Melhores discos de Novembro/2017

Craque Neto pistola: mesmo após o título do Corinthians, este meme ainda é a melhor tradução de 2017 (Band/Reprodução)

Adriano Arrigo, Leonardo Teixeira, Matheus Fernandes, Nilo Vieira

Em novembro, o mundo perdeu o rapper Lil Peep e o ex-guitarrista do AC/DC, Malcolm Young. Embora de faixas etárias e ritmos diferentes, os dois convergem pelo público cativado por suas músicas, majoritariamente jovem. Também pela situação triste do falecimento: o primeiro morreu de overdose aos 21 anos, enquanto o segundo se encontrava abatido pela demência e se foi aos 64.

Enquanto isso, a curadoria mais bolada da internet brasileira tentou não se abalar e fechar o ano com chave (qualquer uma serve, não precisa ser de ouro). Entre os destaques dos últimos 30 dias e discos que resgatamos para a sua lista de melhores do ano não ficar feia, cá estão nossas escolhas:

21 Savage, Offset & Metro Boomin – Without Warning

hip-hop / trap

Lançado no Halloween, Without Warning reúne um dos membros do melhor grupo de hip-hop do ano, Migos, o melhor produtor de trap da atualidade, Metro Boomin, e seu colaborador frequente 21 Savage, em um disco cuja estética é inspirada em partes iguais por filmes de terror e pelo período de Ricardo Tisci na Givenchy, onde popularizou os caninos ferozes na moda.

Young Metro vem em um ano totalmente 🔥🔥🔥, assinando faixas como Bad and Boujee, Bounce Back, Congratulations, Tunnel Vision Mask Off, e continua sua sequência de bangers com Ghostface Killers e Ric Flair Drip. 21 Savage se beneficia de um álbum mais conciso que seu Issa Album, com praticamente metade da duração do anterior, e Offset faz o contraponto ao delivery sombrio de 21, além de brilhar sozinho em Ric Flair Drip. Se não é suficiente, ainda rolam feats de Travis Scott e Quavo, para fechar um dos melhores discos de rap de 2017. (MF)


 

Bjork – Utopia

experimental, artpop

Os lançamentos de Björk são sempre um evento. E uma surpresa. A bola da vez é o avesso completo de seu estado de espírito do trabalho anterior. Se Vulnicura (2015) era baseado na solidão e no arrependimento, aqui o momento é de novos começos. O repeteco do venezuelano Arca na produção ajuda na costura natural de mais esse capítulo na jornada pessoal da islandesa.

Quase que numa versão extraterrestre de um conto de fadas, o “álbum Tinder” usa da jornada do herói e orquestrações lúdicas para apresentar Björk apaixonando-se novamente pela vida, com flautas e coros reforçando  essa atmosfera de grandiosidade cinematográfica. E, contrapostos a música eletrônica, relembram os tempos áureos da carreira da cantora, que até hoje vomita sua intimidade como ninguém. (LT)


Charlotte Gainsbourg – Rest

synthpop

Em seu quarto disco, a cantora e atriz incorpora os personagens de sua “trilogia da depressão” com o diretor Lars von Trier, ao abordar nas letras que mesclam inglês e francês as mortes de seu pai, o cantor Serge Gainsbourg, e sua irmã, Kate Barry.

Depois de trabalhar com Jarvis Cocker, do Pulp, e com Beck, Gainsbourg encontra o melhor som de sua carreira na parceria com o produtor eletrônico francês SebastiAn, que resulta em um synthpop ao mesmo tempo exuberante e intimista, como em “Sylvia Says”, faixa de influência Synth Funk, cujas letras fazem intertexto com a obra da escritora e poetisa Sylvia Plath. O ex-Beatles Paul McCartney participa do álbum em “Songbird in a Cage”, assim como Guy-Manuel de Homem-Christo, metade do Daft Punk, na faixa título. (MF)


Converge – The Dusk in Us

hardcore torto, metal moderno

Pilar do chamado mathcore (embora não gostem do rótulo), o Converge chega em seu nono álbum sem  grandes riscos sonoros. As músicas ainda são pesadas, diretas ao ponto e com forte teor emocional. A urgência do hardcore com o peso do heavy metal, permeada por microfonias e dissonâncias – a mesma fórmula que os tornou famosos.

Poderia ser apenas mais do mesmo, mas execução e produção precisam garantem que a intensidade emanada pela banda continue diferenciada. Não revoluciona nada, mas tampouco era a intenção. Bem alto entre os grandes discos de metal do ano. (NV)


Godflesh – Post Self

industrial

Pisando no terreno do metal e nas limiares do sludge, doom e industrial, o Godflesh consegue trazer novidades em seu novo disco. Post Self é menos barulhento que seu antecessor, A World Lit Only by Fire (2014). Isso reflete não só os temas introspectivo que Justin Broadrick já trabalha em seu projeto solo, o Jesu, mas em toda a coesão do disco que, mesmo nas ultimas faixas, não se torna repetitivo ou entendiante.

Entre uma música e outra, é possível encontrar sonoridades complexas e dualistas (“Be God”) e timbres que dão homogeneidade à pequenas caos (“Mortality Sorrow”) carregados de batidas secas e agudas do Industrial. O resultado é um álbum íntegro, hegemônico e incrivelmente calmo que demonstra a versatilidade da banda. (AA)


Jaden Smith – SYRE

r&b / hip-hop

Tão inventivo quanto os tweets que o transformaram em meme alguns anos atrás, SYRE é talvez o álbum mais experimental lançado por uma grande gravadora nesse ano, mostrando o potencial artístico do herdeiro de Will Smith, que também se aventura no design e na televisão.

As mudanças de batidas e mescla de ritmos durante a mesma música são frequentes, e o trabalho na sequência B, L, U, E é impressionante. Faixas como “Icon” e “Watch Me”assumem a estrutura dos singles mais tradicionais de hip-hop e não decepcionam. As letras, que seguem o tom New Age de seus discursos virtuais, podem ser constrangedoras em alguns momentos, mas pra cada letra questionável há outra tirada interessante para compensar. (MF)


Mateus Aleluia – Fogueira Doce

umbanda, MPB

Este é apenas o segundo disco solo do músico baiano, ex-membro do clássico grupo vocal Os Tincoãs. No entanto, a experiência acumulada em 76 anos de vida se traduz em um trabalho de vivacidade ímpar, unindo tradicional e moderno.

A maioria das canções é baseada em harmonias de voz e violão, com trompetes e percussões ornando (a reverberação dos vocais dá um toque lisérgico na mistura). A gravação soa contemporânea, mas respeita as raízes cruas de Aleluia – que canta sobre umbanda e raízes africanas com emoção aflorada. Nas listas de melhores discos nacionais do ano, com certeza merece o topo! (NV)


The Fall – Singles 1978 – 2016

post-punk

A segunda banda mais importante da história de Manchester, The Fall continua relegada ao underground, mas influenciou diversas gerações, de Pavement a Arctic Monkeys e Franz Ferdinand.

Nessa nova compilação, a abordagem de reunir os singles é a metodologia escolhida para separar o melhor de uma banda com 32 álbuns de estúdio e mais de 40 compilações, em uma carreira de quase 4 décadas. O resultado são mais de sete discos, mas que provavelmente são a melhor história linear da  carreira de Mark E. Smith. (MF)


Xênia França – Xenia

neo-soul, r&b

Definir a estreia da cantora como o A Seat at the Table nacional pode não ser a maneira mais precisa, mas serve como parâmetro da força do álbum. Assim como Solange, Xênia discute temas raciais e exalta suas origens (enquanto a irmã da Beyoncé dizia “Don’t Touch My Hair”, a brasileira vai mais além: “Respeitem meus cabelos, brancos”).

Além da lírica pontual, a musicalidade também é bastante inventiva e evita que o disco caia na categoria supérflua de trabalhos lacradores. Que Céu e seu Tropix (2016) me perdoem, mas o negócio é este aqui. (NV)


Yaeji – EP 2

house / r&b

Em seu segundo EP do ano, a DJ / produtora/ cantora coreana se consolida como o nome mais legal da música de 2017, com seu pop eletrônico, reunindo aqui os hits bilíngues “Drink I’m Sipping On”, “Raingurl” e sua versão de “Passionfruit”, do rapper canadense Drake. (MF)

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