É um clichê introduzir uma lista de melhores do ano dizendo que o tal período foi “muito rico” ou “memorável” ou “maravilhoso” para a determinada área que a seleção em questão se propõe a registrar. Mas ao fim de 2021, não resta outra conclusão: o ano foi realmente muito especial. É uma série de motivos que sustentam a afirmação para além de uma expressão comum, e o Persona, que acompanhou cada Nota Musical dos referidos 12 meses, não só pode como deve te explicar o porquê o ano que passou ficará marcado na História da Música. Então, para fazer valer o clichê é que estamos aqui com Os Melhores Discos de 2021.
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Nota Musical – Janeiro de 2021
I’m sorry, the old Melhores Discos do Mês can’t come to the phone right now. Why? Oh, ‘cause he’s dead!
Brincadeiras e referências taylorswifitianas à parte, o Melhores Discos do Mês realmente pediu aposentadoria. Porém, não vamos deixar esse buraco sem um substituto: sejam bem-vindos à primeira edição do Nota Musical.
Todo começo de mês publicaremos um listão dos melhores e piores lançamentos musicais do mês que passou. Tem CD, tem EP, música e até clipe. Em textinhos de até três parágrafos, a Editoria e os colaboradores do Persona levam até você os méritos e deméritos do que rolou no mundo da música.
Janeiro abriu a segunda temporada da pandemia com o delicioso COR, da dupla ANAVITÓRIA. Depois foi a vez da internet ficar obcecada com Olivia Rodrigo, sua carteira de motorista, e o drama digno de malhação com seu ex, Joshua Bassett e a loirona Sabrina Carpenter. Selena Gomez mandou um cállate puta e anunciou Revelacíon, um EP totalmente em espanhol.
Arlo Parks, ‘apadrinhada’ por Billie Eilish, presenteou o mundo com o primeiro grande disco do ano: Collapsed in Sunbeams. E no penúltimo dia do mês, perdemos a talentosíssima SOPHIE, um dos grandes nomes da música do século 21. O Nota Musical de Janeiro presta suas homenagens à ela. Ícone trans, gênia da produção eletrônica, e um dos pilares da PC Music. Rest in power.
Os Melhores Discos de 2020
2020 começou chutando as portas dos eventos inéditos. No Oscar, Parasita abocanhou a estatueta mais importante da noite; no Grammy, Billie Eilish quebrou um recorde de 39 anos e se tornou a primeira mulher a ganhar o Big Four, os quatro prêmios principais, em uma mesma noite (Álbum do Ano, Gravação do Ano, Música do Ano e Artista do Ano).
E um pouco depois disso o mundo acabou.
A partir de março nos vimos num limbo temporal e espacial, onde a arte era a nossa melhor amiga, nossa única distração, nossa única oportunidade de viajar, e tudo mais que você já deve ter cansado de ler nesse ano. Sem a possibilidade de fazer shows, assistimos pequenos e grandes artistas se virarem nos 30 com lives diversas. Os nomes gigantes do mainstream perderam uma receita ou outra nesse tempo, mas é com os independentes que devemos nos preocupar. Sem dinheiro não há música, e é agora que saberemos as consequências reais disso tudo. Por enquanto, só podemos esperar que as promissoras vacinas façam o segundo semestre de 2021 seguro o suficiente para retornarmos com os shows.
Para os que tinham estrutura e condições de produzir em casa, 2020 foi mais interessante. Charli nos deu o colaborativo how i’m feeling now e Taylor surpreendeu o mundo com seu folklore e o novíssimo evermore (e dizem as línguas que a terceira irmã está vindo). No Brasil, vimos artistas como Silva, Sandy e Adriana Calcanhotto também lançarem seus projetos frutos do isolamento social.
O dia infinito que foi 2020 ainda trouxe mais uma porrada de coisas: a volta bíblica de Fiona Apple e a primeira nota 10 em uma década, da impiedosa Pitchfork; a xenofobia sofrida por Rina Sawayama ao ser considerada ‘não elegível‘ para o British Music Awards mesmo sendo britânica; o racismo sofrido por The Weeknd ao não ser indicado ao Grammy 2021 nas categorias principais; a febre de documentários de artistas (Ariana Grande, Shawn Mendes, BLACKPINK, Taylor Swift…); e tantos outros acontecimentos.
Justin Timberlake já dizia em seu The 20/20 Experience: o ontem é história e o amanhã é um mistério. Se 2021 vai ser melhor? Torcemos que sim. Por agora, você pode conferir Os Melhores Discos e EPs que salvaram o apocalíptico ano de 2020, elencados pela Editoria do Persona e por nossos colaboradores.
As Melhores Séries de 2020
A pandemia, que descarrilou a indústria do entretenimento, fez um estrago estrondoso no cinema. A TV, entretanto, conseguiu segurar as barras e teve até a premiação do Emmy meio virtual, meio presencial, mas inteiramente inovadora. Lá, Schitt’s Creek fez história: a única série a vencer todas as 7 categorias principais de comédia. Junto do hit canadense, Zendaya venceu Melhor Atriz em Drama, se tornando a ganhadora mais jovem da categoria. No campo das minisséries, narrativas fortes com enfoque em figuras femininas ditaram o tom. Teve a heroica avalanche de Watchmen, a comovente Nada Ortodoxa e a avidez de Mrs. America.
Fora dos prêmios, O Gambito da Rainha se tornou a minissérie mais assistida da história da Netflix. A série da enxadrista Beth Harmon, papel taciturno de Anya Taylor-Joy, é parte do panteão de 2020. O streaming muito se beneficiou das pessoas estarem trancadas em casa: os números de acesso e visualizações estouraram a boca do balão. Dark se encerrou com a maestria que prometeu, e The Crown finalmente nos mostrou a Lady Di. Na HBO, Michaela Coel retornou mais poderosa que o de costume com I May Destroy You, um soco no estômago empacotado em 12 episódios quase autobiográficos, discutindo o valor do consentimento e as consequências do abuso.
Steve McQueen encontrou na Amazon o lar para sua poderosa Small Axe, antologia de filmes que lidam com racismo e luta por direitos, obras de vital importância nesse momento político em que vivemos. O sucesso foi tanto que uma porção de sindicatos da crítica está premiando Small Axe como Melhor Filme de 2020 (vai entender). Aqui no Brasil, a Rede Globo mostrou serviço produzindo, à distância, a antologia Amor e Sorte e o especial Plantão Covid, parte da fantástica Sob Pressão. Com todo esse parâmetro em mente, a Editoria do Persona se reuniu com nossos colaboradores para elencar o que de melhor a televisão nos ofereceu em 2020.
15 anos de Confessions: o lar que Madonna construiu
Leonardo Teixeira
Uma sirene corta a noite, enquanto carros buzinam no que parece ser uma rua movimentada. Mas não é só o ruído urbano que se ouve. Vem vindo um compasso, seco e sintetizado, que se aproxima aos poucos. Logo, a cidade é engolida pela batida eletrônica. Estamos na pista de dança. É assim que é introduzida I Love New York, faixa 5 do décimo disco de estúdio de Madonna, Confessions on a Dance Floor (2005). A música homenageia não só a cidade que acolheu a aspirante a dançarina, quando ali ela desembarcou – com apenas 35 dólares no bolso, reza a lenda -, mas também o tipo de estado de espírito noturno e eufórico que resiste nas ruas e explode sob a luz de estrobo.
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A ousadia de sobreviver em Lovecraft Country
Leonardo Teixeira
Em Lovecraft Country, é constante o diálogo entre passado e futuro. “Quando meu neto nascer, ele será minha fé transformada em carne e osso”, uma personagem diz, em um dos muitos climaxes da trama. Aqui, ícones e referências da cultura negra dão liga a uma trama sobre ancestralidade. Não só sobre as qualidades e ensinamentos passados de mãe para filha, mas também as feridas. A inspiração na obra de um babaca eugenista, em uma história protagonizada por pessoas pretas, adiciona mais força ao texto, que explora a monstruosidade como característica inerente ao ser humano.
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Os melhores discos de Janeiro/2020
Cezar Augusto, Gabriel Leite Ferreira e Leonardo Teixeira
Como manda a tradição da indústria cultural do Ocidente, o maior fato musical do primeiro mês do ano foi o Grammy. Entre performances burocráticas e premiações previsíveis, os artistas que mais chamaram atenção foram Tyler, The Creator, que ganhou sua primeira estatueta como Melhor Álbum de Rap por IGOR (e a contestou após a cerimônia), e Demi Lovato, em sua primeira e tocante aparição pública após uma overdose em 2018. De resto, a pompa de sempre, que cada vez significa menos, tanto para os artistas, quanto para os fãs.
Nossa curadoria de janeiro dá conta de uma maior variedade do que o Grammy, indo da música eletrônica fora da caixinha à MPB ao pop. Tem pra todo mundo. Confira!
Os melhores discos de 2019
Nem toda tradição tem de ser mantida, mas o Persona não mexe em time que tá ganhando. Por isso, a nossa lista anual de discos do ano mantém o formato da edição passada: reunimos colaboradores, ou quem quisesse participar, para elencarem seus momentos musicais preferidos de 2019.
A intenção é garantir a diversidade de sons e pessoas, não ficando restritos às preferências pessoais da editoria ou ao que já foi abraçado pela crítica mundo afora. E esperamos ter alcançado esse propósito. A lista passeia por gêneros extremamente brasileiros, mas o rolê se expande para o mundo todo, do house ao sertanejo universitário. Confira:
Melhores discos de Outubro/2019
Gabriel Leite Ferreira e Leonardo Santana
No fim de outubro, foi inaugurada uma estátua em homenagem ao saudoso Belchior em sua cidade natal, Sobral (CE). A obra de Murilo Sá demorou seis meses para ficar pronta e está exposta em definitivo em uma das praças da cidade.
Em um de seus maiores clássicos, “Como Nossos Pais”, Belchior canta que “o novo sempre vem”. E em outubro ele veio mesmo! Dentre os nossos nove escolhidos do mês, quatro são estreias arrasadoras, injetando gás na reta final do ano musical com competência e originalidade. Confira!
Melhores discos de Agosto e Setembro/2019
Gabriel Leite Ferreira, Leandro Gonçalves e Leonardo Teixeira
“A música brasileira está uma merda”, afirmou Milton Nascimento em entrevista polêmica para a coluna de Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo, no último dia 22. E armou-se o circo. A assessoria do cantor do clube da esquina logo tratou de esclarecer o que seria um mal-entendido, já que Nascimento estaria se referindo à produção musical do mainstream brasileiro.
O que deveria amenizar as discussões, deu mais pano pra manga. Em meio a manifestações de apoio e repúdio à fala do cantor e compositor mineiro, a bolha cultural da internet tirou o dia para discutir a produção musical brasileira. Afinal de contas, a nossa música, popular ou independente, estaria uma merda?
Nossa curadoria dos meses de agosto e setembro prova que não. Numa semana em que o cantor Jaloo anunciou — em um desabafo que revelou a dificuldade de se fazer música por conta própria no Brasil — que não deve trabalhar por muito mais tempo, fica um pensamento: a arte merece apoio. A arte brasileira e a estrangeira, a arte de gravadora e a underground.
Confira abaixo os nossos momentos preferidos, dentre todas essas cenas, dos dois últimos meses. Boa leitura!