chileno-norueguês Nicolás Pablo Muñoz, dá sequência e finaliza a proposta de fragmentar trabalhos anteriores e rearranjá-los em extended plays.
Selecionando gravações menos frenéticas e dançantes, diferente das do disco de estreia Soy Pablo e de singles como Dance, Baby! e Losing You, o cantor, compositor e produtor usa a última parte da trilogia para abaixar o tom e focar nas melodias calmas. A guitarra agitada dá lugar ao violão e ao piano, como nas declarações de amor de i <3 u e nowadays, e a solos mais contidos, como na revigorante come home e na encantadora honey. Até a animada hey girl ganha uma versão acústica, que, mesmo sem comparação com a original, encaixa na vibe proposta no EP.
Não só as melodias acolhedoras, mas as letras suaves e delicadas também se distanciam da ansiedade e das desilusões amorosas de anteriormente e tornam o trabalho praticamente uma playlist romântica e reconfortante. Mesmo sem nenhuma canção inédita, wachito´s self-care tape reúne faixas espalhadas em uma mini-coletânea coesa do início ao fim, que, como o próprio boy pablo descreve, é pensada para seus momentos de autocuidado. – Vitória Lopes Gomez
beabadoobee – Our Extended Play EP
beabadoobee se junta a Matty Healy e George Daniel, membros do The 1975, em Our Extended Play EP, uma rápida parceria colaborativa. Unindo o melhor do bedroom pop da cantora com a megalomania que borbulha da banda de Manchester.
Em apenas quatro faixas, ela ouve sua voz distorcida e abafada por guitarras tagarelas, marca registrada dos donos de hits como Girls e Somebody Else. A finalização do EP, centrada na bobalhona He Gets Me So High, deixa um saboroso gostinho de quero mais. – Vitor Evangelista
Clarissa – Clarissa
Atriz, influencer e agora cantora. O currículo de Clarissa Müller cresce graciosamente com seu primeiro lançamento musical, Clarissa. O EP de estreia da artista aconchega cinco canções num bedroom pop que promete cair no gosto dos amantes do pop nacional. Com O Vento Leva, O Vento Traz e Bem Me Quer, Mal Me Quer, Clarissa embarca pelos caminhos tortuosos, cantando com suavidade os altos e baixos das narrativas românticas.
Estética que se estende à Pro Nosso Azar e Ela, dando lugar à algo mais marcado em Xodó. Entre as composições íntimas e os sons charmosos, o ouvinte de Clarissa está avisado: não tem como não falar de amor em tempos de carência coletiva e não tem como não se render à leveza da música em tempos universalmente difíceis. E Clarissa Müller sabe muito bem disso. – Raquel Dutra
K.Flay – Inside Voices
Chegando dois anos após o álbum Solutions, o novo trabalho da rapper americana K.Flay é um grito de guerra e agressão que externaliza as vozes internas da artista em cinco faixas potentes que misturam pop-rock, indie e hip-hop. O apropriadamente nomeado Inside Voices representa, como muitos dos discos lançados em 2021, um processo de introspecção inevitavelmente causado pela pandemia e o período de isolamento social, revelando novas faces de sua artista e reinventando outras.
Como já diz o seu título, Inside Voices revela uma voz mais profunda da rapper, mas também é um episódio sobre as frustrações mais tangíveis de K.Flay como artista e pessoa. Seja na visceral Four Letter Words, em que ela confronta o término de um relacionamento ou na vibrante TGIF, uma insana e fantástica colaboração com o guitarrista Tom Morello, do Rage Against The Machine, em que ambos confrontam a glorificação das sextas-feiras e da semana de trabalho
Outras faixas que se sobressaem são Good Girl, um indie pop que parece saído diretamente de uma cena de filme adolescente dos anos 2000 e Dating My Dad, uma inteligente sátira de relacionamentos e famílias que conta com a bateria de Travis Barker, do Blink-182. Infelizmente o EP perde um pouco de força no final, apostando na introspectiva e sombria My Name Isn’t Katherine, mudando subitamente as engrenagens de suas músicas, mas não o suficiente para tirar o brilhantismo de suas letras instigantes e vorazes. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Jensen McRae – Who Hurt You?
A biografia de Jensen McRae no Spotify resume com maestria a energia da cantora: ela tem 23 anos, é virginiana, chorou durante Homem-Aranha no Aranhaverso e nunca negou uma sobremesa. Ela canta sobre doenças mentais, sobre ser negra, sobre ter medo da vida adulta e sobre se apaixonar por qualquer cara que é gentil com ela. Ela provavelmente está escrevendo sobre você em seu diário. Who Hurt You?, seu EP de estreia, é uma boa vitrine dessa personalidade.
Suas influências de R&B se misturam à calmaria do pop melódico, ao passo que uma aveludada voz de clamor invade o espaço sonoro. Seria fácil e simplório comparar suas canções ao repertório de SZA, mas isso seria diminuir McRae à moldes pré-concebidos. 6 músicas e 21 minutos são suficientes para nos apaixonarmos. Wolves modula seu choro dolorido, enquanto canta sobre o animal selvagem e seu derradeiro encontro. Cansou de ouvir o SOUR e está em busca de algo no mesmo espectro de sofrência? Dê play em Who Hurt You? – Vitor Evangelista
EXO – DON’T FIGHT THE FEELING
Momentos de hiatus são comuns no mundo do K-pop, mas é impossível deixar de sentir saudades do seu grupo favorito quando param por dois anos. Por isso, o mini-álbum do EXO foi um presente de aquecer os corações dos fãs que não tinham novidades desde OBSESSION, lançado em 2019. Afastados por estarem servindo ao exército, os membros Baekhyun, Chanyeol, D.O., Kai, Sehun e Xiumin se reuniram para trazer à vida o DON’T FIGHT THE FEELING.
No clipe do single, o grupo embarca em uma excursão animada para o espaço, acompanhados pelo otimismo da letra escrita por Kenzie, compositora já antiga na gravadora SM Entertainment. Liricamente, o álbum também faz uma grande viagem, explorando diversos sentimentos e temas do cotidiano. Bem dividido, há um equilíbrio entre faixas tristes e felizes na obra. Depois de tanto tempo afastados, EXO não poderia ter feito um comeback melhor. – Mariana Chagas
Kali Uchis – sin miedo // acoustic
No apocalíptico ano de 2020, Kali Uchis gravou seu nome no cenário musical sem medo de amores e demônios. A cantora colombiana-americana abraçou suas origens latinas naquele que foi um dos melhores álbuns do ano passado: Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios). Em Março, foi vez de telepatía ganhar um caloroso clipe, transbordando talento. Agora, Sin Miedo continua com sua produção de frutos, entregando um EP acústico com telepatía, fue major, vaya con dios.
O acústico reforça toda a sensualidade da cantora em seu cavalo branco. Com apenas três músicas, Kali consegue facilmente envolver quem escuta seu trabalho. É a fascinante vaya con dios que fecha o EP e merece ser o centro das atenções. Com sua sonoridade latina que nos transporta para o ambiente cinematográfico de cabarés, a música imprime toda energia excêntrica de Kali Uchis e merece um lugar especial em sua playlist. – Ana Júlia Trevisan
TWICE – Taste of Love
Enquanto no Brasil sofremos com as baixas temperaturas e muitas camadas de roupa, TWICE esbanja o verão da Coreia do Sul em nossas caras. Uma mistura de bebidas, flores e praias servem como cenário para Alcohol-Free, e durante os 3 minutos de clipe quase dá para sentir o calor saindo da tela e aquecendo um pouco o friozinho deste inverno.
O mini-álbum conta com 5 faixas liricamente românticas e sensuais. A produção tem uma picada tropical que deixa Taste of Love ainda mais gostoso de se ouvir. Sendo ou não fã de K-pop, a batida de Fist Time consegue te conquistar. E ao escutar Baby Blue Love, o sentimento é de estarmos dançando na noite de verão que as garotas cantam sobre. Sendo essa época do ano uma temporada onde os grupos de K-pop lutam por seu espaço nas paradas, TWICE apostou certo em lançar músicas que casam tão perfeitamente com a estação. – Mariana Chagas
Rebecca Black – Rebecca Black Was Here
Uma década depois de sofrer com Friday, Rebecca Black está de volta. A cantora reúne inspirações eletrônicas no EP que carrega seu nome e sua atual situação. Rebecca Black Was Here dura mais do que sua curta duração se propõe, e a versão 2021 da artista é mais despojada e, também, mais potente.
Better in My Memory é o ápice do trabalho, mas todas as faixas passeiam por características positivas, soando, em sua melhor instância, como sons dignos da produção avantajada de Charli XCX. A PC Music vira tendência aqui, provando que a represália sofrida pela música sobre a sexta-feira não foi nada justa. – Vitor Evangelista
Músicas
Clairo – Blouse
Dois anos depois de seu último lançamento, o unânime álbum de estreia Immunity, a cantora e compositora norte-americana Clairo volta a dar as caras com o single Blouse. Longe do gênero pop (e suas variações) que marcou seu brilhante início de carreira, a artista agora explora o folk, em uma canção acolhedora, ainda que tediosa.
Os vocais suaves de Clairo cantam uma homenagem à sua cachorrinha, Joanie, e são o grande destaque na faixa, enquanto a domesticidade da melodia, que a artista tanto procurava, é mais sonolenta do que emocionante. Blouse, produzido por Jack Antonoff, o requisitado produtor de Taylor Swift e Lorde, é o primeiro single do segundo álbum da artista – e da colaboração entre os dois. Como anunciado pela cantora, seu novo projeto chama-se Sling e será lançado em 16 de julho. – Vitória Lopes Gomez
Madison Beer – Reckless
Depois de um hiatus de 3 anos entre o seu EP e o seu debut album, os fãs de Madison Beer não esperavam algo novo tão cedo. Porém, menos de quatro meses depois do lançamento de Life Support, a cantora volta com um single que inicia sua próxima era da forma mais linda possível. Se na capa Madison parece estar entre as páginas de um livro, ouvir Reckless é como um convite para viajar com ela para esse capítulo triste de sua história.
Com a melancolia de ser trocada por outro alguém, tema também do sucesso traitor de Olivia Rodrigo, Reckless é um desabafo honesto da vivência de Madison. Logo no primeiro verso, a cantora confessa que contar tal história pode quebrá-la, mas que escolheu contá-la do mesmo jeito. A produção de Leroy Clampitt e Tim Sommers, seus antigos parceiros, usa sons do cotidiano e tantos detalhes que ouvir de fone de ouvido se transforma em uma experiência quase mágica.
Com mais de 700 mil de streams no Spotify, a faixa ultrapassou Good in Goodbye e se tornou a maior estreia de Beer. A hashtag RECKLESS IS OUT NOW, organizada pelo Madison Beer Brasil, ficou nos assuntos do momento na noite do dia 3. A cantora está crescendo e promete ir muito bem nessa nova fase. Se os próximos capítulos forem tão bons quanto este, não há dúvidas que Madison irá entregar outro álbum incrível. – Mariana Chagas
Marisa Monte – Calma
Após uma década sem inéditas, Marisa Monte nos pede Calma, como um sopro de esperança para não temer o futuro. O single é o primeiro lançamento do álbum Portas, que vem ao mundo em julho. Composição de Marisa em parceria com Chico Brown, a canção tem letra e melodia fáceis, que entram na mente capazes de se repetirem por horas. A música é um spoiler do que podemos esperar de Portas: o reforço na confirmação que cada dia mais a arte de faz necessária, que o som é um dos melhores escapes do mundo apocalíptico em que estamos vivendo. – Ana Júlia Trevisan
Bimini – God Save This Queen
Grande destaque da segunda temporada de RuPaul’s Drag Race UK, Bimini Bon-Boulash escolheu o Mês do Orgulho para dar partida em sua carreira musical. God Save This Queen, faixa selecionada para o pontapé além das passarelas, aumenta o alcance da drag queen, dando ao público mais nuances de sua multifacetada persona, vegana, não-binária e doida. Os versos permanecem fiéis ao que Bimini já cantou no programa, uma expansão de sua visão artística. Agora que a fera está solta, o mundo é um lugar melhor. – Vitor Evangelista
Jottapê, Kevinho e ARON – Errada Ela Não Tá
Arón Piper está arriscando no mundo musical aos trancos e barrancos. Depois do lançamento de seu EP no começo do ano, o astro de Elite se aventurou em terras brasileiras para um feat com MC Jottapê e Kevinho, surgindo então Errada Ela Não Tá. Quem dá o tom é o ator de Sintonia numa batida conhecida pelas festas antes da pandemia, vibrante e enérgica. A voz anasalada de Kevinho vem logo em seguida sem grandes novidades, nos mesmos moldes que suas outras músicas. Até aí, o match perfeito.
Contudo, Arón aparece e desgasta o funk, abusando do auto-tune. Sua voz modulada além do limite diminui os compassos introduzidos pelos MCs e só volta quando ele canta em espanhol o verso introdutório do refrão. Mesmo assim, há aqueles que aprovaram a parceria já que Errada Ela Não Tá entrou no top 200 do Spotify Brasil. Pessoalmente, ainda fico no aguardo de novas produções de Arón que engrandeçam sua voz marcante. – Júlia Paes de Arruda
Jessie J – I Want Love
Há alguns anos a Claudia Leitte do Reino Unido vem tentando repetir seus feitos do início da carreira, seja através de uma abordagem mais pop ou conceitual. E, bom, quem conhece Jessie J sabe que esse é exatamente o problema da cantora: tentar demais. Abençoada com uma voz poderosa, J já foi até mesmo competir na China em uma programa de talentos na TV, e venceu, provando que anos de carreira e alguns hits não te impedem de fazer o caminho contrário da fama.
Em I Want Love, J usa de todos os artifícios para fazer uma canção viciante, e consegue. A estrutura convencional cumpre seu papel, o refrão é chiclete, as firulas vocais impressionam, e a letra super identificável (afinal, quem não quer amor?) e as influências disco, que estavam em alta, completam o pacote. A mudança de tom no final é a cereja do bolo, quase como uma paródia do próprio gênero, algo que Ed Sheeran usaria sempre se tivesse a ambição e potência vocal de Jessie. Infelizmente, tudo que é muito doce e emperequetado enjoa fácil. – Jho Brunhara
blackbear e Tate McRae – u love u
A nova era de blackbear começou! Em 23 de março, o cantor anunciou em suas redes sociais seu próximo projeto, o EP misery lake, e três meses depois, o single finalmente foi lançado. Com a participação de Tate McRae, a produção ficou na mão de Andrew Goldstein, que já trabalha com o cantor há muito tempo.
A música é sobre estar em um relacionamento mas continuar se sentindo sozinho, mas é tão animada que quase dá para esquecer da triste letra. Bear desabafa sobre amar alguém que não parece o amar de volta tanto assim. Já a capa ficou na mão de Harley Wrecks, parceiro antigo do cantor, que escolheu uma animação que combinasse com o conceito da era. “Decidi fazer ele (blackbear) e Tate se afogando no misery lake”, contou o artista em entrevista. – Mariana Chagas
IZA – Gueto
Que IZA é uma potência todo mundo sabe, mas o novo single da artista e primeiro vislumbre de seu segundo disco é para elevar todas as expectativas a respeito de seu trabalho. Em Gueto, um dos maiores nomes do pop nacional faz jus ao espaço de importância que ocupa enquanto artista, exaltando a cultura da periferia e suas raízes do subúrbio do Rio de Janeiro. Usando de um dancehall e afrobeat carismáticos, o conjunto da obra de Gueto ainda conta com a direção criativa de IZA e entrega um dos vídeos mais lindos do ano, onde brilha forte uma artista confiante, que diz “sim, eu sei o que está reservado pra mim”. – Raquel Dutra
CHVRCHES e Robert Smith – How Not To Drown
O trio escocês CHVRCHES voltou esse mês com mais uma amostra de seu novo álbum, Screen Violence, programado para sair ao final de agosto, marcando assim 10 anos desde a formação da banda em 2011. O novo single, How Not To Drown, conta com a ilustre colaboração de Robert Smith, do The Cure, nos vocais e na letra.
Escrita em um momento em que a vocalista Lauren Mayberry pensava em deixar a banda de synthpop, a música serve como uma reflexão sobre desistência, ansiedade e depressão: “Me diga como/É melhor se eu não fizer som/Eu nunca vou escapar dessas dúvidas/Eu não estava morta quando me encontraram, olhe como me me afundam”. Adicionando seus vocais fantasmagóricos ao refrão sombrio, Robert Smith só agrega ao ar de mistério e violência proposto na nova fase do trio.
Além da música, Junho também trouxe um vídeoclipe psicodélico seguindo as novas estéticas do grupo, assim como um novo remix de 7 minutos criado pelo próprio Robert Smith. Descrita por Martin Doherty como “o momento mais orgulhoso dele como músico”, How Not To Drown marca mais uma forte adição à discografia da banda e aquece os ouvidos dos fãs até o lançamento de Screen Violence em 27 de agosto. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Michaela Jaé – Something to Say
A mãe tá on! Depois de acalentar nossos corações como a chefe da família Evangelista e na pele de uma das personagens mais queridas da TV, MJ Rodriguez estreia na música como Michaela Jaé em Something to Say, seu primeiro single. A artista já mostrava indícios dos seus dons musicais através em alguns episódios de Pose, e agora, com os trabalhos na série devidamente finalizados, ela se joga numa mistura triunfante de pop, R&B, soul e funk para provar um fato: Michaela Jaé tem muito o que dizer. – Raquel Dutra
Megan Thee Stallion – Thot Shit
Megan encerrou a bem-sucedida era Good News e agora é a hora de Tina Snow brilhar. Alter ego da rapper, essa versão loira é quem dá as caras em Thot Shit (em inglês, Thot é sigla para ‘that hoe over there’, uma maneira de menosprezar as mulheres). O clipe abre com um político branco e idoso comentando barbaridades em um dos vídeos de Meg, para logo depois abrir o zíper da calça e “aproveitar” o que assiste.
Saindo do prédio, ele logo é atropelado por um veículo em alta velocidade. No banco do motorista está a cavalona, empoleirada e rebolando. Ela segue essa máxima todo tempo e não há lugar ruim para o remelexo do bumbum: uma lanchonete e até uma sala de cirurgia são palcos para o twerk. A letra também é lugar seguro para Stallion, que rima sobre sexo e seu sucesso e estrelato, sem tabus ou quaquer vergonha do que diz. Thot Shit abre alas para o futuro dessa que é uma das maiores estrelas que temos. – Vitor Evangelista
Maria Bethânia – A Flor Encarnada
“Haste fina que qualquer brisa verga mas nenhuma espada corta”. Essa é a definição completa de Bethânia, pura e irrestrita. A cantora, que pegou todos de surpresa no dia de seu aniversário, lançou em junho a música A Flor Encarnada – composição de Adriana Calcanhotto. A letra forte combina com toda a história da discografia traçada pela inconfundível voz de Maria Bethânia. A forma poética da cantora em interpretar canções traz profundidade para A Flor Encarnada e nos deixa ansiosa para trabalhos futuros que a menina de Oyá, isolada na mata, possa estar preparando. – Ana Júlia Trevisan
Danna Paola – MÍA
Depois da sua era K.O., Danna Paola enaltece uma nova fase da sua vida, abusando de uma maturidade musical admirável em tão pouco tempo. Sem deixar de celebrar sua notoriedade na música latina, MÍA retrata a transição da inocência à independência, deixando despertar uma mulher preparada para enfrentar o mundo somente com a sua companhia.
No clipe, a patricinha de Elite simula um funeral, desprendendo dessa fase monótona de corações partidos e relacionamentos imaturos, para renascer cheia de cores e felicidade. Resumindo em suas próprias palavras, bem-vindo ao novo eu de Danna Paola. A versatilidade de sua voz encanta pela energia e as danças bem coreografadas são vitais para traduzir essa intensidade. Seu renascer estilo Bela Adormecida só reforça seu papel de empoderamento e de amor próprio nas próximas gerações de meninas que a viram no uniforme de Las Encinas. Prometendo uma continuação dessa história, a mexicana nos dará a honra de prestigiar performances incríveis em um novo álbum. – Júlia Paes de Arruda
FLETCHER – Healing
O término público do relacionamento igualmente público de Fletcher rendeu bons sofrimentos à artista – e a seus fãs. Com direito até a videoclipe com a ex, a cantora e compositora recompensou os fãs com o EP The S(ex) Tapes, que reflete sobre o fim e o que vem com ele, do sofrimento à expectativa para o próximo amor. Entre outros lançamentos e versões no meio do caminho, o novo single de Fletcher, Healing, retoma a narrativa da onde a artista parou.
Semelhante a canções anteriores, a faixa combina as letras pessoais e honestas ao ritmo pop animado. Álbum, EP ou single, o próximo lançamento ainda não foi anunciado, mas, com uma turnê pela Europa com datas marcadas, o processo continua: em Healing, Fletcher ainda não se curou, mas está no caminho. – Vitória Lopes Gomez
Bad Bunny – YONAGUNI
A nova fase de Bad Bunny já mostra seus primeiros sinais com YONAGUNI. Depois de se despedir de EL ULTIMO TOUR DEL MUNDO na companhia de ROSALÍA, e vencer um Grammy com YHLQMDLG, a expectativa para os trabalhos do artista em 2021 era alta, e a recepção do lançamento foi à altura: quebrando recordes, o single estreou em 3º lugar na parada global do Spotify, com 7,1 milhões de streams em 24 horas, na maior estreia de uma música em espanhol na história da plataforma de streaming. No reggaeton sensual, versos apaixonados e estética extravagante de sempre, Bad Bunny segue um fenômeno. – Raquel Dutra
Bleachers – How Dare You Want More
Quando uma banda constrói seu estilo baseado em fortes e imponentes influências, como é o caso do Bleachers, é fácil se perder entre as mesmices disfarçadas de homenagens em suas construções, sejam líricas ou sonoras. Mas para a alegria dos nossos ouvidos, a banda de Jack Antonoff sabe equilibrar sua personalidade e sua nostalgia, criando a mistura perfeita para nos entregar um single que combina tanto com eles em pleno século XXI quanto combinaria com The Beatles em plenos anos 1960. Animada do jeito certo para disfarçar o peso de sua letra, How Dare You Want More é o passado e o presente que pavimentam o futuro da banda. – Ana Laura Ferreira
Pó de Café e Maria Rita – Tantas Mães
Sou, de longe, a pessoa mais suspeita do site para falar da dona cantora Maria Rita. A filha de Elis Regina não lança um trabalho solo desde 2018, mas nesse longo período de tempo vem colaborando com outros cantores e grupos, e também se arriscando por aí como compositora. Sua voz inebriante marca presença no single Tantas Mães do grupo de jazz Pó de Café.
A música sobre Iemanjá escancara a religiosidade de Maria Rita. Sua entrega na canção demonstra um respeito que transcende as relações musicais, há uma verdade pessoal impressa em seu vocal. Com um instrumental marcante mas que não se sobrepõe à voz da cantora, Tantas Mães nos lembra a sonoridade do Segundo, entrelaçada com a fé do Amor e Música. O single é a junção do melhor dos dois mundos de Maria Rita. – Ana Júlia Trevisan
Ed Sheeran – Bad Habits
Depois de mais de um ano de uma pausa incessante, mesmo com aparições para notícias maravilhosas e um lançamento sem compromisso, Ed Sheeran está de volta com sua primeira canção solo desde o álbum Divide. Ansiosamente esperando por esse momento e, como sempre, ele nunca decepciona.
Conhecido por compor letras maravilhosas, Ed canta sobre as decisões erradas tomadas na madrugada, especialmente depois das duas da manhã (uma referência a How I Met Your Mother, talvez?). O britânico se arrisca em algo não visto em outros trabalhos, uma música dançante estilo The Weeknd com vibes eletrônicas de Alok. Ainda processando o lançamento, o ruivo performou seus maus hábitos numa versão acústica no TikTok UEFA EURO 2020. Depois da sua trilogia matemática +, x e ÷, será que estamos próximos do –? Ed Sheeran dá indícios que sim. – Júlia Paes de Arruda
Marina Sena – VOLTEI PRA MIM
VOLTEI PRA MIM, segundo single da carreira solo de Marina Sena, resgata elementos do som pré-setentista da Tropicália e os insere no que há de mais contemporâneo da música pop alternativa brasileira. O som, com destaque para guitarra ritmada, é dançante e esbanja sensualidade, irreverência e leveza. Sensações com as quais os fãs da cantora mineira estão acostumados desde os trabalhos na A Outra Banda da Lua, onde Marina tocou os vocais por 5 anos, até a empreitada Rosa Neon, que acabou em março deste ano e foi a grande responsável por projetar a artista no cenário nacional: seja acumulando mais de 2 milhões de acessos entre Spotify e YouTube, fazendo feat com Djonga, ou figurando turnê na Europa (tá bom?!).
“Amor eu te deixei/Pra ir atrás do que eu sonhei”, são os primeiros versos a ecoar no single. Enquanto a música narra quem prioriza a própria caminhada com clima atmosférico e visual marcante e minimalista ao mesmo tempo, os tons quentes e abafados no clipe transpiram latinoamérica, e Marina lembra uma sereia folclórica. Tudo isso somado ao seu jeito de cantar agudo, envolvente e anasalado, que remetem a Gal, Marisa Monte e Céu, são detalhes que traduzem de maneira cristalina a fase e escolhas profissionais da cantora. O ano de 2021 marca a estreia solo com ME TOCA, precursor de VOLTEI PRA MIM. Lançados com um intervalo de 5 meses, os singles, além de sinais do álbum previsto para agosto deste ano, são produzidos e arranjados por Iuri Rio Branco e contam com realização do selo A QUADRILHA – comandado pelo parceiro e conterrâneo, Djonga.
Marina compõe, canta, toca e dança. Em cima de uma moto, ou no meio de duas delas em círculos, com cabelos soltos e volumosos, como aparece no clipe, a mineira de voz potente e manhosa consegue voltar para o que já vem dando certo, sem ainda soar cansativa e trilha uma trajetória cada vez mais consistente na MPB. “Eu tenho o dom de ir além”, ela canta na faixa, e é bom ficar de olho. – Andrezza Marques
King Princess – House Burn Down
Qualquer lançamento de King Princess tem a difícil tarefa de fazer jus ao nível altíssimo de seu EP de estreia, Make My Bed. Sem erro, o novo single da cantora e compositora já era unânime entre os fãs até antes de ser gravado: House Burn Down era tocada em shows e só foi parar no estúdio depois de incessantes pedidos por uma versão oficial.
Com o lançamento da gravação, os riffs de guitarra e a pegada rock da faixa provam que incendeiam tudo não só no ao vivo. Seguindo PAIN e Only Time Makes Human, a canção é a terceira que integrará o novo álbum da artista, que, segundo ela, está a caminho e será “muito mais rock and roll”. Com a prévia do que vem aí, é de se esperar que o próximo trabalho de King Princess faça jus, afinal, ao seu insuperável EP. – Vitória Lopes Gomez
Billie Eilish – Lost Cause
Pouco mais de um mês antes do lançamento de seu novo álbum, Happier Than Ever, Billie Eilish revelou mais um single dessa nova era. Quase oposto a Your Power, que traz uma letra profunda sobre um tema de extrema delicadeza, em Lost Cause a jovem canta de forma bem descontraída e debochada sobre um antigo relacionamento que teve, enquanto curte uma festa do pijama com algumas amigas – o que não poderia ser um programa melhor.
Mesmo sem dar nome aos bois ao longo da letra, a tal causa perdida que é nomeada diversas vezes pode se associar muito ao rapper Brandon Quention Adams, com quem Billie teve um relacionamento conturbado, apresentado no seu documentário The World’s A Little Blurry. Ela menciona a falta de atenção e maturidade do tal ex, e também as decepções que teve ao longo e ao fim do namoro.
Além da música ser um hit de mão cheia, algo que não é novidade quando se trata de Billie Eilish, também é ótimo poder assistir a cantora exalar autoconfiança enquanto se diverte com suas amigas. Como notado até agora, seu próximo álbum tem tudo para mostrar um lado ainda mais pessoal e sincero de Billie, e não poderíamos estar mais ansiosos para ouvir o resultado disso. – Vitória Silva
Nando Reis e Pitty – Um Tiro no Coração
Essa não é a primeira vez que falamos de Nando Reis num post mensal. O Infernal não lançou nenhum disco solo esse ano ainda, mas se uniu a outros nomes da MPB para contribuir cada vez mais com a cultura nacional. Primeiro DUDA BEAT, depois seu filho Sebastião e agora a fabulosa baiana Pitty se junta ao ruivo. Diferente dos primeiros, a roqueira faz parceria em apenas um single, o que não diminui a química musical entre os dois astros.
A música escolhida por ambos foi Um Tiro no Coração. Cássia Eller deu voz à essa canção há 20 anos e se tratando dela, é óbvio dizer que foi feito um trabalho inconfundível. Com base nisso, a nova gravação tem força para quebrar barreiras temporais. Os vocais se mesclam com a guitarra de Walter Villaça, revelando muita afinidade entre o duo. Não sabia que precisava de Nando Reis e Pitty juntos até ouvir eles nessa faixa. – Ana Júlia Trevisan
BANKS – The Devil
Dois anos após o sensível III e um EP de versões acústicas, a californiana Jillian Rose Banks, conhecida mononimamente como BANKS, retorna com um single que revela sua produção intrincada e sua musicalidade sofisticada. No demoníaco The Devil, ela canta sobre renascimento e tentação em meio a gritos agonizantes e sussurros sensuais.
Começando intimamente a faixa com tais sussurros, ela orgulhosamente declara seu novo nome: “Eu sou o diabo, te disseram que eu sou o diabo?/Ponha sua fé em outra vida passada (Ha-ha-ha)”. Os detalhes caprichosos e peculiares do single, co-produzido pela própria cantora, são o que fazem da música uma das mais marcantes do ano. Seja por sua batida sombria e sensual ou por seus versos intrusivos e intimidadores, BANKS chega em 2021 marcando presença.
O vídeoclipe, co-dirigido também por ela e inspirado em clássicos como Drácula de Bram Stoker (1992) e A Morte lhe Cai Bem (1992), expressa deliciosamente esse renascimento e transformação, com a cantora se tornando mais forte que seus demônios e resistindo aos seus charmes. Apesar de curta, BANKS nos enfeitiça com sua voz e seu som na primeira amostra de seu novo álbum ainda não nomeado. – Gabriel Oliveira F. Arruda
Liniker – Baby 95
Declaro que Junho é o mês de Liniker. Além da série original Prime Vídeo – Manhãs de Setembro -, a cantora disponibilizou a canção Baby 95 junto ao clipe. Não é atoa que Liniker é atualmente uma das maiores referências da comunidade LGBTQIA+. A letra da música mistura português e inglês, MPB e R&B, e cria uma expressiva história de amor que nos envolve no íntimo do casal. Lançado na semana dos namorados, as cores e luzes do clipe colaboram para o sentimento de acalanto e nos faz acreditar de novo no amor. É sempre caloroso prestigiar a Liniker. – Ana Júlia Trevisan
Jonas Brothers – Remember This
Depois de novos rumores que os Jonas Brothers se separariam mais uma vez, o trio surpreendeu os fãs da forma mais amorosa possível através de Remember This. O ritmo não é diferente de outros trabalhos que eles já produziram antes, porém conta com uma energia muito mais valiosa.
Esse tom de aconchego vem das fotos de seus fãs que já tiveram o privilégio de ouvi-los ao vivo. A ausência das performances físicas dos três carrega esse sentimentalismo e, ao fechar os olhos, é como se estivéssemos presentes em um de seus shows. O compasso de violão com a percussão acompanha o refrão como se fosse uma prece: “Costumava rezar por um momento assim”. Contudo, não somos afortunados o suficiente para experienciar essa emoção tão cedo, já que a turnê de mesmo nome não passará pelo Brasil. Remember This é tudo que temos por agora e, a princípio, parece ser o suficiente. – Júlia Paes de Arruda
Jeremy Zucker – 18
Depois de um álbum sobre amadurecimento e relacionamentos sérios, Jeremy Zucker embarca em uma viagem no tempo com ponto de chegada no ensino médio. Narrado por um garoto de 16 anos, 18 é a perspectiva encantada e inocente de um adolescente que se apaixona por uma menina mais velha.
Depois de apagar todas as fotos do seu Instagram para preparar o seu comeback, Jeremy voltou completamente entusiasmado em relação ao início de sua nova era. Escrita junto a Mikael Temrowski, Alexander O’Neill e Thomas Michel, o single escolhido parece contrastar com seus últimos trabalhos, mas sem perder a essência jovial e divertida que o cantor carrega em seus maiores hits all the kids are depressed e comethru. – Mariana Chagas
Linn Da Quebrada – I míssil
Conceito, coesão e aclamação. Tem forma melhor de definir o trabalho de Linn Da Quebrada? Não tem. E quando pensamos que sua habilidade com as palavras chegou ao seu ápice, ela mostra que ainda pode ir além. É o caso de seu novo álbum, Trava línguas, que tem o lançamento planejado para julho e um caminho perfeitamente preparado pelos singles mate & morra e quem soul eu, de 2020, e oficialmente descrito por I míssil, seu lançamento mais recente. Na canção, Linn brinca com os sentidos de sua composição junto de produção e direção musical de BadSista e da percussionista Dominique Vieira. Ela, mestra com as palavras, segue, como sempre, nos deixando sem elas. – Raquel Dutra
Hayley Kiyoko – Chance
Hayley Kiyoko começou Junho com single novo e, sofrendo por mulher de novo, pondera sobre suas chances e riscos em Chance. Sem medo de cantar sobre suas vivências, experiências e inseguranças como mulher lésbica, a letra honesta e identificável é embalada por uma batida calma e contagiante e gruda na cabeça: “Eu sempre fui um “não”, nunca um “talvez”/Eu sei que ela nunca me daria uma chance”. Para melhorar, o lançamento foi em dobro e Chance acompanha um videoclipe, que contraria a letra e dá o final feliz que Kiyoko – e quem se identifica – merece. – Vitória Lopes Gomez
Olivia Rodrigo – The Rose Song
Olivia Rodrigo conseguiu entregar a metafórica ‘rosa aprendida pelo vidro da Fera’ de maneira brilhante, mais uma vez. Apesar de ser criada para a trilha sonora da 2ª temporada de High School Musical: The Musical: The Series, série que garantiu o sucesso a cantora de SOUR, a metáfora trazida para inserir sua personagem Nini na peça teatral do East High que produz A Bela e A Fera nesse ano dois, a música serviu também para a cantora por trás das câmeras.
A série é conhecida por seu brilhantismo de permitir que os protagonistas escrevam suas próprias letras para a produção do Disney+, o que garante que elas deixem de ser mais do que uma música infanto-juvenil e conseguem, de fato, representar o ator nos bastidores da composição. E esse é o caso de The Rose Song que, de maneira perfeita, se encaixa tanto com a trajetória de SOUR, mas também com o drama do relacionamento da protagonista e Ricky (Joshua Bassett).
Como sua personagem para a peça, a então Rosa, Olivia Rodrigo conta sobre os aprisionamentos de um relacionamento conturbado, assim como a Fera e a maldição que o mantém dessa forma, no conhecido conto de fadas da Disney. Além disso, sem novidade, a cantora entrega vocais e uma performance impactante, que fecham de maneira brilhante o 6º episódio da série e, possivelmente, o estilo melodramático de SOUR. – Larissa Vieira
Garbo – Presente
Foi aqui que pediram um típico astro teen vindo diretamente do Tumblr para embalar o inverno pandêmico brasileiro? O Presente de Garbo está aqui para servi-los. O primeiro lançamento do ano do artista independente Gabriel Soares sucede seu último single, espaço-tempo, lançado em 2019, e seu último álbum, jovens inseguros vivendo no futuro, de 2018. Agora, Garbo apresenta um melodrama dançante e doído, em batidas oníricas de softpop e levemente eletrônicas. Numa identidade precisa da nossa juventude, é impossível ser mais presente que Garbo. – Raquel Dutra
Morat e Danna Paola – Idiota
Morat é um nome em ascensão no mercado musical latino. Aliado à belíssima voz de Danna Paola, outra personalidade crescendo nesse meio, não podia surgir algo ruim. Idiota é a representação da sensualidade e da calmaria das músicas latinas. A voz da patricinha de Elite traz a potência feminina que Idiota precisava, junto com a suavidade das vozes masculinas. Apesar da letra sofrer por amor, a batida dançante e sedutora nos cativa dançar no mesmo ritmo. Afinal, um amor como esse não aparecerá outra vez. – Júlia Paes de Arruda
Lorde – Solar Power
Quando a Pantone anunciou que as cores de 2021 seriam Cinza e Amarelo, Lorde com certeza riu em sua casa, ou melhor, na beira da praia. Depois de cantar as melhores músicas sobre se sentir triste no imaculado Melodrama, agora, finalmente, chegou a vez de enxergarmos o espectro oposto da cor azul: a cor do sol. Solar Power evoca o reencontro com a natureza e o banho de luz solar, enquanto Lorde guia a geração não queria crescer e que não queria mais amar para um novo estado mental, de restauração e reencontro.
Em 2021, mais do que nunca, a canção parece cair como uma luva para o Hemisfério Norte e os países sortudos do Sul, onde os recursos abastados permitiram uma compra de vacinas em grande quantidade ou não foram impactados de forma tão severa pela pandemia, por uma boa gestão governamental. Lá, a vida de verdade já voltou, e Solar Power faz ainda mais sentido em convocar seus ouvintes para sair de casa e redescobrir a felicidade que reside no mundo. O Brasil, infelizmente, não divide as mesmas alegrias e conquistas.
Lorde é culpada pelo caos e incompetência no território brasileiro? Não. É culpada pela concentração da compra de boas vacinas por países da América do Norte e Europa que prejudicam os Estados emergentes? Também não. Mas é muito difícil ouvir Solar Power e se entregar da forma que a cantora pede. Ainda não conseguimos esquecer as lágrimas que choramos, Lorde. Por aqui, ainda não acabou. Esperamos que num futuro próximo as palavras que você escreveu, finalmente, possam fazer sentido de verdade para nós. Por enquanto, só podemos usar de escape para sonhar com uma realidade melhor. – Jho Brunhara
Jennifer Hudson – Here I Am (Singing My Way Home)
A aguardada cinebiografia de uma das maiores estrelas da história da música ganha seu tom na voz de Jennifer Hudson e Here I Am (Singing My Way Home). A canção tema do filme traz tudo o que pode da vida de Aretha Franklin para o aspecto que é um dos mais preciosos da produção e da vida da artista, pela autoria de Carole King, compositora do clássico (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, de 1967, um sucesso na voz de Aretha. Assim, a música só aumenta as expectativas para o público que aguarda Respect e o dia 12 de agosto, quando finalmente assistiremos surgir em Jennifer Hudson a maior cantora de todos os tempos. – Raquel Dutra
Clipes
Dua Lipa – Love Again
Mostrando que ainda não está preparada para deixar a era Future Nostalgia, Dua Lipa entrega um clipe para mais uma faixa do seu álbum. Depois de Don’t Start Now, Physical, Levitating, Break My Heart e We’re Good – da versão moonlight do CD, a escolhida da vez foi Love Again. O clipe foi gravado entre os ensaios para o BRIT Awards e teve diversas trocas de looks e uma coreografia que a cantora precisou aprender em menos de uma hora.
O conceito do vídeo pode parecer confuso de primeira, mas tudo se encaixa quando combinado a letra da música. Na letra, Dua Lipa confessa que depois de jurar não se apaixonar outra vez, ela acaba por conhecer alguém que a faz ir contra sua promessa. E isso é retratado visualmente no clipe. O ovo representa a cantora renascida, depois de finalmente se curar das dores do último amor. Os palhaços tentam a todo custo a prender para si e, quando conseguem, ela aparece também com a cara pintada.
Apesar das suas tentativas, Dua acaba por amar novamente, e a ironia é estampada na sua cara de palhaça. O music video ficou nos trends do YouTube em 88 países, e a cantora usou seu Instagram para agradecer o apoio dos fãs. Mesmo com mais de um ano de lançamento, o álbum continua entre os mais escutados no Spotify, e a era de sucesso de Dua não parece que vai acabar tão cedo. – Mariana Chagas
DUDA BEAT – Nem Um Pouquinho
Mais uma vez, DUDA BEAT veio provar que boas produções não são exclusividade de artistas internacionais. Depois de lançar o seu aclamado Te Amo Lá Fora, a cantora presenteia mais uma faixa com um clipe, sendo a vez do seu feat com Trevo. Após excluir suas redes sociais, encheu os fãs de ansiedade para anunciar o lançamento do vídeo de Nem Um Pouquinho.
Com direção da dupla Alaska, que voltou para o Brasil depois de uma temporada nos Estados Unidos, o clipe é cheio de referências cinematográficas. Uma delas é a inesquecível cena de ET, com as bicicletas passando pela frente da lua, como acontece no minuto 2 e 45. Junto com a estética cyberpunk e sua habilidade de metamorfose, o vídeo é um presente para quem gosta de destrinchar as camadas de uma boa obra do pop. – Mariana Chagas
Performances
Ariana Grande – pov
Desde o lançamento de positions, pov se tornou uma das favoritas do fandom. Apesar de não ter recebido clipe, foi essa a faixa que Ariana Grande cantou em sua apresentação para a VEVO. Recém-casada, a cantora está tomada pela paixão, e isso transparece na sua voz emocionada e olhar brilhante. Sempre encantadora, dessa vez Ari está ainda mais.
Em um gramado recheado de flores, a artista passeia pelo palco, iluminada por uma luz roxa e azul suave. O cenário é bem simples, mas ainda assim elegante. A tranquilidade do ambiente acompanha a leveza da letra que Ariana canta. Mesmo lançada a pouco tempo, a performance já se tornou a mais assistida do ano. – Mariana Chagas
Olivia Rodrigo – SOUR prom: the concert film
Continuando a expandir o conceito do amor juvenil, Olivia Rodrigo montou a sua própria festa de formatura (online, é claro!). Depois de ter se formado longe dos amigos e dos corredores do high school, Rodrigo trouxe SOUR para as salas do Ensino Médio, em um show online/experiência de catarse.
Dirigido por Kimberly Stuckwisch e Toby L, SOUR prom: the concert film bebe em fontes que partem de Carrie e homenageiam até os filmes da Disney. Ela abre a cantoria com um mashup de deja vu e happier de dentro da limusine, seguindo pelo repertório envolvente do álbum de estreia.
Merecem destaque a versão prolongada da chiclete jealousy, jealousy, o acústico sincero de enough for you e o quebra-pau de good 4 u, acompanhada por uma banda escolar e uma renca de líderes de torcida. Sobrou espaço para Conan Gray e demais amigos de Rodrigo fazerem uma pontinha. A festa de formatura do álbum SOUR parece ticar as caixinhas das músicas ‘juvenis’, limpando o caminho para que o caminho da artista seja de crescimento e exploração de novos ares. – Vitor Evangelista