Tell Me I’m Pretty: 5 anos de uma viagem psicodélica e nostálgica

Capa do álbum Tell Me I'm Pretty da banda Cage The Elephant. É uma capa branca, com o nome da banda escrito no topo e logo abaixo o nome do cd, com letras douradas. Do meio pra baixo vemos a foto de uma mulher branca, ruiva e de olhos azul piscina
Capa do álbum (Foto: Reprodução) 

Andrezza Marques 

Há 5 anos, em 18 de dezembro de 2015, Cage The Elephant lançava o seu quarto álbum de estúdio: Tell Me I’m Pretty. Disco esse que ganharia o Grammy de Melhor Álbum de Rock dois anos depois. Nele, o som dos irmãos Matt e Brad Shultz se reinventava mais uma vez, e até hoje faz quem ouve entrar em uma espécie de viagem nostálgica e psicodélica ao longo das 10 faixas marcadas por composições complexas, carregadas de sentimentos e arranjos bem elaborados.

Dizem as más línguas que, em Tell Me I’m Pretty, o grupo perdeu a essência por ter posto de lado o som exagerado e mal acabado, muito característico do rock de garagem do primeiro álbum homônimo, Cage The Elephant de 2008. Além de ter soado parecido demais com The Black Keys, duo do vocalista e guitarrista Dan Auerbach, o que de fato acontece, já que Auerbach foi quem produziu Tell Me I’m Pretty.

Mas basta uma audição mais atenta para notar elementos e riffs mais sofisticados e amadurecidos do que os anteriores. Experimentações que se devem ao produtor e continuaram muito alinhadas com a proposta alternativa da banda. Tanto que em 2017, Tell Me I’m Pretty venceu o Grammy na categoria Melhor Álbum de Rock, superando outros fortes indicados, como Blink-182 e Panic! At The Disco. Em 2013, tinha sido a vez do próprio Auerbach, que além de indicado na categoria de Produtor do Ano – Não Clássico, levou o prêmio de Melhor Álbum de Rock com El Camino.  Vale mencionar ainda que, em 2020, o feito dos irmãos Shultz, se repetiu com o álbum Social Cues

É de se estranhar que Cage não seja uma banda britânica, mas sim do Kentucky, interior dos Estados Unidos. Ainda mais depois de despontar na cena de 2007 com o selo da gigante inglesa EMI – gravadora de bandas como Beatles, Pink Floyd e Coldplay. A produção do vocalista e guitarrista do Black Keys, também norte-americano, foi sem dúvida a grande influência desse som enérgico e sessentista, muito presente em seus próprios trabalhos, como Brothers (2010). E o quarto registro dos Elephants talvez seja o álbum no qual mais fica evidente a semelhança da sonoridade do grupo com o garage e o indie rock clássicos da terra da rainha, que ajudam a estranhar a verdadeira naturalidade do grupo. 

Foto de um show da banda, com Matt Shultz e Auerbach na frente do palco. Eles cantam usando microfones e estão sentados em bancos, perto deles está outro membro da banda
Brad e Matt Shultz (Cage) e Auerbach (Black Keys) no palco do Other Voices, em 2017 (Foto Rich Gilligan)

A faixa de abertura Cry Baby é, ao mesmo tempo, dançante e niilista, e serve tanto como introdução quanto como resumo do que vem a seguir. O refrão forte acompanhado de cordas bem marcadas poderia ter saído do impecável Melophobia (2013), e os versos da faixa a seguir são uns dos mais marcantes do álbum: “Você vai morrer/Abra os seus olhos ou a vida vai passar/Sem amor/Nada mais vai ser suficiente”.

Matt Shultz, o vocalista do quinteto, assumiu que o Tell Me I’m Pretty teve a intenção de ser realmente sombrio. Em entrevista, ele afirma que as pessoas tentam se consertar o tempo todo e tem rituais físicos e espirituais para isso. Pode-se dizer que ouvir o TMIP é algo no limite entre os dois. Apesar do bom começo, Mess Around, Cold, Cold, Cold e Too Late To Say Goodbye, faixas que sucedem a abertura, formam o trio dourado do álbum. E embora muito criticadas pelo som à moda Black Keys, as canções formam um thriller sonoro hipnotizante, que destacam a voz potente de Matt.

Com lírica cada vez mais decadente, explorando questões que vão desde paixão platônica até saúde mental, além de uma composição inspirada no romance conturbado de Bonnie e Clyde (a lúgubre Too Late To Say Goodbye), tem de tudo em TMIP. As faixas, coesas do ínicio ao fim, também lembram o fim dos anos 60 dos Beatles, com uma pitada indie Underdog (2009), do Kasabian e quem sabe até um pouco de Queens of Stone Age, banda que inclusive já esteve em turnê com o grupo do Kentucky.

6 homens posando para foto no Grammy de 2017. No meio, um deles segura o prêmio e faz uma pose meio torta para a câmera. Todos os homens são brancos, 4 deles tem cabelos compridos, 3 usam óculos escuros e 1 deles tem barba
Cage The Elephant no Grammy de 2017 (Foto Reprodução)

Sweetie Little Jean é uma balada mais suave e que poderia ser apenas uma faixa de transição falando de problemas com amor. Mas a composição vai deixando de soar como música para viajar de carro e, aos poucos, se mostra potente e cativante. Ao fim de seus quase 4 minutos, acaba deixando uma sensação de quero mais, além de ter semelhanças sonoras com o hit Come a Little Closer, ou seja, remete ao elefante clássico. 

Trouble, é o grande destaque de TMIP depois do trio dourado inicial. A faixa é outra que, além de poder ter sido gravada pelo Black Keys (em algum ponto, lembra Too Afraid To Love You), evidencia a consciência nos vocais e tem nuances mais ternas e introspectivas, literalmente escrita para soar como um pedido de ajuda a uma pessoa querida. É uma das composições mais empáticas e assertivas do álbum, que parece fazer alusão às angústias do colegial até os 20 e poucos anos: “Tenho tanto a perder/Tenho tanto a provar/Deus não me deixe perder a cabeça”.

Cage The Elephant fecha o trabalho com chave de ouro com Portuguese Knife Fight. Cheia de toques Auerbach mas também soando muito como o som de Melophobia, que tem elementos mais brutos e menos acabados, clássicos ‘cageanos’. É provável que, 5 anos depois, o álbum agrade até os críticos mais ferrenhos, apegados ao som de começo de carreira dos americanos. Coerente, rebelde, sombrio e apaixonado sem exageros, o Tell Me I’m Pretty envelheceu mais bonito e alucinante do que nunca.

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