Após 12 anos de espera, Sol da Meia-Noite traz novas perspectivas para a saga Crepúsculo

A proposta de Midnight Sun? Contar a história de Crepúsculo na versão de Edward Cullen (Foto: Reprodução)

Mayara Marques Breviglieri

Considerado o quinto livro oficial da saga Crepúsculo, o tão aguardado Midnight Sun, ou Sol da Meia-Noite, como foi traduzido no Brasil por Carolina Rodrigues, Flora Pinheiro, Giu Alonso, Maria Carmelita Dias, Marina Vargas e Viviane Diniz. Foi lançado no dia 04 de agosto de 2020, pela Editora Intrínseca. No entanto, assim como sua premissa, não se trata de um projeto novo. Stephenie Meyer já tinha planos para Sol da Meia-Noite em 2008, contudo, os primeiros capítulos da obra foram vazados na plataforma Tumblr. Fazendo com que a autora engavetasse a história até esse ano, data em que o primeiro livro da saga completa 15 anos.

Depois de anos de espera, milhões de fãs puderam vibrar com o anúncio realizado em maio pela autora, desta que é uma das sagas mais populares dos últimos tempos. Meyer postou em seu site oficial que publicaria Sol da Meia-Noite, e totalmente diferente da ideia contida no enredo reproduzido ilegalmente há 12 anos. O sucesso foi inegável. Vendeu mais de 1 milhão de cópias só na primeira semana, alcançando o primeiro lugar como best-seller no Reino Unido, Brasil, Holanda e Alemanha, segundo a lista publicada pelo New York Times.

O slogan “Now it’s Edward’s turn”, em tradução, “Agora é a vez de Edward” foi o carro-chefe da divulgação do novo livro (Foto: Reprodução)

Mas essa não é a primeira vez que Stephenie Meyer “recicla” o enredo de Crepúsculo. Em 2015, a autora publicou o livro Vida e Morte, onde narrava a história de Edythe Cullen e Beaufort Swan – os protagonistas com os gêneros invertidos. Além de surpreendente, o conceito é interessante de ser analisado, especialmente em um universo que não envelheceu muito bem.

Vida e Morte foi justificado pela própria autora como uma prova de que o relacionamento entre Edward e Bella não teria ocorrido daquela forma simplesmente para representar a mocinha indefesa e seu salvador. Em vez disso, Meyer quis provar que a dinâmica entre eles se desenvolvia a partir da relação humano-vampiro. Com uma protagonista feminina forte, a autora acertou nesta adaptação e em seu objetivo. Agora, Sol da Meia-Noite, parece replicar alguns dos pontos que fizeram Vida e Morte trilhar o caminho certo, trazendo, enfim, uma terceira versão da história. 

Com narração feita em primeira pessoa por Edward Cullen, sendo esta a principal diferença entre Sol da Meia-Noite e os demais livros da saga, que, inicialmente, foram contados na visão de Isabella Swan. Dessa forma, a história, já conhecida pelos fãs, traz o ponto de vista do vampiro, bem como suas impressões, pensamentos, motivações e detalhes de cada uma das cenas existentes no primeiro livro. Apesar de muitos acreditarem que o lançamento é justificado apenas para gerar novos lucros em cima de uma saga já finalizada, Sol da Meia-Noite prova que é muito mais que uma mera releitura de Crepúsculo.

A história de Edward e Bella, interpretados pelos atores Robert Pattinson e Kristen Stewart, ganha novos detalhes e lacunas preenchidas (Gif: Reprodução)

O grande diferencial de Sol da Meia-Noite se concentra na construção do personagem principal. Foco do livro, Edward é um leitor de mentes. Entre os vampiros, alguns possuem certos poderes psíquicos ou físicos, como a previsão do futuro de Alice Cullen, ou a habilidade de controlar as emoções do ambiente de Jasper Hale. O fato de Edward ser capaz de ler mentes é conveniente para a trama e para o desenvolvimento do livro.

Além de narrar as opiniões, motivações e impressões pessoais do protagonista ao longo da história, também conhecemos a perspectiva de todos os personagens envolvidos com o vampiro, como a família Cullen, os amigos e os pais de Bella. Essa qualidade foi fundamental para originar uma visão totalmente nova de um romance que já conhecemos.

E com mais de 700 páginas, Sol da Meia-Noite tem quase o dobro do tamanho de Crepúsculo. Isso não se deve somente ao fato de haver mais detalhes e cenas extras incluídas entre os acontecimentos originais, mas também por conta da escrita madura, sensível e detalhista trazida por Meyer.

Temos a chance de conhecer os pensamentos mais obscuros de Edward (Gif: Reprodução)

É hora de conhecer Edward Cullen

Sol da Meia-Noite é marcado, predominantemente, por um tom de melancolia, culpa e angústia. O livro começa com uma posição desinteressada de Edward quanto à chegada da filha do chefe de polícia à pacata e chuvosa cidade de Forks. No entanto, a partir do primeiro encontro entre os protagonistas, na famosa cena da aula de biologia, temos acesso a uma série de pensamentos sombrios e uma força de vontade latente do Cullen.

O livro não modera os detalhes sobre a luta interna constante do garoto contra seu lado monstruoso. As descrições são impiedosas, quase agressivas. Durante os primeiros capítulos conhecemos a forma que o vampiro deseja Bella, como ele planeja matá-la e beber seu sangue, mesmo que isso signifique matar todas as pessoas da sala e expor sua verdadeira identidade.

Em seguida, somos presenteados com algumas cenas inéditas, como, por exemplo, o que Edward fez na semana seguinte à chegada de Bella. Apesar dele revelar que tinha ido ao Alasca para encontrar o clã Denali, há a inclusão de novos diálogos, que não seriam possíveis na primeira versão.

Os Cullen eram reservados e, até então, misteriosos para nós e para a Forks High School (Foto: Reprodução)

O aprofundamento e aperfeiçoamento das relações entre os personagens é um acréscimo bem-vindo. Com Sol da Meia-Noite, podemos conhecer bem mais sobre a família Cullen e a relação de Edward com seus pais postiços e irmãos adotivos. Momentos de caça entre o vampiro e Emmett, como ele apoiava Jasper, o mais novo na dieta “vegetariana” dos Cullen, ou mesmo como Alice parecia ser a irmã preferida do protagonista.

Inclusive, as visões de Alice são outro ponto fundamental de Sol da Meia-Noite, quando ela prevê que Edward se apaixonaria por Bella, ou, então, a mataria de vez. Também previu como a garota, inevitavelmente, se tornaria parte da família como vampira, o que dá início a uma saga de inquietação e tormento para o Cullen, refletido em seus pensamentos, sua narração e uma série de decisões essencialmente problemáticas.

Contudo, Stephenie Meyer cria um enredo perspicaz e genial ao incluir cenas, previsões e detalhes que se interligam com os demais livros da saga. Mesmo determinadas atitudes de Edward, questionadas por Bella, são justificadas, entrelaçando perfeitamente a nova aventura com o restante da coleção, preenchendo lacunas e respondendo perguntas que ficaram no ar ao longo dos anos.

Aos olhos de Edward, os leitores são apresentados a uma nova Bella Swan (Gif: Reprodução)

E também é hora de conhecer Bella Swan

Se, por um lado, Sol da Meia-Noite permite que conheçamos Edward Cullen, seus medos, pensamentos e desejos mais profundos, e também sua família e como eles reagem a cada acontecimento marcante de Crepúsculo, a obra também se redime com Bella Swan. Durante muito tempo houve uma certa descaracterização da personagem construída por Meyer no início da saga. Afinal, Bella sempre teve problemas com sua autoestima e, na visão dela, criamos a imagem de uma protagonista sem gostos ou personalidade. Surge, então, o questionamento: “Como um vampiro centenário se interessa, e se apaixona, por uma humana tão sem graça?”. Em uma descrição sensível e pungente, Edward nos responde essa pergunta.

Inicialmente, o garoto é atraído pela curiosidade. Em 100 anos de existência, nunca tinha conhecido um humano cuja mente não tivesse acesso. Enquanto luta contra sua sede e o predador que deseja matá-la, Edward se aproxima de Bella para conhecê-la no modo tradicional. Aos olhos do vampiro, conhecemos, então, uma garota altruísta, bondosa, engraçada, gentil, sensível e preocupada.

É difícil não se apaixonar por Bella Swan depois de ler as descrições energéticas de Edward (Gif: Reprodução)

Meyer também inclui novas cenas de diálogo entre o casal. Sabemos, por exemplo, que Bella estava em todas as classes avançadas em Phoenix, não apenas em biologia, e que ela gostaria de ser professora universitária. Além disso, ele também presencia momentos em que Bella ajuda seus amigos durante as aulas, e os defende, episódios que não constam no primeiro livro.

O relacionamento de Edward e Bella evolui de romance teen para algo conturbado e intenso. O vampiro luta constantemente contra seu lado “monstro” – aquele que deseja matá-la –, contra o que considera certo e errado – amar Bella e deixá-la para sua própria segurança. Contra as visões de Alice, que veem a garota morta ou, pior, transformada, e no final, contra o predador sanguinário James.

Os últimos capítulos de Sol da Meia-Noite trazem uma agradável surpresa ao narrar os dias em que Edward passa caçando James, enquanto Bella está em Phoenix. Nunca tivemos conhecimento sobre o que teria acontecido até ele chegar, para salvá-la no estúdio de balé, mas Meyer proporciona a inserção de ótimas cenas de ação, com um estilo maduro e sóbrio, bem diferente de Crepúsculo.

É criada outra visão sobre o relacionamento dos protagonistas, menos problemática e mais madura (Gif: Reprodução)

Crepúsculo para a nova geração

Finalmente torna-se possível entender determinados aspectos do relacionamento de Edward e Bella, uma vez que não há o fator deslumbrado que a narração de Bella trazia para a história. O vampiro convive com a culpa de amar uma garota humana e colocá-la em perigo, a inquietação de sua fragilidade, o sofrimento por precisar se afastar e desejar matá-la. Ele assume que suas decisões controladoras são, acima de tudo, erradas. A obra carrega descrições mais controladas, introspectivas e, de certa forma, vulneráveis sobre como Edward se sente.

Enquanto Crepúsculo foi escrito para um público jovem, cativo e emocional, Sol da Meia-Noite traz as alterações necessárias para agradar uma geração que se tornou mais questionadora, exigente e circunspecta. Além disso, as lacunas preenchidas tornam a saga mais atrativa e completa, despertando interesse de novos leitores, à medida que agrada os fãs mais fiéis.

Apesar do sucesso, Stephenie Meyer não pretende lançar novas versões dos demais livros da saga (Foto: Reprodução)

A autora afirmou, em entrevistas, que não pretende dar continuidade ao projeto de contar a história de Crepúsculo na versão de Edward, mesmo com manifestações fervorosas nas redes sociais. Meyer diz que “não foi uma experiência agradável [escrever Midnight Sun], e sente que precisa deixar Forks no passado. No entanto, rumores de novos livros foram levantados com a hipótese de uma obra focada em Reneesme Cullen, filha de Edward e Bella. Nada foi confirmado, e a própria autora disse que é uma ideia a ser estudada.

Sol da Meia-Noite foi um presente bem recebido pelos fãs. Apesar de não ter o intuito de corrigir os erros deixados por Crepúsculo, o livro reescreve, com sucesso, uma velha – e amada – história. Com um novo tom, novas impressões e a sensação de que foi possível conhecer, novamente, personagens tão marcantes. Resta aguardar futuros lançamentos de Stephenie Meyer e aproveitar a leitura envolvente, madura e vulnerável que Edward Cullen nos proporcionou.

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