Não Há Mal Algum: a tirania em 4 atos

Um dos filmes mais comentados de 2020 chega ao Brasil na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos e Raquel Dutra

A filmografia do diretor iraniano Mohammad Rasoulof não tem sido uma empreitada fácil. Em seus filmes, Rasoulof critica explicitamente o autoritarismo e a tirania que se apossaram de seu país, e isso já lhe rendeu alguns problemas com seu governo. Não seria diferente com Não Há Mal Algum (Sheytan Vojud Nadarad), seu longa mais recente que chega ao Brasil como uma das obras mais esperadas da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Com uma forte narrativa sobre as consequências de ser um executor de penas de morte no país, o filme venceu o Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim, mas o diretor não pôde agradecer presencialmente a honraria pois o governo do Irã não permitiu seu comparecimento à cerimônia por ter feito “propaganda contra o sistema”.

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A Morte do Cinema e do Meu Pai Também: o cinema não morreu

O segundo longa do diretor israelense Dani Rosenberg faz parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes (Foto: Reprodução)

João Batista Signorelli 

É no mínimo curioso o fato de um filme com este título venha a ser lançado justamente no ano de 2020, onde redes de cinema caminham para a falência e as salas oscilam entre uma capacidade limitadíssima de espectadores e o fechamento total. E se A Morte do Cinema e do Meu Pai Também poderia estar anunciando nos festivais de cinema online como a 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo que essa forma de arte do modo que conhecemos está com seus dias contados, no fim ele acaba fazendo justamente o contrário. A Morte do Cinema e do Meu Pai Também revigora a arte cinematográfica não apenas por suas reflexões pertinentes a respeito do próprio ato de fazer um filme, mas também por ser tão assertivo em encontrar o universal a partir de um lugar tão íntimo e pessoal. 

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Notturno: as cicatrizes da guerra são profundas como a noite e nítidas como o dia

O documentário é parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Um jovem casal se encontrando enquanto tiros soam ao fundo, crianças desenhando seus traumas, pacientes psiquiátricos ensaiando uma peça de teatro como parte do tratamento. Num compilado de imagens cotidianas protagonizadas por quem viu e sentiu uma violência extrema, Notturno ressalta as marcas que os conflitos no Oriente Médio deixam em seus habitantes. Filmado durante os três últimos anos nas fronteiras do Iraque, Curdistão, Síria e Líbano, o documentário chega na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo registrando a realidade material e psicológica de quem, inserido num cenário onde a guerra é uma companhia constante, tenta seguir em frente.

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Cracolândia (não) é propaganda

O documentário é parte da Mostra Brasil da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

Raquel Dutra

Prometendo apresentar uma profunda pesquisa e diferentes pontos de vista sobre um dos maiores desafios da vida urbana contemporânea é que o documentário Cracolândia chega à 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Em certa medida, ainda que levianamente, a produção dirigida por Edu Felistoque cumpre sua promessa inicial, mas revela outras problemáticas ao decorrer do filme que são chanceladas de uma forma muito infeliz ao final de seus 87 minutos.

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Uivos São Ouvidos traz uma escalada constante

Fabi com seus olhos marcados na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

É inevitável assistir a Uivos São Ouvidos, do diretor Julio Hernández Cordón, e não lembrar, mesmo que vagamente, de A Ghost Story. No entanto, enquanto o fantasma de Casey Affleck apenas observa impotente a vida ao seu redor, a figura do pai de Fabi, vestido em um lençol e com uma máscara bizarra que sussurra em seu ouvido, participa ativamente do filme todo. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e disponível gratuitamente no Sesc Digital, o longa mexicano é um curioso e estranho retrato dos dias de uma garota apaixonada pela bicicleta e pela liberdade.

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Miss Marx: relacionamentos doentios podem ser tão destrutivos quanto o capitalismo

A cinebiografia da caçula de Karl Marx chega ao Brasil na seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Quem nunca assistiu uma amiga incrível se metendo num relacionamento medíocre que flerta com características abusivas? E se essa amiga fosse filha de uma das figuras mais relevantes dos últimos séculos? Pois bem, nesse cenário primeiramente comum e segundamente impensável está a vida de Eleanor Marx, que ao mesmo tempo em que continuava o legado de seu pai, também era parte de uma relação problemática e desproporcional a toda potência revolucionária que ela era. Para ressaltar essas inconstâncias da vida da caçula de Karl Marx e humanizar sua pessoa com doses de elementos da cultura pop é que se constrói Miss Marx, drama biográfico que vem direto das principais premiações do Festival de Veneza para a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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As Crianças do Sol buscam o tesouro

O elenco infantil de As Crianças do Sol brilha em cada exibição na 44º Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

As histórias de caça ao tesouro encantam histórias infantis e clássicos da literatura desde que a cobiça encontrou o desejo pela primeira vez. No entanto, quando se trata de Crianças do Sol, a aventura lúdica da busca por riquezas e paixões não é tão divertida assim. Exibido na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o longa iraniano do diretor indicado ao Oscar Majid Majidi se consolida como um manifesto contra o trabalho infantil, utilizando crianças extremamente talentosas e uma narrativa sinuosa para transmitir sua mensagem.

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Minha Irmã para o mundo

A produção, pré-selecionada para representar a Suíça no Oscar 2021, é parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Uma verdade doída é experienciada em momentos de dor e luto: quando uma tragédia acontece, o mundo não para. A vida tem que continuar, o trabalho não espera, as responsabilidades e compromissos até podem ser momentaneamente adiadas, mas o buraco no peito é permanente e hora ou outra ele virá à tona. Aí, não tem muito o que fazer a não ser ceder ao choro no final do dia enquanto você só tenta não desabar no transporte público antes de chegar em casa. Mas Minha Irmã (Schwesterlein), um dos dramas familiares exibidos na 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, usa seu cenário privilegiado para subverter essa experiência quase universal. Colocando todas as outras situações em segundo plano, o filme se debruça unicamente sobre a relação de dois irmãos abalados por um câncer, fisica, emocional e psicologicamente, direta ou indiretamente, cada um à sua maneira.

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Verlust é um filme encalhado

Ismael Caneppele, Marina Lima e Andrea Beltrão na festa de Ano Novo de Verlust, filme exibido na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (Foto: Divulgação Imprensa)

Caroline Campos

Verlust, no alemão, significa perda – mesmo que lust, sozinha, signifique desejo. Afinal, quanto mais desejamos algo, mais medo temos de perdê-lo. Se soubermos que vamos perder, maior é o desejo. É essa complexa e profunda palavra do alemão que o cineasta Esmir Filho escolhe para intitular seu novo filme, Verlust, que participa da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, na seção Mostra Brasil. Uma experiência angustiante e cheia de conflitos, o longa carrega no elenco grandes nomes do cenário nacional e uma trilha sonora impecável.

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La Francisca, Uma Juventude Chilena e as variáveis do silêncio

Numa colaboração entre Chile, França e Bélgica, o filme traz silêncios cinzentos e jovens latino-americanos vibrantes para colocar pedofilia em foco na Competição Novos Diretores da 44ª Mostra de SP (Foto: Reprodução)

Raquel Dutra

Existe um problema sério em retratar atos desumanos explicitamente no cinema. Abordagens nessa direção revelam um caráter tão repugnante (que de fato, tais atos possuem) que a nossa resposta diante deles, na maior parte das vezes, é o distanciamento. Repelimos aquelas atrocidades da nossa realidade e esquecemos o local e a forma exata onde/como elas se concretizam, que infelizmente, é no ordinário. E quem concebeu La Francisca, Uma Juventude Chilena parece estar ciente disso. A coprodução francesa-chilena-belga é parte da seção Novos Diretores da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e usa um cenário comum para sussurrar observações necessária sobre pedofilia.

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