Melhores discos de Novembro/2018

O Women’s Music Events Awards aconteceu na última quarta-feira (5), em São Paulo. É a primeira premiação musical voltada exclusivamente para mulheres. Da esquerda para a direita: Urias, Drik Barbosa, Karol Conká, Duda Beat e Preta Gil (Divulgação)

Gabriel Leite Ferreira, Leonardo Santana

Nas preparações para a despedida de 2018, o Persona indica o que de melhor novembro nos oferece como escudo contra o tio charlatão (e um pouco fascista) na noite da ceia. Boas festas pra todas e todos!

Davi – Quando EP

pop

A festa debochada da finada Banda Uó é parte essencial do caminho que a música pop brasileira trilha atualmente, encabeçada por Pabllo Vittar e IZA. Ex-integrante e produtor do projeto goianense, Davi agora se distancia do universo irreverente do grupo para construir um universo pessoal e íntimo em seu EP de estreia. Continua, no entanto, bebendo da fonte que ele mesmo ajudou a construir nos últimos anos. O pop de Quando é intenso e sério, ainda que espelhe o carisma de seu intérprete. (LS)


Earl Sweatshirt – Some Rap Songs

hip hop experimental

Ninguém esperava, mas todo mundo queria. Será mesmo? Não sabemos, mas fato é que Earl Sweatshirt quebrou a internet e toda a sua (falta de) expectativa. Até agora, Earl era o famoso mas discreto membro do coletivo Odd Future. Agora, ele é apenas Earl Sweatshirt.

A capa, um meme instantâneo. A tracklist, uma zorra de samples tortos, esquizofrênicos, bizarros; enfim, todo-e-qualquer-adjetivo-do-tipo. Destaque para “Playing Possum” e “Eclipse”, porém o disco funciona como uma só peça.

Para ouvir e reouvir, até ter noção da certeza: o disco do ano demorou, mas chegou! (GF)


Karol Conka – Ambulante

pop rap, R&B

A tombadora-mor Karol Conka vem com força total em Ambulante, segundo disco da carreira. Apesar do currículo solo pequeno, Conka já é figurinha carimbada no pop/rap brasileiro desde o hit “Tombei”, de 2014. De lá pra cá, a nativa de Curitiba (PR) só cresceu.

Ambulante é prova cabal disso. Em vez da extensa tracklist a la Beyoncé de Batuk Freak (2013),  a concisão dos últimos trabalhos produzidos por Kanye West. Em dez faixas que não chegam a bater 30 minutos, Conká desfila entre o trap, o r&b, o pop descarado e até mesmo o reggae, na boa “Você Falou”. Mais destaques com “Kaça, “Dominatrix”, “Fumacê” e “Vida Que Vale”, que mesclam esses e outros gêneros de forma certeira e deliciosa. Depois do tombamento, tem o quê? Mais tombamento, é claro! (GF)


Lupe de Lupe – Vocação

rock alternativo, pós-rock

Pois é. O quinto álbum da banda de rock mais badalada do underground nacional, além de sucessor do clássico moderno Quarup (2014), um raro disco duplo independente, um dos melhores discos de 2018. Vocação foi uma gestação longa e incomum para a Lupe de Lupe, mas a espera valeu muito a pena.

Um disco paradoxalmente curto e longo em relação ao antecessor, transmite a veia pós-rock de Renan, Cícero, Gustavo e Vitor (o Renato Russo dos pós-modernos) de forma explícita pela primeira vez em tempos. Em vez da pegada noise pop de “SP (Pais Solteiros)”, a levada arrastada de “Terra”; no lugar da balada cafona “Gaúcha”, a canção de protesto “Midas”; antes o hino juvenil “17”, agora a estranha “O Brasil Quer Mais”. Não por acaso, a Lupe, ou melhor, o frontman Brauer sempre exibiu seu egocentrismo como qualidade e/ou característica, sem medo de exasperar detratores – e eles são muitos, acredite.

Azar o deles. Vocação é no mínimo tão denso quanto os dois CDs cheios do álbum de 2014. São 1h13min de faculdade, trabalho, mães, pais, presidentas e presidentes, políticas e políticos, infância, juventude, idade adulta… São 1h13min de nossas vidas. Pois é! (GF)


Mariah Carey – Caution

r&b, pop

Para além dos números estratosféricos de sua longeva carreira, Mariah Carey impressiona também por ser extremamente talentosa. Não me refiro apenas a suas habilidades vocais obviamente brilhantes, mas sim à capacidade de explorar as tendências vigentes do r&b e do hip hop sem perder a identidade. Resumindo: você sempre sabe quando está ouvindo um disco confeccionado por Mimi. Caution, seu último lançamento, é um dos bons.

O décimo terceiro registro de Mimi conta ainda com um baita time de produção, incluindo nomes como Beyoncé, Frank Ocean e Drake. Ainda que mirando no que tem bombado nos últimos anos, Mariah se destaca com vocais impressionantes e narrativas cheias da atitude autoafirmativa que se tornou marca da diva.

Trata-se de talvez o trabalho mais orgânico de Mariah em 20 anos, obrigatório para os amantes do r&b como o conhecemos na década de 1990. Destaque para A No No, que vem com o sample incrível do clássico de Lil’ Kim. (LS)


Merdada – Hang Loose para Jesus

hardcore, grindcore, black metal

Os últimos lançamentos do Merda e do Facada, duas das maiores bandas de rock barulhento do Brasil, não impressionaram: Descarga Adrenérgica (2017) transformou a irreverência iconoclasta do clássico moderno Indio Cocalero (2012) em sátiras dignas de páginas do Facebook, enquanto a produção reta de Quebrante (2018) retirou boa parte do poder de fogo dos autores do ótimo Nadir (2013).

Por isso, Hang Loose para Jesus é uma agradável surpresa. O primeiro disco reunindo os dois grupos oferece 20 minutos do melhor de ambos mundos, ou seja, o hardcore zoeiro do Merda (vide título e capa) e o grindcore/black metal cruel do Facada. A capa assinada pelo imortal Marcatti parece ser uma espécie de releitura/homenagem à arte de Brasil (1989), do Ratos de Porão, também de autoria dele. E, se Hang Loose para Jesus não chega aos pés do melhor material dessas bandas, ao menos é uma audição divertida. Vale a conferida se você for iniciado(a) nos gêneros. (GF)


Tuyo – Pra Curar

folk futurístico

O som único do trio paranaense alcança outro nível em seu disco de estreia (e segundo trabalho de estúdio). Lio, Jay e  Sean lentamente constróem o que eles mesmos chamam de “labirinto de voz, violão e beat”, resultando em uma experiência imersiva e dolorida onde o silêncio é extremamente violento e sintetizadores aconchegam. Por sua vez, o existencialismo das letras nunca passa do ponto, incluindo o ouvinte na melancolia ao invés de mantê-lo como mero espectador. Impecável. (LS)


Tyler, The Creator – Music Inspired by Illumination & Dr. Seuss’ The Grinch

r&b, neo-soul, Christmas music

É fácil subestimar a nova empreitada de Tyler Okonma. Conforme didático título, é um EP de canções inspiradas pelas duas contribuições dele para a trilha sonora da nova adaptação cinematográfica de O Grinch, também lançada em novembro. São seis faixas que totalizam apenas 10 minutos – após o ótimo Flower Boy parece pouco, não é?

Sim e não. O EP realmente tem um clima de coletânea de sobras, mas o fato de ser inspirado pelo mais famoso monstro natalino traz uma carga interessante ao pequeno registro. Como a Pitchfork muito bem apontou, Tyler, até então um dos rappers mais controversos da década, lançar um disco de canções de Natal é no mínimo interessante.

Mais interessante ainda é perceber a complementaridade entre este disco e Flower Boy, por conta da influência descarada de jazz e soul (tendência que ele iniciou já em Cherry Bomb (2015)). Não fossem as letras no clima natalino, “Big Bag” e “Hot Chocolate” poderiam muito bem compôr a tracklist de seu melhor álbum; a última, inclusive, parece uma evolução do final de “See You Again”, um dos principais singles de Flower. Provavelmente não serve de teaser para um vindouro projeto, mas não deixa de assinalar uma evolução importante na carreira de Tyler, The Creator. Vale muito a ouvida! (GF)

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