João Gordo: para o bem geral, um traidor

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Nilo Vieira

Não é de hoje que biografias de artistas nacionais causam polêmica no Brasil. Entre grupos de artistas consagrados propondo censura e livros que mais parecem lavação de roupa suja, poucos títulos recentes parecem se importar em cumprir o básico exigido pelo formato. Nem mesmo nas telonas a coisa melhora, com resultados variando entre o pouco aprofundado, desfiles de clichês e retratos romantizados ao extremo. Continue lendo “João Gordo: para o bem geral, um traidor”

A Nova York dos anos 20: o cenário de O Grande Gatsby

Capa da edição original do livro
Capa da edição original do livro

Camila Ranzzi

A proibição da produção e consumo de álcool, somado ao aumento do crime organizado, foram aspectos relevantes para a criação do ambiente da obra literária O Grande Gatsby, no contexto histórico da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), escrito por F. Scott Fitzgerald. O autor é considerado um dos maiores expoentes da literatura americana do século XX, e seus trabalhos revelam o estado de espírito da época da chamada “geração perdida”, sendo inclusive o ídolo da juventude insatisfeita com o seu tempo. Continue lendo “A Nova York dos anos 20: o cenário de O Grande Gatsby”

O atual Admirável Mundo Novo de Huxley

João Pedro Pinheiro

Completaram-se, em 2016, os 75 anos da primeira edição brasileira (1941) de Admirável Mundo Novo, principal obra do escritor e visionário britânico Aldous Huxley, publicada inicialmente na Inglaterra, em 1931. E, embora escrito há mais de oito décadas, o livro continua surpreendendo com sua atualidade.

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O Cemitério, de Stephen King, enterra os receios do autor e (res)suscita uma história sóbria, intensa e muito assustadora

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Guilherme Reis Mantovani, estudante de Jornalismo da Unesp Bauru

O Cemitério (do original Pet Sematary – sim, a famosa música dos Ramones de mesmo nome é uma homenagem referencial à obra literária) é um romance de terror escrito por Stephen King na década de 80.  É interessante ressaltar que o autor revelou repulsa à sua própria criação em entrevistas pós-publicação, por sentir um pessimismo incômodo e irredutível no desfecho da história, bem como uma mensagem intrínseca repulsiva. Na verdade, após sua mulher também ter rejeitado o manuscrito original, King pretendia engavetar “n’O Cemitério”. O livro, no entanto, era parte de um imbróglio contratual do autor com a editora norte-americana Doubleday e precisava ser publicado. Pois aí estava a solução: livrar-se da obrigação contratual e do “livro visceral” ao mesmo tempo… Continue lendo “O Cemitério, de Stephen King, enterra os receios do autor e (res)suscita uma história sóbria, intensa e muito assustadora”

O impacto do maior conflito da história traduzido em palavras

Max Hastings evoca uma visão histórica, original e necessária acerca da Segunda Guerra Mundial, numa obra que elucida os anos de 1939 a 1945 com sobriedade e autoridade.

Guilherme Reis Mantovani

A literatura sobre a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos é vastíssima, por se tratar justamente de um assunto de vital relevância na história da humanidade. Entretanto, o ambicioso Inferno – O Mundo em Guerra: 1939 – 1945 (Intrínseca, 2012) se destaca por evidenciar não apenas as estratégias militares minuciosamente detalhadas através de mapas exibidos no próprio livro (ao todo, são 48 páginas dedicadas à fotografias da época, além de vinte mapas propriamente ditos), as jogadas políticas oriundas de gabinetes dos países beligerantes e as causas e consequências do conflito devidamente analisadas, mas também por evocar o sentimento de pessoas aparentemente comuns – soldados e civis – que vivenciaram o dia a dia da guerra. Para tanto, o autor, britânico, historiador militar e renomado jornalista Max Hastings, permeia a escrita com cartas, trechos de diários e outros documentos de cidadãos que encararam a Segunda Guerra Mundial, mostrando que, se existe alguma glória em tal conflito, neles deve residir. Continue lendo “O impacto do maior conflito da história traduzido em palavras”

Um escaravelho, algum suspense e vários clichês

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Danielle Cassita

Uma boa forma de reviver um clássico da literatura infanto-juvenil é trazê-la de volta como filme, e foi o que aconteceu com O Escaravelho do Diabo. O livro de Lúcia Machado de Almeida foi lançado na década de 70, e traz uma história que mescla o suspense policial com terror. Na pequena cidade do Vale das Flores, os ruivos estão sendo assassinados por um serial killer. Antes de morrerem, recebem um escaravelho. Continue lendo “Um escaravelho, algum suspense e vários clichês”

Todos os Fogos o Fogo: a escrita abrasadora de Cortázar

Julio Cortázar publicou há 50 anos Todos os Fogos o Fogo, um dos principais livros de contos de sua carreira e da literatura argentina.

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Créditos: Ulf Andersen / Getty Images

Lucas Marques

Quando da publicação de Todos os Fogos o Fogo, em 1966, Julio Cortázar era o escritor sul-americano de mais prestígio além-mar: três anos antes O Jogo da Amarelinha abalara a própria concepção de romance – já que os capítulos do livro poderiam ser lidos em múltiplas ordens-, e em 1966 o diretor cinematográfico Micheangelo Antonioni adaptara o conto As Babas do Diabo para a produção do clássico Blow-Up.

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A Viagem de Chihiro: uma viagem de todos nós

Completando 15 anos em julho, A Viagem de Chihiro é o filme mais aclamado do diretor Hayao Miyazaki e guarda correspondências com um clássico da literatura


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Gabriel Leite Ferreira

“Quando penso em criar um protagonista masculino, tudo fica muito complicado”, diz o diretor Hayao Miyazaki em entrevista ao periódico japonês Animage, no ano de 1988. Naquele momento, ele é um dos profissionais de animação mais aclamados no Japão por O Castelo de Cagliostro (1979) e Nausicaä do Vale do Vento (1984), e as particularidades de suas obras, mais especificamente o grande número de protagonistas do sexo feminino, são alvo da curiosidade do público e da crítica. Sobre isso, Miyazaki afirma que histórias de aventura com protagonistas masculinos sempre pareceriam uma cópia de Indiana Jones, além de atentar para a necessidade de protagonistas femininas ativas não terem uma aparência “sem graça”, o que segundo ele seria uma contradição. Contudo, há 15 anos o diretor subvertia esses conceitos em seu filme mais festejado, A Viagem de Chihiro, vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação em 2003. Continue lendo “A Viagem de Chihiro: uma viagem de todos nós”

Hiroshima é um insigne relato antiguerra do frenético século XX

John Hersey transpõe o jornalismo tradicional e cria uma obra de caráter literário, humano e influente até os dias atuais

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As ruínas do antigo centro de promoção industrial de Hiroshima, atual Memorial da Paz

Adriano Arrigo

Em 1979, o célebre personagem Sargento Kurtz do filme Apocalypse Now! (de Francis Ford Coppola) trouxe em seu corpo e mente os tenebrosos reflexos de uma guerra que assassinou nada menos do que 1 milhão e meio de pessoas. Kurtz, preso na guerra do Vietnã, é a síntese de um conflito entre o racional e irracional despertado devido as atrocidades bélicas que viveu. Em uma das cenas clássicas do filme, Kurtz, deitado no chão, reflete e sintetiza o que viveu: o horror… o horror.

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Rota 66: A história que ainda mata

Rota 66

Victor Pinheiro

No começo de Junho, Ítalo, de 10 anos, foi morto a tiros por policiais militares enquanto fugia junto a um colega um ano mais velho com um carro roubado em um bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. O conflito entre declarações do ocorrido repercutiu na mídia e nas redes sociais, esquentando o debate sobre a redução da maioridade penal e a violência policial. Continue lendo “Rota 66: A história que ainda mata”